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ADOÇÃO DO MÉTODO SOCRÁTICO

No documento Aventura e Legado no Ensino Jurídico (páginas 177-179)

DECODIFICANDO O CEPED TÂNIA RANGEL

3. ADOÇÃO DO MÉTODO SOCRÁTICO

Para que o proissional do direito possa ser um problem solver (resolvedor de problemas), ele precisa possuir algumas características. Primeiro, ele preci- sa ser treinado em fazer perguntas, em questionar a informação que é dada a ele para tentar chegar o mais próximo possível do problema. É com a rea- lização de perguntas que o proissional tem a possibilidade de descobrir di- ferentes ângulos do problema. E quanto mais nuances ele descobre, melhor sua capacidade para resolver o problema.

Além disso, o proissional também tem que ter curiosidade, buscar dife- rentes fontes de informação – tanto sobre o fato como sobre o direito. Quanto maior suas fontes de informação, mais ferramentas o proissional terá para melhor resolver o problema.

E, por im, o proissional tem que se sentir parte da solução do problema, tem que ter a sensação de “pertencimento”, isto é, o problema não é um pro- blema matemático, que comporta uma só resposta e, uma vez que ela tenha sido obtida, passa-se a outro problema.

O professor Gabriel Lacerda costuma dizer que a única resposta certa a toda pergunta jurídica é: “depende”. Depende das variáveis que a questão comporta, depende dos princípios e interesses envolvidos e depende da deci- são a ser tomada. As questões jurídicas, por mais simples que sejam, impli- cam tomadas de decisão, escolha de valores. E justamente por isso requerem um envolvimento maior do proissional.

Estudar somente a lei e a jurisprudência não permite que o aluno treine essas características. Para que ele possa lidar com os conlitos tal, como ele os encontrará no seu exercício proissional, ele precisa ser colocado diante de problemas reais. E, para isso, o método mais adequado é o método socrático. Marcílio Marques Moreira18 ao falar sobre o método adotado pelo CEPED airma “Especiicamente era idéia do caso, não é? Que já tinha em si a se-

17 Entrevista concedida à Fundação Getulio Vargas na cidade do Rio de Janeiro, por telefone, em 17.07.2010, transcrita em 18.10.2010 e disponível no CPDOC para consulta.

mente de ser uma coisa mais prática porque você exigia do advogado um novo conceito de tomada de decisão.”

O que é o método socrático? É o método inspirado na forma de ensinamen- to de Sócrates, na Grécia antiga, onde ele caminhava com seus alunos pela cidade questionando, pensando e discutindo diversos temas.

Por isso, o método socrático é um método que parte do pressuposto de que não existe uma só resposta correta, uma só certeza, pois existem várias verdades sobre o mesmo fato. Ele ensina o aluno a icar confortável com a dúvida, pois ele sabe que a dúvida é o ponto de partida para se chegar às diversas soluções possíveis.

É o método também onde não há uma hierarquia entre professor e aluno. O professor que adota o método socrático é muito mais um “instigador” de pensamentos e coordenador de discussões dos alunos do que a fonte única e principal de saber da sala de aula.

Dessa forma, a atitude do aluno em sala de aula muda. Ele passa de mero sujeito passivo da informação, ou de mero “recebedor” da informação, para ser o sujeito ativo da informação, ele é o próprio construidor de sua forma- ção. Ele, juntamente com seus colegas e com o professor, é o responsável por sua formação. E, por isso, é importante que ele saiba trabalhar em equipe, que ele saiba ouvir o colega19, enim, que ele reconheça no colega uma fonte de conhecimento e informação.

Gabriel Lacerda20 mostra como pela adoção do método socrático se con- segue mudar a concepção do direito: “Então, isso parece que é apenas uma mudança no método: em vez do professor chegar, falar e dar uma aula, o pro- fessor passa o problema e pergunta a opinião do aluno. Mas se ele izer isso, todo o conceito se transforma. O primeiro conceito que passa é que o impor- tante é você raciocinar. O que é importante é você unir peças, é você se equi- librar. Então você muda toda a percepção do Direito. O Direito deixa de ser dogmático, e passa a ser um Direito construído, passa a ser uma resposta.”

Em razão de tudo isso, para implementar as transformações necessárias na formação do proissional do direito, foi feita pelos professores do CEPED a opção consciente pela adoção do método socrático.

Henry Steiner21 ressalta que “deve ser dito que para mim e para os outros Americanos, o objetivo de educar os alunos para desenvolverem uma mente e uma capacidade “críticas” era o objetivo central de todo o projeto.”

19 Fui aluna do professor Joaquim Falcão no curso de graduação em direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele foi professor do CEPED e adota em todas as suas aulas o método socrático. Uma das frases mais ditas em sala de aula por ele era: “Prestem atenção no que diz o seu colega. Sua participação faz parte da aula”. Isso porque, em geral, quando um aluno pergunta ou responde a uma pergunta, os demais alunos tendem a não dar importância ao que é dito pelo colega, pois o que tem valor em sala de aula é somente o que diz o professor.

20 Entrevista concedida à Fundação Getulio Vargas na cidade do Rio de Janeiro, em 20.10.2009, transcrita em 17.06.2010 e disponível no CPDOC para consulta. 21 Entrevista concedida à Fundação Getulio Vargas na cidade do Rio de Janeiro, em 04.03.2009, transcrita em 17.07.2010 e disponível no CPDOC para consulta.

No documento Aventura e Legado no Ensino Jurídico (páginas 177-179)