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Programa Moradia Digna e Segura em Teresina

13. SECRETARIA MUNICIPAL DE

URBANISMO. Moradia – Um Sonho Construído com Trabalho, Planejamento e Parceria. Teresina, outubro de 1998. 14. Trata-se de orçamento participativo, implantado a partir de 1997. É um mecanismo de participação popular no processo de planejamento, elaboração, execução e acompanhamento das propostas orçamentárias do município. A participação popular na elaboração do orçamento municipal efetiva-se por intermédio das entidades representativas da sociedade e de cidadãos teresinenses. O processo de discussão da programação orçamentária ocorre até a primeira quinzena de agosto de cada ano, mediante a realização de assembléias zonais, reuniões temáticas e fóruns zonais.

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poder público. O secretário Kleber Montezuma acredita que esse processo implica uma mudança cultural: antes a Prefeitura praticava a política da doação, sem exigir uma contrapartida das comunida- des. “A mentalidade agora passa a ser outra”, diz ele. “É acabar com essa história de dar, valorizando a auto-estima, a cidadania, o respei- to, a luta e o espaço adquirido, evitando aquela relação de clientela, de subordinação, de ficar devedor do político que conseguiu, que deu algo à família”.

Em cada um dos projetos que integram o Programa Moradia Dig- na e Segura em Teresina, o investimento é compartilhado entre a Prefeitura e a família beneficiada, que integraliza sua participação por intermédio de financiamento. No caso do Projeto Minha Casa, o investimento gira em torno de R$ 3.000,00 a R$ 3.500,00 por famí- lia, aplicados em terreno, desmatamento, terraplanagem, material de construção e implantação das redes de água e de energia elétrica. A família devolve cerca de um terço deste montante (R$ 1.000,00) para o Fundo Municipal de Habitação, dividido em 100 prestações de R$ 10,00.

No Projeto Morar Legal, a Prefeitura faz inicialmente uma avalia- ção do terreno e desapropria as áreas de ocupação, que geralmente são áreas de conflito. A família paga à Prefeitura o valor do terreno, em 12, 24 ou 48 parcelas. São valores pequenos, ficando em torno de R$ 1,00 a R$ 1,50 por metro quadrado.

Segundo Kleber Montezuma, inicialmente houve muita resistên- cia por parte das lideranças do movimento social organizado quanto ao pagamento das prestações. O processo foi se estabelecendo depois de várias reuniões e muitas discussões com as federações e as associa- ções de moradores. O secretário considera que esse mecanismo se con- solidou, uma vez que atualmente são as próprias entidades e as famí- lias que procuram a prefeitura e solicitam a desapropriação das áreas, assumindo os custos. Houve resistência também por parte de alguns políticos conservadores, tanto aliados como adversários do prefeito, e que mantinham relações clientelísticas com seus eleitores. Porém, mesmo a resistência desses segmentos foi vencida.

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Resultados obtidos e investimentos realizados

Os dados da Secretaria Municipal de Habitação e Urbanismo mos- tram que foram beneficiadas com o Programa Moradia Digna e Segu- ra em Teresina, no período de 1993 a abril de 2000, 32.310 famílias, representando 83,16% do público pesquisado pelo Censo das Vilas e Favelas de 1999.

Neste período, o Programa alcançou os seguintes resultados: • Censo das Vilas e Favelas de Teresina – realização de três cen-

sos: 1993, 1996 e 1999. • Morar Legal:

1. Desapropriação de terras urbanas para regularização fundiária e assentamento de famílias – 4.183.072,38 m2.

2. Concessão de Títulos de Cessão de Posse e Uso/Contrato de Concessão de Direito Real de Uso – 13.052 lotes regularizados, beneficiando a 52.208 pessoas.

• Lotes Urbanizados – 7.239 lotes urbanizados, atendendo a 28.956 pessoas.

• Minha Casa – 5.523 casas construídas, possibilitando moradia digna e segura a 22.956 pessoas.

