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Espaço Tiridá na Legislação Municipal de Olinda e a Formação do Conselho

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7. INAUGURAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO DO MUSEU DO MAMULENGO

7.2. Espaço Tiridá na Legislação Municipal de Olinda e a Formação do Conselho

Ao consultar o Diário Oficial do Município de Olinda, verificamos que o então Prefeito da Cidade de Olinda, Germano Coelho, sancionou a Lei Nº 4997/95 no dia 12 de abril de 1995. Nesta foi instituída toda a estrutura organizacional do Poder Executivo do Município. O inciso IV do 5º artigo é dada a institucionalidade das unidades semiautônomas:

Unidades Semi-autônomas, instituídas pelo Poder Executivo no contexto da estrutura organizacional de qualquer dos seus órgãos, como unidades administrativas e ou orçamentárias da Administração Direta, sem personalidade jurídica própria, mas com autonomia relativa para a consecução dos objetivos e metas específicos. (OLINDA, 1995, p.2).

No Diário Oficial do mês de outubro de 1995, Germano Coelho através do Decreto Nº 127/95 institui uma ementa à Lei 4997/95 no que diz respeito as Unidades Semi- autônomas (USA). No referido Decreto o Prefeito de Olinda elenca seis considerações para a institucionalização das USAs:

O PREFEITO DE OLINDA no uso das suas atribuições legais, e 1- Considerando o que lhe faculta a Lei 4.997 de 12 de abril de 1995.

2 - Considerando a necessidade de buscar formas mais modernas de gestão da coisa pública, inclusive através da introdução de práticas empreendedoras em espaços seletivos da administração municipal. 3 - Considerando os frutos já obtidos com a Reforma Administrativa, implantada pela Lei supra mencionada.

4 - Considerando a necessidade de alcançar resultados significativos em unidades específicas da Administração de Olinda, para as quais a Prefeitura não dispõe de todos os recursos necessários à sua realização. 5 - Considerando ser a instituição de Unidades Semi-autônomas, uma solução organizacional definida na Reforma Administrativa de Olinda, para dar, a segmentos da sua administração direta, maior autonomia, flexibilidade, possibilidade de gerar receita, firmar convênios, captar recursos e tomar outras inciativas empreendedoras, sob a garantia do uso prioritário da receita própria, com as despesas operacionais dessas mesmas unidades.

6 - Considerando o bom estado de organização que algumas unidades administrativas alcançaram e a manutenção do controle global sob a responsabilidade dos respectivos Secretários Municipais. (OLINDA, 1995, p.1).

Analisando as considerações de nº 4 e 5, identificamos que a saída encontrada pela Prefeitura da Cidade de Olinda para viabilizar algumas unidades administrativas do município foi a instalação das USAs. O principal motivo alegado foi a falta de recursos por parte do Município para atender as necessidades e metas de cada setor. Com isso, a criação de Unidades Semi-autônomas seria uma solução viável para capitalizar recursos por meio de parcerias e convênios.

O Decreto Nº 127/95 possui 17 artigos. No Artigo 1º do Decreto são instituídas oito USAs vinculadas ao gabinete do Prefeito, a Secretaria do Patrimônio Cultural e Turismo (SEPACTUR), a Secretaria de Educação e à Secretaria de Administração. Em relação a SEPACTUR foram instituídas três Unidades Semi-autônomas: USA Laboratório Municipal de Preservação, USA Espaço Tiridá e a USA Arquivo Público Municipal. Do Artigo 2º ao Artigo 9º são descritas a finalidade de cada Unidade Semi-autônoma. A finalidade do Espaço Tiridá está descrita no Artigo 4º:

A Unidade Semi-autônoma Espaço Tiridá, tem por finalidade a administração do Espaço Tiridá – Museu do Mamulengo, constituído de acervo museológico e documental de expressão artística do universo do mamulengo, com o objetivo de preservar, manter e divulgar este acervo e a arte do mamulengo. (OLINDA, 1995, p.1).

O Artigo 12º do Decreto prevê que o Cargo de Gerente de uma USA é obtido por meio de nomeação do Prefeito do Município de Olinda. Para administrar o Espaço Tiridá – Museu do Mamulengo foi nomeada no dia 02 de maio de 1995, através do Ato Nº 510/95 publicado no Diário Oficial do mês de julho, Izolda Ferreira Pedrosa, integrante do grupo Mamulengo Só-Riso.

