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Os requisitos de segurança decorrem dos princípios de segurança, que representam um consenso internacional do que deve constituir o mais alto nível de proteção e segurança, e são detalhados em guias que refletem as melhores práticas internacionais, para ajudar usuários a alcançar altos níveis de segurança, mas somente são eficazes se postos em prática de forma adequada. A responsabilidade pela segurança é de cada país. Muitos decidiram adotar as normas da AIEA como suas próprias normas nacionais ou então estabelecer suas próprias normas, em harmonia com as da AIEA. Os exemplos abaixo demonstram a preocupação dos países em atuar de acordo com os requisitos de segurança preconizados pela AIEA, apresentam as dificuldades com as quais os países se deparam e sugestões para enfrentá-las.

2.3.1 Estados Unidos

Segundo O’Connor e McNeil (2013), do Office of Packaging and Transportation - OPT (Escritório de Embalagens e Transporte), unidade do U.S. Department of Energy – DOE (Departamento de Energia dos Estados Unidos), o DOE é um dos maiores expedidores de material radioativo do mundo e enfrenta o desafio de fazer milhares de remessas anuais de forma segura, adequada e econômica. Dentre os desafios, os autores mencionam a imprevisibilidade orçamentária, problemas com a contratação e desenvolvimento de recursos humanos com a competência necessária, além da lentidão em aceitar mudanças. O DOE é o órgão responsável pela regulamentação das atividades envolvendo materiais radioativos, incluindo o transporte. Para garantir segurança e desempenho ótimos, o OPT implementa múltiplas abordagens que incluem a combinação de ferramentas de automação, técnicas de assistência e suporte, avaliações de conformidade e coordenação com stakeholders internos e externos. As ações estão voltadas, em especial, para (a) a gestão do transporte; (b) as operações e certificação de embalagens; (c) a comunicação; e (d) a melhoria contínua, e estão resumidas a seguir:

a) As ações de gestão do transporte focam na automação, crucial para a garantia da segurança e conformidade. O DOE possui um Sistema Automatizado de Gerenciamento de Transporte (ATMS, na sigla em inglês), que permite que

usuários locais preparem eletronicamente os embarques a partir da determinação das melhores taxas de transporte, preparando documentos de embarque e realizando uma pré-auditoria de contas de transporte. Este sistema está em transição para a “nuvem”, a fim de melhorar o acesso e reduzir os custos operacionais e de manutenção. A melhoria do ATMS fornecerá orientação em processos decisórios críticos envolvendo seleção de embalagens, transportadoras e rotas de expedição, e eliminará erros na preparação dos documentos requisitados. Outro aspecto importante da segurança é garantir que o DOE utilize apenas as transportadoras mais qualificadas. O Programa de Avaliação de Veículos Motorizados (MCEP, na sigla em inglês) desempenha um papel vital na manutenção do excelente histórico de segurança da DOE no transporte de materiais radioativos;

b) O OPT gerencia o Programa de Certificação de Embalagens do DOE (PCP, na sigla em inglês) e o Conselho de Gestão de Embalagens (PMC, na sigla em inglês) para atender às necessidades de embalagens do complexo. O PCP fornece apoio técnico, orientação e treinamento para aumentar a eficácia e a eficiência do processo de certificação de embalagens, desde a fase conceitual até o término da vida da embalagem, o que resultou na economia de milhões de dólares na última década. A OPT mantém um repositório centralizado para todas as informações do PCP em Embalagem de Material Radioativo (RAMPAC, na sigla em inglês) e alguns dos principais cursos de treinamento listados no RAMPAC estão disponíveis para a comunidade internacional. Este trabalho propiciou uma melhor compreensão dos requisitos dos projetistas de embalagens do DOE, usuários e fabricantes, e resultou em eficiência através de aplicações de qualidade superior para certificação de embalagens, reduzindo assim o tempo necessário para a revisão e aprovação dos pedidos. O treinamento oferecido pelo PCP é altamente considerado e rotineiramente utilizado pelo pessoal da Comissão Reguladora Nuclear dos EUA (NRC, na sigla em inglês) e pela comunidade internacional;

c) A comunicação eficaz entre linhas programáticas é essencial para garantir a segurança, conformidade e eficiência. O OPT está criando um Conselho Corporativo para servir como um órgão de consenso e coordenação para atender às necessidades e estratégias de Embalagens e Transporte, que também será um fórum para implementar novas políticas ou requisitos e interagir com as outras comunidades de prática dentro do Departamento. A OPT utiliza uma abordagem de

avaliação por pares para avaliar a conformidade da área de Embalagens e Transporte no site do DOE; e

d) O OPT pretende priorizar e implementar oportunidades com o maior potencial de impacto; melhorar a infraestrutura de transporte do DOE e a acessibilidade aos dados de transporte para identificar possíveis economias de custos, melhorias de métodos e problemas potenciais; e, por fim, continuar a construir relacionamentos com outras entidades federais, a indústria, estados e tribos para coordenação, colaboração e compartilhamento de recursos e serviços.

