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O ACORDO COLETIVO DE PRIVATIZAÇÃO – ACP

4. EPC PILAR S/A: ANTECEDENTES HISTÓRICOS

4.4 O ACORDO COLETIVO DE PRIVATIZAÇÃO – ACP

O ACP foi assinado, em 6 de julho de 1994, pela Mineração Caraíba, Caraíba Metais (promissária adquirente na época), SINDIMINA e COPAC. O acordo contemplava todos os termos negociados entre as partes para se ter a passividade dos trabalhadores na privatização da Mineração Caraíba S/A. A seguir, temos o Quadro 3, que sintetiza os pontos acordados.

DISCRIMINAÇÃO VALOR OBSERVAÇÃO

Indenização por dispensa de empregados.

Além das obrigações legais:

 3 Avisos Prévios;

 25% da remuneração bruta mensal por ano trabalhado ou fração;

Esta dispensa se dá com empregados que não têm condições de saúde para continuar na empresa, sendo detectados no inventário de saúde ocupacional realizado após o ACP.

24 É importante frisar que este valor, relativamente baixo, não considera os R$ 8 milhões de passivo trabalhista e

todo o patrimônio da Mineração Caraíba, uma vez que parte deste foi (será) transferido para os trabalhadores (com o fim da lavra). Os diretores do SINDIMINA afirmam que a Mineração foi “dada”, pois só em produto estocado (cobre) havia mais de US$ 20 milhões, além de o dinheiro para a compra ter sido emprestado pelo BNDES. Eles acham estranho também, a Mineração vir trabalhando “no vermelho” um ano antes da privatização e após 3 meses de sua efetivação, tornar-se lucrativa.

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Grupo brasileiro que atua no setor financeiro e tem participação em empresas operacionais na fabricação de petroquímicos intermediários. Disponível em http://www.fazenda.gov.br/portugues/releases/2002/r020709.asp, capturado em 12 de maio de 2005.

 Garantia de recompra das cotas da Mineração doadas pelo ACP. Doação de todas as terras, equivalente a 13 mil ha.

US$ 2.875.000,00 As terras que não eram objeto de extração de cobre foram transferidas logo após a privatização. As demais serão após o fim da lavra.

Doação dos imóveis da Vila do Pilar (equipamentos, benfeitorias,

residências, hospital, clubes, escolas, etc).

US$ 51.352.000,00 O hotel, as escolas, os clubes e os alojamentos coletivos só serão transferidos para os

trabalhadores após o fim da lavra.

Doação de equipamentos industriais.

Até US$ 345.430.000,00 A doação só se concretizará após o fim da lavra, mediante avaliação e aprovação da Mineração. Os critérios usados correspondem à

implementação de projetos econômicos

alternativos que visem a perenização do Distrito de Pilar, desde que o valor do equipamento não seja relevante para liquidação da Mineração Caraíba. Neste intere os equipamentos podem ser cedidos sob as mesmas condições.

Doação da adutora26 e seus equipamentos.

US$ 37.829.000,00 A doação só se concretizará após o fim da lavra. Utilização marginal de

equipamentos.

- A Mineração permitirá a utilização marginal de seus equipamentos de terraplanagem, transporte e outros, sem custos, para a implementação de projetos econômicos alternativos.

26 Esta adutora transporta água do Rio São Francisco até as instalações da Mineração Caraíba. Atualmente,

DISCRIMINAÇÃO VALOR OBSERVAÇÃO Doação de cotas de capital da Mineração Caraíba S/A. 20% do capital social objeto do leilão de desestatização.

Metade das cotas distribuídas igualitariamente entre os trabalhadores e outra metade de forma inversamente proporcional às indenizações trabalhistas recebidas (quitação do passivo trabalhista).

Doação de verba para financiamento de projetos.

US$ 1.000.000,00 A Mineração custeará estudos e implantação de projetos econômicos alternativos que favoreçam a perenização do Distrito de Pilar e região. Quitação do passivo

trabalhista e cível

US$ 8.000.000,00 Pagou-se aos trabalhadores que tinham causas trabalhistas.O que acabou acontecendo para todos, pois quem não tinha foi orientado a entrar sob qualquer pretexto.

Auxílio à manutenção das escolas.

- A Mineração Caraíba manterá o auxílio financeiro às escolas do Distrito de Pilar e ao transporte de estudantes para Juazeiro e Petrolina, até o fim da lavra.

Constituição de cooperativa

- Coube aos trabalhadores e SINDIMINA

constituir uma pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, nos moldes de uma

cooperativa de trabalho, com o objetivo de gerir o patrimônio doado pela Mineração e implantar os projetos econômicos alternativos para a perenização do Distrito de Pilar.

Retirada de todas as ações judiciais,

denuncias e acusações.

- Os trabalhadores e o SINDIMINA se

comprometeram a retirar todas as ações judiciais contra a privatização e a empresa, inclusive as trabalhistas. Além das denúncias e acusações formuladas junto à Delegacia Regional do Trabalho (DRT) e Procuradoria Regional do Trabalho. Em contra-partida, a Mineração assumiu o compromisso de implantar programas exemplares na área de saúde industrial e emitir as CATs27, de acordo com a legislação vigente e, igualmente, retirar todas as ações e denuncias contra o SINDIMINAS e trabalhadores existentes na justiça ou em outros órgãos públicos.

