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Estabilidade aeróbia de silagens de cana-de-açúcar 62

De acordo com Schmidt (2006), a perda de componentes nutritivos após a abertura dos silos é, também, fator determinante do valor nutritivo das silagens. O autor completa, que a exposição da silagem ao oxigênio, tanto no painel do silo, quanto no cocho ao fornecer aos animais é inevitável, permitindo o crescimento de microrganismos aeróbios que causem deterioração da forragem. Por isso, além de contribuírem para a redução de perdas oriundas do processo de ensilagem, os aditivos têm sido preconizados para aumentar a estabilidade aeróbia de silagens.

Segundo Driehuis; Oude Elferink e Spoelstra (1999) o processo de deterioração aeróbia é iniciado por leveduras ácido-tolerantes e, em silagem de milho, ocasionalmente por bactérias produtoras de ácido acético. Este ácido é, de acordo com Filya; Sucu e Karabulut (2006), o principal fator determinante da melhoria da estabilidade aeróbia de silagens. As leveduras causam elevação do pH ao oxidarem os ácidos orgânicos, principalmente, ácido lático. Depois disso, com a elevação do pH, outros microrganismos se proliferam, resultando em perdas de valor nutritivo e, em alguns casos, ao comprometimento da qualidade higiênica, com proliferação de microrganismos ou produção de compostos patogênicos.

São várias as formas de se determinar a estabilidade aeróbia de silagens, sendo uma das mais utilizadas a descrita por Ranjit e Kung Junior (2000). Os autores consideram o final da estabilidade aeróbia como sendo o momento em que a temperatura da massa exposta ao ar excede a temperatura do ambiente em 2°C. Outros parâmetros avaliados durante todo o ensaio foram definidas por O’Kiely; Clancy e Doyle (2001), como: número de horas para elevação da temperatura em 2°C; número de horas para a massa atingir a temperatura máxima; temperatura máxima atingida pela massa; acúmulo térmico de 5 e 10 dias, da diferença média diária entre a temperatura das forragens ou rações e a temperatura ambiente; pH máximo alcançado; número de dias para se atingir o pH máximo; perda de MS de 0 a 5 e 0 a 10 dias de exposição aeróbia.

Ranjit; Taylor e Kung Junior (2002) testaram doses de inoculação de L. buchneri em silagens de milho, além da silagem controle. Os autores verificaram que houve

melhoria na estabilidade aeróbia das silagens, conforme incremento das doses de microrganismo de nula, 1,0 x 105; 2,5 x 105; 5,0 x 105 e 106 ufc/g MV, com respectivamente, 38; 53; 68 horas e nas duas maiores doses estabilidade aeróbia superiores a 572 horas.

O efeito da inoculação com LB sobre o teor de ácido acético, e este sendo fator de alteração da estabilidade aeróbia, foi comprovado por Danner et al. (2003). Estudando silagens de milho inoculadas com L. buchneri, os autores verificaram que o teor de ácido acético nas silagens inoculadas foi maior que na silagem de milho controle (5,55 vs. 1,64% MS). Dessa forma, houve melhora na estabilidade aeróbia de 40 para 274 horas, mensurada até quando a temperatura da massa de forragem atingiu 2°C acima da temperatura de controle do ambiente.

Ranjit e Kung Junior (2000) determinaram que o teor de ácido acético foi somente maior que o observado na silagem controle (1,82 % MS), quando a inoculação foi superior a 106 ufc/g MV, alcançando níveis de 3,60% de ácido acético em relação à MS. Todavia, a estabilidade aeróbia ainda na dose menor de inoculação (105 ufc/g MV) diferenciou-se do tratamento controle em 10 horas, sendo que na dose mais alta o LB foi capaz de promover estabilidade superior a 900 horas para a silagem de milho.

Ao avaliar a inoculação de silagens de milho com L. buchneri em colheitas de duas safras, Kleinschmit; Schmidt e Kung Junior (2005) verificaram que, nos dois anos, a inoculação foi efetiva em melhorar a estabilidade aeróbia. No primeiro ano, a silagem controle mostrou-se estável durante 39 horas, enquanto que a silagem tratada ficou por 139 horas. No segundo ano, a silagem controle apresentou estabilidade aeróbia de 73 horas e na silagem inoculada isso ocorreu por mais de 210 horas.

