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O Brasil é hoje o maior produtor de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) do mundo. Segundo levantamentos da FAO (2007), os mais de 400 milhões de toneladas colocam o Brasil no topo do ranking mundial, com quase o dobro da produção do segundo colocado.

A cana-de-açúcar é uma cultura amplamente difundida que se baseia na facilidade de cultivo e por ser tradicional. Além disso, ultimamente essa cultura vem se apresentando como opção economicamente competitiva se comparada a outras fontes de volumosos suplementares. Em simulações econômicas de sistemas de produção animal, a cana-de-açúcar tem apresentado resultados que asseguram sua posição consolidada, prevalecendo como uma das opções mais interessantes para minimizar o custo de rações e do produto animal, além de maximizar a projeção de receita líquida das atividades.

Outros fatores como: o desenvolvimento de cultivares específicos para a alimentação animal, flexibilidade de colheita, grande produção por área e o desenvolvimento de técnicas de cultivo e melhoramento devidos ao desenvolvimento do setor sucroalcooleiro, vêm sendo fundamentais para a propagação dessa cultura como alternativa para a produção animal.

Há tempos a cana-de-açúcar é utilizada como recurso forrageiro pelos pecuaristas. Mais recentemente, esse volumoso vem assumindo papel fundamental nos confinamentos para terminação de bovinos de corte. Embora a cana-de-açúcar fornecida in natura tenha sua utilização alicerçada quanto a ser uma boa opção de fonte de volumoso para a exploração e produção animal, a utilização da silagem de cana-de- açúcar para o mesmo fim ainda é escassa.

Como sabido, a cana-de-açúcar tem a capacidade de manter o valor nutritivo por longo período de tempo, além disso, o pico de produção e valor nutritivo dessa forragem dá-se justamente no período de escassez de pastagens. Dessa forma, o manejo de corte diário é possível em propriedades com rebanhos de pequeno e médio porte. Entretanto, em rebanhos mais numerosos ou em situações em que haja

necessidade de utilização da área, a prática do corte diário torna-se inviável e uma das alternativas seria a ensilagem da cana-de-açúcar para posterior fornecimento.

A ensilagem da cana-de-açúcar, segundo Nussio e Schmidt (2004), apresenta-se como proposta para minimizar tais problemas, permitindo a colheita de grandes áreas em curto espaço de tempo e na época em que a cultura forrageira apresenta seu melhor valor nutritivo. Isso coincide com o período mais propício aos trabalhos no campo, ou seja, a época seca.

Todavia, apesar da redução da mão-de-obra para o corte diário, a ensilagem representa importante elevação dos custos de produção de matéria seca e nutrientes, se comparada ao manejo convencional (NUSSIO; SCHMIDT, 2004). A decisão pela ensilagem implica na necessidade da consideração de custos advindos de maiores perdas e da introdução de operações mecanizadas, quase sempre indispensáveis ao processo.

A cana-de-açúcar apresenta população epifítica de leveduras considerável, o que pode prejudicar a estabilidade aeróbia da silagem e, principalmente, da cana-de-açúcar

in natura.

Dessa forma, o foco do estudo do processo fermentativo da cana-de-açúcar tem sido na busca de aditivos que possam ajudar no controle da população de leveduras e, em última análise, a melhorar a estabilidade aeróbia.

Dentre esses aditivos, a bactéria heterolática Lactobacillus buchneri foi utilizada com resultados expressivos na silagem de milho. Esses estudos despertaram o interesse desse microrganismo em ser efetivo também na ensilagem da cana-de- açúcar.

Segundo Cunha e Foster (1992), o L. buchneri é capaz de produzir altas quantidades de ácido acético, em detrimento do ácido lático, à partir da glicose. O ácido acético apresenta bom potencial como forma de melhorar a estabilidade aeróbia das silagens, devido ao seu maior poder em inibir o crescimento de leveduras e fungos.

Em estudo pioneiro com silagem de cana-de-açúcar utilizando o LB, Pedroso (2003) verificou que o aditivo contendo L. buchneri na dose de 4 x 105 ufc/ g MV, foi eficiente em diminuir o teor de etanol das silagens de cana-de-açúcar para teor menor que a metade do verificado na silagem controle (1,90% vs. 4,05% da MS). Essa

redução foi acompanhada de menor contagem de leveduras na silagem inoculada (5,65 vs. 6,49 log ufc/g MV). Não foram encontradas diferenças entre o tratamento controle e LB com relação ao pH (3,65 vs. 3,65), perdas totais (6,82 vs. 5,19%), por gases (6,14 vs. 6,73% MS), por efluentes (6,98 vs. 2,30 kg/t MV) e também no que disse respeito ao coeficiente de DVIVMS (46,6 vs. 46,0%).

Schmidt (2006) também testou a inoculação de L. buchneri em silagens de cana- de-açúcar, porém confeccionadas em silos do tipo bag e verificou que o microrganismo foi eficiente em promover a redução do teor de etanol, tanto na dose alta (105 ufc/g MV), quanto na dose baixa (5 x 104 ufc/g MV). Entretanto, no que se refere ao valor nutritivo, somente na dose mais alta foi possível verificar melhoria da DVIVMS em relação à silagem de cana-de-açúcar controle.

Nesse experimento de Schmidt (2006), os tourinhos Nelore que receberam silagem inoculada apresentaram ganhos de peso e IMS maiores que os observados para os animais do tratamento que continha cana-de-açúcar ensilada sem aditivo. Embora não tenha havido efeito da dose de inoculante, as doses alta e baixa propiciaram aumento de 13,6% na IMS e 22,4% no GPM em relação à silagem sem inoculante.

Dessa maneira, a avaliação das perdas na ensilagem versus sua facilidade de manejo, levando em conta o desempenho alcançado pelos animais é de vital importância para a escolha da forma de fornecimento da forragem.

Os objetivos deste estudo foram: avaliar o desempenho de bovinos confinados recebendo como fonte de volumoso suplementar a cana-de-açúcar, nas formas in

natura ou ensilada e se a inoculação durante o processo de ensilagem apresenta efeito

sobre a ingestão de matéria seca, o desempenho e o comportamento desses animais além da estabilidade aeróbia das fontes de forragens testadas.

3.2 Material e Métodos