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3 A ABORDAGEM ECONÔMICA DO DIREITO OU ANÁLISE ECONÔMICA DO

3.7 AED e Ronald Coase

Não há como tratar da Análise Econômica do Direito sem falar de Ronald Coase e de seu artigo “The Problem of Social Cost”, de 1960, superficialmente mencionado linhas acima. Esta obra tem sua importância não só por ser considerada aquela que deu início ao “movimento” do Direito e Economia, o que já seria o bastante, mas, por ser considerado por muitos, o artigo econômico mais citado da história.

“O problema do Custo Social” confere ênfase à relevância das instituições legais e dos custos de transação nos processos de alocação de recursos na sociedade. Com efeito, faz-se necessário definir o que são as instituições mencionadas por Coase, para o bom entendimento de sua tese. Cristiano Carvalho vale-se da lição de Parsons e Shils99 para definir “instituições”:

[...]as instituições são sistemas pelos quais os atores sociais ocupam determinados status ou papéis, dentro de situações regularmente recorrentes, nas quais há expectativas de condutas e correspondentes sanções pelo seu não cumprimento. As instituições, por sua vez, se agrupam em sistemas sociais.100

Em seguida, o próprio Cristiano Carvalho, ao discorrer sobre a função das instituições, ratifica o conceito e o torna mais claro e palatável ao asseverar que:

As instituições têm a primordial função de garantir regras sociais de conduta, sem, contudo, qualquer pretensão determinística. Analogamente a um jogo, as instituições são como regras: determinam como jogar, mas não garantem resultados. As instituições são compostas de três fatores: a) regras formais; b) regras informais; c) mecanismos responsáveis pela eficácia desses dois tipos de regras.101

Decorre do conceito de instituições e de suas funções a ideia de que as organizações são os jogadores, os agentes. Neste sentido, tem-se que as organizações que podem ser empresas, partidos políticos, agremiações, universidades, igrejas ou organizações não governamentais operam na moldura construída pelas instituições, em uma lógica de incentivos e custos.

Seguindo na interpretação da obra fundamental de Coase, é necessário saber o que são os custos de transação mencionados pelo autor. Os custos de transação

99

PARSONS, Talcott; SHILS, Edward A. Toward a general theory of action. Theoretical Foundations

for the social sciences. London: Transaction Publishers, 2001.

100

CARVALHO, Cristiano. Teoria da Decisão Tributária. São Paulo: Editora Saraiva, 2013. p.48. 101

são todos os custos em que incorrem os indivíduos ou entidades, firmas ou organizações ao se relacionarem com outros indivíduos ou entidades. Nestes custos estão incluídos custos de procura de parceiros para negociação, custos das próprias negociações, custos com a formação dos acordos, custos com o monitoramento dos acordos, inclusive judicial, custos do intercâmbio posterior ao acordo, como também, os custos de oportunidade.102

O texto de Coase teve a virtude de mostrar ao leitor que as normas jurídicas têm uma função maior do que ser uma forma de atribuir a cada um o que é seu. Coase trouxe para a ordem do dia o estudo sobre as possibilidades de as normas e do direito serem importantes ferramentas para o estímulo do desenvolvimento103.

O Teorema de Coase trouxe, fundamentalmente, a ideia de que a sociedade pode coordenar-se e desenvolver-se de forma eficiente, se o Estado garantir os direitos de propriedade e os direitos contratuais. É, conforme afirma Salama, “[..] uma rearticulação moderna da fórmula Smithiana e, por isso, tem sido identificado com a chamada Escola de Direito e Economia de Chicago.[...104]”

Segundo o Teorema de Coase, se os custos de transação forem inexistentes, se as pessoas puderem negociar em um ambiente assim, seja qual for a distribuição inicial de direitos, haverá uma alocação eficiente de recursos, ou seja, aludidos recursos irão convergir para quem lhes atribua maior valor105.

E, para encerrar o estudo sobre a teoria de Coase, uma vez que o aprofundamento não condiz com o objetivo do presente trabalho, colaciona-se o texto de Cristiano Carvalho, que, de forma feliz, expõe a essência do chamado Teorema de Coase:

O ponto fulcral do teorema é demonstrar que apenas em um mundo sem custos de transação é que o paradigma neoclássico da Economia, qual seja dos mercados totalmente eficientes, funciona sem necessidade de instituições. Como no mundo real muitas vezes os custos de transação são altos, as instituições políticas, econômicas e jurídicas passam a ter importância crucial. Instituições sólidas, estáveis e confirmadoras de expectativas sociais diminuem os custos de transação, possibilitando

102

MEYERHOF SALAMA, Bruno. Apresentação. In. MEYERHOF SALAMA, Bruno. (Org.). Direito e

Economia: Textos Escolhidos. São Paulo: Saraiva, 2010. p.53.

103

Op. cit., p.54. 104

Op. cit., p.54. 105

interações e resultados eficientes entre os agentes, ou, de forma mais direta, desenvolvimento social e econômico.106

Com efeito, a necessidade de instituições sólidas, estáveis e confirmadoras de expectativas sociais, que reduzem custos de transação, possibilitando interações e resultados eficientes entre os agentes, mais que isso, possibilitando desenvolvimento social e econômico, é justamente a explicação dada por Daron Acemoglu, professor de economia do MIT e James Robinson, professor de administração pública da Harvard University, no estudo que fizeram sobre as origens do poder, da prosperidade e da pobreza, no livro Por que as Nações Fracassam107. A conclusão dos autores foi exatamente que aquilo que sempre fez diferença entre as nações, desde os primórdios da humanidade, e que explica, por exemplo, por que duas cidades separadas por uma cerca podem apresentar índices de desenvolvimento econômico e social tão díspares, não tem nenhuma relação com determinismos geográficos ou culturais, mas sim com a estabilidade e o respeito às instituições.108