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DO ARQUIVO MORTO”? DAVID M TRUBEK

No documento Aventura e Legado no Ensino Jurídico (páginas 101-117)

Por que deveríamos nos preocupar com um projeto de vida curta e que ter- minou há quase 40 anos? O curso original do CEPED foi concebido como um projeto-piloto que opera fora das estruturas normais da educação jurídica. O CEPED era uma espécie de laboratório: o nome quer dizer “Centro de Estudos e Pesquisas no Ensino do Direito”. O curso fornecia treinamento de pós-gra- duação em direito econômico para um pequeno grupo de jovens advogados dos setores público e privado. Destinava-se a desenvolver ideias, métodos e mate- riais para a reforma das escolas de direito. O projeto foi um grande sucesso. Mas o próprio CEPED nunca foi além de seu primeiro estágio; não tratou da reforma das escolas de direito, e o curso se encerrou depois de 7 anos.

Naquela ocasião, muitos que tinham tido a esperança de uma rápida re- forma das escolas de direito no Brasil descartaram o CEPED como um fra- casso a ser arquivado na longa lista de reformas malsucedidas da educação jurídica na América Latina. Isto mudou. Subitamente, surge o interesse neste processo há muito enterrado. Trinta anos depois que o CEPED fechou suas portas, a FGV decidiu criar escolas de direito em um novo estilo e foi buscar inspiração olhando para o CEPED. Agora que essas escolas estão es- tabelecidas, a FGV pediu às pessoas que reavaliassem o que aconteceu nos anos 1960 e 1970. Como detetives em um episódio de um desses dramas de TV em que os “arquivos encerrados” de velhos crimes são reabertos, encon- tramo-nos revisitando acontecimentos há muito passados. Que esperamos aprender ao reabrir “o arquivo CEPED”?

Para esse im, vou explorar quatro questões: por que o CEPED inicial- mente teve sucesso; por que, apesar desse sucesso, o projeto acabou; o que manteve a ideia viva depois que o curso terminou oicialmente; e por que a FGV conseguiu ter sucesso no século XXI quando o CEPED falhou no sécu- lo XX? Meus pontos de vista são baseados em grande parte em conhecimento pessoal. Segui a história do CEPED desde o começo. Ajudei a lançar o centro; observei o curso enquanto ele estava sendo ministrado; discuti o projeto com vários membros dos quadros da Fundação Ford; mantive contato com alguns

professores e ex-alunos do CEPED depois que o curso terminou; participei do esforço de registrar sua história; e trabalhei de perto com ambas as escolas de direito da FGV desde que foram fundadas.

I – POR QUE O CEPED TEVE SUCESSO?

Ninguém duvida que o curso de pós-graduação de 1 ano do CEPED para advogados foi um sucesso estrondoso. Os estudantes acharam que a expe- riência foi gratiicante e lhes abriu os olhos. Os empregadores apreciaram o treinamento – chegaram mesmo a aparecer anúncios em jornais brasilei- ros oferecendo empregos na área de direito e indicando preferência para os formados pelo CEPED. Os ex-alunos seguiram carreiras bem-sucedidas na advocacia, no governo, nos negócios e na academia. Por outro lado, muitas pessoas criticaram o CEPED por uma razão ou por outra, mas mesmo os críticos mais duros reconheceram que o curso tinha sido um grande sucesso.

O CEPED teve sucesso porque foi concebido por professores de direito brasileiros que entendiam de que tipo de advogados o Brasil precisava. Al- guns caracterizaram o CEPED como um esforço para importar para o Brasil ideias e métodos educacionais americanos. Sugeriram que seu fracasso apa- rente ocorreu porque essas ideias não eram adequadas ao cenário brasileiro. Esses críticos viram o projeto como um projeto falho de “transplante jurídi- co” e seu encerramento, como prova de que o Brasil rejeitou o transplante.

Isto está simplesmente errado. Com certeza, os brasileiros aprenderam muito dos EUA e o suporte inanceiro da Fundação Ford e da USAID (Agên- cia dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) foi vital. A exposição à educação legal americana mostrou um novo estilo de ensinar. O inanciamento externo criou uma experiência ambiciosa. Os professores ame- ricanos ajudaram. Mas as ideias básicas vieram dos professores brasileiros.

