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2.3 Aditivos na ensilagem da cana-de-açúcar e seus efeitos na composição química e

2.3.2 Aditivos microbianos 57

Segundo McDonald, Henderson e Heron (1991), em geral, a inoculação com bactérias produtoras de ácido lático pode acelerar a queda do pH, reduzir o pH final,

aumentar os teores de ácido lático, diminuir a produção de efluente e a perda de MS no silo, melhorando, conseqüentemente, o desempenho de animais alimentados com essa forragem.

Os inoculantes comerciais contêm, normalmente, linhagens de bactérias homofermentativas produtoras de ácido lático exclusivo como: Lactobacillus plantarum,

Pediococcus acidilactici, Streptococus faecium, Enterococcus faecium e Lactococcus lactis. Recentemente, inoculantes contendo bactérias heterofermentativas, produtoras

de ácido acético e/ou propiônico, além do ácido lático, como: Lactobacillus buchneri,

Pediococus cerevisiae, Propionibacterium shermani e Propionibacterium acidipropionici,

têm sido avaliados com vistas a melhorar a estabilidade aeróbia das silagens, o que implica no controle da população de leveduras e, no caso de serem eficientes, indicaria bom potencial de uso na ensilagem da cana-de-açúcar. Entretanto, os resultados nessa área têm sido variáveis. Outros inoculantes testados e em fase de teste compreendem associações de microrganismos, normalmente entre bactérias homo e heterofermentativas (Pedroso, 2003).

Por certo tempo, foram indicadas cepas para inoculação de cana-de-açúcar que, em muitos casos, apresentaram efeito inverso ao requerido, como foi observado no estudo de Pedroso et al. (2002). Os autores encontraram produções três vezes superiores (3,06 vs. 9,81% MS) de etanol quando a cana-de-açúcar foi inoculada com bactéria produtora de ácido lático exclusivo (BAL), à base de L. plantarum, se comparada à silagem controle. Além disso, a recuperação de MS foi a mais baixa (77,0%) de todos os tratamentos testados.

Aditivos contendo bactérias heteroláticas, que produzem ácido acético, além do ácido lático, têm apresentado bom potencial como forma de melhorar a estabilidade aeróbia das silagens, devido ao maior poder daquele ácido em inibir o crescimento de leveduras e fungos. De acordo com Ribeiro et al. (2005), a inabilidade de bactérias produtoras de ácido lático exclusivo em melhorar a estabilidade aeróbia despertou o interesse da utilização de inoculante com base em bactérias heteroláticas, capazes de produzir metabólitos com efeito antifúngico. Além disso, as cepas de L. buchneri (LB) não produzem etanol (DANNER et al., 2003), uma vez que não possuem a enzima acetaldeído desidrogenase, tornando-se de interesse e com potencial de utilização na

inoculação da cana-de-açúcar submetida à ensilagem, tanto com relação ao processo fermentativo, quanto com relação à estabilidade após a abertura.

Conforme relatado por McDonald; Henderson e Heron (1991), a glicose é fermentada até acetato e, se houver um receptor de hidrogênio como a frutose, será reduzida a manitol. Segundo Driehuis; Oude Elferink e Spoelstra (1999), as bactérias L.

buchneri promovem, além de metabolizar o ácido lático a acético, produção de 1,2-

propanodiol.

Ranjit e Kung Junior (2000), em experimento no qual avaliaram inoculantes contendo L. buchneri na ensilagem de milho, observaram aumento na produção do ácido acético, sendo 1,8% na silagem controle e 3,6% na silagem inoculada. Isso levou à queda de 106 para 102 ufc/g MV na população de leveduras, o que trouxe como

resultado a melhoria na estabilidade aeróbia em última instância.

Por conta da verificação do processo metabólico desenvolvido por esse microrganismo, bem como os resultados promissores verificados, tanto em silagens de milho (RANJIT; KUNG JUNIOR, 2000; NISHINO et al., 2003; DANNER et al., 2003), quanto de outras culturas como cevada (KUNG JUNIOR; RANJIT, 2001; TAYLOR et al., 2002) e trigo (WEINBERG et al., 2002), iniciaram-se os estudos com a cana-de-açúcar inoculada e ensilada (PEDROSO, 2003; SIQUEIRA, 2005; JUNQUEIRA, 2006; QUEIROZ, 2006; SCHMIDT, 2006, dentre muitos outros).

Kleinschmit e Kung Junior (2006) realizaram um estudo de metanálise da inoculação de Lactobacillus buchneri em silagens de milho, azevém perene ou culturas de pequenos grãos de cereais (cevada, trigo, sorgo e ervilha). Os autores analisaram 43 experimentos de 23 artigos científicos com suas médias e desvios padrões e separaram os tratamentos em três possibilidades: 1) controle; 2) Inoculação de LB ≤ 105 ufc/g MV e 3) Inoculação de LB ≥ 105 ufc/g MV. Para a silagem de milho, os autores relataram que o teor de ácido lático diminuiu do tratamento 1 ao tratamento 3, enquanto que o de ácido acético aumentou, mostrando o efeito pronunciado da inoculação de LB sobre a transformação do ácido lático em acético, característica desse microrganismo. Ainda, a população de leveduras declinou conforme se aumentou a dose de LB, passando de 4,18 log ufc/g MV no tratamento controle, para 3,10 log ufc/g MV no tratamento com a dose menor e atingido o mínimo de 1,88 log ufc/g MV na dose mais

elevada de inoculação. Para as silagens de azevém perene e de pequenos grãos de cereais o comportamento foi semelhante, exceção feita para a contagem de leveduras que não se diferenciou entre os tratamentos.

