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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.6 Proposta de modelo teórico de análise

Toda a discussão demonstrada até aqui possui como pilares os construtos inovação, sustentabilidade ambiental e social e o desempenho empresarial, assumindo-se a RBV como arcabouço teórico apropriado a sustentar a avaliação preconizada por este estudo.

A Figura 6 apresenta o modelo teórico de análise proposto com a finalidade de sumarizar, a partir da literatura pertinente, o argumento que conjectura: a existência de interação entre os perfis organizacionais em destaque, assim como seus prováveis efeitos no desempenho das firmas. Setas contínuas apontam interações estabelecidas, teoricamente, na literatura; enquanto isso, as descontínuas propõem-se a evidenciar relações potenciais que foram testadas nesta investigação.

Figura 6 – Modelo teórico de análise proposto

Fonte: Elaborado com base na revisão de literatura.

Os pressupostos da RBV apresentam, intrinsecamente, a inovação e a sustentabilidade como fontes de vantagens competitivas contínuas, como se vê em Barney (1991) e Hart (1995). Considerando-as como imperativos adaptativos às firmas em um mercado cada vez mais competitivo, complexo e globalizado, então podem elas trazer algum reflexo no

desempenho das empresas, visto que a partir da incorporação de algumas práticas específicas, surgem novos modelos de organização (Figura 6).

Pressupõe-se que, devido às características organizacionais peculiares (tamanho e setor de atuação, por exemplo), haverá distinções em termos de engajamento estratégico rumo à criação de novos produtos, processos e serviços; acesso e aquisição destes; bem como sobre o comprometimento e a responsabilização na compensação de impactos ambientais e sociais decorrentes da atividade da firma.

Conforme discutido, o engajamento estratégico pode ser distinto nas economias emergentes em contraponto as economias desenvolvidas, oriundo este envolvimento de razões estruturais e ideológicas acerca das demandas básicas nesses países. A partir da informação divulgada pelas empresas e acessíveis aos stakeholders, esta pesquisa buscou traçar o perfil das empresas e relacioná-lo ao desempenho de longo prazo em duas das realidades possíveis e passíveis de análise: empresas brasileiras e europeias de capital aberto.

Tidd, Bessant e Pavitt (2008) afirmam que tanto a criação e manutenção da vantagem competitiva pertencem àquelas organizações que inovam continuamente. Aplicam o mesmo raciocínio à sustentabilidade, Menezes et al. (2011b), quando afirmam que graças à crescente preocupação das empresas com a incorporação de práticas sustentáveis na gestão estratégica, a sustentabilidade constitui-se fonte de vantagem competitiva quando aglutinadas, à esfera econômica, as esferas ambiental e social. Diante disso, a verificação da relação entre tais perfis organizacionais estratégicos, por si só, já se torna uma demanda proeminente na condição demonstrada nesta pesquisa. Deve-se assumir ainda que inovação e sustentabilidade ambiental e social podem caminhar juntas na busca pelo objetivo comum do desempenho superior e persistente da organização.

Algumas pesquisas sustentam essa relação, tais como Kiperstok et al. (2002), Mauer (2011), Scandelari (2011), Angelo, Jabbour e Galina (2012), dentre outros, ao indicarem que a inovação pode conduzir à sustentabilidade, ambiental e social. Bessant e Tidd (2009, p. 360) lembram que “preocupações sociais e políticas sobre o meio ambiente e a sustentabilidade apresentam uma influência fundamental [...] sobre o rumo da inovação”. Para os autores, constantemente associa-se o perfil estratégico da inovação à elevação dos níveis de degradação ambiental, muito devido ao seu relacionamento com o crescimento econômico e o consumo – concepção central de Schumpeter (1961). Na verdade, parcela significativa de uma série de questões ambientais encontra solução através da atividade de inovação (BESSANT; TIDD, 2009).

Voltando à descrição do modelo teórico, mostra-se necessário admitir, primariamente, duas pressuposições teóricas, quando pretendida a verificação da construção de vantagens competitivas advindas de estratégias nas organizações. Para Porter (1989), o estabelecimento da vantagem competitiva perpassa, indiscutivelmente, pela definição da estratégia genérica adotada pela organização, visto que por meio dela é que se especifica o método basilar ao alcance da vantagem competitiva pretendida.

Desta forma, parte-se da definição estratégica – representada nesta pesquisa pelos perfis estratégicos de inovação e sustentabilidade. Em seguida, acrescenta o autor, que a vantagem competitiva é configurada com o desempenho empresarial munido de duas características: (i) superioridade e (ii) persistência, nas palavras do autor, “a base fundamental do desempenho acima da média a longo prazo é a vantagem competitiva sustentável” (PORTER, 1989, p. 9).

Assim, no modelo teórico proposto na pesquisa, tanto inovação e a sustentabilidade apresentam-se potenciais direcionadores do desempenho das empresas, mas na condição de despontarem ante as demais empresas do grupo avaliado, em um horizonte de longo prazo – define-se, nesse sentido, a vantagem competitiva. Assim, além dos reflexos da inovação e da sustentabilidade no desempenho, verifica-se aqui se esses efeitos são diferenciados dentro do grupo de empresas, mas também persistente.

Deve-se mencionar, adicionalmente, que o modelo teórico também se preocupa com a interação pré-existente entre a inovação e a sustentabilidade. Portanto, pressupõe-se nesta pesquisa, como argumento central, que inovação e sustentabilidade demonstrem-se fatores direcionadores do desempenho no grupo de empresas avaliado. Mais além, conjectura-se ser a performance de empresas consideradas inovadoras e/ou sustentáveis superior àquele de empresas que não apresentam informações tocantes ao perfil inovador e ao perfil sustentável do negócio da empresa.

Esta pesquisa espera corroborar a literatura e apresentar um panorama, traçando um cenário genérico, da incorporação estratégica da inovação e da sustentabilidade ambiental e social em três aspectos: (i) empresas brasileiras e europeias; (ii) horizontes de longo prazo; e (iii) efeitos no desempenho e construção de vantagem competitiva em empresas consideradas como destacadamente sustentáveis no mercado de capitais. Este estudo pode ajudar quando do delineamento estratégico das firmas e na percepção dos gestores em compreender mudanças no ambiente onde as empresas atuam, competem, concorrem, constituem parcerias e mudam suas estruturas ao longo de sua subsistência.