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Guerreiro Ramos não só focaliza a administração como fato, nos moldes do período clássico da sociologia, bem como o considera um conjunto de elementos e interações, externos e internos teoricamente distintos, mas que se influenciam. Para esse sociólogo, o fato administrativo é um fenômeno social total, devendo ser analisado como demonstração de uma totalidade, não implicando a sua denominação de fato ou sistema.

Ao focalizar a administração como sistema, Guerreiro Ramos, demonstra que alguns autores como Bronislaw Malinowski, A.R. Radcliffe-Brown e Talcott Parsons, adotam duas orientações, fundamentadas na ciência social: “concepção mecanicista de equilíbrio e concepção de dinâmica do equilíbrio” (RAMOS, 1983, p.26). Esses autores se encontram vinculados ao método de análise de estrutura social. Para esses autores, o sistema social funciona em harmonia interna, sem conflitos permanentes, que não possam ser resolvidos e nem regulados.

Outros autores, entre eles Robert Merton (1949/1970), demonstraM que, tanto o método estrutural-funcional como o conceito de sistema social, não são inseparáveis de uma visão imobilista da sociedade, mas, ao contrário, representam instrumentos adequados ao estudo do equilíbrio, do ponto de vista dinâmico.

Os elementos da administração, tais como foram descritos por Guerreiro Ramos, constituem um sistema administrativo, composto de subsistemas em interação, subordinado a regras operacionais comuns.

Esse equilíbrio é representado como componentes interdependentes, que se organizam em três partes: entradas, processo e saída. As entradas (inputs) compreendem os elementos físicos ou abstratos de que o sistema é feito, incluindo as influências e recursos recebidos do meio ambiente. Os recursos recebidos são processados pelas diversas partes dos subsistemas e transformados em saídas representando os resultados que se pretende atingir (outputs) (RAMOS, 1983).

Os elementos da administração, tais como foram descritos por Guerreiro Ramos, constituem um sistema administrativo, composto de subsistemas em interação, subordinado a regras operacionais comuns.

Portanto, os sistemas são feitos de dois componentes: físicos ou concretos (materiais equipamentos, máquinas, instalações, pessoas) e conceituais ou abstratos (conceitos, idéias, símbolos, procedimentos, regras, comportamento intelectual), que procuram manter um equilíbrio dinâmico, tanto em suas relações internas como nas relações externas.

A idéia do sistema é muito importante na formação intelectual do dirigente e de todos os tipos de profissionais do mundo moderno. Oferece ao administrador uma visão integrada das organizações e do processo administrativo, servindo, ainda, para planejar e montar sistemas que produzam resultados.

Analisando o fato administrativo à luz do conceito de Guerreiro Ramos, tem-se que ele é constituído de elementos que se encontram em recíproca relação tanto com a estrutura organizacional interna como também com situações externas envolvendo outros elementos sociais.

Para o entendimento do fenômeno, os elementos, descritos por Guerreiro Ramos, são compreendidos como referências conceituais. No entanto, alerta os sociólogos que tais elementos não são exaustivos, podem variar em número, grau e nomenclatura, conforme o interesse de quem se propõe a estudá-lo.

Nesse contexto, observa-SE que as organizações põem em movimento um grande número de instituições, contribuindo para a existência de fatos variados, tais como o fato jurídico, econômico, político, etc.

Como sistema, o fato administrativo constitui uma totalidade composta de elementos em interação, vinculados a procedimentos operacionais como programas, normas, valores, que diferenciam do ambiente externo sobre o qual também age e recebe influência, daí a necessidade de se manter um equilíbrio dinâmico entre as relações internas e externas.

Para melhor compreensão do fato administrativo na esfera pública, procura-se entender a administração, enquanto entidade, que possui um aparato executivo e um aparato político.

Para efeito deste trabalho, o fato administrativo encontra-se inserido nas organizações públicas, possibilitando o desenvolvimento de práticas transformadoras entre os sujeitos envolvidos na prestação do serviço público, por força de decisões dos agentes, que se

encontram condicionadas a fatores de natureza histórica e social do contexto no qual estão inseridas, em estreita relação com a cultura organizacional.

Na abordagem do fato administrativo, na perspectiva da administração pública, busca-se compreender o gerenciamento das varas comuns, visando a atender a entrega da prestação jurisdicional com celeridade.

Assim, no estudo empírico, será analisado como os elementos do fato administrativo influenciam nas ações dos gestores e a compreensão sobre gerenciamento.