O CEPED surgiu em uma época em que alguns poucos brasileiros esta- vam começando a questionar as concepções tradicionais sobre educação ju- rídica. Em 1955, San Tiago Dantas, um destacado jurista que mais tarde se tornou uma igura política de importância, propugnou por grandes reformas que incluiriam o abandono do método expositivo em favor da interação dia- logada na sala de aula e a introdução de perspectivas interdisciplinares. Embora a pregação de Dantas não tivesse sido levada em consideração pelo

establishment, alguns poucos professores começaram a experimentar as no-

vas concepções de ensino e houve, na recentemente criada Universidade de Brasília, um esforço signiicativo, embora de curta duração.

Talvez mais importantes para a história do CEPED tenham sido as ex- periência com os programas internos de treinamento em escritórios jurídi- cos arrojados, inclusive o prestigiado departamento jurídico da empresa de energia chamada Rio Light. A Light Company, de propriedade canadense, era uma das maiores multinacionais operando no Brasil e seu departamento jurídico era um dos centros mais soisticados de advocacia globalmente co- nectados no país. Escritórios como o da Light desenvolveram métodos inter- nos para preparar advogados recém-contratados.

As pessoas que criaram o CEPED sabiam do rebuliço no mundo preconcei- tuoso da educação jurídica e estavam a par dessa experiência de treinamen- to interno. Muitos tinham lido e aprovado a pregação de reforma de Dantas. Vários tinham tentado novos métodos em suas próprias aulas nas faculda- des de direito. Alguns conheciam as experiências em Brasília. E três das mais importantes iguras nos primeiros tempos do CEPED estavam ligadas ao departamento jurídico da Light. Eram o diretor do CEPED, Caio Tácito; Alfredo Lamy Filho, reconhecido como líder acadêmico do projeto; e Alberto Venâncio ilho, o primeiro diretor executivo.

O contato com os EUA sem dúvida ajudou os professores do CEPED a ima- ginar como adaptar esses esforços de forma a preparar um curso de 1 ano. Esse contato mostrou a eles técnicas como o preparo de materiais de ensino es- pecíicos para discussão em aula. E provavelmente ajudou-os a perceber como elementos de outras disciplinas poderiam ser integrados à educação jurídi- ca. Mas essas ferramentas e técnicas “importadas” foram postas a serviço de ideias a respeito do direito e da educação jurídica de que os brasileiros vinham falando e que vinham experimentando antes que o CEPED entrasse em cena. O curso do CEPED tinha muitos objetivos. Mas acho que foi impulsionado pela crença de que o Brasil precisava de um novo tipo de advogado para lidar com as complexas demandas de sua economia mista e que crescia rapida- mente. Tanto os professores do CEPED como os apoiadores americanos do projeto reconheciam que o Brasil precisava dessa nova espécie de advocacia para atender às demandas do desenvolvimento de uma economia misturada em que o Estado desempenhava um papel importante mas o setor privado era essencial para o crescimento. O CEPED foi um esforço para imaginar que tipo de educação jurídica supriria essa demanda.

O CEPED surgiu quando novas políticas de desenvolvimento estavam sen- do implementadas através de ampla reforma legislativa. Para que esses sis- temas pudessem funcionar como planejado, precisavam do apoio de um novo tipo de advogado tanto no setor público quanto no setor privado. Esses “novos” advogados precisariam entender as regras formais e as políticas que estavam

por trás delas, pensar-se a si mesmos como integrantes de uma equipe, resol- ver problemas e não apenas monitorar passivamente atividades.

Os professores do CEPED entenderam o que esse novo tipo de advocacia precisava porque eles mesmos eram os “novos” advogados. Muitos ensinavam em uma das escolas de direito do Rio. Mas, como quase todos os outros pro- fessores de direito no Brasil na época, também trabalhavam em escritórios de advocacia e departamentos jurídicos de empresas onde tinham aprendido como transmitir as habilidades necessárias para essa forma de advocacia. O CEPED estava voltado tanto a encontrar caminhos para ampliar experi- ências já em existência nesses locais de excelência prática quanto a adaptar ideias educacionais dos EUA.

