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As EPCs surgiram no Brasil como uma alternativa econômica, calcada num esforço coletivo de poupança interna de uma comunidade, com a finalidade de promover o desenvolvimento local, geração de empregos e renda. Com características peculiares que misturam uma estrutura empresarial e gestão compartilhada, as EPCs têm origem no estado do Paraná, mas o sucesso de seus empreendimentos fez com que a experiência se espalhassem para outros estados do país, em especial aos demais da região Sul e São Paulo.

A difusão do modelo trouxe variações em sua gestão e finalidade. Uma discussão mais efetiva acerca das EPCs sob um enfoque científico precisa ser realizada para se ter uma melhor compreensão destes empreendimentos. Ainda há uma indefinição conceitual destas empresas, visto que este termo é designado para organizações que têm concepções variadas e modelos de gestão divergentes. Este trabalho identificou dois tipos de EPCs: paranaenses e paulistas. A EPC paranaense representa o modelo original, que não necessariamente está no estado do Paraná, possuindo características que a inclui entre os empreendimentos da Economia Solidária. Em situação oposta está a EPC paulista, que abandonou o perfil comunitário e centrou foco na concepção empresarial, de modo a não poder ser considerada um empreendimento solidário, estando mais próxima de uma empresa capitalista tradicional.

Alguns avanços foram alcançados no sentido de melhor conceituar a EPC, como o SEBRAE de São Paulo, que já vem adotando uma nomenclatura específica (Empresa de Participação – EP) para empreendimentos sem o perfil comunitário, o que, entretanto, não elimina os equívocos conceituais. Um bom exemplo são as EPCs baianas (item 3.1), incluindo a EPC Pilar, que se denominam Empresas de Participação Comunitária, entretanto possuem uma

concepção mais próxima à EP. É preciso, portanto, ainda fazer uma ampla discussão entre os atores e a realização de estudos mais específicos e aprofundados sobre o tema.

Sobre a história da EPC Pilar, vimos que esta está diretamente ligada à descoberta do cobre na região onde hoje se situa o distrito de Pilar. O surgimento da Caraíba Metais, posterior Mineração Caraíba, permitiu levar à região desenvolvimento econômico, geração de emprego e elevação do nível de renda. A construção da Vila de Pilar forneceu uma infraestrutura e qualidade de vida aos seus habitantes incomparável a qualquer outro núcleo populacional da região. Entretanto, a iminência da exaustão da mina de cobre põe em risco a manutenção deste patrimônio e seus benefícios para a população. Com o processo de privatização, e a assinatura de seu acordo coletivo, surge a Empresa de Participação Comunitária Pilar S/A – EPC Pilar S/A., como uma esperança de perenização do distrito de Pilar, pois entre seus objetivos está a implementação de projetos econômicos alternativos, capazes de gerar empregos, aumentar as oportunidades de negócios e elevar a renda da região.

A EPC Pilar foi estruturada no formato de uma sociedade anônima de capital autorizado, com 1.307 sócios e um patrimônio que pode chegar a US$ 0,5 bilhão. A divisão de sua gestão entre dois grupos opostos: SINDIMINA e Mineração Caraíba, desde o seu começo mostrou-se como uma fonte de conflito interno permanente. Ao longo de suas quatro gestões, alternaram- se à frente da empresa, com predominância da Mineração Caraíba, que assumiu por três vezes a diretoria da EPC Pilar. Nestas gestões, as instituições demonstraram as suas diferentes concepções sobre o papel da EPC e sua condução. O sindicato direcionando a empresa sob princípios autogestionários e comunitários (EPC paranaense), enquanto a Mineração seguia práticas mais próximas de uma empresa capitalista tradicional, onde lucros e dividendos norteiam as suas ações (EP paulista). O estudo do caso da EPC Pilar mostra com mais

evidência que o modelo de gestão e a formatação jurídica de uma EPC permite que diferentes visões e maneiras de gestão sejam implementadas nestas empresas, havendo flexibilidade para que com poucas alterações estatutárias, a empresa tome rumos completamente opostos, dependendo de quem esteja em sua direção e do interesse de seus acionistas.

Atualmente, a EPC Pilar encontra-se em uma situação de pré-falência. Apesar de diversos esforços para a implementação de projetos, como a fábrica de brinquedos Arco-Íris, PILART Móveis, Docelar, fábricas de doces e artefatos de couro, além de outros tantos projetos que nunca conseguiram sair do papel. Nenhum destes mostrou-se concretamente lucrativo e autosustentável, trazendo fragilidades financeiras para a empresa e frustração para os seus acionistas e a comunidade de Pilar como um todo. Hoje, apesar de todos os recursos financeiros e humanos aportados, a EPC Pilar encontra-se com todas as suas atividades produtivas encerradas e acumulando uma dívida que já ultrapassa R$ 1,9 milhões.

Apesar do insucesso da EPC Pilar, a análise de sua história contribui tanto para uma discussão teórica de EPC, quanto como uma importante lição para as organizações coletivas. Pois, demonstra que a existência de recursos financeiros para implementar um projeto não é fator suficiente, nem o mais importante, para o seu desenvolvimento. As razões que levaram a este cenário estão relacionadas principalmente a fatores internos a própria empresa, como a competição existente entre o sindicato e a mineradora; limitações do ACP; ausência de pessoal qualificado para gerir a holding e seus empreendimentos; inexistência de planejamento estratégico e descontinuidade das estratégias adotadas; e pouco envolvimento por parte da maioria dos acionistas. O fato é que os seus atores não tiveram a capacidade mínima de cooperação para potencializar o trabalho conjunto na busca de soluções e dos

objetivos comuns. Com isso, até o momento, a EPC Pilar não vem contribuindo com o objetivo maior para a qual ela foi implantada: a perenização do Distrito de Pilar.

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