• Nenhum resultado encontrado

Acidentes de trabalho identificados pelas fichas do Sistema de Informação

Trabalho

Ao analisar o levantamento dos acidentes de trabalho notificados nas fichas do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e Relatórios de Atendimento ao Acidentado do Trabalho (RAAT), pelos profissionais de enfermagem da saúde coletiva de um Colegiado de Gestão Regional, no período de agosto de 2006 a agosto de 2011, foram encontrados registros de 19 fichas de notificação de acidentes com MB do SINAN e 11 RAAT. Não se detectou notificações repetidas em fichas SINAN e RAAT. Alguns municípios possuíam somente fichas do SINAN em seus registros, outros, somente RAAT, o que denota falta de normalização dos registros de acidentes nos municípios em estudo. Verificou-se o registro de acidentes de 30 profissionais, em um total de 30 acidentes. Na Tabela 1 está apresentada a caracterização sociodemográfica e do trabalho dos profissionais que notificaram acidentes.

Entre os profissionais que notificaram acidentes de trabalho, a idade variou de 21 a 60 anos, com maior frequência na faixa etária de 31 a 40 anos (36,7%), 96,7% pertenciam ao sexo feminino, 50% à categoria de Técnico de enfermagem e 43,3% ao município B.

Tabela 1 – Distribuição dos profissionais da saúde coletiva (n=30) que notificaram acidente

de trabalho no período entre 2006 e 2011, identificados por meio da Ficha do Sistema de Informação de Agravos de Notificação e do Relatório de Atendimento ao Acidentado do Trabalho

A caracterização dos acidentes de trabalho notificados está apresentada na Tabela 2.

O maior número de notificações ocorreu nos anos de 2010 e até agosto de 2011, por maior conscientização ou cobrança de setores responsáveis em relação à notificação dos acidentes de trabalho e aos incentivos à linha de cuidado em saúde do trabalhador.

Somente acidentes de trabalho típicos foram notificados. A maioria (90%) foi por exposição a material biológico, sendo 24 percutâneos, três (3) que atingiram a pele íntegra. Destes, em 26 houve exposição a sangue e em um (1) o material biológico era ignorado.

Estudos em trabalhadores da saúde ou somente da enfermagem confirmam maior notificação de acidentes com MB (BARBIN, 2003; NAPOLEÃO; ROBAZZI, 2003; NISHIDE; BENATTI; ALEXANDRE, 2004; DALRI, 2007; RIBEIRO; SHIMIZU, 2007; PINHO; RODRIGUES; GOMES, 2007; MIRAZI et al., 2008; GIOMO et al., 2009).

Variáveis f %

Faixa etária (anos)

20 —| 30 07 23,3 30 —| 40 11 36,7 40 —| 50 06 20,0 50 —| 60 06 20,0 Sexo Feminino 29 96,7 Masculino 01 3,3 Categoria profissional Auxiliar de enfermagem 08 26,7 Técnico de enfermagem 15 50,0 Enfermeiro 07 23,3

Município paulista de atuação

A 03 10,0 B 13 43,3 C 01 3,3 D 02 6,7 E 08 26,7 F 03 10,0

Tabela 2 – Distribuição dos acidentes de trabalho notificados por profissionais da saúde

coletiva (n=30) no período entre 2006 e 2011, identificados por meio da Ficha do Sistema de Informação de Agravos de Notificação e do Relatório de Atendimento ao Acidentado do Trabalho Variáveis f % Ano de notificação 2006 00 00 2007 02 6,7 2008 02 6,7 2009 06 20,0 2010 10 33,3 2011 10 33,3 Tipo de acidente

Exposição a material biológico 27 90,0

Quedas 02 6,7

Mordedura de animais domésticos 01 3,3

Atividade em execução

Administração de medicação 07 23,3

Glicometria 05 16,7

Coleta de sangue 04 13,3

Manuseio de material usado 03 10,0

Manipulação da caixa para descarte de perfurocortantes 02 6,7

Remoção de punção venosa 01 3,3

Visita domiciliar 01 3,3 Contenção de paciente 01 3,3 Procedimento odontológico 01 3,3 Não mencionada 05 16,7 Condutas de atendimento Consulta médica 15 50,0

Consulta médica e exames laboratoriais 09 30,0

Consulta médica, exames laboratoriais e teste rápido no paciente-fonte 02 6,7 Consulta médica, exames laboratoriais e profilaxia HIV 01 3,3

Consulta médica e teste rápido no paciente-fonte 01 3,3

Consulta médica e teste rápido no profissional 01 3,3

Consulta médica, exames laboratoriais, teste rápido no paciente-fonte e profilaxia HIV 01 3,3

Local de atendimento

Hospital/Pronto Socorro 13 43,3

Hospital/Pronto Socorro/Unidade Básica de Saúde e Vigilância Epidemiológica 13 43,3 Unidade Básica de Saúde/Unidade de Saúde da Família 02 6,7

