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Em Os Labirintos da Invisibilidade, Maurício Matos (2014) parte do âmbito da produção audiovisual para revelar o duplo mecanismo de construção da alteridade ao qual está submetido o personagem principal do documentário Ônibus 174 (2002): Sandro, um jovem negro morador de rua que, ao tomar de assalto um ônibus, se vê envolvido em um verdadeiro circo midiático, armado para transmitir ao vivo e em rede nacional as negociações

com a Polícia para a sua rendição e a libertação dos onze reféns que se encontram sob seu controle.

O duplo mecanismo sobre o qual nos fala Matos, consiste, simultaneamente, na invisibilização social do sujeito subalternizado — neste caso o negro empobrecido, morador de rua — e na sua naturalização como patológico social. Invisibilização, neste caso, não significa a atribuição do personagem a um vazio de sentido, mas o não reconhecimento social do sujeito, a partir do qual se torna possível a sua construção social como aquele que deve ser temido — o ladrão, o marginal, o criminoso, o violento — ou aquele que deve ser desprezado — o vagabundo, o imprestável, o inútil (MATOS, 2014).

Analisado a partir de uma teoria do estereótipo racial, como apresentada por Bhabha (1998), em A Outra Questão, o processo descrito por Matos (2014) torna-se possível em função da ambivalência produtiva que caracteriza o processo de construção do “Outro” no/pelo discurso racista. Invisibilidade e reconhecimento manifestam-se de maneira simultânea. Por um lado, Sandro, o jovem negro morador de rua, é aquele cuja presença cotidiana é ignorada pela sociedade e pelo Estado. Nesse sentido, este corpo negro que habita o espaço público vale tanto quanto um saco de lixo esperando para ser recolhido. Por outro, é justamente pelo fato de ser negro e pobre que o imediato reconhecimento de Sandro se faz necessário, de modo que a sociedade possa se “precaver” em relação a sua presença indesejada e potencial periculosidade, e o Estado possa por em prática os seus mecanismos de controle.

Surge então a pergunta: Quem ou o quê está sendo, de fato, invisibilizado no documentário? Tentaremos respondê-la sob a luz da semiologia e do conceito de mito, como descrito por Barthes (2001) em Mitologias.

Em Ônibus 174 (2002), o personagem Sandro é submetido a dois níveis de significação, ou o que podemos descrever como dois esquemas semiológicos. No primeiro, mais simples, básico e descritivo, é estabelecido um consenso entre os membros de uma determinada cultura ou sociedade quanto ao fato de que Sandro é um “homem negro”. Neste caso, o signo “homem negro” é composto por um significante, ou o corpo/imagem de Sandro, e um significado, ou a construção conceitual, histórica e socialmente situada, que nos permite identificá-lo como tal.

No esquema seguinte, o “homem negro”, representado por Sandro, já concebido como um signo completo, é introduzido em um sistema de significação mais amplo, conectando-se a sentidos e temas mais abrangentes e que dizem respeito às crenças gerais e aos sistemas de

completo, passa a funcionar como significante, sendo preenchido por novos significados — o ladrão, o criminoso, o violento, o vagabundo, o imprestável —, de modo a produzir uma segunda mensagem, mais elaborada e ideologicamente enquadrada.

Contudo, é importante reafirmarmos que ambos os esquemas descritos ocorrem de maneira simultânea. Reconhecimento e recusa fazem parte de um mesmo processo de construção da alteridade, ou o que Fanon (2008) chamou de esquema epidérmico racial: o negro é sobredeterminado não apenas pelas ideias que fazem a seu respeito, mas pela associação entre tais ideias e o seu corpo/imagem racializado, tornando-se, dessa forma, escravo da sua própria aparição.

Tal esquema determina que não há “escapatória” para aquele que se encontra representado no documentário, já que esses regimes de significação precedem o esforço do próprio filme em humanizar o personagem. Antes que Ônibus 174 (2002) tenha a oportunidade de tornar “visível” Sandro — o garoto de origem humilde, que nunca conheceu o pai, e que se tornou “menino de rua” após presenciar o assassinato da própria mãe —, o espectador já é “vítima” de uma associação subconsciente entre a imagem do jovem negro e os conceitos míticos culturalmente construídos no/pelo discurso racista, e que atribuem a Sandro a qualidade de ladrão, criminoso, violento, vagabundo, imprestável, inútil, etc.