2.3.2 Índia

Na Índia, Maradia (2013) esclarece que o Atomic Energy Regulatory Board – AERB (Conselho Regulador de Energia Atômica) é a autoridade competente para aplicar os regulamentos para o transporte seguro de materiais radioativos, o que é feito por meio do AERB

Safety Code and Guides (Código e Guias de Segurança do AERB), embasados no regulamento

da AIEA (Safe Transport of Radioactive Material), com as adaptações necessárias às condições de transporte existentes na Índia. O autor explica que boa parte dos suprimentos de radioisótopos usados na medicina nuclear, na Índia, é de origem estrangeira, e a quantidade está aumentando consideravelmente a cada ano. Esta tendência impacta os trabalhos do AERB quanto ao transporte de material radioativo. O AERB procura assegurar o máximo benefício com um mínimo de risco para as pessoas, garantindo a segurança em todas as fases do transporte, na aplicação e na eliminação segura das fontes, por meio de um regime bem balanceado de controles técnicos e administrativos. Na Índia, os expedidores podem optar pelo transporte aéreo, rodoviário ou ferroviário, levando em consideração os custos de cada um. O modal aéreo é privilegiado por garantir o menor tempo possível de transporte, o que é essencial considerando a curta meia-vida2 das fontes usadas na medicina nuclear. Porém, como nem todas as localidades estão conectadas por ar, o transporte precisa ser concluído por trem ou rodovia. O AERB está envolvido em todas as operações, avaliando e aprovando o transporte em conjunto com outros organismos, conforme o caso.

2.3.3 França

De acordo com Malesys (2013), o quadro jurídico e regulamentar que rege as atividades nucleares na França foi extensivamente revisto nos últimos anos. Este quadro consiste do Código Ambiental, do Código de Saúde Pública, do Código do Trabalho e de diversos decretos, portarias e resoluções regulamentares (resoluções gerais, juridicamente vinculativas, emitidas pela Autorité de Sûreté Nucléaire - ASN (Autoridade de Segurança Nuclear). A Lei de 13 de Junho de 2006 (Loi TSN, Transparence et Sécurité en matière Nucléaire - Lei de transparência e segurança no campo nuclear), reformulou o regime legal, propiciando ao sistema uma integração, a fim de evitar qualquer tipo de perigo e efeitos nocivos que as instalações nucleares possam criar, tais como acidentes, poluição, resíduos (radioativos ou não para estes três casos), ruído, etc. Malesys relata ainda que o Decreto Ministerial de 7 fevereiro de 2012 incluiu requisitos explícitos para o transporte on-site (realizado dentro das próprias instalações nucleares, entre um prédio e outro) de mercadorias perigosas, incluindo material radioativo, tornando o regime regulamentar mais robusto do que anteriormente para este tipo de transporte (que não contava com regras explícitas até então). Para Malesys (2013), embora o objetivo da reformulação do quadro regulamentar não seja impor restrições adicionais às operações de transporte on-site, é uma oportunidade para confirmar que não há lacunas nas suas definições e especificações, por um lado, nem na avaliação da segurança, por outro. No entanto, a implementação do Decreto de 2012 para a operação de transporte on-site demanda muito trabalho para disponibilizar todos os documentos no devido tempo. Recursos significativos são necessário, tanto da indústria como da Autoridade Competente. É esperada a emissão de um guia, pela ASN, que contribuirá para amenizar a situação.

2.3.4 Argentina

A Autoridad Regulatoria Nuclear – ARN (Autoridade Reguladora Nuclear), autoridade competente para regulamentação de transporte de material radioativo na Argentina, desenvolveu seu sistema regulatório de maneira coerente e alinhada com os requisitos e recomendações da AIEA. Desenvolveu e implementou também um sistema de gestão da qualidade, com base no qual foi estabelecido um Manual da Qualidade, elaborado segundo as

normas ISO 9001 e as recomendações da AIEA. Entre seus objetivos estão o fortalecimento da cultura de segurança; a implementação, melhoria e atualização de suas normas, tanto quanto possível, segundo as recomendações internacionais; a implementação e manutenção da melhoria contínua das atividades relacionadas com a segurança no transporte; e, ainda, a harmonização da implementação dos requisitos regulatórios entre as autoridades competentes, organismos reguladores e organizações internacionais (LÓPEZ VIETRI et al., 2013).

2.3.5 Espanha

Germán; Navajas e Silla (2016) realizaram estudo com 122 especialistas do setor nuclear (com vínculo industrial e funcional de organizações do setor) a respeito dos desafios da indústria nuclear em termos de segurança. Os especialistas responderam à questão: “Qual é o maior desafio que a indústria nuclear espanhola enfrenta no campo da segurança?”. Os pesquisadores utilizaram as seguintes categorias, a partir de revisão da literatura, para classificar os desafios: sociais, tecnológicos, normativos, econômicos, ambientais e organizacionais, assumindo que essas dimensões abrangem a maioria dos desafios enfrentados pelas organizações nucleares. Os resultados mostraram que a indústria nuclear espanhola deve enfrentar desafios múltiplos e muito diversos. O principal desafio social é a grande preocupação com a continuidade da indústria nuclear espanhola, gerada em grande parte pelo contexto sociopolítico de incerteza e pela falta de aceitação social. Tecnologicamente, a extensão de vida das instalações nucleares em operação é o principal desafio. No que diz respeito aos desafios normativos, a integração de novas exigências no atual quadro regulamentar e a coordenação da extensa e diversificada regulamentação existente são dignas de nota. O principal desafio econômico reside na obtenção de um eficiente sistema de gestão econômica que assegure o funcionamento das usinas nucleares e as torne rentáveis. Organizacionalmente, os principais desafios são a mudança geracional e a aprendizagem organizacional.