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Acondicionamento do acervo nas dependências da Fundação Joaquim Nabuco

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6. A CONSTRUÇÃO DO ACERVO DO MUSEU DO MAMULENGO

6.2. Acondicionamento do acervo nas dependências da Fundação Joaquim Nabuco

Como mencionado anteriormente, os dois primeiros lotes da Coleção foram adquiridos pela FUNDAJ mediante patrocínio no ano de 1988. No dia 28 de julho de 1989, a diretora do Museu do Homem do Nordeste - Maria Christina A. Mattos de Oliveira solicita a diretora de restauração da FUNDAJ a desinfestação de 640 peças, referente aos dois primeiros lotes, em caráter de urgência devido aos ataques de polia em algumas peças com o risco de comprometer a coleção.

No dia 24 de outubro de 1989, Ciema Mueller, diretora do Museu do Homem do Nordeste (MUHNE), comunica a diretora de restauração da FUNDAJ o pedido de suprimentos de fundos para a compra do material necessário para a desinfecção da coleção.

No dia 20 de novembro de 1989, devido ao não atendimento das solicitações, Ciema Mueller encaminha outro pedido para a diretora do setor de restauração da FUNDAJ. A diretora do MUHNE, responsável pelo órgão destinado a salvaguarda do acervo do Museu do Mamulengo ressalta o caráter de urgência diante do risco de deterioração das peças e o não cumprimento do acordo por parte da Fundação Joaquim Nabuco:

Vimos por meio deste encarecer a V. As. Providências urgentes no sentido de desinfestar a coleção Mamulengo Só-Riso [...]

A urgência das referidas providências justifica-se não só para impedir a deterioração física das peças, mas, também, para garantir ao Museu, e, por extensão, a FUNDAJ condições de honrar sua parte no referido

convênio, qual seja a de manter íntegra o acervo que oportunamente será transferido ao Espaço Tiridá. (MUELLER, 1989, p. 1).

O não cumprimento das solicitações de desinfecção por parte do Núcleo de Restauração está atrelado à falta de recursos. Com isso, o Museu do Homem do Nordeste transfere NCz$ 245,00 (duzentos e quarenta e cinco novos cruzados) para a compra de materiais necessários para a desinfecção do acervo.

No dia 25 de julho de 1991, Ciema Mueller encaminha um documento para o Superintendente do INDOC da Fundação comunicando a situação do acervo acomodado nas dependências do Museu do Homem do Nordeste. No documento em questão, a diretora do MUHNE relembra que o acervo não pertence a FUNDAJ:

[...] Por conseguinte, trata-se, de acervo que não pertence a Fundação, o qual, por força de contrato, cabe-lhe custodiar, isto é, preservar sua integridade física e promover o registro que efetivamente o transforma em acervo museológico.

No entretanto as 1.064 peças que integram a coleção estão infestadas por cupins que ameaçam destruí-las, posto que a madeira com que foram esculpidos os bonecos por qualidade – peroba-, uma das mais fáceis de se deixar consumir por esta praga. (MUELLER, 1991, p. 1).

Como mencionado anteriormente, a Fundação Joaquim Nabuco adquiriu a coleção de 960 bonecos advindas do Mamulengo Só-Riso. Confrontando os contratos referentes aos lotes e o documento encaminhado por Ciema Mueller em 1991 é possível verificar o aumento do Acervo de Fernando Augusto Santos – Mamulengo Só-Riso nas dependências da FUNDAJ. Todavia, não constam, no arquivo da Fundação Joaquim Nabuco, documentos referentes a essas peças. O que nos leva acreditar na hipótese de que a diferença de 104 peças seja fruto da doação de terceiros ao Museu do Mamulengo. Como a FUNDAJ era a responsável pelo assessoramento técnico do acervo e realizava as ações de imunização, classificação e catalogação do acervo nas dependências do Museu do Homem do Nordeste, é provável que as 104 peças tenham sido encaminhadas para a instituição. Em relação ao registro das peças citado por Ciema Mueller, identificamos que o mesmo ocorreu entre os anos de 1988 e 1990.

