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Escola Municipal Mbo’Eroy Guarani-

Kaiowá

AMAMBAÍ (MS) Apresentação do Projeto 1. Professor índio do povo baniwa, no Alto Rio Negro, Estado do Amazonas. Ex-diretor da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), ex- coordenador geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), ex- secretário de Educação do Município de São Gabriel da Cachoeira (AM) e atual coordenador do Projeto Demonstrativo dos Povos Indígenas (MMA/ SCA/PPG7).

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abandonado, por falta de interesse da administração que governou o município até 1996, embora a luta dos índios permanecesse viva. Em 1996, com a nova administração municipal, o projeto foi retomado. Em 1998, após um longo período de negociações, reuniões, encontros e cursos, a escola foi finalmente aprovada e reconhecida pelo Conselho Estadual de Educação. Era uma importante vitória para uma luta que durou oito anos, devido à resistência do Conselho Estadual, que nega- va o reconhecimento da escola devido ao seu caráter pedagógico e ad- ministrativo diferenciado.

Nos últimos anos a sociedade local tem se mostrado mais sensí- vel à problemática indígena, possibilitando iniciar um processo de diálogo intercultural mais efetivo. A escola é hoje uma experiência que permite acreditar nas potencialidades das comunidades indíge- nas, superando velhos preconceitos dentro e fora do território indíge- na sobre a irresponsabilidade, preguiça e incapacidade dos índios. Exemplo disso é uma turma de 50 crianças guarani-kaiowás que for- mam um coral e se apresentam em vários momentos culturais e fes- tivos na sede do município, convidadas por escolas, associações civis e instituições públicas. Tais apresentações mexem com a sensibilida- de da sociedade envolvente.

Essa abertura e esse diálogo são relevantes se considerarmos o maior problema daquele povo: falta de auto-estima e de autoconfiança, devi- do à ausência de perspectivas e à dramática situação econômica em que vive.

Descrição do Projeto

A Escola Mbo’Eroy Guarani-Kaiowá é fruto da parceria entre o governo municipal, por intermédio da Secretaria Municipal de Educa- ção, e as três comunidades indígenas guarani-kaiowás atendidas. A Escola trabalha com 680 alunos e envolve 4.000 índios de três aldeias guarani-kaiowás.

As aldeias Amambaí e Jaguari estão confinadas em uma mesma área, com menos de 1.500 hectares e uma população superior a 3.000 pessoas. A outra aldeia – Limão Verde – com quase 1.500 pessoas, está

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localizada em uma área demarcada, com pouco mais de 500 hectares. De acordo com os próprios professores e líderes indígenas das co- munidades, a Escola Mbo’Eroy Guarani-Kaiowá tem como principal objetivo recuperar a auto-estima do povo guarani-Kaiowá por meio do resgate e da valorização de sua cultura, bem como da manutenção de um ensino de qualidade, capaz de formar e capacitar os professores e líderes indígenas para a autogestão, a autonomia e a autoconfiança. Neste sentido, a escola vem assumindo um papel cada vez mais rele- vante nas comunidades, pelo seu potencial multiplicador.

Toda a escola é administrada e gerenciada pelos índios, com apoio da Secretaria Municipal de Educação, com a qual mantêm um relaci- onamento que não é de subordinação, mas de parceria. Na escola- sede trabalham 22 professores indígenas e 12 técnicos e funcionários administrativos – todos índios, incluindo a direção.

As atividades pedagógicas buscam sempre dar conta de todos os aspectos da vida das comunidades, como saúde, cultura tradicional, economia, etc, enfatizando a língua guarani-kaiowá, as danças tradi- cionais e os rituais religiosos.

De modo geral, a participação da comunidade é muito forte e se materializa não só na escolha da direção, dos professores e dos funcio- nários, como também na elaboração do calendário e do planejamento escolar como um todo. As decisões políticas e administrativas são sem- pre tomadas conjuntamente pela escola, pela comunidade e pela Se- cretaria Municipal de Educação. A participação do governo municipal é muito mais no sentido de fornecer apoio e assessoria do que de atuar como responsável pelo Projeto ou como chefe da instituição.

