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Agência Municipal de Desenvolvimento

CAMPINA GRANDE (PB)

Apresentação da experiência

André Luís Assunção de Farias1

Lívio Oliveira Adelino de Lima2

Urânia Catão Maribondo da Trindade3

1. Sociólogo e mestrando do curso Planejamento do Desenvolvimento, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (NAEA/UFPA) 2. Psicólogo e mestrando do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Federal da Paraíba (PPGA/UFPB). 3. Administradora e mestranda do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Federal da Paraíba (PPGA/UFPB).

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objetivo principal o planejamento do desenvolvimento econômico e soci- al do município, a partir da ampliação das oportunidades de emprego e de renda para a população economicamente ativa, tanto do setor formal quan- to do setor informal da economia. Embora a atuação da Agência se dê no âmbito municipal, existe a possibilidade de se trabalhar no plano regional, desde que em consórcio com outros municípios.5

Os recursos da Agência são repassados pelo município, mediante do- tações orçamentárias, embora a lei que criou a AMDE tenha previsto tam- bém outras fontes de recursos: créditos especiais, auxílios, doações, contri- buições ou subvenções e quantias decorrentes da prestação de serviços.6

Inicialmente, a Agência foi concebida como uma instituição fi- nanceira de microcrédito, com base em experiências de outras locali- dades, como o Portosol7 e os chamados “Bancos do Povo”. Entretanto,

o objetivo da proposta era mais amplo, incluindo a formulação e a coordenação de projetos e programas para o desenvolvimento munici- pal. Foi por isso que se pensou numa Agência com um leque amplo de possibilidades, uma estrutura mais flexível e, principalmente, mais pró- xima da população de baixa renda.

Também foi por isso que a Agência preferiu utilizar, como agentes financeiros, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Nordeste. Se- gundo os responsáveis pela experiência, a criação de um instrumento próprio de crédito, conforme planejado no início, demandaria muito tempo e exigiria muitos trâmites burocráticos.

Funcionamento

A administração da AMDE é exercida por uma Diretoria, composta por três membros: o diretor-presidente, o diretor de incentivos e o diretor administrativo-financeiro. Também fazem parte da estrutura administra- tiva da Agência os seguintes órgãos: Conselho Fiscal, Gerência de Empreedimentos, Gerência de Qualificação Profissional e Programas Es- peciais e Gerência de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação, além de uma Secretaria-Executiva e das Assessorias Técnica e Jurídica.

A atuação da Agência tem ocorrido basicamente na coordenação e na implementação dos programas e projetos. No caso do projeto

4. As Leis Municipais nº 3.668/99 e 3.683/ 99 e o Decreto nº 2.726/99, que tratam do estatuto e do regimento interno da AMDE, estão disponíveis no Programa Gestão Pública e Cidadania. 5. Conforme a legislação citada. 6. Art. 4º da Lei 3.668/99. 7. A Instituição Comunitária de Crédito Portosol foi fundada em janeiro de 1996, pela prefeitura de Porto Alegre (RS), para financiar pequenos e médios empreendedores do município. (TEIXEIRA, Marco Antonio Carvalho. “Crédito comunitário: a experiência da Portosol”. In: FUJIWARA, Luis Mario; ALESSIO, Nelson Luiz Nouvel e FARAH, Marta Ferreira Santos (orgs.). 20 Experiências de Gestão Pública e Cidadania. São Paulo: Programa Gestão Pública e Cidadania, 1998.

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implementado na comunidade de Paus Brancos, a Agência faz a coor- denação, pois a execução cabe à Universidade Federal da Paraíba.

Em outros projetos, a elaboração, a execução e a avaliação são de responsabilidade direta da AMDE, que tem uma gestão participativa, da qual participam vários segmentos da sociedade civil organizada, como o sindicato das micro e pequenas empresas, o sindicato dos ven- dedores ambulantes e as cooperativas.

