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9 ADUBAÇÃO ORGÂNICA VERSUS MINERAL

As práticas de adubação química mineral e orgânica apresentam grandes diferenças, as quais devem ser reconhecidas, afim de melhor recomendá-las. Serão discutidas, a seguir, as principais diferenças, entre fertilizantes minerais e os adubos orgânicos de origem animal disponíveis atualmente.

A) As concentrações de nutrientes nos adubos orgânicos são em geral muito mais baixas que dos fertilizantes minerais (Tabela 14). A cama de aves e o esterco sólido de suínos, por exemplo, se equiparam aos formulados 3-3-2 ou 2,1-2,8-2,9 (% de N-P2O5-K2O), em base seca (65 oC), respectivamente. Já, os estercos líquidos de suínos e bovinos apresentam uma relação de 4,5-4,0-1,6 e 1,4-0,8-1,4 kg/m3 (COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO – RS/SC, 1994). A baixa concentração nos adubos orgânicos, principalmente na forma liquida, é uma grande desvantagem quando se considera o transporte para grandes distâncias, restringindo o uso fora da propriedade.

B) Ocorre uma variação das concentrações de nutrientes nos resíduos, sendo estas variações relacionadas com diversas variáveis, tais como:

idade do animal, concentração de nutrientes nas rações, presença ou ausência de cama, assim como tipo, condições e tempo de estocagem e outros. Variações de 21 a 60 (média – 3,9), 14 a 89 (média – 3,7) e 08 a 89 (média – 2,5) g.kg-1 de N, P2O5 e K2O, foram obtidas respectivamente,

para 147 amostras de esterco de frango analisadas (PAYNE e DONALD, 1990). Tais variações também são observadas nos micronutrientes (Tabela 15). Existem variações muito grandes na concentração entre animais confinados (que recebem suplementação de sais minerais e farelos ricos em proteínas), e animais criados soltos (que não recebem suplementação). Assim, os adubos orgânicos hoje disponíveis são muito mais ricos, em face de adição mineral, principalmente de P, Zn e Cu.

TABELA 14 - TEOR DE MACRO E MICRONUTRIENTES EM ESTERCOS DE SUÍNOS, AVES E BOVINO DE DIFERENTES ORIGENS.

N P2O5 K2O Ca Mg Zn Cu Fe Mn TABELA 15 - VARIAÇÃO NOS TEORES DE MICRONUTRIENTES EM ESTERCO DE SUÍNOS DE DIFERENTES ORIGENS.

Zn Cu Fe Mn

C) Diferente dos adubos minerais onde é possível escolher produtos sem N (0-20-20), P2O5 (15-00-25) e K2O (25-20 –00) ou com relação variada entre os nutrientes (4-30-10, 4-20-20, 4-10-30), com a finalidade de satisfazer as necessidades individuais de cada solo e cada planta, os adubos orgânicos tem proporções fixas entre os nutrientes, estando, em sua maioria, muito próximas de 1/1 (N/P2O5) (Tabela 16), principalmente quando parte do N é perdida via volatilização durante da estocagem. Esta proporção está muito abaixo das necessidades de adubação das plantas, que ficam entre 2/1 e 6/1 (Tabela 17), ficando evidente que o P encontra-se em maior quantidade comparativamente ao N no adubo orgânico. Desta forma, sempre que a dose de adubo orgânico a ser aplicada for calculada com base no teor de N, como normalmente é utilizada, aplica-se mais P do que o recomendado. Isto pode levar, em longo prazo, ao acúmulo deste nutriente no solo, visto que o mesmo não é perdido por volatilização e lixiviação como ocorre com N, e lixiviação no caso do K.

D) Os adubos orgânicos são formulados completos em termo de nutrientes [macro (N, P, K, C, M e S), micro (Fe, Mn, Cu, Zn, Ni, B, Mo, Cl) e úteis (Co e Na)] (Tabela 14 e 15). Em muitos casos, os teores de Zn e Cu são expressivamente altos, comparados com as exigências nutricionais das plantas. Assim, como ocorre com o P, o acúmulo de nutrientes pouco móveis (Zn e Cu) tem sido constatados com uso prolongado de resíduos (KORNEGAY et al., 1976; CAST, 1996). Diante destas considerações, destaca-se que, o efeito dos adubos orgânicos pode estar associado a outros nutrientes além do N, P e K, principalmente em áreas reconhecidamente deficientes em S, Zn e Cu.

TABELA 16 - TEORES DE N, P205 E K2O E RELAÇÃO ENTRE OS MESMOS, EM ESTERCO DE SUÍNOS DE DIFERENTES ORIGENS.

N

eEsterco de cama maravalha.

TABELA 17 - EXTRAÇÃO DE N, P2O5 EK2O E RELAÇÃO ENTRE OS MESMOS EM CULTURAS DIVERSAS.