Mas, de que maneira o processo acima descrito pode nos ser útil? A pergunta nos traz de volta aos personagens Larry e Juanita de American Stories/American Solutions. Assim como no caso do protagonista de Ônibus 174 (2002), o esforço do comercial em construir os personagens como dois septuagenários de classe média que, após uma vida inteira de trabalho e dedicação à família, passam por privações de ordem material em decorrência da crise socioeconômica americana, é precedido por um regime de significação que permite ao espectador a identificação racial do casal. O reconhecimento é imediato: um casal de negros passeia à margem de uma lagoa.

O esquema epidérmico-racial substitui o esquema corporal que permitiria o espectador reconhecer Larry e Juanita como, simplesmente, dois idosos que passeiam à margem de uma lagoa, caso estes velhos fossem um casal de brancos. Larry e Juanita são sobredeterminados por seus corpos racializados, antes mesmo que o comercial possa construir uma identificação de classe entre espectador e personagens, à qual, em American Stories/American Solutions, serve ao propósito de relegar diferenças étnico-raciais à irrelevância.

No entanto, o esforço do comercial não é o de invisibilizar a raça de Larry e Juanita, o que certamente seria impossível, já que, neste caso, não há como contornarmos a dimensão corpórea da raça. De acordo com os códigos de identificação racial culturalmente construídos

nos Estados Unidos, um simples olhar é suficiente para que o espectador identifique Larry e Juanita como um casal de negros.

Como vimos na sessão anterior, aquilo que é, de fato, invisibilizado em American Stories/American Solutions são os conflitos e as contradições produzidos pelas hierarquias raciais, a partir das quais a sociedade americana encontra-se estruturada. Nesse sentido, para que o comercial seja capaz de reproduzir o discurso do daltonismo racial, é importante que Larry e Juanita sejam racialmente e etnicamente “marcados” e identificados pelo espectador como um casal de afro-americanos.

Em American Stories/American Solutions, a marcação étnico-racial de Larry e Juanita torna-se possível em função da existência de um repertório de significados culturalmente produzidos com o propósito de categorizar certas imagens, práticas, comportamentos e formas de sociabilidade, como sendo tipicamente afro-americanos. Em American Stories/American Solutions, a identidade étnico-racial de Larry e Juanita é marcada não só pelas suas características físicas, mas, também, pelas inflexões na fala do casal, pelas fotos de família e pelo fato de ser o próprio Larry a tocar o Blues que ouvimos no início da sequência.

Embora possamos dizer que a experiência africana na América — mais especificamente, na região que viria a ser chamada de Estados Unidos da América — tenha resultado em um conjunto de gestos, práticas e significados que remetem a um referencial histórico-cultural comum, é importante lembrarmos que os horizontes ampliados da experiência afro-americana, assim como as concepções mais sofisticadas da identidade racial, tornam altamente problemática a articulação de uma essência sob a qual o significante “afro” da identidade afro-americana possa se apoiar como forma de atribuir autenticidade a uma determinada imagem ou representação. Isso não significa que não nos seja possível reconhecer os elementos que outorgam uma “afro-americanidade” a determinadas imagens, práticas, comportamentos e formas de sociabilidade, mas que o reconhecimento do “afro” na identidade afro-americana não esteja circunscrito a um conjunto de alegorias étnico-raciais que acabam por reduzir a experiência afro-americana ao exotismo e/ou à superficialidade (HALL, 2003; DYSON, 1994).

Seria, no entanto, um equívoco acreditarmos que noções pré-concebidas da identidade afro-americana possam ser explicadas apenas por meio de suas representações midiáticas, como impressas na cultura de massa americana. Por mais reducionistas que sejam, tais representações refletem certos aspectos da materialidade das relações sócio-raciais nos Estados Unidos. De acordo com Douglass S. Massey e Nancy Danton (1993), autores de

dos Estados Unidos faz com que americanos em geral passem pouco tempo interagindo com pessoas fora do seus grupos étnico-raciais. Essa realidade é particularmente acentuada para americanos brancos.

