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11. ASSINATURAS TAFONÔMICAS OBSERVADAS

11.2. Afloramento 1: Sítio Santa Maria

A concentração fóssil ocorre na Camada B exposta em planta num pavimento de 8 x 20 metros e em seção ao longo de um perfil com 9,5cm de altura e 20m de comprimento. Esta camada é de arenitos finos a médios conglomeráticos, com grânulos e pequenos seixos milimétricos. Ocorrem alguns clastos angulosos e arredondados dispersos, de tamanho centimétrico, próximo do contato basal da unidade.

A densidade espacial dos fósseis é de aproximadamente 1 fóssil/cm², para fósseis maiores que 0,5mm. Os fósseis estão dispersos na rocha, sem contato entre si, e, como os outros clastos, são suportados pela matriz. Ocorrem concentrações isoladas fracamente

empacotadas, aonde os bioclastos chegam a se tocar. Essas acumulações, no entanto, não ultrapassam 0,5 cm² em área.

Vistos em planta no afloramento, os fósseis (principalmente dentes e escamas de paleonisciformes) não exibem nenhuma orientação . Em perfil o material fóssil geralmente se apresenta concordante ao acamamento, mesmo nas porções com estratificação cruzada irregular (Fig. 75).

Figura 75 - A) Textura em perfil de duas amostras retiradas do Afloramento 1 indicando fósseis concordante com o plano irregular do acamamento. Escala 0,5cm. B) Textura em planta indicando

Os agregados e acumulações pontuais são muito raros e quase sempre são de bioclastos inferiores a meio milímetro. O único caso observado de fósseis maiores

(milimétricos) foi uma associação de escamas de paleoniscídeos, desarticuladas, próximas uma da outra, formando um pequeno agregado (Fig. 76).

Figura 76 - Vista em planta de acumulação de escamas de Paleonisciformes. Única evidência de associação encontrada no Afloramento 1. Escala 1cm.

O número de táxons identificado neste afloramento é maior do que em qualquer outro afloramento estudado e inclui animais de origens continental, fluvial e de água salgada. A composição taxonômica do material é politípica, consistindo de escamas, dentes, espinhos, ossos e coprolitos, e poliespecífíca, pois o material representa diversos taxons acima do nível de família das classes Chondrichthyes e Osteichthyes.

A lista dos diversos grupos encontrados no afloramento incluem 6 ordens e 2 (ou 3) infraclasses:

Classe Chondrichthyes

Incertae Ordinis – dentes cladodontes † Ordem Ctenacanthiformes † Ordem Xenacanthiformes † Ordem Orodontiformes † Ordem Petalodontiformes † Classe Osteichthyes Subclasse Actinopterygii Ordem Palaeonisciformes † Subclasse Sarcopterygii Infraclasse Actinistia Infraclasse Rhipidistia? †

Ordem Osteolepidida? † (possíveis anfíbios) Infraclasse Tetrapoda

Nenhum fóssil encontrado apresenta partes articuladas. À possível exceção do pequeno agregado de escamas associadas, mencionado acima, (Fig. 76), todo o material se encontra isolado e disperso na rocha.

Não se observou nenhuma evidência de seleção de fósseis por classe de tamanho neste afloramento, pois os bioclastos variam em comprimento de menos que 0,5 mm até mais de 10 mm, independentemente do estado de completude do fóssil.

O material fóssil representado por escamas, dentes e espinhos apresenta muitas quebras. Os restos dos peixes ósseos e possíveis tetrápodes são altamente fragmentados, fato este exemplificado pela presença de fragmentos de escamas e dentes menores de 0,5 mm em toda a camada da Transição Tatuí - Irati.

Muitos fósseis exibem cúspides e ornamentação muita bem preservada com pouca abrasão. Outros, como alguns dentes petalodontes, os dentes de poucos xenacantídeos, o material de labirintodonte e grandes escamas de Paleonisciformes (Fig. 77) apresentam alterações que evidenciam, claramente, o retrabalhamento. O grau de abrasão varia muito em fósseis de todos os tamanhos, tipos e espécies.

Diversos dentes de Xenacanthiformes mantêm muito da sua estrutura original com pouca abrasão. Quebras nas cúspides, porém, podem indicar transporte. As cúspides dos dentes dos Orodontiformes e Xenacathiformes exibem pouco desgaste, comparável ao Estágio 1 ou, no máximo, Estágio 2 (baixa abrasão) da classificação de BENTON (1997).

Figura 77 - Escamas de peixes ósseos que sofreram abrasão. Escala 0,5cm

11.3. Afloramento 2: Rio da Cabeça, divisa de Rio Claro com Ipeúna

Este afloramento é muito parecido com o Afloramento 1 em composição litológica e paleontológica, mas a quantidade de fósseis é menor embora a espessura da camada da transição entre os grupos Tubarão e Passa Dois seja muito maior. A camada tem cinco metros de comprimento no máximo e 43 cm de espessura e mergulha 10 graus para o NE (N45W/10NE). Isto diferencia este afloramento dos demais, onde o mergulho não alcança nem três graus.

