• Nenhum resultado encontrado

Caracterização da unidade produtiva nos assentamentos

No documento Download/Open (páginas 151-154)

CAPÍTULO 4 ASPECTOS ECONÔMICOS DOS ASSENTAMENTOS RURAIS DO

4.2. Atividades agropecuárias desenvolvidas nos assentamentos

4.2.1. Caracterização da unidade produtiva nos assentamentos

No PA União, as famílias entrevistadas contavam juntas com aproximadamente 71, 5 hectares de terra voltados para o desenvolvimento da agropecuária em 2012. Desse total, 38,9 ha destinavam-se ao cultivo de lavouras; 28,1 ha destinavam-se à pastagem; 2,5 ha correspondem à área de reserva; 1,5 ha correspondem à área reflorestada; e 0,5 ha não é aproveitável para a atividade agropecuária (Tabela 25).

No PA Socorro, as famílias entrevistadas contaram com um total de 78,1 ha de terra para a atividade agropecuária. Desse total, 54,0 ha eram voltados para o cultivo; 14 ha para pastagem; 7,1 ha não é aproveitável para a atividade agropecuária; e 3,0 ha constituíam área de reserva (Tabela 25).

No PA Esperança, os assentados trabalharam em 65,0 ha de terra no ano de 2002 sendo que deste total, 22,0 ha destinaram-se ao cultivo das lavouras; 21,0 ha destinaram-se ao pasto; 18,0 ha não são aproveitáveis para a atividade agropecuária; e 4,0 hectares correspondem a área de reserva (Tabela 25).

No PA Celso Furtado, verificou-se um maior número de hectares por família assentada uma vez que os lotes familiares possuem 12 ha, perfazendo um total de 96,0 ha. Desse total, 69,5 ha destinaram-se à pastagem; 21 ha destinaram-se ao cultivo de lavouras e 5,5 ha não são aproveitáveis para o desenvolvimento de nenhuma atividade agropecuária (Tabela 25).

No PA Emanoel Joaquim, os lotes das famílias assentadas são menores do que em todos os outros PAs. A maioria das famílias assentada não chega a possuir nem cinco hectares. O total da área utilizada para a atividade agropecuária em 2012 foi de apenas 22,0 ha dos quais 17,6 ha destinaram-se ao cultivo de lavouras; 3,4 ha constituíam área de reserva; e 1,0 ha apenas, destinaram-se a pastagem (Tabela 25).

Verificou-se, portanto, que as 60 famílias que compõem a amostra da pesquisa nos cinco PASpossuem 332,6 ha de terra dos quais: 153,5 ha são destinados ao cultivo; 133,6 ha são destinados ao pasto; 31,1 ha são impróprios para o desenvolvimento de atividades

agropecuárias; 12,9 ha correspondem a áreas de reserva; e apenas 1,5 ha correspondem a áreas reflorestadas (Tabela 25).

Tabela 25- Área dos lotes das famílias assentadas segundo as formas de uso da terra

Formas de uso da terra

Assentamentos/uso da terra ( hectares) PA União PA Socorro PA Esperança PA C. Furtado PA E. Joaquim Total Cultivo 38,9 54,0 22,0 21,0 17,6 153,5 Pasto 28,1 14,0 21,0 69,5 01 133,6 Reserva 2,5 3,0 4,0 0,0 3,4 12,9 Reflorestado 1,5 0,0 0,0 00 00 1,5 Inaproveitável 0,5 7,1 18,0 5,5 00 31,1 Área Total 71,5 78,1 65,0 96 22 332,6

Fonte: Pesquisa de Campo (2013).

Faz-se necessário pontuar os motivos pelos quais 31,1 ha de terras foram considerados pelos entrevistados como impróprios ao desenvolvimento da atividade agropecuária no interior de seus lotes. Para tanto, chama-se a atenção para o fato de que cada assentamento apresenta uma característica diferente e consequentemente uma razão diferenciada para justificar esse fato.

Nos PAs União e Esperança, muitos lotes estão localizados em locais altamente acidentados, de difícil acesso e, além disso, neste último, as terras não apresentam boa fertilidade para a agricultura. “As ladeira são muito alta, não dá pra tombar a cana” (partes do depoimento de um assentado do PA Esperança).

No PA Socorro, muitos lotes foram cortados pela rodovia estadual que liga os municípios de Areia e Pilões. Existem ainda estradas que ligam os PAs Socorro, União e Esperança muito próximos uns dos outros.

No PA Celso Furtado, destaca-se a existência de terrenos pedregosos, o que é agravado pela escassez de água. Segundo alguns assentados: “A terra é muito fraca. Não dá muita coisa não... não tem nada de fruta, a terra é muito dura... “Eu queria tê pelo meno um hectare no Brejo, só assim eu ia tê muita fruta” (Depoimento de uma assentada do PA Celso Furtado).