Uma análise de dados recentes do United States Census Bureau, publicada em 2016 pela Brookings Institution, demonstra que americanos brancos são mais susceptíveis de se manterem racialmente segregados do que outros grupos étnico-raciais. De acordo com o estudo, entre os anos de 2011 e 2015, minorias étnico-raciais representaram 95% do crescimento da população americana - e 98% do crescimento nas cem maiores áreas metropolitanas do país. Ainda assim, mesmo nas áreas que apresentaram um crescimento significativo de minorias étnico-raciais, e que experienciaram uma maior dispersão desses grupos para os subúrbios de classe média, as mudanças percebidas em bairros predominantemente brancos foram bastante modestas, e esses bairros continuam a permanecer marcadamente "mais brancos" do que a população das suas respectivas áreas metropolitanas51.

Nesse sentido, é relevante considerarmos a possibilidade de que a falta de interações substanciais com pessoas negras tem condicionado americanos brancos a uma compreensão bastante limitada acerca da experiência, cultura e sujeitos afro-americanos. Como aponta Matthew W. Hughey (2009), as narrativas e representações reducionistas da identidade afro- americana, que vemos reproduzidas nos/pelos meios de comunicação de massa, costumam ser entendidas por americanos brancos como reflexos "autênticos" da "vida real" dos negros nos Estados Unidos.

Se, por um lado, em American Stories/American Solutions, a identidade étnico-racial de Larry e Juanita é reduzida a um conjunto de alegorias, utilizadas para substituir aspectos mais complexos da experiência e da identidade afro-americanas, por outro, a persona política de Barack Obama foi praticamente desprovida de qualquer elemento capaz de operar como marcador étnico-racial da identidade negra do candidato democrata. Em American Stories/American Solutions, Obama é representado de maneira a expressar uma “neutralidade” étnico-racial historicamente atribuída à raça branca.

Obviamente, não estamos dizendo que o fato de Obama ser um homem negro seja algo que passe despercebido pelo espectador. Como vimos no início desta sessão, a imagem de uma pessoa “negra” responde a um regime de significação e identificação raciais, que

51 Os resultados dos estudos realizados pelo United States Census Bureau podem ser encontrados no site da

Brookings Institution por meio do seguinte link: https://www.brookings.edu/blog/the- avenue/2016/12/13/white-neighborhoods-get-modestly-more-diverse-new-census-data-show/ Acesso em 09, jul.18.

opera em simultaneidade ao próprio reconhecimento da imagem como sendo apenas a de uma “pessoa”. Assim como no caso de Larry e Juanita, o candidato Barack Obama não tem como “escapar” da dimensão corpórea da raça.

Nesse sentido, é importante lembrarmos que a normatividade racial, ou privilégio de ser reconhecido apenas como uma “pessoa” — e não como um “negro”, “pessoa negra”, ou mesmo, “pessoa de cor” — tem sido histórica e culturalmente construída como uma prerrogativa exclusiva daqueles socialmente categorizados como brancos. Em outras palavras, não estamos defendendo que existe algo de realmente neutro quando se trata de representações da identidade branca. Isso seria conceber como natural o efeito produzido pelos de regimes de significação que constroem a identidade branca como o estado normativo da existência humana.

O que estamos argumentando é que, em American Stories/American Solutions, a persona política de Barack Obama é construída de modo a distanciar o candidato democrata de um conjunto de imagens, práticas, comportamentos e formas de sociabilidade culturalmente construídas e concebidas no imaginário social americano como sendo tipicamente afro-americanas. Dessa maneira, a marcação étnico-racial dos personagens Larry e Juanita serve, também, ao propósito de criar um contraste em relação à figura de Obama, no sentido de atribuir uma aparente neutralidade étnico-racial à sua imagem.

