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CAPÍTULO 2 OS CLÁSSICOS NA TEMÁTICA DO

3.4 O capital financeiro como expressão das complexidades e múltiplas

2.4.3 A acumulação e suas etapas

Segundo Harvey (1990), o processo de acumulação capitalista passa por várias etapas:

1) Estancamento: raíz da crise *redução da produção:

*baixos preços (abaixo dos preços de produção); *baixo lucro;

*desemprego; *baixos salários;

*pletora de capital devido ao excesso de acumulação anterior. Então taxa de juro baixa;

2)Recuperação *baixos salários;

*baixos preços do capital constante; *baixas taxas de juros;

*facilidades para compra de capital fixo, pois aumentam as poupanças no mesmo montante requerido;

*baixa CO;

*compensam preços baixos; *aumentam os lucros;

*capitalistas industriais concedem-se crédito, pois possuem reservas; *forte concorrência;

*diversas taxas de lucros, pois, o sistema de crédito ainda não tem poder para igualar essas taxas;

*o capital fictício existe, mas ainda não é problema;

* os bens de consumo assumem grande importância na dinâmica da economia;

3) Expansão baseada no crédito *há fé no sistema econômico; *aumenta o emprego;

*aumentam os salários – acima do valor da força de trabalho – e há maior dispêndio com capital fixo;

*expectativas otimistas de rendas e lucros; *desaparece a capacidade produtiva;

*aumenta o investimento no setor produtor de bens de capital;

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Trabalhavam à sua vista o ferreiro, o construtor de carroças da aldeia; também o alfaiate e o sa- pateiro, que ainda ao tempo de minha juventude peregrinavam pelas casa dos camponeses rena- nos, onde transformavam os materiais produzi- dos pelos próprios camponeses em roupas e calçados. O camponês e as pessoas de quem compravam eram todos trabalhadores, e os arti- gos trocados eram os produtos próprios de cada um. Que despenderam para produzir esses arti- gos? Trabalho, apenas trabalho: para repor os instrumentos de trabalho, para obter a matéria- prima, para transformá-la gastaram unicamente a força de trabalho própria. Como poderiam en- tão trocar os respectivos produtos pelos de ou- tros produtores diretos, a não ser na proporção do trabalho aplicado? O tempo de trabalho era o único elemento apropriado para medir as mag- nitudes a trocar, e além dele, não era possível achar outro. (ENGELS apud MARX, 2008, p. 1175, L.3, V.6)

Assim que o comércio aprofunda sua esfera sócio-espacial, esti- mulando a produção de mercadorias, aparecerá pela primeira vez o lucro e a taxa de lucro, e é isto o letmotiv do comerciante.

O lucro, bem como a taxa de lucro, estão assentados nos moldes da produção em terras comunais ou coletivas do sistema feudal, onde, para além da produção individual do servo/camponês em sua jeira, este compartilhava com outros servos/camponeses do feudo, a produção resultante do cultivo dessas terras.

Segundo Engels (2008), da mesma forma, o comerciante era na sua essência gremialista, e isso ocorria por toda parte, em Gênova e Veneza, na Espanha, Holanda, e na Alemanha, na Noruega e Inglaterra, especialmente nos séculos XIV e XV. Todos os comerciantes de uma corporação compravam e vendiam as mercadorias iguais ou similares aos mesmos preços, sendo a taxa de lucro igual para todos. A organiza- ção corporativa deveria assegurar as mesmas condições e privilégios a todos os associados. Eram em geral fechadas a competidores e clientes, e davam garantias aos produtos comercializados através de selos de qualidade, bem como inspeção pública.

O comércio se generaliza ainda mais, e com ele as duas formas mais antigas de capital: o capital comercial e o capital usurário.