Unidade de Referência em Doenças Infecciosas 02 6,7

Seguimento

Seguimento clínico e laboratorial 05 16,7

Seguimento clínico e laboratorial e alta 01 3,3

Abandono 01 3,3

Nenhum 05 16,7

Não mencionado 18 60,0

Resolução

Caso resolvido na unidade de atendimento 18 60,0

Caso encaminhado para especialidade 03 10,0

Aguardando resultado de exames 04 13,3

Alta paciente-fonte negativo 04 13,3

Abandono 01 3,3

Emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho

Sim 12 40,0

Quanto às atividades que executavam no momento do acidente, as mais frequentes foram: administração de medicações (23,3%), realização de glicometria (16,7%), manuseio de material usado (10%) e manuseio de caixa para descarte de perfurocortantes (6,7%). Em cinco acidentes (16,7%) as atividades não foram mencionadas.

A consulta médica (50%) foi a principal conduta de atendimento, seguida de consulta médica e exames laboratoriais (30%) e consulta médica, exames laboratoriais e teste rápido no paciente-fonte (6,7%). Vale ressaltar que profilaxia para HIV, associada a consulta médica e exames laboratoriais, foi realizada em duas pessoas (6,6%).

A maioria dos acidentados foi atendida no hospital/pronto socorro ou no hospital/pronto socorro/UBS e vigilância epidemiológica.

Na maioria dos casos (60%) não foi mencionado nenhum seguimento do profissional, tampouco emissão da CAT. Seguimento clínico e laboratorial e seguimento clínico, laboratorial e alta ocorreram em 16,7% e 3,3% dos casos, respectivamente.

Em quatro (4) acidentes (13,3%) foi solicitada realização de teste rápido anti- HIV no paciente-fonte, o que coincide com os casos de alta por paciente-fonte negativo. Os dados sugerem que não houve acompanhamento adequado, pois grande número de fichas de notificação encontrava-se sem finalização do caso, ou com informação de terem sido resolvidos na unidade de atendimento, sem avaliação de especialista.

De acordo com São Paulo (2009), entre 2007 e 2009, 53,5% dos acidentes com MB notificados no Estado de São Paulo tiveram alta definitiva sem soroconversão após seguimento de seis meses ou alta com paciente-fonte negativo. Entretanto, grande número de acidentes permanecia com seguimento sem preenchimento ou ignorado; e muitos destes, provavelmente, sofreram perda de seguimento e necessitavam assim ser notificados (encerramento como abandono). A notificação de acidente requer mais de uma entrada de dados (no início, no registro das sorologias e no fechamento do caso), sendo que os serviços de saúde e de vigilância epidemiológica dos municípios devem ficar atentos para promover o adequado encerramento dos casos.

Durante a coleta dos dados cabe ressaltar o preenchimento incompleto ou inexistente de dados nas fichas de notificação, como, por exemplo, resultados de

exames, situação vacinal do acidentado e utilização de EPI. Sobre este último, apenas em nove notificações foi mencionado uso de luvas, e em uma o uso de avental. Nas demais, 20, os profissionais não utilizavam EPI ou este item não foi preenchido.

O grave problema de preenchimento inadequado das notificações também foi apontado por diversos autores que trabalharam a temática dos acidentes de trabalho em profissionais de saúde (MUROFUSE; MARZIALE; GEMELLI, 2005; CHIODI; MARZIALE; ROBAZZI, 2007; SPAGNUOLO; BALDO; GUERRINI, 2008; VIEIRA; PADILHA; PINHEIRO, 2011).

Segundo São Paulo (2009), relacionados aos acidentes com MB, os serviços de vigilância devem verificar a qualidade da informação gerada e se atentar para alguns marcadores, como a soroconversão de funcionários, taxa de cobertura vacinal, taxa de utilização adequada de quimioprofilaxia, falta de encerramento dos casos de acidentes com mais de doze meses de ocorrência e percentual de encerramento de casos por paciente-fonte negativo, que é o modo mais desejável, pois reduz o tempo de seguimento, elimina meses de ansiedade e sofrimento para o acidentado, além de refletir o empenho do serviço de saúde local na resolução do caso.

A falta de normas para preenchimento das notificações sugere a necessidade de intervenção nesta realidade e treinamento dos profissionais que notificam acidentes, garantindo maior efetividade destas ações.

O preenchimento das fichas do SINAN e RAAT é importante para o conhecimento da realidade epidemiológica do município e para que sejam propostas ações de prevenção de acidentes e de doenças ocupacionais, porém, do ponto de vista trabalhista e previdenciário, o documento que deve ser preenchido é a CAT.

Estes dados e o resultado das entrevistas remetem à convicção de que um percentual significativo de acidentes ocupacionais não é notificado (nem pelo acidentado, nem pelo serviço de saúde). Sem informações será difícil identificar a magnitude do problema e propor soluções.