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4.3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.3.2 Documentação

Proposta 11 – Recomendação: Aprimorar o Sistema de Gestão por meio da avaliação

da documentação existente. A documentação deve abranger, mas não se limitar a: a política da CNEN sobre valores e expectativas comportamentais; o objetivo fundamental de segurança; a descrição da CNEN e sua estrutura; a descrição das responsabilidades e forma de prestação de contas; os níveis de autoridade; a descrição de como o sistema de gestão está em conformidade com os requisitos regulamentares aplicáveis à organização; e a descrição das interações com organizações externas e com as partes interessadas.

Comentário: Há evidências de que a documentação existente necessita de reavaliação a fim de verificar sua abrangência, além do controle, aprovação, utilização, legibilidade, identificação clara e disponibilidade a todos os servidores, bem como às partes interessadas e ao público em geral. A AIEA oferece programas de apoio aos países para que alcancem independência regulamentar efetiva. Há que se considerar a tendência de crescimento nas operações de transporte de material radioativo, principalmente na área da medicina nuclear, e as interferências políticas na gestão da CNEN que vêm dificultando a adoção, operacionalização e manutenção das medidas necessárias. Recomendações e sugestões foram feitas a este respeito pela equipe da AIEA no TranSAS.

Proposta 12 – Recomendação: Publicar a nova versão da norma CNEN-NE-5.01 e

desenvolver Guia Regulatório sobre Programa de Garantia da Qualidade.

Comentário: Em termos de documentação, esta recomendação é das mais prementes, posto que a norma NE 5.01 é de 1988. O Regulamento de Transporte, da AIEA, é de 2012. O Manual Explicativo de Transporte (Anexo III - PGQ para Transporte de Material Radioativo) supre na prática esta carência, mas suas informações devem estar integradas a uma norma CNEN, no caso, a NE 5.01. O item 7.1.3 da NE-5.01 precisaria ser revisto de forma a detalhar os requisitos do Programa da Garantia da Qualidade. Existe, na CNEN, a expertise necessária ao atendimento desta recomendação, porém há que se considerar o momento de evasão destes especialistas, por motivo de aposentadoria. Não se pode deixar de considerar as interferências políticas na gestão da CNEN. Uma das empresas entrevistadas mencionou a participação na revisão da NE 5.01, que ainda não está vigorando. Já em 2002, quando da realização do

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TranSAS, havia uma minuta de revisão da NE 5.01, a qual a equipe recomendou que fosse publicada o mais breve possível.

Proposta 13 – Recomendação: Rever e ampliar o Manual Explicativo de Transporte,

adequando-o à revisão da Norma CNEN-NE-5.01 e integrando-o aos Guias.

Comentário: O Manual Explicativo de Transporte deve estar adequado à revisão da Norma CNEN-NE-5.01. Por ser considerado um documento vivo, deve estar sempre sendo revisto e estar alinhado aos Guias da AIEA. Existe na CNEN a expertise necessária ao atendimento desta recomendação, mas há que se considerar as interferências políticas na gestão da CNEN, os cortes orçamentários e a evasão de recursos humanos. Há recomendações no TranSAS quanto a este tema.

4.3.2.1 Comentários gerais sobre as propostas agrupadas sob o tema “Documentação”

As propostas deste grupo focam em demandas de melhorias com relação à documentação do sistema de gestão, tanto do subsistema de gestão da segurança do transporte de material radioativo (Propostas 12 e 13) como do sistema de gestão da DRS como um todo (Proposta 11).

Um sistema de gestão formal e documentado não significa que as medidas nele descritas estejam sendo cumpridas na prática, como lembram Beckmerhagen et al. (2003), mas eles afirmam que organizações que têm uma forte cultura de segurança têm também um efetivo sistema de gestão da segurança e este, por sua vez, promove e apoia uma cultura de segurança forte. O sistema molda o ambiente, influenciando comportamentos e atitudes das pessoas em direção à segurança. Na mesma linha, Choudhry et al. (2007) esclarecem que a gestão de segurança está relacionada ao sistema formalizado e documentado de controle de risco e afirmam que as normas do sistema de gestão não refletem a forma como ele é executado na prática, mas lembram que os sistemas formais de gestão da organização, juntamente com as práticas informais de gestão dos líderes atuam como facilitadores, encorajando, reconhecendo e reforçando o comportamento seguro. Frazier et al. (2013) identificam o sistema de gestão de segurança como um dos constructos comuns a várias pesquisas sobre cultura de segurança, e citam entre os subfatores deste constructo a Política e os Procedimentos e Regras de Segurança.