Na zona urbana, a AMDE trabalha com os seguintes Programas:

Programa de Implantação dos Centros Moveleiro, Coureiro-

Calçadista e Têxtil-Confecções (costureiras do bairro Catolé de Zé Ferreira) – inclui o financiamento da produção nestes seto- res, bem como a modernização e a realocação das unidades pro- dutivas (a fim de que possam tirar vantagens da concentração espacial de suas atividades), combinando a produção e a comercialização;

Programa de Revitalização do Distrito dos Serviços Mecânicos – objetiva revitalizar o funcionamento do Distrito dos Serviços Me- cânicos (DSM), uma área de aproximadamente 18 hectares que concentra mais de 170 oficinas automotivas, diversas lojas para comercialização de peças de automóveis, além de áreas destina- das para a comercialização de sucatas. O Programa atua em três direções: recuperação da infra-estrutura, reequipamento das ofi- cinas e requalificação profissional dos mecânicos, empregando diretamente mais de mil trabalhadores.

Ainda na área urbana, destaca-se o oferecimento de crédito ban- cário aos micro e pequenos empresários, viabilizado pelo Fundo de Aval. Por meio do Fundo, a Agência utiliza parte dos recursos que administra para fornecer garantias aos micro e pequenos empreende- dores, dos setores formal e informal, possibilitando a obtenção de empréstimos bancários para suas atividades. O principal agente finan- ceiro neste setor é o Banco do Nordeste.

O setor informal recebe também o acompanhamento técnico fei- to pela AMDE, que procura incentivar a formalização dos empreendi- mentos. Uma linha de crédito dirigida a pessoas de baixa renda obje-

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tiva apoiar a economia informal, principalmente para capital de giro, propiciando o surgimento de novos postos de trabalho. O principal agente financeiro deste segmento é a Caixa Econômica Federal.

Existem também programas de âmbito mais geral, como:

Revitalização de Mercados e da Feira Central – visa a melhorar sua infra-estrutura, reequipá-los e torná-los mais atrativos;

Revitalização do Centro Urbano “Campina Déco” – abrange a

restauração das fachadas comerciais e das calçadas do centro da cidade, e a realocação dos mais de mil vendedores ambulantes para áreas específicas, denominadas Áreas de Recreação, Cultu- ra e Comércio ao Ar Livre (ARCCAs);

Programa de Compras Governamentais – planeja as compras go- vernamentais de forma a dar preferência aos produtos locais, como no caso da merenda e dos uniformes escolares.

Programa Qualidade Campina Grande – voltado à elevação dos padrões de qualidade de produtos e serviços gerados no municí- pio, por meio de parcerias com as universidades, órgãos de pes- quisa e extensão, agências de fomento e entidades de treinamento profissional. As entidades parceiras atuam junto aos órgãos re- presentantes das classes produtivas, apoiando a organização, a gestão e o fortalecimento dos pequenos empreendimentos, fi- nanciando programas de formação de recursos humanos e de qualificação e requalificação de profissionais para reintegra-los, ou assegurar sua permanência no mercado de trabalho.

Programa de Verticalização das Atividades Agroindustriais (PROVE) – procura melhorar a qualidade da procução agropecuária, inspirado numa iniciativa semelhante desenvol- vida no Distrito Federal.8

Na zona rural, a Agência Municipal de Desenvolvimento atua por meio do Programa Alternativo de Desenvolvimento da Região Semi- árida, a partir do conceito de manejo integrado de bacias hidrográficas, que visa à recuperação e ao desenvolvimento sustentável de toda a área de uma bacia hidrográfica. Na comunidade de Paus Brancos9 está

sendo desenvolvido o projeto-piloto de manejo de bacias. O projeto

8. Sobre o Programa de Verticalização da Pequena Produção Agrícola (Prove), implantado em 1995 pela Secretaria de Agricultura do Distrito Federal, ver MIYASHITA, Hadjimu. Programa de

Verticalização da Pequena Produção Agrícola. IN: FUJIWARA,

Luis Mario; ALESSIO, Nelson Luiz Nouvel e FARAH, Marta Ferreira Santos (orgs.). 20

Experiências de Gestão Pública e Cidadania.

São Paulo, Programa Gestão Pública e Cidadania, 1998.

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parte da idéia de utilização eficaz da água, com uma profunda preocu- pação ambiental. O trabalho iniciou-se tomando como unidade bási- ca para estudo a Bacia Hidrográfica do Riacho São Pedro (conhecida também como Bacia Hidrográfica de Paus Brancos), na qual está inserida parte da área do assentamento. A partir do diagnóstico socioeconômico, físico-conservacionista e ambiental, identificaram-se as principais atividades produtivas que poderiam ser exploradas de forma a promover o desenvolvimento sustentável da região. Os aspec- tos inovadores deste projeto são a construção de barragens subterrâ- neas10, o replantio da vegetação que foi desmatada (para utilização da

madeira em construções ou como carvão vegetal) e a aplicação de ta- ludes feitos de pneus usados11. Há também um projeto de avicultu-

ra12 – criação de galinhas – para produção de ovos, e estuda-se a im-

plantação da apicultura e da caprinocultura.

