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Afinal, cadê a embalagem 45 ?

No documento O gosto da embalagem (páginas 197-200)

No decurso deste trabalho aconteceu uma surpresa. O objeto de estudo foi se diluindo no tempo e no espaço, como que se misturasse com outros elementos, foi tomando a forma de um ausente.

Mesmo sendo uma presença cotidiana, a embalagem enquanto conceito, ressentiu de uma possível sustentabilidade quando analisada mais de perto. A medida que esta parte da mercadoria foi sendo observada (também como mercadoria) em seus vários aspectos, ela se confundiu com suas referências.

Uma embalagem, além da possibilidade de embrulhar com beleza e eficiência, representa também uma idéia: a propaganda, o design, o marketing, a mídia e a imagem a ela associadas, assim como tudo aquilo que compõe e adorna o recipiente. É um conjunto tangível e intangível que de fato se constitui na embalagem. Mas, paradoxalmente, ela acaba se diluindo neste próprio conjunto, que deveria sustentar o seu ser.

O objeto técnico, mais especificamente um recipiente denominado embalagem, é construído com todo o conhecimento científico disponível, mas este conhecimento não garante absolutamente o reconhecimento social do conjunto. Pode estar muito bem embrulhado e não configurar no que aqui se discute como sendo uma embalagem.

A avaliação do sistema de embalagem é feita a partir do conjunto de barreiras que ele deve oferecer, mas um eficiente conjunto de barreiras não garante uma trajetória tecnológica vencedora, isso se entendida como uma embalagem de sucesso comercial.

Como será discutido a seguir, o objeto técnico observado (denominado embalagem) é construído a partir de premissas básicas como inviolabilidade, higiene e praticidade; mas reiterando, o objeto contemplado neste estudo precisa de um “algo a mais” para se constituir, até mesmo obedecendo aquelas premissas.

Todas as condições técnicas necessárias podem ser satisfeitas, mas a eficiência do sistema de embalagem só é reconhecida caso o conjunto estabeleça significado social relevante.

45 Este capítulo tem como objetivo responder a questões que podem aparecer durante a leitura deste trabalho. O leitor pode indagar: mas, afinal por que a embalagem não é tratada diretamente em algum momento? A resposta é o que segue, mostrando um objeto de estudo bastante fluido e que pode ser eleito como um legímo representante da mercadoria no capitalismo atual. Por isto mesmo muitas vezes, como que relembrando, repete-se propositalmente argumentos que reforçam e procuram aprofundar idéias já discutidas em outros módulos deste trabalho.

Por estes fatores destacados neste particular é que se pode afirmar que uma embalagem não pode ser definida somente a partir de seus atributos técnicos. Estes atributos só irão reforçar o conjunto de sinais e valores que ela - a tal embalagem - deva encerrar quando reconhecida como objeto diferenciado.

Assim uma embalagem além de conter, proteger e transportar uma outra mercadoria, deve também, e muito fortemente, diferenciar aquela mercadoria das outras similares no ponto de venda, para cumprir um outra importante função que é a de vender.

1) O objeto técnico e sua construção

a) O Objeto46:

Neste texto se denomina por objeto técnico um recipiente para conter, proteger, transportar e vender produtos alimentares. Pode ser um pote, uma lata ou vidro. Pode ser um conjunto mais sofisticado e que envolva elementos de tecnologia recente. Mas enfim é um objeto que pode ser encontrado em qualquer lugar do cotidiano, sob várias formas e recebendo os mais diversos tratamentos técnicos.

O objeto técnico é o recipiente e seus adornos, a embalagem é no seu sentido último uma imagem.