Os fundadores do CEPED já entendiam a necessidade das novas formas de advogar desde antes que o CEPED começasse e antes que tivessem tido qual- quer contato com o ensino jurídico americano. Certamente isso não era ape- nas um “conhecimento local” porque em parte provinha de contatos anteriores com irmas estrangeiras de advogados. Estou certo que, quando se escrever a história do departamento jurídico da Light, vamos constatar que as ideias a respeito de advocacia e de treinamento de advogados que se desenvolveram dentro dessa instituição foram inluenciadas por modelos estrangeiros. A Li- ght era uma companhia canadense listada na Bolsa de Valores de Nova York e o corpo jurídico brasileiro tinha contato próximo com advogados de empresa dos EUA e do Canadá. Suspeito que esses contatos levaram à difusão das ideias a respeito de advocacia que foram adaptadas às realidades brasileiras por uma equipe altamente talentosa de advogados brasileiros na Light e em departamentos jurídicos e escritórios de advocacia da mesma forma global- mente conectados. Foram essas ideias que inspiraram o curso do CEPED.

Assim, embora dessa forma indireta as ideias a respeito de advocacia de- rivadas das práticas corporativas na América do Norte tenham inluenciado a concepção do curso, essas ideias já tinham sido iltradas por soisticados proissionais brasileiros e adaptadas à realidade brasileira antes que o CE- PED tivesse começado. Se o caso foi este, então, quaisquer que tenham sido as razões pelas quais o CEPED falhou, não foi porque estivesse tentando im- portar ideias de advocacia e modelos educacionais completamente estranhos ao cenário brasileiro.

Na verdade, foi o próprio fato de que o curso respondeu a uma real neces- sidade do Brasil e ofereceu o tipo de treinamento já testado em escritórios de elite que explica por que o curso foi um tamanho sucesso. Os professores do CEPED sabiam que tipo de advocacia era necessário porque já o estavam praticando. Montaram um curso que se aproveitava de seus próprios esfor-

ços internos de treinamento. O contato com a educação jurídica americana não abriu seus olhos a uma nova realidade ou a uma ideia totalmente nova de advocacia. Ao contrário, mostrando como um sistema soisticado e adian- tado de educação legal operava em uma cultura onde esse tipo de advocacia era coisa comum, o contato com os EUA inspirou-os a romper com as prá- ticas educacionais anteriores e forneceu as ferramentas necessárias para criar um curso formal adequado às necessidades da época.

II – POR QUE O CEPED TERMINOU EM TÃO POUCO TEMPO?

Formalmente, o CEPED era parte da Universidade do Estado da Guana- bara, mas isso era em grande parte uma icção. Ele era, na realidade, uma operação própria, alojada na Fundação Getulio Vargas e conduzida pelos professores sob a liderança de Caio Tácito. Em 1973, Tácito anunciou que o CEPED estava fechando suas portas. Por que a liderança do CEPED decidiu cessar as operações depois de 7 anos de sucesso?

Muitos de nós pensamos que a principal razão para o inal do CEPED fosse o encerramento do inanciamento externo. O CEPED recebia dotações substanciais da USAID e da Fundação Ford, e essas dotações permitiram que o centro montasse um curso muito efetivo, mas caro. Claramente, a per- da desse apoio teria sido um golpe forte.

Mas sabemos agora que o curso do CEPED terminou antes que acabasse o apoio externo. É verdade que o dinheiro da USAID tinha secado em 1973. Tanto quanto eu posso dizer, isso não foi por causa de uma insatisfação com o CEPED. Foi, isto sim, parte de uma diminuição de todas as operações da USAID no Brasil. E se a USAID estava fora, o inanciamento da Fundação Ford ainda estava disponível. Esse apoio, contudo, era condicional a que o CEPED caminhasse para o próximo estágio, disseminando o que tinha sido feito no curso-piloto. Isso poderia envolver compartilhar materiais, realizar seminários, desenvolver programas de treinamento para professores. A Ford tinha destinado uma quantia substancial para ser usada pelo CEPED para esses propósitos, mas o CEPED nunca usou os fundos. Ainal, a alocação foi cancelada e a dotação, encerrada.