Tão logo é finalizada a sequência sobre o casal afro-americano, o espectador é posto diante da imagem do candidato democrata. Em plano médio, num escritório sobriamente decorado, vestido a rigor e com linguagem e sotaque etnicamente “neutros”, Obama fala sobre empreendedorismo, inovação e investimentos em energia renovável como possíveis soluções para a crise econômica. Nesta cena, assim como no comercial como um todo, não há nada na construção da imagem do candidato que remeta a noções pré-concebidas de afro- americanidade, ou que sugira uma conexão, por menor que seja, entre o candidato e a cultura e história afro-americanas.

Curiosamente, a estratégia utilizada por American Stories/American Solutions parece ecoar algumas inquietações expressas durante o período anterior à nomeação de Obama para representar o Partido Democrata nas eleições presidenciais de 2008. De fato, alguns aspectos relevantes da sua história de vida — como ser filho de um negro africano e uma branca americana, ter crescido no Estado do Havaí e na cidade de Jakarta (capital da Indonésia), ter sido criado por brancos, ter estudado nas ilustres universidades de Columbia e Harvard, e de reproduzir um sotaque típico do meio-oeste americano — afastam Obama das realidades mais

afro-americana chegaram a questionar se o candidato democrata poderia ser considerado “negro o suficiente” (black enough) para representá-los.52

As inquietações afro-americanas em relação ao pertencimento étnico-racial do candidato democrata, acima mencionadas, representavam apenas um lado de uma mesma moeda. Vejamos, por exemplo, alguns comentários expressos por apoiadores brancos de Barack Obama, publicados em uma matéria do Wall Street Journal em Novembro de 2007, e o significado desses comentários quanto à forma pela qual americanos brancos enxergavam o candidato no que tange à questão racial. Em um dos comentários, um eleitor branco afirma que votaria em Obama para presidente pelo fato do candidato democrata fazer com que americanos brancos “sintam-se bem” em relação a si mesmos. Um blogger político da cidade de Nashville publicou que aquilo que o faz gostar de Obama é o fato do candidato democrata não demonstrar nenhum vínculo com a tradição política do Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos. Ainda de acordo com a matéria, o ex-oficial do Partido Democrata no Tennessee, Bob Tuke, declarou que, ao evitar o tema da raça em sua abordagem política, Obama conseguiu “emancipar” os eleitores brancos, de modo que estes pudessem finalmente votar em um candidato negro (WISE, 2009).

Curiosamente, o próprio título da matéria publicada pelo Wall Street Journal fazia referência ao discurso do daltonismo racial, na medida em que questiona se o candidato democrata representa, de fato, a possibilidade de superação da raça e do racismo nos Estados Unidos: “Whites Great Hope? Barack Obama and the Dream of a Color-Blind America” ou, em tradução livre para o português, “A Grande Esperança dos Brancos? Barack Obama e o Sonho de uma América Racialmente Daltônica”. 53

Para além de reproduzir o discurso do daltonismo racial, os depoimentos contidos na matéria do Wall Street Journal refletem as maneiras pelas quais o racismo americano tem sido reconfigurado, de modo a ajustar-se às realidades de períodos históricos específicos, ou, neste caso, aquilo que Tim Wise (2009) chama de “excepcionalismo iluminado”: uma forma de racismo que permite, e até celebra, o sucesso e as conquistas de afro-americanos individualmente, desde que este indivíduos demonstrem terem sido capazes de “abrir mão” dos seus referenciais étnico-raciais para adotar padrões normativos de conduta. Nesse sentido, podemos dizer que um dos efeitos produzidos pelo sucesso do candidato Barack Obama foi o

52 A polêmica acerca da credibilidade do candidato Barack Obama quanto ao seu reconhecimento como um

representante legítimo da comunidade afro-americana foi tratada de maneira detalhada em uma matéria do site de notícias internacionais The Guardian, em 1 de Março de 2007, disponível no seguinte link: https://www.theguardian.com/world/2007/mar/01/usa.uselections2008 Acesso em 09, jul.18.

53 Matéria disponível para assinantes do Wall Street Journal no link:

de criar uma espécie de afro-americanidade aceitável, ou que poderíamos também chamar de “padrão Obama de afro-americanidade”.

