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O aumento na prevalência de obesidade no Brasil e no mundo tem grande dependência dos fatores ambientais (Vieira et al., 2008).

Bouchard e Perussé (1988) estudaram a importância relativa dos componentes genéticos e não genéticos herdados e efeitos não transmissíveis no fenótipo IMC após controle por idade e gênero. Os dados obtidos de 1698 indivíduos de 409 famílias, revelram uma variância total transmissível através das gerações de aproximadamente 35%, porém um efeito genético de apenas 5%. A importância da variância não transmissível, aproximadamente de 65%, pode ser devido particularmente ao fato de padrões próprios de transmissão serem contribuídos pelo fenótipo ou que o IMC seja susceptível a condições ambientais e de estilo de vida. Portanto, de maneira geral, estes dados indicam que o IMC não é caracterizado por um componente hereditário significante (Bouchard, 1991).

Segundo Pi-Sunyer (2002), a variação do IMC pode ser 30 a 40% atribuído pela genética e 60% a 70% por fatores ambientais. Logo, a interação entre a genética e os fatores ambientais também é importante.

Pinheiro et al. (2004), deduzem que 67% da variação do IMC sejam determinados pelo ambiente. Portanto, parece correto afirmar que mesmo que a obesidade evolua dentro das restrições genéticas, os determinantes ambientais desempenham um papel predominante no desenvolvimento desta doença.

É no ambiente familiar que são transmitidos os hábitos, atitudes e valores culturais aceitos em uma determinada sociedade ou classe social. Essa idéia de que os progenitores exercem forte influência em seus descendentes, se tornando agentes de socialização e modelo de referencia para os hábitos e em diversos aspectos da vida é plenamente aceita (Maia et

al.,2004).

A AF da obesidade nos indivíduos resulta da interação entre fatores dietéticos e ambientais associados à predisposição genética (Francischi et al., 2000). As evidências são insuficientes para estabelecer se e como os fatores ambientais poderiam influenciar no habito de uma dieta obesogênica. Os fatores ambientais influenciam na disponibilidade de alimentos, os fatores sociais e culturais. O consumo alimentar sofre influencia dos hábitos alimentares familiares, tanto em relação ao tipo de alimento, quanto à quantidade de calorias ingeridas (Vieira et al., 2008).

A conduta alimentar representa um conjunto de ações que estabelecem relação do ser humano com os alimentos. Se aceita geralmente que os comportamentos frente da

alimentação se adquirem através da experiência direta com a comida, pela imitação de modelos, da disponibilidade de alimentos, a condição social, os simbolismos afetivos e as tradições culturais. Além das influências sociais, as influencias genéticas e familiares compartilhados, tem um impacto relevante sobre o padrão da ingestão , da conduta alimentar e da obesidade infantil. Os estudos sobre ingestão de alimentos e obesidade tem se concentrado principalmente em determinar a quantidade e o tipo de alimento da dieta habitual, apresentando resultados controversos (Domínguez-Vásquez et al., 2008).

Esta interação entre fatores genéticos e ambientais partilhados entre membros da família é observada por Pérusse et al. (2000) no seu estudo que relacionou medidas antropométricas e AF na gordura subcutânea (Pérusse et al., 2000).

Deste modo, as investigações sobre AF em famílias nucleares têm como finalidade averiguar a transmissão do patrimônio genético e cultural entre pais e filhos. Segundo Fermino (2007) “a existência da agregação pode ser verificada pela maior semelhança fenotípica entre pais do que entre indivíduos não aparentados e a sua magnitude pode ser estimada pela correlação fenotípica entre pares de indivíduos”. Esta semelhança ou diferença fenotípica pode ser vista mesmo entre pais, onde a relação entre pais-filhos (primeira e segunda geração) em uma família nuclear parece ser maior do que na relação entre avós-netos (primeira e terceira geração) em um pedigree extenso (Fermino, 2007).

A agregação pode ser verificada através da interpretação da grandeza dos coeficientes de correlação (r) entre membros da família, intraclasse para membros do mesmo sexo e plano geracional e interclasse a todos os outros; e como conseqüência da avaliação destes resultados se obterá informações acerca dos efeitos genéticos nesta população (Fermino, 2007).

Em famílias nucleares é possível calcular oito correlações: cônjuges, pai-filho, pai- filha, mãe-filho, mãe-filha, irmão-irmão, irmã-irmã e irmão-irmã. Se multiplicarmos o valor do r por 100, criando um percentual, teremos uma medida que expressará o quanto da variação total do fenótipo é regida por fatores compartilhados por cada membro da família, tornado claro as diferenças nos padrões de semelhança ou AF (Maia et al., 1999; SAGE, 2008).

Estudos familiares têm sido realizados com o objetivo de distinguir fatores ambientais de fatores genéticos nas causas da agregação, envolvendo práticas alimentares, procurando verificar a presença indireta de transmissão vertical de fatores genéticos e ambientais entre progenitores e descendentes nos diferentes fenótipos das dislipidemias e também dos padrões de consumo alimentar (Pérusse et al., 1988; Feunekes et al., 1998; Ellison et al., 1999; Faith

Resultados do estudo biracial Lipid Research Clinics Princeton School District Study em concordância com outras pesquisas sugerem a existência de concordância familiar na ingestão calórica (Laskarzewski et al., 1980; Pérusse et al.,1988; Oliveria et al., 1992).

Estudo realizado por Feunekes et al. (1998) mostrou semelhanças no consumo de alimentos gordurosos entre pais e filhos e também entre os cônjuges. Nesta população, os amigos não parecem ter muita influência no consumo de gorduras destes adolescentes e adultos (Feunekes et al., 1998).

Pérusse et al. (1988) observaram presença de agregação familiar na ingestão energética, sugerindo fraca contribuição da hereditariedade e confirmaram o fato de que o ambiente familiar é responsável pela semelhança no consumo (Pérusse et al., 1988).

Faith et al. (2004) investigaram o consumo de energia em crianças e a agregação familiar e concluíram que a associação familiar e a ingestão total de energia e macronutrientes, independente das medidas antropométricas, sugerem influências genéticas ou ambientais (Faith et al., 2004).

Wada et al. (2006) investigaram até que ponto as histórias familiares de dislipidemia, diabetes e hipertensão aumentam o risco de agregação destes transtornos. Verificaram que indivíduos com a presença destas alterações metabólicas na família desenvolveram um ou mais de um destes transtornos e que a história materna foi mais fortemente associada do que a paterna para o desenvolvimento destas patologias (Wada et al., 2006).