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2 ADVENTO: A RE-VELAÇÃO DO DEUS QUE VEM

2.1 O Advento acolhe o Êxodo

O ser humano é um ser em êxodo. Esta é a condição da existência humana na busca pelo sentido, em direção à Pátria Trinitária.111 Em meio às dores e

questionamentos da história e do coração humano, na angustiante possibilidade do nada e do trágico fim, eis que irrompe a novidade: “Deus vem!” Aflora a esperança, ganha forma a nostalgia fazendo novas todas as coisas. “Enquanto vem na história, O Eterno da Bíblia se revela como o Deus vivo, o Deus empenhado com o homem e por ele”.112 É assim que “o Deus da fé hebraico-cristã é o Deus do advento, o Eterno que tem tempo para o homem. Entrando na história, Ele abre o caminho, acende o desejo, oferece uma promessa sempre maior do cumprimento realizado”.113 O advento de Deus é revelação. “Já estou chegando e batendo à porta. Quem ouvir minha voz e abrir a porta, eu entro em sua casa e janto com ele, e ele comigo” (Ap 3, 20). No espaço da escuta, completa-se o milagre do advento divino: Deus fala. A Palavra revelada vem dar sentido à existência e à história humanas. O advento encontra o êxodo humano dando-lhe sentido. Se o êxodo pode ser caracterizado, em poucas palavras, como o peregrinar humano em direção a Deus, como busca pelo sentido do próprio existir; o advento, por sua vez, “é o mundo da eternidade enquanto se volta ao homem e visita sua casa, é o livre autodestinar-se de Deus à criatura e o gratuito dom da autocomunicação divina”.114

111 Bruno Forte assim se pronuncia: “A Trindade não é uma fórmula que se deixa transpor por uma

simples dedução analógica: ela é muito mais um horizonte transcendente, um lugar no qual situar-se sempre novamente, uma história de amor na qual inserir-se através de escolhas de justiça e de liberdade, manifestadas através das obras e nos dias dos homens. Num mundo no qual a pergunta mais forte parece ser aquela do sentido, a ‘pátria trinitária’ se oferece como a boa notícia, a meta do nosso andar que dá luz à estrada, companhia do presente, força para o caminho, memória das origens radicadas e fundadas no amor (cf. Ef 3,17)”. (FORTE, B. La Trinità, Fonte di ispirazione per la Comunità dei Popoli Europei. Il Nuovo Areopago, v.18, 1999/4, p. 34).

112 FORTE, B. L’Eternità nel Tempo, p. 29. 113 Idem. La Parola della Fede, p. 18. 114 Idem. L’Eternità nel Tempo, p. 28.

Advento e êxodo estão intimamente ligados e auto-implicados. Tanto teológica como filosoficamente, constata-se que a existência é constituída por um movimento exodal autotranscendente. É assim que Bruno Forte empreende procurar a consistência fontal dessa aspiração e desejo: tal inquietude se funda sobre si mesma, ou é eco de um advento que provoca e suscita o êxodo humano? Essa inquietude constitui somente uma pergunta – como não obstante pode sustentar um niilista –; ou é já uma resposta, mesmo que limitada e histórica, pobre e frágil, mas que justamente por não satisfazer, convida a perguntar e a prosseguir a busca por uma resposta mais sólida e estável?115

Para o teólogo, a última palavra sobre o sofrer humano, sobretudo do inocente, não é a morte. “É no abandono de Jesus na cruz, que sempre constituiu uma pedra de escândalo na interpretação da Sexta-feira Santa e está no centro da ‘teologia do sofrimento de Deus’, que se procura, em um mais profundo conhecimento do Crucificado, o sentido último da paixão do mundo”.116 Trata-se, portanto, de contemplar um mistério que ultrapassa a capacidade racional da pessoa. Escapando das malhas do conceito, esse Mistério se oferece e se revela como o sentido último e primeiro, como a “morte da própria morte”.

Todavia, abrir a porta ao sentido que se funda no Mistério do Deus Crucificado e encontrar espaço de refúgio para a condição exodal da criatura, não significa renunciar à novidade própria do advento. A posição do teólogo italiano é clara: ao avaliar os inegáveis erros e injustiças cometidas em nome de Deus, torna- se evidente que o desejo não funda a realidade, nem o êxodo é a razão do advento. Ocorre, de outra forma, que o advento e a sua misteriosa alteridade é o que funda e constitui o êxodo humano. E graças ao advento, a autotranscendência exodal encontra-se com a autocomunicação divina. “A aliança – categoria central da fé hebraico-cristã – apresenta-se, então, como o mistério da eternidade no tempo, do advento que se cumpre no êxodo, e do êxodo que se abre às insondáveis possibilidades oferecidas ao protagonista humano da história por parte Daquele que é o Senhor da história”.117 Assim, portanto, o Deus revelado na história é a resposta

115 Cf. FORTE, B. La Trinità, Fonte di ispirazione per la Comunità dei Popoli Europei. Il Nuovo Areopago, v.18, 1999/4, p. 37.

116 FORTE, B. La Parola della Fede, p. 121. 117 Idem. L’Etrenità nel Tempo, p. 29.

absoluta à nostalgia do Infinito que se manifesta no ser humano. É o fim e a origem do êxodo humano.

“Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora, aos pais pelos profetas; agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio de seu Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez os séculos” (Hb 1,1-2). O texto da Carta aos Hebreus põe em evidência a singularidade da revelação: Em Cristo, o Verbo feito carne, ressoa a Palavra Eterna. Assim, Bruno Forte entende que “entre o primeiro e o último Silêncio se situa o evento da Palavra, coeterna na eternidade, ainda que gerada e determinada temporalmente na história do Seu advento entre os homens”.118

Mas, como se apresenta o advento? De modo particular, poderíamos dizer que neste ponto está a intuição mais importante do teólogo italiano no que se refere à categoria advento que se apresenta “como uma luminosidade obscura ou como a Obscuridade ultraluminosa”.119 A revelação entendida como revelatio, superando a concepção da revelação como offenbarung, constitui como que o axioma da Teologia Fundamental de Bruno Forte.