Assim, a questão de por que o CEPED terminou abruptamente em 1973 acaba se transformando em por que a liderança não queria levar o projeto para o estágio seguinte. A decisão parece ter sido tomada por Caio Tácito sem muita consulta aos outros professores. Infelizmente, ele morreu antes que nosso estudo começasse, e assim nunca poderemos realmente conhecer

suas razões. Mas suspeito que ele achou que a tarefa de reformar as faculda- des de direito era simplesmente desanimadora demais.

As escolas de direito brasileiras nos anos 1960 e 1970 não estavam focadas nas necessidades da proissão legal, e os bacharéis encaminhavam-se a uma variedade de carreiras. Eram conduzidas quase exclusivamente por advoga- dos militantes e juízes que recebiam salários simbólicos e devotaram ape- nas algumas poucas horas por semana a dar aula. Estudantes entediados assistiam a palestras de rotina. Os que queriam seguir a carreira jurídica adquiriam conhecimento proissional e faziam contatos valiosos estagiando em escritórios de advocacia. As universidades gastavam pouco nas escolas de direito, pagavam aos professores uma ninharia, e o curso de direito não precisava de acomodações caras. Havia um currículo obrigatório ditado pelo Ministério da Educação que deixava pouco espaço à inovação.

Nesse sistema, o CEPED era revolucionário. O curso do CEPED foi orga- nizado para treinar proissionais do direito, não para oferecer educação ge- ral. Para adotar seus métodos e materiais, os professores teriam que gastar muito mais tempo em trabalho de classe; os estudantes teriam que devotar muito mais tempo ao estudo; novos cursos, não incluídos nos currículos obri- gatórios, teriam que ser desenvolvidos e os cursos-padrão, repensados. E isto certamente custaria muito dinheiro.

Embora o CEPED apoiasse ideias revolucionárias, era uma revolução sem clientela. A maioria dos professores estava feliz com a estrutura existente e resistiria à necessidade de repensar os materiais e dedicar mais tempo a ensinar. Não havia entre os estudantes demanda por reformas. A liderança universitária não tinha interesse em lançar mudanças caras e potencial- mente impopulares. Os escritórios de advocacia e os departamentos jurí- dicos estavam satisfeitos com o sistema existente, que dependia mais do aprendizado que da educação universitária para comunicar valores e habi- lidades proissionais.

Se o desaio da reforma das escolas de direito pode ter parecido esmaga- dor para algumas da liderança do CEPED, pode também não ter parecido necessário. Se o objetivo primário era treinar um quadro de “novos advoga- dos” para trabalho avançado nos setores público e privado, não havia real- mente uma necessidade de confrontar o establishment da educação jurídica. Os fundadores sabiam o tempo todo que a experiência iria encontrar uma oposição forte; por isso, o CEPED foi criado fora do sistema existente. Se a necessidade de um quadro de novos advogados podia ser atendida em cursos especializados como o CEPED, por que provocar uma tempestade tentando confrontar as escolas de direito?

Acrescente-se a isso o clima político repressivo daqueles dias e é fácil en- tender por que os mais conservadores dentre os líderes do CEPED recuavam quando confrontados com as demandas de que se dedicassem a uma reforma mais abrangente. Mas essa relutância levou a uma ruptura maior entre o CEPED e a Fundação Ford. Tanto a Ford como a USAID tinham entendi- do que o projeto seria para a reforma da educação em geral, não apenas a educação de uma elite que servisse aos atores econômicos no governo e no setor privado. Essa divisão revelou que ambos os doadores externos tinham objetivos mais ambiciosos para o projeto do que a liderança do CEPED, e/ou muito menos consciência dos obstáculos à reforma.