Outro fato a ser analisado no documento encaminhado pela diretora do Museu do Homem do Nordeste (1991, p. 1) é o tipo de madeira utilizado na fabricação dos bonecos. Como lemos nos livros de Hermilo Borba Filho (1987), Fernando Augusto dos Santos (1979) e no próprio Dossiê Interpretativo (2015), a madeira utilizada no fabrico dos bonecos, na maior parte dos casos é o mulungu e não peroba como mencionado pela diretora do Museu do Homem do Nordeste. Pelo fato da peroba ser uma espécie de madeira muito utilizada na construção civil por sua durabilidade e resistência a pragas, acreditamos que tenha ocorrido

um equívoco por parte da diretora do Museu do Homem do Nordeste quanto a classificação da matéria-prima utilizada no fabrico dos bonecos.

Ainda na análise deste documento, Ciema Mueller solicita o pagamento de horas extras aos funcionários do setor de manutenção do Museu do Homem do Nordeste, visto que o LABORARTE, setor de restauro da FUNDAJ, não possuía funcionários suficientes para a realização das atividades de desinfecção do milheiro do acervo.

A documentação sobre os serviços de desinfecção e restauro do acervo são escassas. O documento Memo n.28/99 datado de 30 de junho de 1999, encaminhado do setor de restauro para a Coordenação de Museologia da Fundação nos indica que esses serviços eram desenvolvidos dentro da FUNDAJ.

Neste documento é descrita uma espécie de treinamento ocorrida no mês de março do ano corrente para a capacitação de dois funcionários do Museu do Mamulengo nas atividades de restauro e desinfecção do acervo contra pragas. No lote de 24 peças utilizadas para tal atividade foi possível recuperar 23. Uma peça foi descartada devido ao estrago provocado pelos cupins. O que demonstra a necessidade de serviços de monitoramento do acervo, além de recursos para compra de materiais no combate das pragas e no pagamento de funcionários para a realização de tais atividades.

Sobre este treinamento, atentamos o fato de que, no ano de 1999, cinco anos após a inauguração do Espaço Tiridá – Museu do Mamulengo, parte do acervo destinado a instituição ainda estar sob a responsabilidade da Fundação Joaquim Nabuco. Nos contratos havia cláusulas que determinavam a transferência do acervo para as dependências do Museu do Mamulengo, assim que este fosse inaugurado. O que não veio a ocorrer. O processo de transferência do acervo da FUNDAJ para o Museu do Mamulengo será abordada no próximo capítulo.

Ao longo deste capítulo evidenciamos os processos burocráticos referentes à coleção de bonecos e objetos de cenas reunidos pelo Mamulengo Só-Riso ao longo de duas décadas de trabalho e pesquisa em torno do teatro de formas animadas.

Identificamos a perspicácia do diretor do grupo Fernando Augusto que, da mesma forma que ocorreu no processo da compra do imóvel nº 59, conseguiu articular parcerias para viabilizar a composição do acervo do Museu do Mamulengo.

Nesse processo podemos analisar as ações do Grupo Só-Riso por meio do que Maria da Glória Gohn (2012) nomeou de “estrutura de oportunidades políticas”. Em 1986 é criada a Lei nº 7.505 de incentivo a cultura. Com isso, diversas empresas privadas passaram a financiar, por meio de doações, determinadas ações em espaços culturais, como os museus.

Desse modo, no ano de 1988, dois anos após a criação da referida Lei, um conjunto de 640 peças reunidas pelo Mamulengo Só-Riso foi vendido para a FUNDAJ com a ressalva de que fossem repassadas para o Museu do Mamulengo após a sua inauguração. Entre os agentes que financiaram a aquisição do acervo estavam a Itabira Agroindustrial S. A e o Banco do Nordeste do Brasil S. A. Na documentação analisada não encontramos elementos que justificassem tais doações, o que nos leva a acreditar na hipótese de que tais parcerias tenham sido firmadas com o intuito da dedução fiscal incentivada da Lei nº 7.505.

Com as parcerias estabelecidas, além de receber uma quantia superior a casa dos trinta milhões de cruzeiros, o Mamulengo Só-Riso contaria com o apoio da FUNDAJ nos serviços de imunização, restauro e classificação do acervo.

Estava assim assegurado que o acervo reunido ao longo de décadas pelos membros do Mamulengo Só-Riso estaria a salvo da venda para colecionadores estrangeiros. Ele seria concebido como acervo do Museu do Mamulengo sediado no Centro Histórico de Olinda, patrimônio da Humanidade.

Após conseguir viabilizar a compra do imóvel e as questões burocráticas do acervo, analisaremos no próximo capítulo a repercussão da inauguração do Museu do Mamulengo nos principais jornais do Estado, além de abordar os desdobramentos após a inauguração do primeiro museu da América Latina destinada salvaguarda do teatro de bonecos popular do Nordeste.

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