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Adaptação estratégica e o disclosure informacional pela diferenciação

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Adaptação estratégica e o disclosure informacional pela diferenciação

O processo de definição estratégica pode ser considerado etapa crítica para a gestão da empresa, visto que é por meio dele que o perfil da organização (modelo de gestão adequado, produto e serviço ofertado, mercado, concorrência, planejamento de curto e longo prazo, etc.)

passa a ser edificado. Talvez por isso Oliveira e Tatto (2012, p. 57) demonstrem-se taxativos ao afirmarem que “a estratégia é fundamental na sobrevivência das organizações”. Laurence e Lorsch (1973) corroboram o exposto ao afirmarem que os tomadores de decisão reconhecem serem distintos e dotados de diferentes características econômicas e técnicas os contextos no qual as empresas atuam; cada um deles, portanto, demandaria uma estratégia peculiar à competição na qual a organização encontra-se inserida.

Pereira et al. (2010) argumentam que na compreensão e análise das mudanças pelas quais passam as organizações faz-se necessário considerar a mutabilidade e a descontinuidade do ambiente. Enfatizar o monitoramento dessas inconsistências ambientais põe-se como ação importante, porque frequentemente, consciente ou inconscientemente, elas interagem junto aos arranjos e estruturas organizacionais internas. Bataglia et al. (2009) corroboram essa discussão ao observarem que as empresas têm passado por transformações profundas, devido ao caráter de complexidade e turbulência de seus ambientes externos. Decorrente disso, com a intensificação das pressões competitivas, a saída é absorver a visão de organização mais flexível, capaz de adaptar-se aos efeitos dessas mudanças.

Por conta do acirramento da competição as empresas procuram assumir compromissos estratégicos a partir de decisões que afetam diretamente seu processo de definição estratégica. A adoção de estratégias com foco na inovação e na sustentabilidade, por exemplo, pode ser considerado um desses compromissos estratégicos que, normalmente, se apresenta como característica a difícil reversão e, por esse motivo, alteram os incentivos competitivos das empresas, segundo Jacometti e Bulgacov (2012). Ainda de acordo com os autores, em uma relação sinérgica, o ambiente organizacional afeta a gestão estratégica, que por sua vez age sobre o processo de formulação do perfil estratégico e sobre o resultado da organização. As interações em sentido inverso também coexistem (JACOMETTI; BULGACOV, 2012).

Com intuito da sobrevivência, as organizações precisam formular uma gestão centrada na construção e asseguração de vantagens competitivas (BOREINSTEIN, 1999; ROSSETO; ROSSETO, 2005) – alcançada a partir da análise profunda do ambiente externo e, consequentemente, da opção pela estratégia mais adequada. O que se vê neste caso é que a perspectiva determinística se mostra preponderante quando da adaptação estratégica. Porém, Jacometti, Sanches e Gonçalves (2013) alertam que, mesmo a estrutura ambiental conduzindo as ações organizacionais por meio do ajustamento estratégico, ao fim, é a ação que subsidiará essa mesma estrutura. A organização é, ao mesmo tempo, sujeito modificador e edificador do contexto – agente reafirmador do ambiente.

Em outras palavras, as mudanças no meio externo influem sim na organização, mas os gestores intercedem nesse fenômeno e decidem como será a incorporação das demandas aos arranjos e estruturas da firma. Eis a visão ou concepção voluntarista da adaptação estratégica – a escolha cabe, em última análise, aos tomadores de decisão nas organizações (ROSSETO; ROSSETO, 2005). A Visão Baseada em Recursos (RBV) ajuda a explicar como a ótica que se baseia no voluntarismo prevalece sobre o determinismo, por si só, mas essa discussão cabe à subseção seguinte, discutida a posteriori.