No Decreto Nº 154/96 publicado no Diário Oficial do mês de outubro de 1996, Germano Coelho sanciona uma Ementa que aprova o regulamento da estrutura organizacional da Secretaria do Patrimônio Cultural e Turismo. No Decreto são instituídas as finalidades de cada departamento, além das funções de cada cargo e dos aparatos culturais que compõem a estrutura da SEPACTUR.

O Espaço Tiridá é citado nos Artigos 54 e 55 do Decreto 154/96. O Artigo Nº 54 faz alusão aos seus princípios norteadores:

Art. 54 – O Espaço Tiridá é uma Unidade Semi-Autonôma da Secretaria do Patrimônio Cultural e Turismo, de direito público com semi- autonomia administrativa e financeira ligada diretamente com o Secretário, criada pela lei da Reforma Administrativa 4997/95 no dia 12 de abril de 1995 e opera de acordo com os seguintes princípios:

I - Afirmar o teatro popular de bonecos como patrimônio cultural brasileiro, superando a dicotomia entre cultura erudita e popular;

II - orientar-se pelos modernos conceitos da museologia contemporânea, criando um museu vivo e dinâmico capaz de produzir alterações significativas na prática dos mestres-mamulengueiros;

III - afirmar-se junto à comunidade como centro irradiador da pluralidade de expressões artísticas que integram o universo do Mamulengo;

IV - afirmar-se na rede pública de ensino gosto pela tradição dos bonecos, incentivando sua prática e divulgação. (OLINDA, 1996, p. 30).

A partir da leitura do primeiro princípio que visa a afirmação do teatro popular de bonecos como patrimônio cultural brasileiro, entendemos que o Museu funcionaria como um vetor para a divulgação desta manifestação cultural. Ao aproximar a comunidade do Espaço Tiridá, os agentes envolvidos no projeto enxergavam nessa ação uma alternativa viável para a preservação do teatro de bonecos. Ao incentivar a prática de teatro de bonecos junto ao público escolar, o Espaço Tiridá buscava desempenhar o papel de formar novos mamulengueiros.

O Artigo Nº 55 é referente às competências do Espaço Tiridá, entre elas: Art. 55 – Ao Espaço Tiridá compete:

I – Estudar, registrar, classificar, selecionar, conservar e expor o acervo museológico-documental, composto de mamulengos e adereços cênicos, além de fotografias, slides, vídeo, fotas [fitas] cassetes, livros, etc. II – promover a divulgação do seu acervo através de diversos meio e veículos;

III – subsidiar a formulação e implantação de uma política cultural de apoio e valorização da arte do Mamulengo. (OLINDA, 1996, p. 30).

Por meio desses itens é perceptível que os agentes que conceberam o Espaço Tiridá tinham grandes pretensões, estas que iriam além da exposição do acervo museológico. O intuito era criar um Centro de Documentação fruto das pesquisas realizadas pelo Mamulengo Só-Riso desde a década de 1970, além de criar simpósios, festivais e círculo de discussões em

torno do Mamulengo. Para tanto era preciso ampliar o espaço do imóvel, através da reforma do prédio anexo.

No Diário Oficial do mês de outubro de 1996, através da matéria “Museu do Mamulengo terá centro de documentação” (1996, p. 40) foi divulgado que a Funarte iria providenciar de forma mais rápida a liberação de uma verba junto ao Ministério da Cultura para a realização da reforma do anexo da sede do Museu do Mamulengo. O valor em questão era o montante de R$ 30.000,00 (trinta mil reais). Com a conclusão das obras do anexo seria instalado o centro de documentação e pesquisa sobre o teatro popular de bonecos:

O centro de documentação, parte mais importante do novo espaço, explica a secretária do Patrimônio Cultural e Turismo de Olinda, Marieta Borges, vai reunir material bibliográfico, iconográfico e fonográfico sobre a história do teatro de bonecos no Brasil. Todos os dados já estão sendo automatizados, através de um programa da Unesco, destinado às bibliotecas e centros de documentação, utilizando o Microisis, que permite o lançamento de uma infinidade de registros, que podem ser agrupados em quantas bases de dados forem necessárias. (OLINDA, 1996, p. 40).

A partir deste documento fica evidente que a segunda etapa do Espaço Tiridá estava perto de ser efetivada, pois tanto a liberação da verba para o término das obras quanto o processo de catalogação e registro do acervo documental estavam próximas de serem concretizadas. O dia 14 de dezembro de 1996 é apontado na matéria como a data prevista para abertura do centro de documentação, após dois anos da inauguração do Museu. Em comemoração, o evento ainda contaria com apresentações de dois grupos internacionais de marionetes.

