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Agentes de Adequação – A UE, a NATO e o Exército Português

No documento MAJ Martins Henriques (páginas 52-55)

V. AS INFLUÊNCIAS MULTILATERAIS DA ACTUALIDADE

V.2 Agentes de Adequação – A UE, a NATO e o Exército Português

Os agentes que contribuem para a adequação correspondem, por um lado, às prioridades da política externa portuguesa e às organizações das quais o país é membro, principalmente a

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Ver sobre a modernização tecnológica do Exército Português, de acordo com as influências NATO e da UE, A

transformação e integração da Defesa na OTAN e na UE: novos desafios do MAJ Carriço e Portugal e a Transformação, dos TCOR Fonseca, Oliveira e Dias, ambos publicados na colectânea da Academia Militar, A transformação da Defesa.

NATO e a União Europeia, na sua vertente de segurança e defesa. Por outro lado, o elemento decisivo no processo de adequação será sempre o próprio Exército Português, em sintonia com as orientações do nível político, expressas, fundamentalmente, no Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN) e no Conceito Estratégico Militar (CEM).

Quanto à vertente europeia de segurança, não sendo uma prioridade inicial, verifica-se que, com o Tratado de Maastricht de 1991, passou a constituir um dos pilares da União Europeia através da Política Externa e de Segurança Comum (PESC) (Teixeira, 2004c, p. 97). O Tratado de Amesterdão, por sua vez, não trouxe grandes alterações à PESC, inscrevendo apenas as missões de Petersberg no quadro da UE. A grande alteração surge na sequência da cimeira franco-britânica de Saint Malo em 1988, onde se estabelece uma capacidade de defesa autónoma no seio da UE. Em consequência, foi consagrada no Tratado de Nice em Dezembro de 2000 a Política Europeia de Segurança e Defesa.

No plano das instituições são constituídos três novos órgãos permanentes, homólogos das estruturas político-militares da NATO: o Comité Político e de Segurança (COPS), o Comité Militar e o Estado-Maior, passando a UE a ter de facto uma dimensão militar. Quanto ao plano das capacidades efectivas, é decidido pelo Conselho Europeu de Helsínquia a criação de uma Força de Reacção Rápida (FRR), com um efectivo de 60 000 homens, com um grau de prontidão de 60 dias e sustentação de 12 meses, que deveria estar pronta até ao final de 200340. Neste ano surge o conceito de Battlegroup, por iniciativa franco-inglesa. Com um efectivo de 1 500 militares, devem ser projectados até dez dias após ser tomada a decisão do seu emprego, como força autónoma, devendo atingir a sua capacidade operacional em 2007.

Em consequência dos HHG de 1999, a experiência das primeiras operações e da Estratégia Europeia de Segurança (Carriço, 2005, p. 54), a UE estabeleceu um novo Headline Goal 2010, centrado nos Battlegroups, destinados a criar as condições para que outras forças entrem no TO, enquanto as FRR se destinam a cumprir missões de manutenção da paz (Freire, 2004, p. 15).

Portugal à medida que aprofunda a sua integração europeia, especialmente após a primeira presidência da União Europeia em 1992, percorre um caminho de europeização da sua política externa (Teixeira, 2004c, p. 98), acentuando a sua nova vocação euro-atlântica. Portugal participou e apoiou, desde o início, a construção da PESD. No quadro do Headline Goal de Helsínquia, Portugal pôs efectivos à disposição da FRR, tendo em vista a sua constituição. Já no primeiro semestre de 2006 integrou um Battlegroup liderado por Espanha, composto ainda por

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forças italianas e gregas. Prevê-se novamente a participação portuguesa nos mesmos moldes, para 2008 e 2009.

Quanto ao vector atlântico e à relação com os Estados Unidos, foi assinado, a 1 de Junho de 1995, um novo Acordo de Cooperação e Defesa, em que não foram definidos programas específicos, sendo apenas identificadas as diferentes áreas de cooperação, nas quais se incluem a militar e de defesa, científica e tecnológica (Teixeira, 2004c, p. 100).

No quadro da NATO, a posição de Portugal é marcada ao mesmo tempo pela manutenção e reforço dos compromissos político-militares, pela transformação e adaptação da Organização ao pós-Guerra-Fria e também pela integração europeia do País. A Aliança Atlântica iniciou um processo complexo de reformas das suas estruturas, políticas e militares, de forma a se adaptar às novas missões. No plano militar procedeu-se à reestruturação dos comandos militares e à definição de nova doutrina e novas missões.

No âmbito da nova doutrina, ela começa a tomar forma com a aprovação do Conceito Estratégico em Roma, em 1991, apontando para uma nova concepção de segurança não apenas militar, mas global e integrada (Teixeira, 2004c, p. 101). Para além das tradicionais missões de defesa colectiva, estabelecidas pelo Artigo 5º do Tratado de Washington, surgem novas missões humanitárias e operações de manutenção de paz. No entanto, a grande transformação ocorre aquando da Cimeira de Washington em 1999. Dá-se o alargamento da área de intervenção da Aliança e do tipo de missões, que incluíam agora a gestão de crises, operações de apoio à paz, luta contra a proliferação de armas de destruição maciça, terrorismo, narcotráfico e o crime organizado. A última revisão do conceito estratégico consagra ainda a intervenção fora da área tradicional definida pelo Tratado do Atlântico, mesmo sem a necessidade de um mandato da ONU, bastando, para o efeito, o consenso político no seio da NATO. Finalmente, na cimeira de Praga em 2002, foi decidida a criação da NRF, destinada a prevenir que conflitos ou ameaças escalem para disputas de maiores dimensões (Freire, 2004, p. 19).

O Exército Português, enquanto agente de adequação, funciona também como catalisador dos outros dois agentes de adequação considerados, devido à participação nas estruturas de defesa da NATO e da UE, condicionando os processos de transformação do Exército. Com a difusão da

Directiva 193 do General CEME pretendeu-se orientar as acções a desenvolver com vista à

transformação do Exército e que deveriam envolver a instituição como um todo. Para o efeito, foi constituído um Núcleo de Acompanhamento dos Trabalhos para a Transformação do

Exército em 2004 (NATTE-04), sendo o coordenador geral dos Trabalhos o Tenente-General VCEME.

Cada uma das tarefas levantadas teve uma Entidade Primariamente Responsável (EPR), para proceder ao seu estudo e apresentação de propostas, tendo em vista o apoio à decisão nos níveis militar e político. A Inspecção-Geral do Exército (IGE) ficou responsável por monitorizar a execução das medidas decididas.

No documento MAJ Martins Henriques (páginas 52-55)