Voltando ao paradigma da adaptação, pode-se atentar que as mudanças de cenário (econômico, social, institucional, etc.) interferem no perfil estratégico da empresa, mas o tomador de decisão define o grau de engajamento estratégico desta, obviamente que logo após analisar as perspectivas e contingências que podem recair sobre o seu negócio. Através da contabilidade e dos diversos relatórios por ela produzidos, bem como os demais papéis informacionais gerados pela administração e lançados no mercado, o stakeholder, usuário da informação divulgada, toma a decisão de investimento. A divulgação ou disclosure, além de reportar e munir o usuário com informação de valor, demonstra o engajamento estratégico das empresas e é neste ponto que a divulgação se torna valiosa, pois ela pode gerar diferenciação. A sintetização dessa ideia mostra-se apresentada na Figura 1.

Figura 1 – Modelo de adaptação estratégica e construção da informação divulgada Fonte: Elaboração própria a partir da literatura.

Fonte: Elaborada com base na literatura.

Observa-se, a partir do modelo constante na Figura 1, uma parte do ciclo que vai desde as mudanças oriundas e inerentes ao ambiente externo à organização, neste caso padrões tidos

pela sociedade como adequados às empresas, que são cobradas por determinadas posturas, e movimentos do mercado derivados da concorrência, obrigando-as à mutabilidade; até chegar ao momento da construção do perfil organizacional, em virtude do ambiente externo. Antes, porém, há o processo interpretativo, acompanhado da tomada de decisão, pelo gestor, a fim de adaptar a firma às demandas exteriores (por exemplo, busca pela inovação ou por produtos inovadores no mercado; ou ainda a proatividade ambiental e social). Além do papel do gestor nesse ciclo (ou parte dele), deve-se destacar a sua implicação sobre os novos e divergentes modelos de organização – com o conhecimento e a postura estratégica, as interpretações serão utilizadas e as organizações geram competências específicas, capazes de diferenciá-las.

O ponto de inflexão desse movimento de adaptação é a divulgação de informações capazes de demonstrar ao seu usuário o valor, a materialidade e a oportunidade que dela provém. Em suma, o ambiente externo pressiona, o gestor modela a adaptação e a divulgação especifica como e quão engajada estrategicamente está a empresa.

Considerando-se que “os investidores pesam a informação recebida dos gestores com base em sua confiabilidade e capacidade informativa”, e ainda, que “os gestores decidem qual informação, além das exigências de legislação e de padrões contábeis, serão evidenciadas publicamente” (SUNDER, 2014, p. 106; p. 60), então o nível informacional da empresa é responsável por demonstrar a representação fidedigna de sua realidade econômico-financeira, inclusive das suas posições estratégicas diante das mudanças no mercado. Nesse sentido, esta pesquisa discute a adaptação estratégica em alusão à inovação nas empresas e à sua responsabilidade ambiental e social, tratando-as como necessidades emergentes às firmas, capazes de alterar os perfis das organizações e construírem vantagens competitivas. No entanto, este estudo admite que é por meio da divulgação de informações, contida em bases públicas, que o engajamento das empresas nesses perfis estratégicos pode ser compreendido.

É pelo disclosure das informações que os diversos stakeholders avaliam a organização e tomam as decisões de investimento. Como ressaltam Vicenti, Gomes e Machado (2013, p. 24), “apesar das organizações buscarem a constante inovação de seus produtos, processos, serviços, negócios e mercados é por meio de seus relatórios contábeis que mantêm abertas as informações aos stakeholders”.

Ageron, Gunasekaran e Spalanzani (2012) retomam que mercados e operações globais pressionam organizações no sentido de rever suas estratégias corporativas devido à emergência de uma nova ordem econômica que reformula o modo de pensar, das empresas, no que tange à sustentabilidade do negócio. Nessas condições, Akerlof (1970) passa a ser

requerido à argumentação, pois o que adiantaria à empresa, até certo ponto, desenvolver atividades ligadas à inovação e/ou aglutinar à firma práticas que mitiguem alguns ou todos os impactos negativos ambientais e sociais que dela se originam, se a informação a respeito desse conjunto de atitudes que potencialmente vem a interferir no futuro do negócio, não são divulgadas, assim, não chegam ao stakeholder para a decisão de investimento? Em conclusão, todos seriam considerados como “limões” medianos, não havendo distinção entre empresas mais comprometidas com esta ou aquela estratégia. Não à toa que a divulgação é a penúltima etapa que finda o modelo exposto.