Casa Melhor – 6.496 casas melhoradas, assegurando moradia com qualidade a 25.984 pessoas.

De acordo com os coordenadores do Programa, no exercício finan- ceiro de 2000, a Prefeitura Municipal de Teresina alocou em seu orça- mento a quantia de R$ 6.924.724,09 para a Secretaria Municipal de Habitação aplicar no Programa, o que representa 2,45% do orçamento geral do município.

Por meio do Orçamento Popular, são garantidos os recursos para o Programa. Os recursos externos são, na sua maior parte, oriundos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Caixa Econômica Federal (CEF), por intermédio do Projeto Vila- Bairro. O fato de a população indicar as áreas prioritárias de interven- ção facilita o planejamento. As demais áreas são definidas junto ao Conselho Municipal de Habitação.

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Projetos Investimentos realizados

(1993 a 04/2000)

MORAR LEGAL

Desapropriação de terras urbanas

para realização fundiária e R$ 3.739.825,26 assentamento de famílias

Concessão de Títulos de Cessão

de Posse e Uso/Contrato de R$ 7.831.200,00 Concessão de Direito Real de Uso

LOTES URBANIZADOS R$ 4.343.400,00 MINHA CASA R$ 4.300.925,40 CASA MELHOR R$ 3.600.913,55

Total R$23.816.264,21*

*Deste montante, R$ 17.945.002,85 são recursos próprios da municipalidade e R$ 5.871.261,36, provenientes de convênios e contratos de financiamento das seguintes fontes: PRÓ-MORADIA-FGTS/CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, PROGRAMA HABITAR BRASIL, BNDES E MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO – MPO, SECRETARIA DE POLÍTICAS REGIONAIS –SEPRE.

Considerações finais

Muitos são os pontos positivos do Programa Moradia Digna e Segura em Teresina, que revelam aspectos inovadores na sua concepção e na sua operacionalização. A começar pelo Censo das Vilas e Favelas, que é um instrumento importante para o planejamento e a implantação de estraté- gias e ações mais precisas por parte do poder público, em benefício de uma camada da população carente de recursos e de infra-estrutura.

A construção e o exercício da cidadania podem ser verificados em todos os momentos do processo de transferência das famílias: na ne- gociação, na remoção, na fixação dessas pessoas nas novas áreas e nas condições infra-estruturais que lhes são proporcionadas. Alguns mo- radores destacam como um aspecto positivo o fato de a prefeitura pro- videnciar carros para transportar seus pertences durante a mudança.

Um aspecto interessante do Programa é que os contratos são fir- mados e os títulos são concedidos em nome das mulheres, contem- plando a questão de gênero. Os formuladores do Programa conside- ram que essa é uma forma de reconhecer a luta das mulheres no pro- cesso de conquista, posse e regularização da terra, assim como na cons- trução da casa própria. Afirmam também que tal prática visa a “segu- rança e a consolidação da família por meio da melhoria das relações de

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convivência entre homens e mulheres, valorizando-as como gestoras do cotidiano das famílias”. As mulheres integrantes das associações de moradores de Teresina demonstram satisfação por serem possuidoras dos títulos de propriedade. Esta situação legal proporciona segurança para as mulheres e para os seus filhos, evitando o que acontece quando o casal se separa e a mulher é quase sempre abandonada com os filhos, ficando, muitas vezes, sem um teto para se abrigar. Segundo essas mulheres, “o homem terá que pensar duas vezes para se separar por- que ele é quem vai ter que deixar a casa”. A medida leva em conta as estatísticas que apontam ser menor entre as mulheres a tendência a abandonar a família e a casa, além da constatação de que os homens tendem a utilizar o imóvel com fins especulativos, o que se configura também em fator de insegurança para a família.

A participação e o envolvimento da mulher na consecução do Pro- grama Moradia Digna e Segura em Teresina podem ser percebidos tam- bém nos seus relatos sobre o processo de luta e conquista pela mora- dia, as dificuldades enfrentadas, as reuniões e negociações com o po- der público municipal, o engajamento nas novas localidades de habi- tação por intermédio das associações comunitárias, dos Clubes de Mães, das creches, dos postos de saúde, dentre outros.