Em termos de parceria, a mais importante é a que existe entre o município e as comunidades indígenas, mas há também parcerias intersetoriais e intergovernamentais, envolvendo as secretarias muni- cipais de Educação, de Saúde, de Produção e Abastecimento, a Secre- taria de Estado de Educação e o Ministério da Educação. Em alguns momentos, o projeto ainda conta com o apoio da Universidade Cató- lica Dom Bosco, que executa atividades de capacitação dos professo- res sobre AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis, tendo em vista o aumento da incidência dessas doenças. Além disso, a Uni-

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versidade ajuda na elaboração de cartilhas na língua Guarani.

A Secretaria de Estado da Educação forneceu 70% dos recursos utilizados para a reforma das escolas, nos anos de 1998 e 1999. A Se- cretaria também está apoiando a formação dos professores, oferecendo curso específico em Magistério Indígena em nível de Ensino Médio para professores indígenas de todo o Estado. O curso é oferecido na cidade de Dourados e será concluído em 2002. A Secretaria Municipal de Educação de Amambaí subsidia o material didático, o transporte, a hospedagem e a alimentação para os oito professores indígenas da es- cola de Amambaí que estão fazendo o curso.

O Ministério da Educação também apoiou a formação de 22 pro- fessores indígenas da escola Amambaí por meio do Pró-Formação2,

além de fornecer parte do material didático e oferecer outros cursos de reciclagem. Os 22 professores indígenas participantes do Pró-Forma- ção concluíram o curso no final de 2000 e oito deles já estão cursando Pedagogia nas Faculdades Integradas de Amambaí, com apoio da Pre- feitura de Amambaí e do escritório local da Funai.

Contexto em que se desenvolve o Projeto

O processo histórico que se seguiu ao contato com o homem bran- co, ao longo dos últimos cinco séculos, vem reduzindo drasticamente as terras das comunidades guarani-kaiowás. Tal redução fez com que elas perdessem a capacidade de sobreviver apenas com os recursos de seu meio natural. Não há mais caça, pesca ou produtos vegetais para a práti- ca do extrativismo de subsistência. A população depende totalmente de produtos adquiridos na cidade. Com isso, muitos valores e conhecimen- tos tradicionais quase desapareceram. As reservas indígenas encontram- se pressionadas entre cidades, grandes fazendas e usinas.

Apesar de toda essa situação, a população indígena tem resistido e, se considerada a pressão a que está submetida, a descaracterização cultural tem sido mínima. Atualmente, o principal problema do povo guarani-kaiowá dessa região é a falta de perspectiva de vida, devido à redução de seus territórios, sujeitando a população à dependência em relação às cidades vizinhas. Essa falta de perspectiva resultou na perda

2. Programa do Ministério da Educação para formação e capacitação de professores em serviço, oferecido nos períodos de férias, em parceria com os Estados e os municípios.

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de auto-estima e de autoconfiança, gerando elevado índice de suicí- dio nos últimos 15 anos, fato que foi amplamente noticiado pela im- prensa nacional.

É nesse contexto que o projeto da Escola Mbo’Eroy está situado, assumindo papel de destaque como instrumento de revigoramento das estruturas sociais e culturais, que possibilite a recuperação da auto- estima e da autoconfiança do povo guarani-kaiowá. Um dos objetivos do Projeto é fazer com que a comunidade recupere a capacidade de encarar os seus próprios desafios para, com os conhecimentos e potencialidades tradicionais e atuais, encontrar as soluções para seus problemas. Mas o que a escola tem a ver com isso?

A escola ganhou essa importância porque atualmente é o único espaço a reunir os esforços da comunidade indígena e do governo municipal, o qual demonstra preocupação e interesse pela situação precária dessa população. Por isso, a escola representa também a pos- sibilidade de se construir uma nova convivência externa e interna, capaz de ajudar na reorganização social, cultural e econômica do povo guarani-kaiowá.

Para atingir esse propósito, a escola busca trabalhar elementos bá- sicos da vida guarani-kaiowá, como as danças tradicionais, a arte, os rituais, as músicas, os conhecimentos da medicina tradicional, a es- trutura da organização social guarani-kaiowá, ao mesmo tempo em que possibilita e incentiva a aquisição de conhecimentos, valores e técnicas modernas que possam complementar a busca de soluções para antigas e novas demandas.