Note-se que, nesse momento, é o comércio o responsável pelo dinamismo da produção de mercadorias, as quais ainda se encontram nas mãos dos servos, camponeses e artesãos, proprietários privados dos meios de produção e do produto de seu trabalho, parte do qual, enquanto produto excedente, converte-se em mercadoria por ser valor-de-uso para outrem.

A tarefa do comerciante consiste em comprar e vender, comprar em determinado local e vender o mais distante possível para auferir maior lucro, pois os servos/camponeses e artesãos, por estarem habitua- dos com o domínio de todo o processo de trabalho, sabem calcular per- feitamente, de acordo com Engels (2008), o tempo de trabalho necessá- rio para a produção de uma mercadoria, isso porque eles mesmos produ- zem praticamente todos os meios de subsistência necessários para si e sua família.

Portanto, mesmo quando o servo/camponês ou artesão de regiões muito próximas trocam mercadorias, é muito comum saberem o tempo de trabalho necessário para a produção das mercadorias trocadas, pois mesmo que não as produzam mais, sabem o tempo de trabalho necessá- rio para a produção, até mesmo porque o desenvolvimento das forças produtivas ocorre muito lentamente.

Desse modo,

O pouco que essas famílias tinham de obter mediante permuta ou comprando constituía-se predominantemente, mesmo até inícios do sé- culo XIX, na Alemanha, de objetos de artesana- to, de coisas portanto que o camponês sabia como fabricar e que só não produzia diretamen- te porque a matéria prima não lhe era acessível ou porque o artigo comprado era bem melhor ou bem mais barato. Assim, o camponês da Idade Média conhecia de maneira bastante exa- ta a quantidade de trabalho necessária para pro- duzir os objetos que obtinha por troca. 144

*ocorre aumento dos preços do capital constante; *leve aumento dos preços do capital fixo; *leve aumento da rotação do capital; *leve aumento da composição orgânica;

*aumentam as necessidades de crédito e sua coordenação geral sobre a produção e o comércio de mercadorias (dado que desaparecem as reser- vas em dinheiro dos capitalistas industriais);

*aumento do poder dos bancos e financistas. Elevam-se as taxas de juros no Sistema Financeiro;

*as taxas de juros igualam-se como resultado do aumento do crédito; *aumenta o capital fictício, resultado da disparidade entre a base mone- tária real e o Sistema Financeiro;

4) Febre especulativa *expansão geral do crédito;

*aumento da brecha entre o Sistema Financeiro e a base monetária real, resultando no aumento dos preços;

*baixas taxas de desemprego nessa época; *salários altos;

*a demanda é forte no departamento produtor de bens de consumo; *altas taxas de juros, o que, juntamente como os salários elevados, com- prometem o lucro e a acumulação;

*as empresas buscam novos espaços para lucros; há um aumento do capital fictício;

*aparecem vários desequilíbrios entre o setor produtor de bens de capi- tal e o produtor de bens de consumo duráveis, acompanhados dos dese- quilíbrios entre a base monetária real e o Sistema Financeiro;

5) Bancarrota

*desaparecimento do capital fictício;

*volta o equilíbrio entre o Sistema Financeiro e a base monetária real; *há escassez de capital-dinheiro para pagamentos. Como aumenta a demanda por capital a juros, observa-se um forte aumento das taxas de juros;

*tem-se uma massa de capital-mercadoria invendível; *pletora de capital industrial;

*aumento do desemprego; *queda dos salários; *queda dos preços;

*queda da demanda no Departamento produtor de bens de capital, assim

como, no Departamento produtor de consumo duráveis;

Faz-se relevante para Harvey (1990), demonstrar as diversas interações entre as variáveis acima, com a dinâmica da acumulação do capital e seu desenlace final: a desvalorização de capital e trabalho. Para tanto, deve ser analisado o papel do Estado e as políticas monetárias e fiscais.