Destaca-se, entre as inovações trazidas pelo Programa Moradia Digna e Segura em Teresina, a mudança cultural proporcionada pela iniciativa, que tem como ponto-chave a relação não clientelista que se estabeleceu com a população beneficiada, exigindo contrapartidas que podem ser cumpridas e que são compatíveis com as condições finan- ceiras das famílias.

Dentre os desafios e dificuldades do Programa, evidencia-se como o principal deles a insuficiência dos recursos financeiros e a dificuldade para a obtenção desses recursos. A equipe responsável pelo Programa queixa- se, por exemplo, da burocracia a ser cumprida para conseguir a liberação de recursos da Caixa Econômica Federal e do BNDES, o que faz do enca- minhamento das solicitações um processo muito demorado.

São mencionados, também, como obstáculos a serem enfrentados: a) as áreas encontradas para a remoção das famílias localizam-se geral- mente na periferia, pela inexistência de terrenos em áreas mais próxi-

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mas do centro de Teresina, aumentando a resistência das famílias para a transferência; b) a quebra de vínculos afetivos e das formas de sobrevi- vência, no caso de famílias transferidas de áreas impróprias, dificulta a consolidação da moradia; c) a presença de especuladores nos movimen- tos de ocupação de terras; d) as ocupações em terrenos com topografia irregular, onerando ações de urbanização e de saneamento; e) a dificul- dade de conseguir a participação das famílias desempregadas ou subempregadas no processo de regularização fundiária, bem como no processo construtivo, devido à baixíssima renda dessas famílias.

A atual gerente do Programa Moradia Digna e Segura em Teresina, Rogéria Lúcia, afirma que os projetos que o compõem continuam sendo “implementados conforme a filosofia e a metodologia que os origi- nou”. De acordo com a gerente, “ao final do primeiro ano da nova gestão municipal15 os projetos serão reavaliados e redirecionados, se

necessário”. A gerente informa que “há uma grande receptividade em relação ao Programa, o que, certamente, tem influenciado e contribu- ído para a experiência em outros municípios”. Em julho de 2001, a experiência foi apresentada em um seminário sobre política urbana na cidade de Campina Grande. O Programa foi escolhido pela Caixa Eco- nômica Federal como uma das dez melhores práticas do país na área de habitação financiadas pela instituição e foi apresentado, por indi- cação da Caixa, numa Conferência Mundial da Organização das Na- ções Unidas sobre Assentamentos Urbanos, que se realizou em de- zembro de 2000, na China.

15. O prefeito foi reeleito em 2000 e houve algum remanejamento nos cargos do executivo. Hoje, o secretário municipal de Habitação e Urbanismo, Kleber Montezuma, ocupa a Secretaria de Educação.

O Projeto das Unidades de Reciclagem, implantado em 1989, sur- giu como uma iniciativa do Departamento de Limpeza Urbana do Município de Porto Alegre (DMLU) visando a integrar o reaproveitamento de matérias-primas ao processo de coleta seletiva. As atividades desenvolvidas pelo Projeto constituem uma das interfaces do modelo de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos adotado pelo município. Tais atividades têm por objetivo a redução do volume de resíduos destinados aos aterros sanitários, por meio da reciclagem. O incremento contínuo do volume de lixo tornava necessário um modelo de tratamento integrado, que não se limitasse à oferta de áreas para a disposição final, como acontecia até então, mas que fosse capaz de atacar o problema desde o momento da geração dos resíduos até o seu reaproveitamento e reciclagem. A iniciativa de implantar um programa de gerenciamento integrado de resíduos nasceu da preocu- pação em integrar todas as medidas envolvidas no enfrentamento da Jackeline Amantino de Andrade1

Raquel Proano Guerrero2

Unidades de Reciclagem