A densidade espacial dos fósseis é 0,5fóssil/cm². Não existe orientação dos fósseis em planta, com diversas direções (Fig. 78). Em perfil o material como dentes e espinhos possuem uma pequena obliqüidade em relação à camada, mas normalmente estão

concordantes ao acamamento. Agregados e acumulações pontuais não foram observados. O número de táxons é baixo comparado ao Afloramento 1. Possui uma composição taxonômica politípica de restos vertebrados, escamas e dentes, e poliespecífica, porém com poucos exemplares de Chondrichthyes. Os grupos encontrados são:

Classe Chondrichthyes

Incertae Ordinis – dente (possível Orodontiformes?) Ordem Xenacanthiformes? (fragmento de cúspide)† Ordem Petalodontiformes †

Classe Osteichthyes

Subclasse Actinopterygii

Ordem Palaeonisciformes †

Subclasse Sarcopterygii (possíveis ossos não identificados)

Como no Afloramento 1, os fósseis são mal selecionados, desarticulados, e dispersos na rocha.

O material fóssil identificável é representado por escamas, dentes e espinhos, com muitos exemplares inteiros e poucas quebras em geral. Existem, no entanto, muitos fragmentos ósseos não identificáveis também de tamanho variado.

Abrasão é superficial no único exemplar de petalodonte e no condricte indeterminado, pois serviu apaenas para exibir detalhes da dentina interna. Muitos dentes e escamas de Paleonisciformes foram encontrados inteiros associados a fragmentos com muito desgaste e polimento, caracterizando uma mistura de elementos em diferentes estados de preservação.

Figura 78 - Vista em planta de amostra retirada do Afloramento 2. Fragmentos de fósseis sem orientação. Escala 1mm.

11.4. Afloramento 3: Ponte sobre o Rio Passa Cinco

O afloramento é dividido em duas partes pelo Rio Passa Cinco. A análise

sedimentológica indica o mesmo tipo de litologia e estruturas dos afloramentos 1 e 2, porém os clastos maiores são muito mais abundantes, caracterizando um conglomerado com pouca matriz. O afloramento apresenta também um pequeno "cozimento" da rocha e uma

silicificação que aparentemente não afetaram os fósseis.

A densidade espacial dos fósseis é 0,1 fósseis por centímetro quadrado, para fósseis maiores de 0,5mm, o menor índice dos quatro afloramentos fossilíferos. Em ambos os cortes, os fósseis estão dispersos, sem nenhuma orientação preferencial em planta ou em perfil. Agregados e acumulações pontuais não ocorrem.

O número de fósseis encontrados é o menor de todos afloramento, por isso poucos foram os táxons observados.

Classe Chondrichthyes

Incertae Ordinis (escama) Ordem Petalodontiformes Classe Osteichthyes

Subclasse Actinopterygii

Ordem Palaeonisciformes

Subclasse Sarcopterygii (partes ósseas indeterminadas?)

Nenhum fóssil encontrado apresenta articulação ou associação, pois existe muita dispersão dos fósseis. A seleção granulométrica dos fósseis é ruim, como nos afloramentos 1 e 2.

A abrasão e fragmentação são mais acentuadas nos fósseis deste afloramento do que nos outros afloramentos. O desgaste dos dentes de petalodontes expôs a dentina tubular, deixando a superfície pontuada (Fig. 79). Ocorrem muitos fragmentos, de tamanho variado, de escamas e possíveis dentes não identificáveis, angulosos ou com a superfície polida.

Figura 79 – Dente de Petalodonte (GP/2E-5921B) encontrado no Afloramento 3 muito desgastado pela abrasão expondo todo o sistema de dentina tubular. Escala 1mm.

11.5. Afloramento 4: Próximo ao Rio Passa Cinco (ocorrências de Clarkecaris)

Este afloramento expõe uma camada de 10 cm de espessura nos dois lados do acostamento de uma estrada que dá acesso ao Rio Passa Cinco. Trata-se de uma faixa de arenitos finos com raros clastos de 0,5 e 1mm em todo o pacote.

Ao contrário dos outros afloramentos, a acumulação varia de fracamente até densamente empacotada com muitos fósseis em contato direto, chegando a mais de 10 fósseis por centímetro quadrado (ao contrário dos outros afloramentos que os fósseis estão dispersos). O estudo do arranjo espacial dos fósseis revelou que não existe nenhuma orientação em planta ou perfil. Os agregados ocorrem como concentrações mais densas em locais com alto grau de empacotamento (Fig. 80).

Figura 80 - Textura em perfil (A) e em planta (B) do Afloramento 4. Escala 0,2cm.

Os táxons são representados basicamente por escamas, ossos e dentes fragmentados ou pulverizados de peixes ósseos.

Classe Osteichthyes

Subclasse Actinopterygii

Ordem Palaeonisciformes

Subclasse Sarcopterygii (ossos indeterminados?)

Apesar da alta densidade de fósseis no afloramento, não é possível caracterizar uma relação de articulação ou associação entre os espécimes. Ao contrário dos afloramentos 1 a 3, a seleção granulométrica dos fósseis é ótima.

A quebra é a assinatura tafonômica predominante neste afloramento e foi a principal causa da destruição de muitos fósseis. A abrasão, por outro lado, não foi muito extensa, pois muitos bioclastos são anglosos e pouco polidos.