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Fonte de Adequação – O fracasso da campanha de 1801 e a ameaça francesa

No documento MAJ Martins Henriques (páginas 34-36)

III. AS INVASÕES FRANCESAS E A «ESCOLA» MILITAR INGLESA

III.1 Fonte de Adequação – O fracasso da campanha de 1801 e a ameaça francesa

Numa época em que os Exércitos de Napoleão procuravam o domínio da Europa, sustentado por uma nova Revolução Militar, o poder político em Portugal, decidira encetar o processo de adequação do Exército Português às novas ameaças. Constata-se que enquanto a perspectiva de uma acção militar inimiga sobre o território nacional permanecesse difusa, a estratégia militar em Portugal não constituía uma prioridade na política do Estado. Apenas quando a agressão se revelava ou mostrava iminente, se procurava preparar a força armada para a enfrentar. Em 1806, o Exército de Linha encontrava-se mal pago, indisciplinado, mal armado, sem instrução e sem comando (Selvagem, 1999, p. 495).

O Exército estava igualmente desmoralizado pela Campanha de 1801, onde uma vez mais se constatou que não poderíamos ser neutrais se não tivéssemos força (Barrento, 2000, p. 265). Como percursor da mudança, foi encomendado ao Conde de Goltz um estudo para a reorganização do Exército Português. Tendo por base as suas conclusões, que seriam trabalhadas por um Conselho Militar, presidido pelo Ministro da Guerra, foi difundida uma Determinação Real, a 19 de Maio de 1806, preconizando o modelo francês para o Exército Português, a que se seguiram outros diplomas publicados até Outubro de 1807 (IDN, 2005, p. 467).

No âmbito da estratégia estrutural as medidas preconizadas incluíam a criação do cargo de Comandante-Chefe do Exército, dependendo directamente do Rei e designado como Marechal- General do Exército (Nunes, 2004c, p38). Quanto à organização do Exército, passou a assentar em 3 Divisões geográficas, correspondendo aos Comandos das Regiões Militares e às áreas territoriais de recrutamento: A Divisão do Norte, com 4 Brigadas de Infantaria, englobando 8 Regimentos a 2 Batalhões, 4 Regimentos de Cavalaria a 4 Esquadrões e 1 Regimento de Artilharia; A Divisão do Centro com a mesma organização; e a Divisão do Sul, incluindo mais um Regimento de Artilharia (Selvagem, 1999, p. 495). Os Regimentos de Infantaria foram numerados de 1 a 24, os de Cavalaria de 1 a 12 e os Regimentos de Artilharia de 1 a 4. Os Regimentos localizavam-se à volta de Lisboa ou nas regiões fronteiriças. Para além disso, foram dados novos uniformes e bandeiras às tropas de linha, às Milícias e Ordenanças. Quanto aos efectivos dos Regimentos, os de Infantaria passaram a contar com 1 200 homens, os de Cavalaria com 613 homens e os de Artilharia também com 1 200 homens (Nunes, 2004c, p. 38).

Por alvará de 21 de Outubro de 1807 estabeleceu-se uma nova organização, agora para as Ordenanças e para as Milícias. Dividiu-se o Reino português em 24 Brigadas de Ordenanças, servindo de distritos de recrutamento para as tropas de linha. Elevou-se o número de Regimentos

de Milícias de 43 para 48, fixando-se o número total de milicianos em 52 848 homens. Quanto ao Exército de Linha não comportaria nos seus efectivos mais de 10 000 a 12 000 «homens

aproveitáveis» (Selvagem, 1999, p. 496).

No entanto, mais uma vez o processo de reorganização falha, por tentar impor por decreto, aquilo que necessitava do enquadramento de outras medidas ao nível estrutural e genético. Planeadas com tempo e baseadas num poder político forte, organizado no âmbito estratégico e com uma instituição militar consolidada, pressupostos necessários para a criação de uma força militar credível.

Ainda em 1807 e novamente através da conclusão de um Tratado - assinado em Fontainebleau a 27 de Outubro de 1807 - a Espanha e a França determinam a partilha de Portugal entre si, comprometendo-se a Espanha a auxiliar a França na invasão do seu reino vizinho da Península Ibérica (Ribeiro, 2004, p. 56). A motivação francesa residia na possibilidade de quebrar a aliança portuguesa com a Potência Marítima da época, a Inglaterra, destinada a garantir a preservação dos territórios ultramarinos portugueses e a segurança das vias de comunicação entre as colónias e o continente. Quanto à motivação espanhola, entre outras vontades, estaria o objectivo de se alcandorar ao estatuto de única Potência na Península.

Por determinação real, a resistência encontrada pelo exército invasor de 20 000 homens, em Novembro de 1807, é praticamente nula, demonstrando também o pouco impacto que a reorganização iniciada no ano anterior teve sobre a prontidão do Exército, ao mesmo tempo que o núcleo do poder político retira para o Brasil. Materializava-se, desta forma, a incapacidade portuguesa para manter a almejada neutralidade, quando a linha de fricção entre as Potências Marítima e Continental assentava na linha de fronteira portuguesa e o outro actor regional da Península, a Espanha, alinhava com a Potência Continental. Era, à escala regional, a aplicação do princípio do equilíbrio de poder - estabelecer alianças com os adversários dos inimigos.

Após a ocupação de Portugal, o Exército foi desarticulado e praticamente desapareceu. Com as tropas de linha foi organizada a Legião Lusitana, cujo comando foi atribuído ao Marquês de Alorna, passando desde 16 de Março de 1808 a fazer parte do Exército Imperial Francês. Após o desembarque inglês, entre 1 e 5 de Agosto de 1808 e a expulsão das tropas francesas, Portugal passou a campo de batalha continental do Exército inglês, que aumentou o seu efectivo para 30 000 homens na Península.

Para enfrentar a ameaça de reiteração de esforços franceses para invadir o País, o poder político português em exercício no território nacional, materializado no Conselho de Regência e na pessoa de D. Miguel Pereira Forjaz, irá continuar os esforços de reorganização do Exército para integração nas forças aliadas. A partir do Verão de 1808, um Exército maior e melhor foi

erguido, na formação do qual os ingleses têm mão livre. No domínio tecnológico, desde o século XVIII que as armas de fogo pouco evoluíram. É o fim do Antigo Regime que gera novas concepções para a força militar. As inovações tecnológicas pesam pouco neste período.

No documento MAJ Martins Henriques (páginas 34-36)