A embalagem “encarnada”, que se manifesta num recipiente, compõe um conjunto de barreiras (ou simplesmente uma barreira) com objetivo explícito de separar (ou isolar) o conteúdo do meio ambiente. São barreiras e não apenas limites ou contornos, porque muitas vezes são vários tipos de revestimentos com a função explicita de isolar o conteúdo do contato com o meio ambiente. Estas barreiras serão melhor discutidas no item 4 deste mesmo capítulo. O material destinado para a fabricação de embalagens deve isolar ou pode até mesmo controlar o contato, como no caso de embalagens que estabelecem algum tipo de troca intencional de gases com o meio ambiente (seriam a chamadas embalagens inteligentes), mas

46 Não se pretende neste texto participar da discussão filosófica sobre o conceito de objeto. Aceita-se como objeto algo concreto e comum, que a partir de seu reconhecimento como um recipiente, foi sendo analisado para que se pudesse entender ou aprimorar um conceito mais específico, o de embalagem para alimentos. O objeto aqui observado pode ser encontrado em qualquer prateleira de supermercados na atualidade, em quantidade, preço e variedade quase ilimitados.

em geral tem a função de controlar estas trocas amortecendo ou impedindo o contato entre o que existe dentro com o que existe fora.

Repete a função do útero na gravidez, que é uma figura muito utilizada por diversos especialistas quando querem justificar a importância a embalagem, ou do que eles consideram como embalagem.

O contato com o meio ambiente - ar, água, gases, aromas, luz, choques, etc. - representa uma ameaça para o conteúdo. Todo o tipo de interferência deve ser evitada ou minimizada, principalmente no caso de alimentos, o que interessa particularmente neste estudo.

Para produtos acondicionados o meio circundante se constitui em uma ameaça. Sua delicadeza e/ou perecibilidade, exigem cuidados para que o produto consiga um prolongamento da vida útil. É uma questão de vida ou morte para a mercadoria-alimento.

Assim, o papel, a madeira, o vidro e o metal (os mais tradicionais materiais para embalagem) têm a função básica de isolar e proteger o conteúdo de interferências do ambiente. Qualquer tipo de embalagem é concebido para oferecer barreiras físicas, químicas, biológicas ou mecânicas ao conteúdo.

A complexidade destas barreiras, ou seja, a tecnologia empregada foi mudando com o tempo até constituir-se no que hoje é denominado por sistema de embalagem. Este sistema é um conjunto de barreiras cientificamente concebido para evitar que o alimento seja agredido por algum agente ou substância externa.

Muitas vezes este conjunto também funciona como bloqueador de reações químicas inerentes à constituição do produto. Impede que o oxigênio e a luz possam acelerar reações que levariam rapidamente a uma deterioração do produto, caso não existisse a proteção do sistema. Deve-se sempre considerar o sistema produto-embalagem-ambiente quando da especificação ou escolha de qualquer material de embalagem ou embalagem para determinado produto.

Este item tem como objetivo apresentar um detalhado método de planejamento para embalagens utilizado na disciplina Desenvolvimento de Embalagens, para a formação de Engenheiros de Alimentos nesta Universidade.

Planejar e desenvolver embalagens é uma disciplina que tem como objetivo contemplar todos os elementos que possam colaborar ou prejudicar a aplicação de conceitos técnicos e tecnológicos na fabricação e nos testes de materiais para a construção de embalagem eficientes do ponto de vista comercial e científico.

Neste momento do trabalho seria interessante introduzir a discussão sobre a idéia de que a embalagem não pode encerrar em um objeto de planejamento. O que provavelmente se planeja, constrói e desenvolve são os recipientes para embalagem. Ao longo deste Capítulo novos elementos serão apresentados para defender esta idéia.

A metodologia rigorosa que será apresentada adiante, utilizada para compor um conjunto de exigências técnicas, é decorrente dos inúmeros problemas e soluções encontrados pelos engenheiros, técnicos e especialistas para que o processo de acondicionamento cumpra as etapas que irão controlar e gerenciar o comportamento tanto do recipiente quanto de seu conteúdo.

A maior preocupação destes técnicos e especialistas é que a embalagem possa acondicionar com eficiência e segurança. Estes mesmos profissionais sabem que mesmo cumprindo estes quesitos (normalmente resumidos como Qualidade), ainda resta uma responsabilidade vital para o sistema de embalagem. Ele tem que auxiliar (e quase garantir) a venda do produto. Por isto mesmo é necessário todo o rigor e o nível de detalhamento do processo de planejamento, como será enunciado a seguir.

No documento O gosto da embalagem (páginas 197-200)