Resultados e inovações

No setor informal, até julho de 2000, haviam sido criados e fortale- cidos 642 postos de trabalho nos segmentos do comércio (58%), indús- tria (26%) e serviços (16%), com um financiamento total de R$ 490.650,10. No setor formal, o comércio recebeu maior volume de re- cursos (60%), seguido da indústria (20%) e dos serviços (20%), gerando e fortalecendo 135 empregos, com a aplicação de R$ 258.038,00.

Outro resultado importante da atuação da Agência pode ser ob- servado na região de Paus Brancos, onde os agricultores conseguiram aumentar a produtividade. Também os criadores de galinhas estão sa- tisfeitos com a renda extra que estão auferindo, não obstante a produ- tividade ainda se manter baixa. As maiores dificuldades do projeto estão no escoamento da produção e na falta de recursos para a ampli- ação da experiência a outras áreas agrícolas do município.

O trabalho da Agência também tem contribuído para a formação e o fortalecimento de cooperativas em diversos bairros da cidade. As cooperativas têm uma dupla importância: no interior do grupo, forta- lecem os laços de solidariedade e responsabilidade entre os coopera- dos e permitem uma visão global de seu processo de trabalho; externa-

9. Antiga fazenda, preparada pelo Instituto de Terras da Paraíba (Interpa) para assentamento de famílias de agricultores que se encontravam no centro da cidade. A região é inóspita, de difícil acesso e pouco agricultável em épocas de seca.

10. As barragens subterrâneas são valas cavadas próximas à garganta de um rio intermitente, ou em áreas de declive; assemelhando-se a um funil. As valas são forradas com lona plástica e na superfície são feitas barreiras de aproximadamente um metro de altura, utilizando-se pneus, pedras e terra. A água fica retida e é conservada nestas barragens, tornando o solo agricultável. 11. Com este mecanismo são resolvidos, de uma só vez, o problema do deslizamento do solo e o da destinação dos pneus usados, que trariam prejuízos ao meio ambiente se fossem queimados. 12. Este projeto contempla 11 famílias e aproximadamente 200 pessoas, que mantêm uma criação de cerca de 100 cabeças, com uma produção semanal de 500 ovos, em média.

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mente, propiciam novas articulações com outros atores sociais – poder público municipal, instituições financeiras, etc. Desta forma, trabalha- dores que atuavam de forma isolada e informal passam a atuar de for- ma coletiva, autogerida, formalmente organizada e inserida num pro- cesso produtivo mais amplo.

Todos os projetos da AMDE buscam a participação da sociedade, a fim de constituir linhas de crédito adequadas a cada um dos segmen- tos das diversas cadeias produtivas.

Embora não constitua por si só uma inovação, a utilização do Fun- do de Aval para lastrear os empréstimos dos participantes dos projetos foi incrementada por outros componentes – planejamento da alocação de recursos, análise econômico-financeira, análise de mercado e asses- soria técnica.

As parcerias estabelecidas para o financiamento dos projetos tra- zem benefícios não apenas para a Agência, como também para os pró- prios agentes financeiros – Banco do Nordeste e Caixa Econômica Fe- deral. Ao viabilizar os empréstimos para a clientela da AMDE, tais bancos aumentam a utilização de suas diversas linhas de financiamen- to, além de reduzirem o nível de inadimplência, graças ao acompanha- mento dos projetos financiados, realizado pela AMDE.

Nos projetos implantados na área rural, o Departamento de Enge- nharia Agrícola da Universidade Federal da Paraíba tem sido parceiro da Agência nas fases de elaboração, implantação e acompanhamento. Para o oferecimento de cursos de qualificação profissional desta- cam-se, entre os parceiros da Agência, o Departamento de Solos e En- genharia Rural do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Fede- ral da Paraíba, o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empre- sa (Sebrae), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e a Organização das Cooperativas do Estado da Paraíba (OCEPB)..