Reintegração de um diretor do

SINDIMINA e rescisão, sem justa causa, de outro.

- A Mineração assumiu o compromisso de reintegrar um diretor do SINDIMINA que havia sido demitido, quitando os seus direitos

trabalhistas, e rescindir o contrato de outro, sem justa causa, arcando com as indenizações previstas em lei e no ACP.

Quadro 3: Pontos negociados no ACP Fonte: Mineração Caraíba, 1994.

A perspectiva dos trabalhadores ao assinar o ACP era extremamente positiva. Ao analisar o Quadro 3, verifica-se que o acordo envolve montantes financeiros na ordem de meio bilhão de dólares, entre a quitação de passivo trabalhista, doação de terras, equipamentos e todos os imóveis da Vila. Nunca na história brasileira um grupo de trabalhadores teve a possibilidade de possuir um patrimônio nesta magnitude.

Entretanto, após a sua aplicação, o ACP mostrou as suas limitações, o que acabou frustrando a maioria dos trabalhadores, como podem ser vistos nos itens a seguir:

1. A divisão do recurso referente à quitação do passivo trabalhista e cível (US$ 8 milhões) – o valor referente ao pagamento do passivo trabalhista e cível foi calculado pela COPAC a partir das causas trabalhistas e ações cíveis contra a Mineração Caraíba existentes, mas acabou sendo diluído pela totalidade dos trabalhadores e funcionários. Como a proposta envolvia o pagamento àqueles que tinham causas na justiça, todos os funcionários foram orientados, pela própria Mineração e SINDIMINA, a ingressarem na justiça trabalhista sob qualquer alegação. Como um dos critérios da divisão do dinheiro era baseado na proporcionalidade salarial, isto resultou na concentração das indenizações para aqueles funcionários com maiores salários: supervisores, engenheiros, médicos etc, enquanto o trabalhador do chão-de-fábrica e de funções mais modestas recebeu quantias aquém das expectativas.28

2. Recurso para implantação de projetos econômicos alternativos (US$ 1 milhão) – este recurso até o momento não foi doado pela Mineração Caraíba, pois segundo a cláusula 9ª do ACP:

28 Alguns trabalhadores tinham ações que poderiam chegar ao valores entre R$ 10 mil e R$ 15 mil, mas

A EMPREGADORA custeará, até o montante global equivalente em moeda corrente nacional a US$ 1.000.000,00, estudos e implantação de projetos alternativos e atividades econômicas na Região e que favoreçam a perenização da Vila Pilar, mediante propostas da cooperativa, analisadas como viáveis pela

EMPREGADORA.

Alguns projetos já foram encaminhados para a Mineração, mas nenhum foi julgado viável pela mesma.

3. A transferência de parte significativa dos bens e equipamentos doados apenas com o fim da lavra, sem que haja uma data determinada – como no período de assinatura do acordo, havia uma previsão da exploração da mina findar no ano 2000, os trabalhadores tinham a expectativa de estar assumindo o patrimônio doado neste período. Porém, a descoberta de novas lavras subterrâneas prorrogou este prazo e, até hoje, há incertezas de quando a mina irá exaurir. A direção da Mineração argumenta que é impossível transferir bens ainda utilizados pela empresa nas suas atividades, mas os trabalhadores questionam a transferência de alguns bens como o hospital, as escolas, o hotel e as terras, que já poderiam ser transferidos sem interferência nas atividades da mina.

4. Doação de Equipamentos que não tenham valor relevante, do ponto de vista da liquidação da Mineração Caraíba – não está claro no Acordo Coletivo de Privatização, o que se entende como valor não relevante do ponto de vista da liquidação da mineradora, podendo abrir espaço para interpretações diversas. Segundo a clausula 5ª do ACP:

A EMPREGADORA transferirá, para a mesma cooperativa, após o encerramento da lavra e/ou disponibilização, os equipamentos que possam servir à implementação de projetos econômicos e alternativos que objetivem a perenização da Vila do Pilar e da atividade econômica na região, mediante a apresentação de projetos específicos, e não tenham valor relevante do ponto de vista da liquidação da

5. A adutora – no processo de mineração das lavras subterrâneas, há a necessidade de se extrair a água das minas, que brotam de lençóis freáticos. Já na lavra a céu aberto, é preciso água em abundância, o que justificou a construção de uma adutora que capta água do Rio São Francisco a uma distância de 97 km. Como a lavra a céu aberto já exauriu, restando atividades apenas nas lavras subterrâneas, os trabalhadores entendem que a adutora já pode ser transferida, conforme ACP.

6. Falta de controle da venda de bens pela Mineração – O SINDIMINA acusa a Mineração Caraíba de vender alguns bens que deveriam ser transferidos para os trabalhadores com o fim da mina. Muitos também foram omitidos no levantamento patrimonial que compõe o ACP.

No ano de 2002, o SINDIMINA entrou na justiça questionando todos estes pontos do ACP, mas até o momento, o processo ainda tramita.