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O adulto pensa que as punições que aplica não se reflectem na saúde física e emocional da criança

CONCLUSÕES FINAIS

Hipótese 2- O adulto pensa que as punições que aplica não se reflectem na saúde física e emocional da criança

Ao formularmos esta hipótese, pretendíamos verificar até que ponto os pais ao punirem a criança, seja física ou psicologicamente, tinham consciência das sequelas a curto, médio ou a longo prazo, no desenvolvimento global da mesma.

Como foi abordado nos capítulos III e IV, outros estudos têm comprovado que quando o adulto pune física ou emocionalmente a criança não tem consciência das

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consequências que causa na mesma. Do mesmo modo, podemos afirmar que os maus- tratos podem originar sequelas graves, aos níveis físico, cognitivo e psicossocial, normalmente as crianças tendem a ser agressivas e não cooperantes, possuem uma baixa auto-estima, e têm comportamentos propícios a depressões futuras.

Por conseguinte, relativamente aos questionários, nomeadamente nos quadros 18 e 30, verificamos que, tanto os pais, como as crianças referem que os castigos mais frequentemente aplicados são, efectivamente, os castigos físicos, privação de ver televisão, de brincar com os amigos. No entanto, apenas os pais referem que, por vezes, intimidam os seus filhos. Como foi referido anteriormente, a intimidação, particularmente o ralhar, para a criança não se associa a maus-tratos pois são utilizadas pelos pais em situações sem importância no seu quotidiano.

Para verificarmos esta hipótese, analisámos as questões 12 e 13 do questionário dos pais, as questões oito e nove do questionário das crianças e as questões três e quatro das entrevistas realizadas, nomeadamente a entrevista da educadora de infância da I.P.S.S, e também as observações realizadas no terreno.

Estas questões relacionam-se nomeadamente com a forma como os pais/responsáveis da criança agem perante os problemas diários das mesmas.

Segundo Papalaia e al. (2001) a prática de maus-tratos na infância, originados pelos pais/responsáveis pela criança são indícios de perplexidades extremas de educação, que surgem através de outros conflitos familiares tais como o desemprego, alcoolismo, toxicodependência, divórcios, pobreza... Portanto, em vista disso, os pais têm dificuldade em lidar com as necessidades e despropósitos dos filhos punindo-os sem olhar às consequências que podem causar nos mesmos.

Portanto, de acordo com o quadro nº.16,verificamos que na amostra estudada os pais optam na sua maioria por ralhar (68.24%) e chamar a atenção dos seus filhos (65.88%). Conjuntamente, os pais em paralelo com as reacções anteriormente descritas aplicam castigos físicos (47.06%), interditam a criança de ver televisão (24.71%) e privam a criança de brincar com os amigos (15.29%). Ao mesmo tempo, observamos também que nos gráficos 14 (questionário dos pais) e 29 (questionário das crianças), que os itens mais acentuados são o ralhar em relação aos pais e o castigo físico, a intimidação onde é incluído o ralhar e o humilhar. Relativamente às respostas dadas pelas crianças, verificamos que são semelhantes às respostas dos pais. Obtivemos assim

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173 54.43% da amostra que admite que os pais ralham, 31.65% que afirmam que, ao mesmo tempo, também aplicam castigos físicos, no caso dos pais, 68.24% refere o “ralhar”, 65.81% o “chamar à razão” e 47.06% “a aplicação de castigos físicos”.

Em relação à análise das entrevistas realizadas, podemos verificar que, de acordo com a educadora de infância da I.P.S.S (quadro 38), existe uma certa ambiguidade relativamente às reacções/atitudes dos pais tais como a agressividade/violência – indiferença, o que provoca comportamentos e formas de estar incertos e ineficazes na criança.

No que concerne às observações realizadas, podemos verificar o caso do Joaquim, constantemente a ser punido pela mãe, sem que esta tente perceber realmente o porquê dos comportamentos da criança, despertando sentimentos de revolta no menor.

Neste sentido, podemos constatar que provavelmente o facto de ralhar onde se pode abranger o humilhar e o intimidar e, ao mesmo tempo, o punir fisicamente a criança, nos levam a concluir que os pais desconhecem as consequências a médio/longo prazo que tais podem ter no desenvolvimento criança.

Efectivamente, podemos também verificar de acordo com os gráficos 17 e 31, relacionados com os meios utilizados na aplicação dos castigos físicos, que ambos os inquiridos (pais e crianças) referem a palmatória como sendo a forma mais comum de punir fisicamente (63.33% dos pais e 53.16% das crianças). Apesar disso, opostamente à opinião dos pais, as crianças admitem que muitas vezes os pais utilizam o cinto (27.85%), o chinelo (17.72%) e o chicote (6.33%), obtendo-se valores muito expressivos do que no questionário dos pais (cinto 12.94%; chinelo 15.29%; chicote 1.18%).

De acordo com Dias (2004), o bater e o ralhar são duas formas de violência que normalmente estão relacionadas entre si, e funcionam como práticas educativas. Assim, apesar do bater e o ralhar serem as práticas educativas mais usadas pelos pais, para alguns é suficiente chamar a atenção dos filhos.

Em relação à questão 16 do questionário dos pais e à questão 11 do questionário das crianças relacionada com as zonas lesadas pelos pais, pretendia-se saber, ou melhor confirmar se efectivamente os pais têm consciência que ao agredir a criança em locais distintos tais como as nádegas, a cabeça, as pernas… deixam sequelas mais ou menos graves no desenvolvimento global da criança.

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Conforme com os gráficos 18 e 32, podemos verificar que ambos os inquiridos assumem que a zona mais lesada são as nádegas, com 64.71% dos pais e 34.18% das crianças. No entanto, as crianças referem também que os pais as agridem nas costas (8.86%) e na cabeça (6.33%). Ainda assim 15.19% das crianças e 5.88% dos pais admitem que por vezes não reparam onde batem.

Em relação à quarta questão das entrevistas realizadas, verificamos que todas as entrevistadas admitem que seja em que circunstância for, relativamente às possíveis punições dos pais, observam-se marcas visíveis na criança. Ainda assim, todas as participantes admitem que através da relação pais - criança conseguem observar como é de facto a relação entre os mesmos. Podemos afirmar, de acordo com a educadora da I.P.S.S. (quadro38) que, por vezes, os pais agridem fisicamente e intimidam constantemente a criança, sem ter a preocupação de efectivamente perceber o que realmente se passa.

O mesmo acontece em relação as observações realizadas no terreno. Podemos falar, por exemplo, nas situações do Joaquim e do irmão da Filipa, que perante alguns problemas específicos relacionados com as crianças, os pais não se preocuparam em saber realmente o que aconteceu, punindo-os fisicamente.

Portanto, observando todos os dados obtidos e respectivas reflexões relativamente aos mesmos, achamos pertinente afirmar que, de acordo com Dias (2004) todas as práticas educativas utilizadas pelos pais, sejam físicas ou psicológicas intensas surgem de uma necessidade de corrigir mais rapidamente o comportamento da criança, desconhecendo as suas consequências físicas e emocionais. Perante este facto, podemos dizer que a hipótese formulada foi confirmada.

Hipótese 3 – O adulto admite que está a favorecer o desenvolvimento social