Com base nos resultados promissores da inoculação de LB em silagens de milho, iniciaram-se os estudos de aditivos na ensilagem da cana-de-açúcar por Pedroso (2003) que testou aditivos químicos e microbianos. O autor verificou que o aditivo com base em L. buchneri na dose de 4 x 105 ufc/ g MV, foi eficiente em diminuir o teor de etanol das silagens de cana-de-açúcar para 1,90% da MS, enquanto que na silagem controle esse teor foi de 4,05%. Além disso, determinou menor contagem de leveduras na silagem inoculada (5,65 vs. 6,49 log ufc/g MV). Não foram encontradas diferenças entre o tratamento controle e LB com relação ao pH (3,65 vs. 3,65), perda total (6,82 vs. 5,19%), por gases (6,14 vs. 6,73% MS), por efluente (6,98 vs. 2,30 kg/t MV) e também no que diz respeito ao coeficiente de DVIVMS (46,6 vs. 46,0%). Todavia, ao testar outro tratamento, com base em L. plantarum, o autor verificou aumento na produção de etanol (4,90% MS) e na perda por gases (8,04% MS), com queda do coeficiente de DVIVMS (43,9%), demonstrando que não somente o aditivo foi ineficaz, como acarretou em prejuízo com relação ao tratamento controle.

Schmidt (2006) testou a inoculação de L. buchneri em silagens de cana-de- açúcar confeccionadas em silos do tipo bag e verificou que o microrganismo foi eficiente em promover a redução do teor de etanol, tanto na dose alta (105 ufc/g MV), quanto na dose baixa (5 x 104 ufc/g MV). Entretanto, no que se refere ao valor nutritivo, somente na dose mais alta foi possível verificar melhoria da DVIVMS em relação à silagem de cana-de-açúcar controle.

Avaliando silagens de cana-de-açúcar inoculadas com LB na dose comercial do produto (5 x 104 ufc/g MV), Queiroz (2006) verificou que esse tratamento não foi determinante em melhorar os resultados encontrados na silagem controle. Os teores de etanol não foram diferentes entre os tratamentos controle (7,91% MS) e LB (6,45% MS), bem como não se diferenciaram quanto às perdas fermentativas total, por gases e por efluente.

Freitas et al. (2006) avaliaram a cana-de-açúcar ensilada em silos experimentais em diversos tratamentos. As perdas totais de MS na ensilagem foram semelhantes,

sendo na silagem controle de 31,1% e na LB de 33,2% da MS. Apesar da silagem inoculada ter apresentado menor população de leveduras que a silagem controle (3,98 vs. 5,05 log ufc/g MV), o teor de etanol não foi diferente entre os tratamentos (17,8% para a silagem controle e 19,3% MS para a inoculada). Além disso, o coeficiente de DIVMS e o teor de acetato foram semelhantes entre os tratamentos. Avaliando o mesmo inoculante em relação à silagem de cana-de-açúcar controle, Roth et al. (2007), também não verificaram diferenças com relação às perdas fermentativas em silos experimentais.

Siqueira et al. (2007b) testaram o efeito da inoculação de L. buchneri, tanto na cana-de-açúcar ensilada crua, quanto na queimada. Os autores não conseguiram determinar comportamento padronizado do inoculante, demonstrando clara interação entre a fonte de forragem e a inoculação.

Pedroso et al. (2007) verificaram que a inoculação de LB diminuiu a produção de etanol de 22,7 para 13,3% MS, a perda total de MS durante a ensilagem de 19,3 para 15,3% e aumentou o teor de ácido acético de 1,0 para 3,3% MS, comparativamente à silagem controle.

A associação de aditivos no processo de ensilagem tem sido foco de diversos estudos, na tentativa de se conseguir eficiência durante todas as fases do processo fermentativo. Alguns estudos foram desenvolvidos com a associação de aditivos microbianos, de aditivos químicos e também de ambos. De acordo com Ribeiro et al. (2005), o interesse por associação de grupos distintos de microrganismos pauta-se na melhoria do processo, pelo desempenho de bactérias que atuam no início e outras no final da fermentação.

A associação de aditivos químicos com microbianos foi avaliada por Siqueira et al. (2007a). Os autores verificaram que os melhores resultados deram-se na associação dos aditivos químicos com L. buchneri, no que se referiu à recuperação de MS durante a ensilagem e estabilidade aeróbia.

Roth et al. (2007) também verificaram que a associação de cal virgem com o inoculante L. buchneri apresentou os melhores resultados no controle da perda fermentativa do processo de ensilagem da cana-de-açúcar, com redução da perda por gases e efluente, além de melhor recuperação de MS (76,5% MS) do processo.