Além disso, foi possível verificar em campo, que o desenvolvimento das atividades agropecuárias pelas famílias assentadas, apresenta características diferentes no que diz respeito ao sistema de produção utilizado. De fato, constatou-se que 52,9% das famílias

entrevistadas no PA União, utilizam o sistema de produção tradicional; 35,3% o sistema orgânico; e 11,8% o sistema agroecológico de produção. No PA Socorro, 85,7% das famílias entrevistadas utilizam o sistema de produção tradicional, enquanto 14,3% utilizam o sistema orgânico. No PA Esperança, 50% das famílias utilizam o sistema de produção tradicional e 50% utilizam o sistema de produção orgânico. No PA Celso Furtado, enquanto 87,5% das famílias entrevistadas utilizam o sistema tradicional, 12,5% utilizam o sistema orgânico. Já no PA Emanoel Joaquim, observou-se que todas as famílias entrevistadas, bem como todo o assentamento, utilizam o sistema de produção agroecológico. Esta é uma das características mais importantes deste PA, que lhe confere individualidade e o diferencia dos demais assentamentos do município de Areia-PB (Tabela 26).

Deste modo, considerando o sistema de produção utilizado pelas 60 famílias no ano de 2012, observou-se que 56,7% utilizam o sistema de produção tradicional; 25% utilizam o sistema orgânico; e 18,3% utilizam o sistema agroecológico de produção (Tabela 26).

Tabela 26- Sistema de produção utilizado pelas famílias assentadas- 2012

Assentamento Sistema de produção

Tradicional Agroecológico Orgânico Total

PA União 52,9% 11,8% 35,3% 100,0% PA Socorro 85,7% 0,0% 14,3% 100,0% PA Esperança 50,0% 0,0% 50,0% 100,0% PA Celso Furtado 87,5% 0,0% 12,5% 100,0% PA Emanoel Joaquim 0,0% 100,0% 0,0% 100,0% Total 56,7% 18,3% 25,0% 100,0%

Fonte: Pesquisa de Campo (2013).

Mesmo reconhecendo a importância das práticas orgânicas e agroecológicas, mais da metade das famílias assentadas ainda utilizam prioritariamente o sistema de produção tradicional. A preocupação com o aumento da produção e consequentemente da comercialização e da renda, sobrepõe-se aos benefícios auferidos com o aumento da qualidade dos produtos e com a própria saúde do trabalhador. Isto foi possível verificar em campo, pois tanto os adubos químicos quanto os medicamentos industriais usados no combate às pragas e às doenças, são utilizados principalmente nos produtos destinados à comercialização.

Apesar de reconhecerem a eficiência de tais produtos, algumas famílias preferem utilizar adubos orgânicos (principalmente o esterco de bovinos), medicamentos naturais, entre

outras técnicas simples de combate às pragas e às doenças, desenvolvidas por elas mesmas, com base nos saberes populares passados de pais para filhos ao longo dos tempos. Dentre elas, vejamos algumas: deixar de molho na água folhas e vagens de angico durante oito dias para pulverizar a plantação; moer cebola e alho com água para pulverizar plantas como feijão e tomateiro; e entre outras, colocar pimenta do reino, casca de laranja ou cinza dentro da garrafa pet junto com o feijão guardado para semente.

Algumas famílias assentadas do PA União, bem como todas as famílias do PA Emanoel Joaquim, acreditam que não basta apenas corrigir os efeitos nocivos da agricultura tradicional através do sistema orgânico de produção. É preciso ir mais além. Por isso, desenvolvem o sistema agroecológico de produção em seus lotes, tendo sempre como referência, os ideais da sustentabilidade, tanto ecológica, econômica e social, quanto cultural, política e ética.

Neste sentido, os assentados do PA Emanoel Joaquim se destacam pelos seguintes motivos: a) o trabalho é desenvolvido totalmente com base na mão de obra familiar; b) possuem uma produção diversificada; c) conciliam a produção agrícola com a preservação e o equilíbrio do meio ambiente; d) priorizam o consumo interno, comercializando apenas o excedente, e de preferência para o mercado interno; e) buscam qualidade de vida, principalmente através da ingestão de alimentos saudáveis; f) valorizam a cultura local; e entre outros, preocupam-se com o fortalecimento da família rural.

Além disso, conforme o estatuto interno da Associação: não se pode comercializar nenhum tipo de bebida alcoólica no interior do assentamento, pois acreditam que a bebida em excesso pode desestruturar famílias. Não se pode tomar banho e tão pouco banhar os animais dentro das fontes naturais de água, pois têm em mente que se eles não precisarem da água para o consumo doméstico, há quem precise, mesmo sendo de outras localidades. Na verdade todas as fontes naturais de água nesse PA são coletivas, justamente porque acreditam que “Deus quando manda água manda para todos”.

As crianças são motivadas a ajudar os pais nas atividades agropecuárias, pois acredita- se que se não houver continuidade dos trabalhos por parte da nova geração, as condições de vida futuras serão comprometidas, pois são as famílias do campo que colocam comida na mesa das famílias da cidade.

No documento Download/Open (páginas 151-154)