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Sabe-se que fatores familiares exercem um papel na etiologia de vários agravos. A análise da agregação familiar (AF) exprime, basicamente, a idéia que há uma tendência para determinados fenótipos se aglomerarem, com freqüência, entre familiares com graus de paisco diferentes. Seja como reflexo do compartilhamento de genes ou pelo compartilhamento de fatores ambientais entre indivíduos de uma mesma família (Maia et al.,2004; Fermino, 2007).

Dentre os aspectos de ordem sócio-econômica que interferem nas práticas alimentares adotadas por um indivíduo, destaca-se o convívio social e familiar. Para Canesqui (1988), é “por referência à família que se realiza e organiza o consumo alimentar, ainda que os seus determinantes não se esgotem neste nível” (Canesqui, 1988; Garcia, 1997).

No entanto, a contribuição da influência genética no comportamento alimentar também se tornou alvo de pesquisas, partindo da premissa de que a hereditariedade desempenha papel importante em diversas doenças. Observou-se que traços de determinadas doenças se agregam em famílias, ou seja, estas doenças acometem, com maior freqüência, familiares de uma pessoa afetada do que a população em geral (Susser & Susser, 1989).

Recentemente, a epidemia da obesidade tem apontado como seus principais fatores causais, o estilo de vida e o meio ambiente, associados ao balanço energético positivo. Por outro lado, o efeito dos fatores de estilo de vida parece ser modulado por genes, devido à interação entre o meio ambiente e a genética. Sob este foco, pesquisas têm sido realizadas objetivando estudar a obesidade sob esta ótica, baseadas em indivíduos gêmeos homozigóticos, demonstrando que os indivíduos geneticamente idênticos, respondem similarmente para o índice de massa corporal e composição corporal em relação às mudanças no balanço energético, enquanto que, a variabilidade é considerável naqueles indivíduos, cujos genótipos são diferentes. Deste modo, a epidemia da obesidade pode ser entendida pelo foco da influência que o meio e o estilo de vida exercem em genes susceptíveis para o desenvolvimento da obesidade (Jacobson et al., 2007).

Uma das hipóteses relacionadas às causas da obesidade elucida a associação entre as características genéticas e o ambiente como os principais fatores envolvidos na sua gênese. Esta hipótese ressalta a possibilidade das populações apresentarem-se geneticamente mais suscetíveis à obesidade e quando associado a determinados fatores ambientais, potencializam o evento (Pinheiro et al., 2004).

Provencher et al. (2005) também afirmam que genética, ambiente, comportamento e fatores sociais estão envolvidos no desenvolvimento da obesidade e que o ambiente familiar pode exercer papel chave na formação do comportamento alimentar de crianças.

A obesidade é atribuída a padrões de dieta e características comportamentais que atuam sobre a base genética do indivíduo, a qual determina a susceptibilidade ao ganho de peso e às doenças relacionadas à obesidade (Lyon et al., 2005). Contudo, as rotas genéticas que participam desta determinação ainda não foram elucidadas (Henn, 2006).

A associação entre obesidade e história familiar, realizada em alguns estudos, mostrou que a obesidade dos pais é preditora de obesidade nos filhos. Em estudo realizado em Pelotas, com amostra populacional representativa de indivíduos com idade entre 20 e 69 anos, aqueles que referiram ter ambos os pais obesos apresentaram um risco de obesidade quase duas vezes maior do que os participantes cujos pais não apresentavam esta característica (Gigante et al., 1997).

Park et al. (2004) avaliaram a influência familiar nos fenótipos relacionados à obesidade e examinaram a diferença entre os gêneros dos filhos adolescentes neste contexto e observaram que a obesidade dos filhos foi mais significativamente correlacionada com as mães do que com os pais, sendo a agregação familiar para obesidade das filhas apresentaram significativamente mais forte com seus pais que os filhos.

Resultado similar foi identificado em estudo longitudinal com aproximadamente 155 meninas e meninos nascidos na Austrália e seus respectivos pais. O risco de sobrepeso, aos 20 anos de idade, foi cerca de quatro vezes maior que os participantes que tinham ambos os pais obesos, em comparação àqueles cujos pais tinham peso adequado (Magarey et al., 2003).

Estudo que investigou a associação entre o IMC dos pais e excesso de peso de crianças e adolescentes, na cidade do Rio de Janeiro, identificou que o IMC materno foi um preditor independente do excesso de peso nos filhos (Marins et al., 2004).

O substancial aumento na prevalência de excesso de peso, entretanto, sugere que, sobre esta predisposição ou suscetibilidade genética para obesidade, incidam fatores ambientais relacionados ao estilo de vida (Marques-Vidal et al., 2002).

Fuentes et al. (2002) investigaram a AF para IMC em uma amostra de 184 familías apresentando filhos jovens, destas apenas 144 foram analisadas. Observaram alta proporção de crianças com excesso de peso quando a mãe era obesa e quando um ou ambos eram obesos. Este estudo confirmou a existencia da AF. A consistente relação da obesidade entre mães e filhos pode indicar seu papel chave na prevenção primaria da obesidade.

Guillaume et al. (1995) estudaram obesidade em crianças (6 a 12 anos). Foram coletadas informações sobre peso ao nascer, peso e estatura dos pais, assim como problemas relacionados à obesidade em avós. O IMC foi fortemente correlacionado entre crianças e seus pais. No entanto, problemas de obesidade dos avós foram relacionados com o IMC dos pais e também com o índice de obesidade nas crianças. Concluiu-se que a obesidade é prevalente em famílias com predisposição e pode ser traçada através de três gerações. O consumo energético é elevado e o nível de atividade física é baixo nestas crianças. Entretanto, análises estatísticas sugerem que fatores familiares exercem um importante impacto comparando os fatores ambientais no IMC das crianças. Sugerindo forte influencia genética para a obesidade nesta população.

Mirmiram et al. (2002) objetivaram esclarecer a hipótese de que o consumo alimentar dos pais estaria associado com o IMC de seus filhos em 117 famílias, n=474 incluindo 240 filhos de 3 a 25 anos. Observaram uma prevalência de excesso de peso de 11,8% nos filhos de pais com peso normal; de 19% nos filhos de pais com excesso de peso e mães com peso normal; de 25,4% dos filhos e mães com excesso de peso e de pais com o peso normal; de 40,8% dos filhos com ambos os pais com excesso de peso. Após ajuste pelo sexo, as chances de filhos apresentarem excesso de peso foram mais elevadas nas mães obesas (OR=3,8; IC95%1,5-9,2) e que apresentaram elevado consumo energético (OR=2,6; IC95%1,2-5,6); e nos pais que apresentaram elevado consumo energético (OR=2,0; IC95%1,1-3,9) quando comparados aos filhos de pais que não apresentaram excesso de peso (OR=2,1; IC95%1,5- 3,6) e vice-versa (OR=1,8; IC95%1,2-2,8).