O Projeto também procura contribuir para o combate ao alcoolis- mo e para a superação da pobreza, chamando para si a responsabilida- de de mobilizar a comunidade, o poder público e a sociedade. O envolvimento da comunidade na escola e vice-versa tem contribuído substancialmente para a rearticulação das aldeias em torno de suas potencialidades, começando pela recuperação da auto-estima e pelo resgate e valorização das práticas tradicionais, além de um planeja- mento mínimo de ações para minimizar os principais problemas en- frentados pelos guarani-kaiowás. Tornando-se o centro de exercício da cidadania e a principal articuladora e apoiadora das atividades cotidi-

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anas da comunidade, a escola tirou muitos jovens e adultos das ruas, contribuindo para a retomada de atividades produtivas tradicionais (artesanato) e alternativas (hortas familiares, eventos turísticos), das quais a própria escola é exemplo. Apesar disso, a falta de alternativas econômicas ainda obriga grande parcela dos homens – jovens e pais de família – a deixarem suas famílias, por meses e meses, para trabalhar nas grandes usinas da região Sudeste.

Funcionamento do Projeto

A escola enfrenta esses problemas por meio dos seguintes instru- mentos:

1. Responsabilização da comunidade em relação à escola; 2. Participação da comunidade nas atividades básicas da escola; 3. Formação de professores indígenas;

4. Parceria entre a comunidade indígena, o governo municipal e a sociedade envolvente;

5. Planejamento das atividades escolares, a partir da realidade e dos valores indígenas locais, incluindo conteúdos e pedagogia indígenas.

O Projeto desenvolve atividades de conscientização, capacitação e formação, voltadas para a comunidade e, sobretudo, para os professo- res indígenas. Além disso, introduz no cotidiano dos índios, atividades pedagógicas de resgate e valorização da cultura guarani-kaiowá, defi- nindo de quais dos conhecimentos modernos eles precisam para aju- dar na solução de seus problemas coletivos.

Isso só foi possível a partir do momento em que a comunidade assumiu a responsabilidade pela escola, tornando-a seu instrumento de reconstrução e reafirmação da história, da cultura, dos valores e da identidade guarani-kaiowá. Essa é uma conquista de um período de oito anos, durante o qual a comunidade foi se organizando e se capaci- tando para assumir a direção da escola.

Antes do Projeto, a escola era administrada pelos brancos e a mai- oria dos professores era branca. Hoje, a escola é administrada pelos guarani-kaiowás e os professores são todos índios, com o importante apoio e incentivo da Secretaria Municipal de Educação. É visível a ale-

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gria dos 680 alunos guaranis por estudarem num local onde falam sua língua materna e no qual os conhecimentos da comunidade e a cultu- ra guarani podem ser vivenciados sem que se diminua a importância da cultura ocidental.

Nas três aldeias em que a escola funciona, pode-se perceber que os professores trabalham com prazer e vigor. Utilizando a língua guarani-kaiowá, eles trabalham com a arte guarani (artesanato, músi- ca, pintura, rituais, danças, etc.). Além dos professores, os pais dos alunos, os líderes da comunidade indígena e os pajés também estão trabalhando esses conteúdos. Em outras palavras, a escola conseguiu atrair a comunidade para dentro de si, tornando-se parte importante da vida das aldeias.

Resultados alcançados e aspectos inovadores

O resultado mais importante alcançado pelo Projeto é a recupera- ção da auto-estima do povo guarani-kaiowá, que voltou a lutar por seus direitos e por soluções para seus problemas, a partir de suas pró- prias capacidades e potencialidades. A própria escola é exemplo disso, bem como as iniciativas na área de agricultura, com o incentivando àas hortas escolares e àas roças comunitárias. O exemplo e o incentivo da escola estãoá demonstrando que é possível aproveitar a terra, mes- mo com a pobreza do solo e a redução das áreas disponíveis, tornan- do-a produtiva e incorporando antigas e novas técnicas. Pode-se per- ceber a revalorização do cultivo de milho, banana, mate e de muitas frutas plantadas nas hortas das escolas e das aldeias. Ao redor destas, criam-se animais, com apoio técnico da Secretaria Municipal de Pro- dução e Abastecimento. A revitalização das tradições culturais contri- buiu para reanimar as atividades produtivas.