Conflitos e dificuldades

Um dos focos de conflitos enfrentados pela AMDE são as pessoas não diretamente contempladas pelos projetos que a Agência executa, como os trabalhadores e comerciantes informais que ocupam as áreas

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públicas no entorno do Distrito dos Serviços Mecânicos. Eles descon- fiam da Prefeitura e da AMDE, pois acreditam que serão despejadas, mas a diretoria da Agência acredita que essa desconfiança será supera- da quando todos conhecerem o Projeto. O mesmo problema foi en- contrado na Feira Central, onde os comentários davam conta de que “a prefeitura destruiria tudo”. Agora a situação é outra: os feirantes, os vendedores ambulantes, e todos os demais envolvidos estão dialogan- do sobre as decisões a serem tomadas.

Tal problema é percebido mais facilmente nos grandes projetos, que envolvem planejamento global. Nos que dependem de demanda espontânea, a implementação e a execução das iniciativas ocorre de forma tranqüila, talvez pela participação contínua da população.

A ausência de profissionais da área de educação em seu quadro de pessoal está entre os pontos fracos da Agência Municipal de Desenvol- vimento, mesmo se se considerar que a AMDE se preocupa apenas com a qualificação da mão-de-obra para o mercado de trabalho, e não com a formação no sentido mais amplo, de educação para a vida. A Universidade tampouco se apresenta como parceira nessa área, fican- do a cargo do Senai e do Sebrae o treinamento profissional. A Secreta- ria Municipal de Educação, por sua vez, também não possui nenhum projeto que envolva os beneficiários da Agência.

Considerações finais

A Agência Municipal de Desenvolvimento proporciona que uma par- cela desfavorecida da população vislumbre a cidadania, a possibilidade de realizar seus projetos de vida e o resgate de sua auto-estima, além de impulsionar o desenvolvimento econômico local. Tal resultado só foi pos- sível graças à perseverança e à participação dos beneficiários, ao profissionalismo da equipe que compõe a AMDE e à articulação de vários instrumentos –conhecimento, crédito, recursos humanos, etc.

O pouco tempo de funcionamento e a falta de avaliação sistemáti- ca de suas ações, impedem que se tenha uma noção precisa sobre os resultados da experiência, principalmente se levarmos em conta a am- plitude de seus objetivos. Afinal, a atuação da AMDE se assemelha à

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de executora de um plano municipal de desenvolvimento.

Apesar dessa dificuldade, é possível relacionar os aspectos inova- dores da iniciativa:

a) o resgate da cidadania pela participação crescente da população nas decisões relativas às ações da Agência;

b) a utilização do fundo de aval para o financiamento de pequenos empreendimentos;

c) a potencialização das cooperativas, fortalecendo laços de solida- riedade e resgatando a auto-estima dos cooperados;

d) o gerenciamento da Agência, que procura se distanciar da influ- ência direta do prefeito;

e) a focalização da população menos favorecida – desemprega- dos, mulheres, vendedores ambulantes, trabalhadores do mercado in- formal, etc.

Ao focalizar a população mais pobre, a Agência procura recuperar a auto-estima dessas pessoas e transformá-las em sujeitos de sua pró- pria história. Sem assistencialismo, os beneficiários estão desenvolven- do o espírito empreendedor. São financiados e acompanhados para caminhar ou “ANDAR” com as próprias pernas, tornando-se responsá- veis por suas atividades e conscientes de seu papel como cidadãos.

Efetivar uma educação voltada à melhoria da qualidade de vida em Vicência era compromisso fundamental da agenda de governo para a gestão que se iniciava em 1997, diante de um quadro de carência de recursos e de uma dívida de R$ 2 milhões.

Em julho de 1998, o início das atividades do Programa de Capacitação em Apoio ao Desenvolvimento Local representou uma importante colaboração para a implementação do Programa “Voando com Vicência”, de iniciativa do município, ao aportar recursos para sua execução. Em torno deste programa se articularam diferentes ações e atores sociais com o objetivo de trabalhar pelo desenvolvimento do município, a partir da realidade local.

A implantação do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI)2 e o conhecimento da proposta pedagógica formulada pelo Servi-

ço de Tecnologia Alternativa (Serta)3 foram decisivos para que, em 1999,

a Secretaria Municipal de Educação implantasse o Projeto Escolas Rurais Construindo o Desenvolvimento Local, com a convicção de que a educa- ção é condição primordial para o desenvolvimento local sustentável.

Fatima Elisabete Pereira Thimoteo1

Escolas Rurais Construindo