A divulgação, especialmente a de caráter voluntário, pode ser útil na diferenciação das empresas, como é o caso do disclosure de algumas informações sobre inovação, não requeridas por força compulsória legal sua discriminação em papéis informacionais; ou a divulgação ambiental e social, que não possui um relatório específico que contemple conteúdo que compreenda esses dois escopos. Conforme Salotti e Yamamoto (2005), tratando-se o processo de divulgação como fato endógeno à firma, assume-se que o gestor pode escolher entre a divulgação ou não de determinada informação. Assim, a divulgação (ou a ausência dela) buscará “explicar as motivações dos administradores para escolhas sobre o nível de disclosure e práticas contábeis, a partir de fatores relacionados ao mercado” (LOPES et al., 2010, p. 209).

A evidenciação, ou disclosure, do conjunto de bens e direitos das empresas, bem como de suas diversas obrigações, pode ser feita nas demonstrações contábeis, ou ainda através de outras formas, como é caso das notas explicativas e relatórios da administração, relatórios de sustentabilidade, entre outros, o que configura um potencial conjunto de fontes informativas. Os responsáveis pela decisão são considerados aptos à indicação da informação relevante ao usuário da informação (ALVES; BORBA, 2009). Segundo Lima et al. (2012, p. 159), “os gestores conhecem mais sobre o desempenho da organização do que os investidores, o que torna a divulgação de informações uma possível estratégia de diferenciação competitiva”.

De maneira analítica, diante da racionalidade limitada do investidor na avaliação da empresa, o procedimento razoável é a estimação de um valor (determinado pelas perspectivas futuras da firma) intermediário às empresas. Não se sabe, portanto, nessa circunstância, quais as organizações que, por exemplo, inovam mais ou são mais sustentáveis, econômica, ambiental e socialmente responsáveis. Uma das formas de minimizar os efeitos das escolhas através do valor médio e alcançar diferenciação é a divulgação da maior quantidade possível

de informação que interessem ao stakeholder e viabilize uma melhor avaliação e projeção da situação real das empresas (LIMA et al., 2012).

A busca por um nível de divulgação que satisfaça o usuário da informação facilitará a captação dos perfis organizacionais mais facilmente, inclusive diferenciando-as em termos de suas competências. O ambiente externo prevê mudanças e sua adaptação pelas empresas, mas é por meio da evidenciação que questões do tipo “quão adaptada está a empresa” poderão ser mais bem interpretadas na oportuna decisão de investimento. Ressalta-se que a divulgação tende a aperfeiçoar os níveis informacionais no mercado, mas não os levar à completude. Isso, porque “embora a maior parte dos gerentes reconheça as competências da empresa como fonte importante de vantagem competitiva, muitas organizações encontram dificuldades em identificá-las e avaliá-las” (KING; FOWLER; ZEITHAML, 2002, p. 36).

De acordo com Murcia (2009), estudos que discutem sobre o disclosure das empresas, caso desta proposta, porque se preocupa à descrição da inovação e da sustentabilidade ambiental e social de firmas brasileiras e europeias a partir de informações por elas evidenciadas em seus diversos papéis informacionais destinados aos stakeholders, enfrentam um dilema de pesquisa. Existe um trade-off claro acerca da consecução e avaliação de dados, visto que, com a variável “disclosure”, há necessidade de análise manual, já que ela, a priori, não se encontra disponível e diretamente observável. O dilema consiste no seguinte: (i) analisar um número representativo de firmas em um horizonte temporal menor; ou (ii) analisar um número menor de empresas em um período temporal maior. O presente estudo aceita o desafio de incorporar, em conjunto, um número razoável de organizações e um período amplo para inferir acerca do problema de pesquisa delimitado.

A próxima subseção discute a teoria que norteia toda essa discussão, com foco na divulgação de informações sobre a inovação e a sustentabilidade ambiental e social na condição de construtoras do perfil das empresas.