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Sinais e Sintomas de Maus-tratos Infantis

O reconhecimento de maus-tratos ou negligência exige uma familiaridade relativamente aos sinais físicos, psíquicos e comportamentais, que são indicadores dos mesmos. Magalhães (2004) define marcadores ou indícios de ocorrência de maus-tratos, como sendo todos os indícios e sintomas que a criança apresenta ou manifesta, através de sinais visíveis ou invisíveis. Digamos que estes sinais podem manifestar-se ao nível físico e/ou psicológico.

Maus-Tratos na Infância: Uma Perspectiva do Bairro da Colina _____________________________________________________________________

Canha (2003) refere que é fundamental efectuar um exame clínico completo para se tentar identificar os tipos de lesões que a criança possui, tais como equimoses, hematomas, traumatismos, fracturas… no corpo. Este exame deve ser realizado preferencialmente por um pediatra que domine este tipo de problema/situação.

Portanto, de acordo com Hoeman (1996), as sequelas cerebrais dos lactentes são normalmente provocados por maus-tratos ou abuso. Relativamente a crianças com idades superiores a um ano, as sequelas principais são a nível das quedas constantes, e traumatismos cranianos graves.

De acordo com Magalhães (2004) as crianças ao brincarem por vezes magoam- se, provocando lesões, devido ao modo insolente como se divertem mas, em determinadas situações, deve-se sempre suspeitar da existência ou não de maus-tratos. O mesmo autor admite que todos os indícios de maus-tratos podem surgir isolados ou em conjunto, isto é, podem aparecer subitamente, de forma evolutiva e progressiva.

As consequências físicas resultantes de situações de maus-tratos físicos são os mais visíveis e podem apresentar-se sob a forma de marcas, queimaduras, deformações ósseas, ou danos neurológicos, principalmente ao nível psicomotor, sensorial e da coordenação.

Relativamente à negligência, podem igualmente apresentar danos físicos, ou seja, através de alterações metabólicas ou gastrointestinais, diminuição de defesas e consequente propensão para determinadas doenças.

Não obstante, as consequências do mau trato infantil são, a longo prazo, indutoras de desajustamentos emocionais sérios, baixa auto-estima e insegurança comportamental, menor rendimento escolar devido a sequelas causadas pelas agressões.

Os maus-tratos psicológicos ou emocionais podem-se manifestar através de sinais não visíveis, tais como alterações de comportamento, diminuição do rendimento escolar, perda de competências adquiridas anteriormente, atitudes visíveis de sofrimento da criança.

Do mesmo modo, em relação à negligência psico-afectiva Barudy (cit. por Azevedo e Maia, 2006, p.97) afirma que este tipo de mau trato não se torna tão visível em famílias onde a negligência física não se evidencia, ou seja, geralmente as crianças que sofrem deste tipo de negligência, “parecem exteriormente bem cuidadas, mas

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49 essencialmente falta-lhes o afecto”, isto é, a criança tem em simultâneo carências psico- afectivas e, por vezes, sofre de maus tratos emocionais.

No entanto, Azevedo e Maia (2006) referem que relativamente em situações de negligência física ou abandono existem outros sinais igualmente importantes, tais como desnutrição, fome constante, alimentação inadequada, ausência de higiene e vestuário desadequado à época, falta de assistência médica, doenças de ordem psicossomática e somática.

Quando se trata de abuso sexual, Gabel (1997) admite que se tem conhecimento de variados sinais, tais como a enurese, a encoprese, o medo do escuro, os comportamentos regressivos, fobias, propensão para agressões, problemas relacionados com a alimentação (anorexia, bulimia), dores abdominais sem razão aparente, suspensão da menstruação, perturbações do sono…. Os pesadelos são muito frequentes, tornando- se obsessivos e constantes, prolongando-se por vezes até à idade adulta. Posteriormente pode ocorrer o abuso de drogas, álcool e problemas emocionais.

As crianças que foram vítimas de abuso sexual podem ter dificuldades significativas em determinar ligações íntimas quando atingem a idade adulta.

Neste sentido, pode-se dizer que os sinais presenciáveis na criança são assoladores. Os sinais observáveis a curto prazo são ao nível de sentimentos de ira, depressão, ansiedade e culpa. Já a longo prazo, pode-se verificar relações quase impossíveis entre pares, mais propriamente com o sexo masculino.

Neste tipo de situações Machado e Gonçalves (2002, p.31) afirmam que o abusador é sempre um elemento da família da criança “que exercia a sua força e ameaça”.

Magalhães (2004, p. 52) afirma que existem alguns vestígios que são demasiado óbvios, “como a gravidez, a presença de esperma no corpo do menor” e algumas “doenças sexualmente transmissíveis”, necessitando sempre de um diagnóstico médico.

Nas crianças vítimas de abuso sexual e incesto observam-se algumas alterações comportamentais diversas tais como a culpa, pois sentem-se culpadas pela situação acreditando que são responsáveis pelo abuso; sentem vergonha do segredo que encobre; sentem solidão porque se sentem desprotegidas no seu lar; sentem-se impotentes para ofender, para agir contra o agressor e sentem-se desamparadas pois sentem-se desprotegidas perante os outros membros da família.

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Síntese

Em suma, pode-se dizer que a circunstância das crianças maltratadas em Portugal ultrapassou o longo ciclo de “inexistência” e passou a ser um fenómeno que passou a ser explorado como uma problemática que requer um estudo atento e, essencialmente, um envolvimento da sociedade portuguesa.

A problemática dos maus-tratos na infância passou a ser objecto de atenção das instituições e organizações das áreas mais diferenciadas, tais como Segurança Social, psicologia, saúde, educação, justiça… Tudo isto se deve a uma maior consciencialização do elevado número de situações observadas, assim como da gravidade que lhe está subjacente.

Contudo, mesmo com as acções que têm sido desenvolvidas, as crianças maltratadas continuam a existir na sociedade em geral, isto porque a violência contra crianças e adolescentes não é apenas a que é visível mas também a que está encoberta. Observável em famílias com níveis sócio-económicos e culturais bem diferenciados, o mau trato infanto-juvenil assume formas diversas e cruéis que vão deixando marcas profundas no seu percurso de vida de muitas crianças e adolescentes.

Capítulo II