Graças ao Projeto, crianças e jovens estão pondo em prática dentro e fora da escola conhecimentos tradicionais que estavam esquecidos e que muitos nem conheciam, como as danças e os rituais. Outro resultado relevante é a diminuição de 90% da evasão escolar (segundo os dados da Secretaria Municipal de Educação), em conseqüência da redução do nú- mero de pais que deixam a família para trabalhar nas usinas. Antes do

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projeto, de cada 50 alunos matriculados a cada início de ano letivo, apenas 30 concluíam o ano. Atualmente menos de cinco abandonam a sala de aula, porque os pais passaram a desenvolver atividades produtivas dentro da própria terra indígena, nas roças, hortas e criações de animais de pe- queno porte, bem como e na produção de artesanato.

As condições alimentares também melhoraram a partir das ações e intervenções da escola, que está incentivando a criação de hortas esco- lares e familiares, com o apoio da Secretaria Municipal de Produção, além de melhorar significativamente a merenda escolar. Com isso, re- duziu-se o índice de verminoses e de outras doenças resultantes da subnutrição.

No que se refere aos objetivos e metas definidos pelo Projeto, te- mos os seguintes resultados:

1. O desenvolvimento do ensino intercultural, valorizando os co- nhecimentos tradicionais da cultura guarani, é o campo em que o Pro- jeto tem obtido os maiores avanços, especialmente no que se refere ao uso da língua, embora sem a formalização em livros didáticos. Todos os professores trabalham na língua guarani, ensinando geografia, his- tória, gramática guarani, arte, etc., com material produzido pelos pró- prios professores. Recentemente, a Secretaria Municipal de Educação contratou assessoria especializada para sistematizar todo esse rico material, que será publicado até o final de 2001, com apoio do Minis- tério da Educação.

2. O ensino bilíngüe já é realidade em toda a escola. A prioridade dada ao ensino da língua indígena indica a importância que lhe é atri- buída pelo Projeto.

3. A autonomia e o diálogo intercultural com a sociedade envolvente estão sendo colocados em prática, com resultados satisfatórios. Este é, atualmente, o maior desafio do povo guarani-kaiowá. Até o início do Projeto, a comunidade indígena não era considerada no cenário político, social e cultural da região. Os índios eram vistos como “incapazes”, “pre- guiçosos”, “sem civilidade”, “sem cultura”, etc. Viviam muito isolados em suas reduzidas terras. Hoje, além de terem programas especiais de saúde, educação, produção, etc., são reconhecidos e valorizados pela co- munidade não-indígena local. Dois exemplos ilustram essa nova relação:

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primeiro, a importância do projeto e da população indígena dentro das estruturas do governo local, onde é flagrante a confiança mútua entre a comunidade indígena cenário político, social e cultural da região. Os índios eram vistos como “incapazes”, “preguiçosos”, “sem civilidade”, “sem cultura”, etc. Viviam muito isolados em suas reduzidas terras. Hoje, além de terem programas especiais de saúde, educação, produção, etc., são reconhecidos e valorizados pela comunidade não-indígena local. Dois exemplos ilustram essa nova relação: primeiro, a importância do projeto e da população indígena dentro das estruturas do governo local, onde é flagrante a confiança mútua entre a comunidade indígena e o governo municipal, numa parceria que está produzindo interessantes projetos para o futuro.3 Outro exemplo é a participação dos alunos da Escola

Municipal Mbo’Eroy Guarani-Kaiowá em diversos eventos de outras escolas da região, como semana do índio, festas tradicionais, torneios esportivos, festivais culturais, entre outros. Um grupo coral, composto por 50 alunos guaranis, também se apresenta quase semanalmente em eventos da cidade.

4. Por fim, outro dos resultados do Projeto é o fato de 22 profes- sores indígenas já terem concluído o Magistério, no nível de ensino médio, além de oito professores indígenas que concluirão o curso até o final de 2001 e outros oito que já estão cursando o nível supe- rior, em Ppedagogia.