Da mesma maneira, em silagens de azevém perene Driehuis; Oude Elferink e Van Wikselaar (2001) observaram a efetividade da inoculação com L. buchneri sobre a estabilidade aeróbia. Os autores observaram que as duas doses de inoculação estudadas (1 x 105 e 3 x 105 ufc/g MV) foram melhores que a silagem controle, em termos de estabilidade aeróbia. O teor de ácido acético foi de 3,17% MS na silagem controle e chegou a 5,10% MS na silagem inoculada; as contagens de leveduras e fungos foram maiores na selvagem controle que na inoculada e o tempo para se atingir

a quebra da estabilidade foi de 183 horas para a silagem controle e demorou mais de 480 horas paras as duas doses de inoculação com L. buchneri.

Conforme relato de Schmidt (2006), silagens de cana-de-açúcar são bastante propensas à deterioração aeróbia por apresentarem teor elevado de carboidratos solúveis em água residuais após a fermentação no silo.

Pedroso (2003) verificou que a silagem de cana-de-açúcar sem aditivo permaneceu, em média, 48 horas para atingir 2°C acima da temperatura do ambiente. As silagens aditivadas com L. buchneri e benzoato de sódio, permaneceram 78 e 72 horas, respectivamente, para atingirem a instabilidade, enquanto que a inoculação com

L. plantarum piorou a estabilidade e a forragem atingiu 2°C acima da temperatura do

ambiente em apenas 30 horas. Da mesma forma, o somatório da diferença entre a temperatura da massa de forragem e do ambiente durante cinco dias de exposição aeróbia, foi menor para o tratamento LB, atingindo apenas 25°C. Isso demonstra que ocorreu pequena variação da temperatura da massa, diferentemente dos demais tratamentos que apresentaram diferenças maiores que 36°C.

Siqueira et al. (2007a) verificaram que, em silagem de cana-de-açúcar, a inoculação com LB atingiu 54 horas em estabilidade aeróbia e não diferiu da inoculação com Pediococcus acidipropionici (50 horas). Todavia, a silagem controle apresentou estabilidade aeróbia de 34 horas, diferindo dos demais tratamentos aditivados. Em outro experimento, porém, dessa vez testando a cana-de-açúcar ensilada após a queima, Siqueira (2005) não verificou alteração da estabilidade aeróbia das silagens inoculadas com LB, comparativamente à silagem controle. Segundo o autor, uma alteração do quadro microbiológico se instalou, sendo que alguns produtos da fermentação passaram a ser substratos e microrganismos outrora latentes, começaram a se desenvolver. Essa observação é corroborada pelo estudo de Miyazaki et al. (2006) que verificaram o aumento da população de leveduras em cana-de-açúcar mantida em aerobiose, passando de 1,9 log ufc/g MV no tempo inicial e elevando-se para 2,5 log ufc/g MV com apenas 24 horas de exposição aeróbia.

Com relação ao pH, após cinco dias em ambiente aeróbio, Siqueira et al. (2007a) verificaram que a silagem controle apresentava pH 6,0, enquanto a silagem tratada com LB o pH observado foi 4,4. Além disso, a variação do pH no momento da abertura dos

silos e após cinco dias foi maior para a silagem controle (2,0) que para a silagem inoculada (0,4), mostrando-se, dessa forma, mais estável que a primeira.

Ao avaliar a estabilidade aeróbia de silagens de cana-de-açúcar e rações contendo esses volumosos, Toledo Filho et al. (2004) verificaram que o uso de LB foi capaz de aumentar a estabilidade aeróbia de rações contendo silagem de cana-de- açúcar inoculada com esse microrganismo. O período inicial para a perda da estabilidade na ração contendo silagem controle foi de 24 horas, enquanto que a silagem inoculada com LB apresentou quebra na estabilidade somente após 96 horas.

Queiroz (2006) avaliou a inoculação da cana-de-açúcar com LB e não verificou diferença no tempo de estabilidade aeróbia em relação ao controle, permanecendo, inclusive por tempo menor (48 h vs. 38 horas). Para o autor, os melhores resultados do

L. buchneri não são justificados pela dinâmica fermentativa das silagens e sim pela fase

aeróbia.

Santos (2007) observou que os menores acúmulos térmicos de temperatura (ADITE-5) em silagens de cana-de-açúcar foram observados para o tratamento cal virgem, tanto na dose de 1,0%, quanto na de 1,5% em relação à MV. Esse acúmulo foi de apenas 4,3°C para esses tratamentos, enquanto que, para os tratamentos controle e LB, o acúmulo passou de 500°C. Da mesma forma, o tempo para a perda da estabilidade aeróbia foi de 131 horas para a silagem aditivada com 1,0% de cal virgem; chegou a 240 horas para a aditivada com 1,5% desse agente alcalinizante e para as silagens controle e LB, foram de 40 e 35 horas, respectivamente.

2.5 Desempenho de bovinos de corte alimentados com rações contendo cana-de-