N P2O5 K2O Relação Fontes: 1TANAKA et al. (1993); 2ALTMANN e PAVINATO (2001); 3PAULETTI (2004) E) Muitos dos nutrientes contidos nos adubos orgânicos podem estar na fração sólida do esterco, como compostos orgânicos e serão utilizados pelas plantas, quando da liberação pelo processo de mineralização microbiana. Em compensação, outros nutrientes estão praticamente livres

(K+), podendo ser prontamente disponíveis após aplicação dos adubos orgânicos. Aproximadamente 2/3 do N contido no esterco de suínos se encontra na forma mineral de amônio (NH4

+) estando o restante como N orgânico (ORUS e MONGE, 2002; McCORNICK, 1984; SCHENER, 2002), quando estocado em condições anaeróbias. Tal proporção pode ser ainda muito maior quando o esterco é coletado na esterqueira sem homogeneização, com a retirada do sobrenadante com pequena quantidade de matéria seca, visto que os compostos orgânicos que contem N orgânico sedimentam, ficando no fundo do reservatório (SULLIVAN, 1999).

A alta proporção de N na forma de amônio pode levar a uma alta perda de N por volatilização. Além disso, o pH dos resíduos de suínos está geralmente acima de 7 (REDDY et al., 1980), aumentando ainda mais a possibilidade de perdas. Se o esterco líquido for injetado ao solo, as perdas poderão ser minimizadas (CAST, 1996).

É importante lembrar que é necessário saber o sincronismo entre liberação dos nutrientes do adubo e marcha de absorção das culturas (REDDY et al., 1980). O estabelecimento do período de liberação dos nutrientes contido no esterco pode ser muito variável, pois depende de diversos parâmetros relacionados às características intrínsecas do esterco, assim como do solo (umidade, temperatura e aeração), forma de aplicação e outros. Entre as características intrínsecas do esterco estão a relação C/N, e a presença de compostos resistentes à decomposição, como a palha e a serragem.

A forma de aplicação está diretamente relacionada com a velocidade de decomposição, pois pode afetar o contato entre solo e o resíduo. Incorporação dos resíduos juntamente com o solo, como ocorre no sistema de plantio convencional, permite certamente uma rápida decomposição. A injeção de esterco também pode atuar de maneira

similar, com uma outra grande vantagem, que é a diminuição do odor. Já, a aplicação de resíduo na superfície sem incorporação pode diminuir o contato com o solo e a conseqüente mineralização.

F) Na maioria dos casos tem sido observado efeito do uso de esterco no aumento do pH, e consequentemente sobre o decréscimo de toxidez de elementos encontrados em alta quantidade, em solo ácido, como o Al.

Retenção temporária do Al, contido em solução pode proporcionar um maior crescimento radicular, afetando positivamente toda a nutrição das plantas. A liberação de compostos orgânicos solúveis em solução, certamente poderá complexar elementos, ou ter, em sua constituição, certos nutrientes, propiciando uma maior mobilidade dos mesmos.

G) Os adubos orgânicos podem ter um forte impacto sobre os macros e microrganismos do solo. O aumento na atividade biológica do solo deve-se ao suprimento de fonte energética e de nutrientes. O efeito sobre crescimento dos macro e microorganismos pode influir em muito nas propriedades físicas e no ciclo dos nutrientes no solo, tendo maior destaque em áreas degradadas. Por outro lado, se os compostos orgânicos atingirem os cursos de água, esses sofrem ataque pelos microrganismos causando deficiência de O2 e morte de peixes e outros animais.

H) Certa proporção dos componentes orgânicos pode permanecer no solo melhorando-o, aumentando o teor de C no solo, que certamente pode influir positivamente sobre as demais propriedades físicas (aumenta agregação das partículas do solo e retenção de água, diminui plasticidade e aderência) e químicas (aumenta a CTC) do solo. Estas vantagens do adubo orgânico são mais destacadas em áreas degradadas.

I) Tem sido observado que alguns componentes nos adubos orgânicos podem atuar na germinação de sementes, crescimento de raízes e parte aérea. Logo, é provável que o aumento de produtividade com uso de esterco possa estar, em certo grau, dependente de compostos que atuem no desenvolvimento das plantas.

J) O adubo orgânico pode apresentar características indesejáveis como forte odor e agente patogênicos, que podem ser amenizados com processo de estabilização na forma de compostagem e outros. Não se recomenda o uso direto, pois podem, em alguns casos, aumentar a incidência de doenças radiculares.

K) Existe ainda a possibilidade do C adicionado como adubo orgânico, ao ser perdido ser novamente seqüestrado pela planta, propiciando aumento produtividade, o que não ocorre com adubo mineral (YÁGODIN et al., 1986).

Podemos assim concluir que o termo adubo orgânico é muito genérico para tratar de compostos em muitos casos muito diferentes, que podem variar do estado sólido ao líquido. Outro fato é que os adubos orgânicos hoje disponíveis em abundância são, em geral, muito concentrados em relação aos adubos orgânicos de animais soltos, dado à grande suplementação em sais minerais e concentrados. Ainda, não podemos comparar o valor do adubo orgânico em relação ao mineral, apenas quanto ao teor de macronutrientes, pois diversas modificações nas propriedades do solo de ordem física, química e ou biológica, ocorrem quando do uso do mesmo. Contudo, não se deve curvar ao mito de que o adubo orgânico não tem problemas e pode ser utilizado indiscriminadamente, sem controle, pois muito da poluição em países

desenvolvidos foi causada pelo uso de grandes doses de adubo orgânico em áreas próximas a corpos de água.