A conquista política e pedagógica da escola constitui a principal inovação do Projeto. Outro aspecto que chama a atenção é a consciên- cia e a clareza quanto às responsabilidades e limites das partes envol- vidas, ou seja, a comunidade indígena e a administração municipal. Dificilmente os governos abrem mão de seu poder de controle e de imposição mas, neste caso, o poder foi dividido, cedendo lugar a uma soma de responsabilidades e de compromissos. Tal aspecto se torna ainda mais relevante se considerarmos que a escola atende uma par- cela da população geralmente tratada com desprezo pelas estruturas de poder do governo municipal, embora represente 14% da população de Amambaí

Também constitui uma inovação o fato de o Projeto valorizar a cultura e os conhecimentos tradicionais da comunidade indígena lo-

3. Entre esses projetos, temos: 1) Projeto de Produção e Abastecimento – que começa dar os primeiros resultados e deve aumentar sua escala com introdução de novas técnicas; 2) Projeto Habitacional – que começou com a extensão, pela Prefeitura, da rede elétrica às aldeias e com a melhoria do saneamento básico. O próximo passo será a construção de casas, que está em fase de estudos sobre qual a estrutura mais adequada para os índios.

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cal. Embora exista a preocupação em elaborar currículos e regimentos escolares, tais documentos são considerados como resultado da prática vivida pela comunidade. O processo metodológico de construção do projeto escolar priorizou a vida concreta da comunidade e não o embasamento em teorias científicas.

Fontes de recursos

Da verba que o município destina à educação, estimada em R$ 2 mi- lhões, 10% são gastos com a Escola Mbo’Eroy Guarani-Kaiowá, dividindo- se entre salários de professores e de funcionários administrativos, despesas de manutenção e formação de professores.4 Não estão incluídos nesse

montante as despesas da Secretaria Municipal de Educação para que os professores participem do curso de formação oferecido no município de Dourados e que somam R$ 12 mil por ano. A Secretaria também contri- bui com metade dos gastos relativos à merenda escolar.

Somam-se a essa verba as contribuições da Secretaria de Educação do Estado de Mortas Grosso do Sul, estimadas em R$ 80 mil, que foram utilizadas na reforma e na construção de escolas, alem de servir para o pagamento dos professores que ministram anualmente o curso de formação de professores. O Ministério da Educação contribui com R$ 26 mil por ano, por meio do Pró-Formação, que também está for- mando 22 professores indígenas.

O Projeto possui uma base para sua sustentabilidade financeira. Excluindo-se as contribuições externas, como as do Ministério da Edu- cação e da Secretaria Estadual de Educação, que são eventuais e pon- tuais (para formação de professores e reforma ou construção de esco- las), o Projeto conta com recursos da prefeitura, dentro da obrigação constitucional de destinar à educação 25% do orçamento municipal. Esse caráter de investimento local é muito importante, porque proje- tos semelhantes em outras regiões do país normalmente são financia- dos em grande parte por recursos externos e desaparecem quando ter- mina o envio de tais recursos.

O maior risco para a sustentabilidade do Projeto é a ocorrência de alguma mudança brusca na política local. Por enquanto, a iniciativa

4. Os dados se baseiam no orçamento de 1999. Nos dois anos anteriores, o montante foi bem superior, devido aos investimentos na melhoria da infra- estrutura escolar.

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segue seu curso normal. O prefeito foi reeleito em outubro de 2000, o que teoricamente injeta otimismo quanto aos rumos do Projeto. Além disso, a comunidade parece mais preparada para cobrar o dever consti- tucional do município. Isso equivale a dizer que as atividades principais do Projeto são mantidas e administradas pela própria comunidade e será difícil alguém tirar-lhes o que conquistaram com tanto esforço.

Por outro lado, o atual prefeito reeleito de Amambaí (Dirceu Luís Lanzarini – PSDB) demonstra vontade de colaborar com o Projeto e incentivar o desenvolvimento de novas atividades.5

Conclusões

.A primeira impressão que se tem da comunidade indígena atendi- da pelo Projeto geralmente é marcada por um certo pessimismo, devido à situação precária em que vivem esses índios. No entanto, essa é uma impressão baseada apenas na visão do presente. Só depois de conhecer