Mais uma vez não foi mencionada na matéria a participação de bonequeiros/mamulengueiros da região no evento. A ausência dessa informação não significa, necessariamente, que esses artistas não participaram de fato. Todavia, ao não serem mencionados em nenhuma notícia sobre o Museu do Mamulengo, nos leva a questionar até que ponto os artistas mamulengueiros estavam integrados, de fato, ao Espaço Tiridá, pois a presença dos mesmos não foi citada em nenhuma das matérias analisadas nesta pesquisa, seja nos jornais ou no próprio Diário Oficial.

Na matéria “Museu do Mamulengo terá centro de documentação” publicada no Diário Oficial (1996, p. 40) também foi mencionada a realização de uma reunião do Conselho Diretor que administrava o Espaço Tiridá. O Conselho era formado pelo grupo Mamulengo Só-Riso, a Prefeitura de Olinda, IPHAN, FUNDAJ e pela FUNARTE.

Resultado do Convênio Nº 02/95 de 04 de julho de 1995 firmado entre as partes citadas, o Conselho Diretor foi instaurado no dia 21 de julho de 1995. Ao consultar o arquivo

da Fundação Joaquim Nabuco, encontramos o Ofício Nº 512/95 encaminhado pelo Prefeito da Cidade de Olinda, Germano Coelho, ao Presidente da FUNDAJ sobre a realização da reunião do Conselho com o objetivo de iniciar as atividades da segunda etapa do Projeto Espaço Tiridá.

Neste Ofício, Germano Coelho relata a participação dos órgãos envolvidos para a criação do Museu do Mamulengo:

Graças ao esforço conjunto do Ministério da Cultura – FUNARTE, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – FUNDARPE, desta Prefeitura de Olinda e do Mamulengo SÓ-RISO – que concebeu, articulou e promoveu a união dessas instituições -, o ESPAÇO TIRIDÁ – Museu do Mamulengo é hoje uma realidade, pioneira que engrandece Olinda, Pernambuco e o Brasil. (COELHO, 1995, p.1).

Como vemos neste ofício, uma das metas do Conselho Diretor era a viabilização do Plano de Ação que, além da reforma do anexo do Museu do Mamulengo para a instalação do Centro de Pesquisa e Documentação, previa a implantação do projeto museográfico, assim como a construção da reserva técnica e salas de vídeo. No plano também foi descrito a compra de equipamentos para a sala da diretoria e livros para compor o acervo do Museu. Ao todo foram previstas um conjunto de 14 ações discriminadas em um quadro contendo os objetivos, valor de cada uma, fontes para capitação e os resultados de cada ação.

Ao observar o “Plano de Ação”, verificamos a participação de cada órgão. O IPHAN participaria das ações referentes a reformas (casa principal e do anexo) cedendo recursos financeiros e técnicos para vistoria e elaboração dos projetos. Em relação a Fundação Joaquim Nabuco observamos que a instituição estaria envolvida nos processos referentes ao acervo e a execução do projeto museográfico. A Funarte, Fundarpe e a Fundação Vitae no financiamento das ações. A Prefeitura da Cidade de Olinda também participaria financiando as ações, além de ceder funcionários para a realização de serviços. O Mamulengo Só-Riso coordenaria as atividades, representada no Plano pelo item “seminário”. O valor total para a conclusão do Plano de Ação estava orçado, em 1995, em R$ 194.255,00 (Cento e noventa e quatro mil, duzentos e cinquenta e cinco reais).

Na entrevista dada por Fernando Augusto Gonçalves a Leidson Ferraz em 2011, o diretor do Mamulengo Só-Riso, alega o não cumprimento das atribuições da maior parte das instituições envolvidas no Conselho Diretor do Museu do Mamulengo:

O corpo de funcionários é bancado pela prefeitura e quem administra o prédio é um conselho formado pela Funarte, Iphan, Fundação Joaquim Nabuco, Fundarpe e Mamulengo Só-Riso. Cada um tem suas atribuições,

mas ninguém cumpre nenhuma, só a prefeitura e nós. (FERRAZ, 2011, p. 96).

Através deste depoimento é perceptível o descontentamento por de Fernando Augusto Gonçalves com o Conselho Diretor. Todavia, ao relatar que “ninguém cumpre nenhuma” atribuição demonstra certo exagero por parte do diretor do Mamulengo Só-Riso. Ao longo da documentação analisada identificamos e citamos uma série de solicitações encaminhadas seja pela diretoria do Museu do Mamulengo ou pelo Prefeito Germano Coelho atendida por parte da FUNDAJ ou do IPHAN.

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