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Guldenmund (2010) menciona que um enfoque mais explícito no desenvolvimento de sistemas de gestão da segurança (SMS) parece promissor como reforço à cultura da segurança e pode, pelo menos em parte, prover estrutura para as pessoas darem sentido e direção às suas ações de segurança, desde que apoiado por uma liderança adequada da gestão.

Percebe-se, por outro lado, a preocupação dos países que lidam com transporte de material radioativo com a legislação e a documentação correlata. Veltri et al. (2013) mencionam que a Argentina desenvolveu e implementou um sistema de gestão da qualidade, com base no qual foi estabelecido um Manual da Qualidade, elaborado segundo as normas ISO 9001 e as recomendações da AIEA e que entre seus objetivos estão o fortalecimento da cultura de segurança; a implementação, melhoria e atualização de suas normas, tanto quanto possível, segundo as recomendações internacionais; a implementação e manutenção da melhoria contínua das atividades relacionadas com a segurança no transporte; e, ainda, a harmonização da implementação dos requisitos regulatórios entre as autoridades competentes, organismos reguladores e organizações internacionais. Malesys (2013) menciona as extensas revisões feitas no quadro jurídico e de regulamentação das atividades nucleares na França, com vistas a propiciar maior integração do sistema, a fim de evitar qualquer tipo de perigo e efeitos nocivos que as instalações nucleares possam criar. Este autor menciona ainda a preocupação e o trabalho em disponibilizar todos os documentos no devido tempo e os significativos recursos que são necessários, tanto da indústria como da Autoridade Competente. Germán, Navajas e Silla (2016), em estudo sobre os desafios da indústria nuclear espanhola em termos de segurança, mencionam como digno de nota o desafio de integrar novas exigências no atual quadro regulamentar e coordenar a extensa e diversificada regulamentação existente.

Para a AIEA, a documentação do sistema de gestão deve consistir, minimamente, de: (a) descrição do sistema de gestão (p.e. o manual do sistema de gestão); (b) documentos que descrevam os processos do sistema de gestão (p.e. procedimentos, que podem ser documentados ou não); e (c) documentos detalhados do controle do trabalho (p.e. instruções, listas de verificação, controle de processos e formulários). O manual deveria conter: políticas organizacionais; missão e objetivos de gestão de negócios que são embasados nas demandas dos clientes, partes interessadas, necessidades de negócios, regulamentação governamental e outros requisitos aplicáveis; o propósito e o escopo do sistema de gestão, incluindo as normas e requisitos que ele deve atender; a estrutura organizacional; uma descrição dos principais

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clientes, partes interessadas e fornecedores e a interface com eles; processos de gestão para alcançar os objetivos da organização; identificação de procedimentos de apoio; uma descrição da abordagem gradual adotada para aplicar de forma seletiva os processos do sistema de gestão relacionados às atividades de transporte e embalagem; os papéis e responsabilidades dos gerentes e indivíduos responsáveis por implementar o sistema de gestão; uma matriz que mapeia os processos de gestão para requisitos de alto nível; definições dos termos comumente usados nos documentos de gestão; e referências utilizadas para desenvolver e manter o manual do sistema de gestão (IAEA, 2008).

A AIEA costuma enfatizar, em suas reuniões, a importância dos países manterem seus documentos regulatórios em conformidade com a edição atualizada do Regulamento (IAEA, 2016a) pois, segundo afirma, as normas prescritas no Regulamento, quando respeitadas, resultam em uma cultura de segurança que assegura níveis muito elevados de segurança para o transporte de material radioativo (IAEA, 2012a).