Obviamente, como dissemos acima, aos olhos do espectador/eleitor americano, Obama é, e sempre será, um “homem negro”. No entanto, as relações de hegemonia e subalternidade que caracterizam o problema racial nos Estados Unidos são personificadas pela figura do candidato democrata, na medida em que a sua aceitação pela comunidade branca implica um ajustamento da sua afro-americanidade aos temores e ansiedades raciais desta parcela do eleitorado americano, de modo que a sua identidade étnico-racial não seja interpretada como uma ameaça aos padrões normativos instituídos.

Figura 19 – A afro-americanidade de Larry e Juanita contrastam com o excepcionalismo de Barack Obama: Larry toca um Blues em sua guitarra, enquanto Juanita o admira: a referência cultural, marcada pelo estilo musical, ajuda a enfatizar a identidade étnico-racial do casal, ao passo que a limita a alegorias superficiais. Obama e família: o excepcionalismo iluminado do candidato democrata sugere um “novo” modelo de afro-americanidade, devidamente ajustado aos padrões normativos e aos temores e ansiedades raciais do eleitorado branco.

Fora do âmbito do comercial, é interessante notarmos a habilidade de Barack Obama em adequar sua linguagem corporal e inflexões na fala a públicos específicos, o que o torna capaz de produzir, tanto em americanos negros quanto brancos, um efeito de identificação com a sua persona política. Ainda mais curioso é percebermos a adoção de certos maneirismos “tipicamente” afro-americanos, considerados cool54 pela cultura hegemônica americana — a exemplo de certas expressões e formas de saudação. De forma brilhante, Barack Obama tem sido capaz de manter a sua afro-americanidade num nível superficial,

usando-a em situações pontuais e de maneira conveniente em seu favor, como uma forma de diferenciar-se dos seus antecessores como sendo o presidente mais cool a, até hoje, ocupar a Casa Branca. Reafirmamos, no entanto, que esse tipo de estratégia não foi utilizada em American Stories/American Solutions, de modo que esta observação não se refere ao comercial sobre o qual estamos tratando.

O fato de que a maioria dos brancos estadunidenses compartilham crenças negativas, preconceituosas e, em última análise, racistas em relação a afro-americanos, tem sido comprovadamente reafirmado em diferentes estudos. De acordo com uma pesquisa do National Opinion Research Center, por exemplo, realizada no início da década de 1990, mais de 60% dos brancos americanos afirmaram acreditar que afro-americanos costumam ser mais preguiçosos que outros grupos étnico-raciais, 56% disseram que os negros são mais propensos à violência e mais da metade dos entrevistados declarou que pessoas negras são menos inteligentes (WISE, 2009).

Em torno de dez anos mais tarde, uma pesquisa similar, realizada em 2001, comprovou que 60% dos americanos brancos admitem possuir pelo menos uma crença negativa em relação aos negros, como, por exemplo, acreditar que afro-americanos costumam ser preguiçosos, são mais propensos à agressividade e à violência, ou preferem viver às custas de políticas assistencialistas ao invés de trabalhar (WISE, 2009).

Por outro lado, evidências do excepcionalismo do candidato Barack Obama podem ser encontradas em uma pesquisa da agência de notícias multinacional Associated Press (AP), realizada em setembro de 2008, às vésperas das eleições presidenciais nos Estados Unidos. Segundo a pesquisa, um terço dos eleitores brancos que se declaram democratas admitiram compartilhar crenças negativas em relação a afro-americanos em geral. Ainda assim, 58% desses indivíduos confirmaram que iriam votar em Barack Obama para presidente.55

É igualmente interessante notarmos que, em American Stories/American Solutions, o contraste entre as representações do casal Larry e Juanita e do candidato Barack Obama é também produzido em termos dos dualismos força/fragilidade, juventude/velhice, novo/ultrapassado, futuro/passado. Obama é um homem negro de meia idade que se expressa com autoridade e energia, e que vê o futuro como algo promissor. Larry e Juanita são um casal de negros, velhos e frágeis, cuja incerteza e temor em relação ao futuro é eloquentemente expressa na última frase de Juanita: “A gente simplesmente se pergunta, para onde iremos a partir de agora?”

55 Os resultados da pesquisa realizada pela Associated Press podem ser encontrados no seguinte link:

Sugerimos, na sessão anterior, que a escolha de um casal de idosos para representar a

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