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Bacia hidrográfica que ocupa 85.750 km2 no

Unidades de Reciclagem de Porto Alegre

4. Bacia hidrográfica que ocupa 85.750 km2 no

Estado do Rio Grande do Sul e que tem como porta de entrada o Guaíba, estuário que banha a capital gaúcha.

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de papeleiros e catadores residentes nas ilhas, uma população marcada pela carência, formada em sua maioria por aqueles que não conse- guem residir nos bairros da periferia de Porto Alegre, devido aos altos custos de moradia. Inicialmente, o trabalho estava dirigido especifi- camente às mulheres, que permaneciam na Ilha, enquanto os ho- mens percorriam a cidade com carroças e carrinhos, catando lixo. Assim, foi formada uma primeira associação; posteriormente, os ho- mens se integraram ao trabalho no galpão, constituindo a Associação de Catadores de Material. Para a população da Ilha, o galpão de reciclagem sempre teve uma importância fundamental, por ser sua única fonte de renda. Após o início do Projeto, essa unidade de reciclagem passou a receber cargas diárias da coleta seletiva e o apoio técnico do Departamento Municipal de Limpeza Urbana. Com o passar dos anos, os recicladores tornaram-se menos dependentes em relação à organização religiosa e atualmente a Associação já não man- tém nenhum vínculo com a Caritas.

A Unidade de Reciclagem da Santíssima também iniciou o seu trabalho por iniciativa da Igreja Luterana, especificamente da Paró- quia do Cristo Redentor, localizada próximo à Vila Dique e à sede desta Igreja. O trabalho se dirigia a um conjunto de famílias de origem germânica oriundas de Iraí, município situado na região do médio Uruguai que, ao migrarem para a capital, passaram a viver em situação precária. O galpão foi construído pela Igreja num terreno ocupado pela família Fischer e nele trabalhavam, basicamente, mulheres. Com sua vinculação ao Projeto, foi constituída em 1991 a associação de recicladores, sob a orientação e o apoio de religiosas de ambas as Igre- jas, que mantinham um forte vínculo com a comunidade. Porém, es- sas relações têm se modificado ao longo dos anos, sendo que há dois anos a associação passou a assumir um papel mais forte na gestão da unidade, com maior independência em relação às Igrejas.

Rubem Berta é outra unidade com estreito vínculo com a Igreja Católica, que construiu o galpão e iniciou a organização do trabalho de mulheres na reciclagem. Ela está localizada num bairro próximo à Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC), que desenvolve uma atividade filantrópica e assistencial junto à comuni-

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dade. A Associação foi constituída em 1992, ainda sob a tutela de reli- giosos. Desde então, a entidade passou por algumas transformações. Por exemplo: devido à reivindicação das associadas, alguns homens começaram a trabalhar no galpão, algo que não era visto com bons olhos pelos religiosos. No caso da unidade Rubem Berta, o trabalho no galpão permitiu que as pessoas rompessem a dependência da ajuda assistencial, criando meios de sustento próprio e ampliando seu senso de cidadania.

Já com o grupo do Aterro Norte, os técnicos do Departamento iniciaram em 1990 um trabalho de cadastramento, conscientização e organização. O processo foi árduo e longo, dada a diversidade dos gru- pos e a precariedade em que viviam os catadores de lixo desta comuni- dade. Neste aterro, as pessoas viviam em acampamentos e se alimenta- vam com restos de lixo. Em alguns casos meninas se prostituíam em troca de materiais de maior valor, como o alumínio. Além disso, crian- ças morriam soterradas pelo lixo descarregado pelos caminhões.

Iniciou-se um trabalho de identificação e organização dessas pes- soas. Primeiramente, não foi mais permitido que “acampassem” no aterro e foi interditada a entrada de menores de 16 anos. Após a delimitação de uma área física para cada grupo, foram estabelecidos horários de trabalho, e criada uma área de armazenagem, de manei- ra que os catadores pudessem negociar a venda dos materiais sem a interferência de intermediários. Em 1991, foi constituída a Associa- ção dos Recicladores de Resíduos da Zona Norte e, em 1993, foi construído o galpão para o funcionamento da unidade de reciclagem. Das 300 pessoas com as quais foi iniciado o trabalho, restaram ape- nas 60 trabalhando na unidade, porque a maioria não conseguiu se adaptar ao processo de trabalho introduzido com a construção da unidade de reciclagem.

A unidade de reciclagem da Vila Pinto tem uma história diferente. A iniciativa de organização do trabalho partiu de pessoas da própria comunidade, que criaram o Centro de Educação Ambiental da Vila Pinto, voltado para a questão da violência contra a mulher, promoven- do a conscientização sobre seus direitos e sobre a geração de alternati- vas de renda. O trabalho com a reciclagem do lixo seco, num galpão

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localizado na própria vila, atendia todos esses objetivos, possibilitando que as mulheres trabalhassem perto do local de moradia, adquirissem o respeito de seus vizinhos e resgatassem a auto-estima. Para realizar o trabalho, a liderança do Centro contatou o Departamento Municipal de Limpeza Urbana, conseguindo também o apoio da GTZ – agência de cooperação técnica do governo alemão – para a construção do galpão, em 1994. No entanto, o reconhecimento e o respeito pelas atividades desenvolvidas na unidade de reciclagem foram conquistados depois que a comunidade enfrentou uma série de desafios, como o preconcei- to em relação ao trabalho com o lixo e à participação de mulheres nes- ta atividade. Vencida a rejeição inicial, a unidade tornou-se um ponto de referência para toda a comunidade.

O galpão de reciclagem da unidade da Cavalhada, por sua vez, foi construído e equipado pelo Departamento como uma das ações dos diversos órgãos da Prefeitura Municipal de Porto Alegre envolvidos no processo de reassentamento, no loteamento da Cavalhada, da popula- ção oriunda da Vila Cai-Cai. A criação desta unidade teve por objetivo gerar alternativas para parte da população do loteamento que, com a remoção, passariam a sofrer uma queda na renda familiar. Os recicladores foram inicialmente assessorados para a organização do tra- balho e a comercialização do produto final. Em 1996, formou-se a As- sociação dos Recicladores do Loteamento da Cavalhada, a fim de que a unidade de reciclagem fosse administrada pelos próprios moradores. Na Restinga, bairro localizado na zona sul de Porto Alegre e conhe- cido por suas carências, os recicladores se organizaram na Associação de Trabalhadores Urbanos pela Ação Ecológica. Criada em 1996, a Associação conquistou no Orçamento Participativo a construção do galpão e a compra de equipamentos, realizada há dois anos.

Finalmente, no Campo do Tuca, a iniciativa de criar a unidade de reciclagem, em 1997, partiu da Associação dos Moradores, com o obje- tivo de dar trabalho aos adolescentes entre 14 e 18 anos. A unidade se soma à criação de outros núcleos de apoio a crianças e adolescentes na comunidade: uma Creche que atende crianças de 0 a 6 anos e o Cen- tro de Atividades Socioeducativas, para crianças de 7 a 14 anos.