A força desses obstáculos foi conirmada pela experiência subsequente na PUC-Rio. Uma das coisas que o CEPED fez foi dar bolsas a 14 advogados, principalmente aos formados pelo curso do CEPED, para estudar nos EUA. Esses bolsistas foram mais inluenciados pelo cenário americano do que os professores originais do CEPED. Nenhum dos fundadores tinha estudado nos EUA. Alguns tinham feito uma curta viagem aos EUA para observar diversas escolas antes que o curso começasse, e muitos participaram de dis- cussões ocasionais sobre a educação legal com o professor de Harvard Henry Steiner, que ensinou no CEPED durante 18 meses. Mas a experiência dos bolsistas foi muito diferente: eles passaram 1 a 2 anos nos programas de mestrado em Yale, Harvard, Berkeley e escolas americanas semelhantes, e realmente absorveram completamente a postura da educação jurídica ame- ricana. Como resultado, voltaram entusiastas da reforma da educação jurí- dica e ansiosos para prosseguir além de onde o CEPED tinha parado.

Quando o CEPED estava fechando suas portas, eles tiveram sua oportu- nidade quando vários antigos estudantes e bolsistas do CEPED, liderados por Joaquim Falcão, Jorge Hilário Gouveia Viera e Gabriel Lacerda, con- duziram uma grande reforma na escola de direito da PUC. Inspirada pelo CEPED, esta reforma procurou implementar as mudanças que a Ford e a USAID tinham esperado que o CEPED levasse adiante. Os ex-cepedistas da PUC obtiveram inanciamento de curto prazo da Inter-American Founda- tion e desenvolveram uma programação inovadora tanto para a graduação quanto para o mestrado. A experiência, contudo, enfrentou forte resistência do corpo docente e dos estudantes. Depois de alguns anos, a administração acabou com ela. O controle da escola de direito voltou às forças conservado- ras e os ex-cepedistas, em sua maioria, foram embora.

III – COMO A IDEIA DO CEPED PERMANECEU VIVA DEPOIS DE 1973? Talvez a coisa mais interessante que descobrimos com o projeto de história oral tenha sido a forma como as ideias promovidas pelo CEPED foram man- tidas vivas durante o quarto de século entre o im do projeto e a decisão de criar na FGV as escolas inspiradas pelo CEPED. Gabriel Lacerda contou esta história em seu artigo neste volume. Basicamente, o que aconteceu foi que o CEPED criou uma rede informal de antigos professores e alunos que encontraram formas de manter vivas algumas das suas ideias. Isto foi feito em parte por cursos especializados do tipo CEPED organizados em escritó- rios de advocacia e agências governamentais, e por experiências limitadas em cursos nas escolas de direito regulares.

Especialmente importante foram o curso criado por José Luiz Bulhões Pedreira e Alberto Venâncio Filho no escritório de advocacia de Bulhões Pe- dreira e os cursos no Ministério de Minas e Energia e na CVM liderados por Jorge Hilário Gouveia Viera. Muito se aprendeu com esses cursos ad hoc pós-CEPED. Esses cursos também aumentaram o número de pessoas que tinham tido contato com as ideias do CEPED e todas essas pessoas manti- veram vivas as ideias propagadas pelo projeto. Quando a FGV decidiu criar novas escolas de direito e olhou para trás, para a experiência do CEPED, para buscar inspiração, pôde recorrer à rede de pessoas que tinham vivido a experiência do CEPED ou experiência análoga para ideias e conselhos. Além disso, no Rio, recrutou Joaquim Falcão, um ex-bolsista e instrutor do CEPED, para liderar o projeto.

IV – POR QUE A FGV TEVE SUCESSO ONDE O CEPED FALHOU?

Reabrir o arquivo do CEPED nos ajuda a entender os problemas que as reformas do ensino jurídico enfrentaram no passado. Mas também levanta uma outra questão: à luz do que foi aprendido a respeito das barreiras às reformas, como a FGV conseguiu pôr em prática muitas das ideias do CE- PED 30 anos depois que o CEPED fechou suas portas? A FGV criou duas escolas de direito que incorpora muitas das ideias e práticas que o CEPED e, mais tarde, os bolsistas adotaram ou tentaram adotar. Isso inclui uma porcentagem signiicativa de professores de tempo integral, estudantes em aula em tempo integral pelo menos durante os primeiros 3 anos, soisticados

No documento Aventura e Legado no Ensino Jurídico (páginas 101-117)