Assim sendo, o Estado encarrega-se de regular a moeda, papel moeda e títulos, a desvalorização e um certo controle da taxa de juros, através do BC. E isto, faz-se necessário para o bom funcionamento do capitalismo, pois é importante a atuação do BC emitindo papel moeda, títulos e outros quase-dinheiros em quantidade acima da base real mone- tária, buscando uma política de manejo das taxas de juros, e, amenizan- do o curso inerentemente instável do capitalismo. O Estado poderá pra- ticar uma política fiscal expansionista para garantir a demanda das mer- cadorias, e, por outro lado, praticar uma política monetária expansionis- ta (crédito) ou restritiva de acordo com os estados de equilíbrio requeri- dos pela taxa de juros.

Todavia, segundo Harvey (1990), a atuação estatal apenas abafará e agravará ainda mais a crise. O resultado será a conversão da desvalori- zação das mercadorias em desvalorização do dinheiro: eis a inflação.

Essa inflação resultará para o autor em:

1) socialização dos prejuízos das corporações, ou seja, os custos são repassados para a sociedade através dos preços;

2) inflação permanente, a qual permite – em especial aos oligopólios – um aumento permanente dos preços;

3) possibilidade de uma desvalorização do salário real, dado que os trabalhadores prestam mais atenção no salário nominal;

4) queda dos salários reais, e quando tem-se o despertar dos trabalhado- res para o reestabelecimento do nível salarial, as mobilizações, voltam- se também, contra o Estado;

5) aparência de irresponsabilidade do Estado frente às políticas monetá- ria e fiscal, maquiando o problema inerente de crise no capitalismo, bem como, a importância do ente político para amenizá-la;

6) incapacidade de eliminar o excesso de acumulação de capital, resul- tando em crises mais fortes, no futuro;

7) necessidade de desvalorizar a moeda nacional frente a estrangeira; 8) estruturas de preços instáveis;

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CAPÍTULO 4 - DA GÊNESE DO MODO CAPITALISTA DE PRODUÇÃO AO CAPITAL INDUSTRIAL

Como se demonstrou anteriormente, o capital financeiro é em geral adotado como sendo resultado da fusão do capital bancário com o capital industrial, este último entendido na maioria das vezes, como capital produtivo. Pretende-se, a partir deste capítulo, buscar entender a dinâmica do modo capitalista de produção, como surgiu, e como se assentam as bases para a gênese do capital industrial, ou seja, como o capital, para se reproduzir, tem de percorrer seu ciclo, bem como suas formas funcionais.

4.1 O papel do capital comercial, do capital usurário e da acumula- ção primitiva como parteiros do novo modo de produção

A partir da baixa idade média, aparecem os primeiros centros, verdadeiramente comercias no norte da Itália, especialmente em Gênova e Veneza. O capital comercial, assim como o capital usurário, vão se tornando cada vez mais, fontes de acumulação de capital nas mãos de comerciantes e usurários, em especial quando se espraiam para novas regiões da Europa ocidental.

Pari passu, os Senhores Feudais, Nobres e Reis, acostumados a se apropriarem diretamente de parte do produto excedente do servo – mediante o contato com comerciantes e mercadorias cada vez mais di- versas – passam a exigir o pagamento em moeda pela proteção no feudo, pela jurisprudência, pelas suas funções nobres e divinas.

Assim, se anteriormente apenas os senhores feudais, nobres e reis mantinham contato com os comerciantes, de forma mais estreita, e, por consequência, comercializavam as mais diversas mercadorias, isso tor- na-se gradativamente uma exigência para o próprio servo/camponês e artesão, pois o pagamento de suas obrigações junto à instituição feudal, passa cada vez mais, a ser efetuado em dinheiro.

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Porém, o combate da inflação passa por: 1) política fiscal e monetária, restritivas; 2) controles salariais por parte do Estado;

3) incentivo do Estado para o desenvolvimento das forças produtivas, o que possibilitará baixar os custos em geral, inclusive da força de traba- lho;

3.4.3 O capital financeiro como “classe” dos financeiros e dos capitalis-