A literatura sobre a ação social e a ação administrativa à luz de Max Weber e Guerreiro Ramos, posteriormente discutida, complementará a abordagem do fato administrativo. Porém, será que entender uma organização de natureza pública, a partir dos elementos do fato administrativo é suficiente para uma gerência de atividades públicas com maior efetividade? A discussão sobre esse assunto será analisada no capítulo seguinte quando forem tratados os conceitos e aspectos que norteiam a ação administrativa, a partir do estudo sobre ação social.

CAPÍTULO 2

Identificar o gerenciamento das varas comuns à luz do conceito de ação administrativa, fundamentada por Guerreiro Ramos, fazendo-se um breve relato sobre as teorias que formam a base conceitual da ação social e a sua distinção em quatro modalidades, definidas por Max Weber, como ação racional no tocante aos fins, a racional no tocante a valores, a afetiva e a tradicional.

2 AÇÃO ADMINISTRATIVA

Os pesquisadores têm demonstrado interesse em compreender como se apresenta a razão, como fundamento das ações humanas, nas organizações, buscando por meio dela localizar mais uma fonte de esclarecimentos dos processos tirânicos que inibem a liberdade humana no trabalho, em especial, na sociedade contemporânea.

Tornou-se, então, necessária a reformulação do conceito de ação administrativa, a partir do avanço dos estudos sobre o comportamento humano nas organizações, levando-se em conta alguns aspectos do conhecimento, entre eles, o entendimento das ações dos agentes dentro das organizações, diante de problemas como as motivações, as atitudes dos indivíduos, a percepção da complexidade dos fenômenos eficiência e produtividade, como pontes de equilíbrio entre a personalidade do indivíduo e a organização, a demonstrar, hoje, a preocupação da administração num aspecto do poder – alienação – objetivando esclarecer a tensão existente no comportamento administrativo, entre a ética da responsabilidade e a ética da convicção. (RAMOS, 1983).

Outro aspecto, que contribuiu para o novo conceito de ação administrativa, está vinculado à necessidade de conhecer, de modo sistemático a influência do ambiente externo sobre as organizações.

Guerreiro Ramos (1983, p.36) aponta vários autores que concebem em suas obras tais reorientações, como, “Complex Organizations”, Amitai Etzioni; “The Organization Man”; W.H.Whyte; News Paterns of Managemente, de Rensis Likert; Intergrating the Individual and the Organiztion, de Cris Argyris, que marcaram o advento do “sistema participativo de organização”.

Os estudos de Guerreiro Ramos (1983), Max Weber (2004), Serva (2001), Tenório (2004), entre outros, procuram demonstrar que a racionalidade fundamenta as ações dos indivíduos nas organizações.

Para Guerreiro Ramos (1983), a razão e seu uso é o conceito básico de todo ciência social, inclusive as aplicadas. Na prática da administração, este autor nota que Simon, (1947) no seu famoso e conceituado livro Administrative Behavior, ao abordar a ação administrativa, intuiu que o cerne da questão diz respeito à definição da racionalidade pertinente a esse tipo de ação.

O alicerce desse conceito de ação administrativa encontra-se fundamentado na obra de Guerreiro Ramos, cujas idéias sobre o tema encontram-se nos seus livros: Administração e Contexto Brasileiro (1983) e A Nova Ciência das Organizações (1989).

Dentro dessa temática, será situada, com o auxílio da teoria organizacional, a tarefa de analisar o conceito de ação administrativa, à luz de Guerreiro Ramos, apontando a relevância do tema, na ótica dos autores acima mencionados, fazendo um breve relato sobre as teorias que formam a base conceitual da ação social, e a sua distinção em quatro modalidades, definidas por Max Weber, como ação racional no tocante aos fins, a racional no tocante a valores, a afetiva e a tradicional.

Segundo o sociólogo baiano, a teoria substantiva da vida humana associada, encontra-se embasada na razão substantiva, envolvida por uma dimensão ético-valorativa, sobrepondo a qualquer outra disciplina que aborde a vida social (RAMOS, 1983).

Não será estudado apenas o exame das condições geradoras da adoção e conseqüências da ação social. Serão abordados, ainda, temas relevantes da ação no interior de organizações produtivas, como a ética da responsabilidade social, na transformação das relações no trabalho, a alienação, a reificação, bem assim, os tipos de dominação, conforme destacado por Max Weber, na sua obra “Economia e Sociedade”