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Niterói é um município da região metropolitana do Rio de Janeiro, com uma área territorial de 132km2 e uma população de 458.465 habitantes, segundo o Censo/IBGE 2000. Apesar de registrar bom nível de instrução de sua população, uma taxa de urbanização de 100% e uma renda média e potencial de consumo elevado, apresenta grandes desigualdades sociais, coexistindo, em alguns espaços, condomínios de alto luxo e áreas favelizadas, características do fenômeno de metropolização da pobreza (Senna e Cohen, 2002). Porém, Niterói proporciona uma boa qualidade de vida para a população, demonstrada através de alguns indicadores gerais como baixas taxas de analfabetismo e de mortalidade infantil, renda média mensal de 7,4 salários mínimos, expectativa de vida de 70 anos, entre outros. Apesar dessas características positivas, estima-se que uma parcela de aproximadamente 26% da população do município (120.000 hab.) pode ser considerada de risco social (Terra & Malik, 1998).

A medicina familiar constitui-se uma nova forma de entender, aplicar e interpretar o processo saúde-doença. Tem como princípio básico a acessibilidade de serviços de saúde a uma determinada comunidade, oferecendo uma assistência centrada no perfil e nas necessidades da população (Teixeira et al., 1999).

Em 1991 concretizou-se um conjunto de decisões políticas para adaptar em Niterói a experiência cubana de medicina familiar e, a partir dessa etapa, foram desenvolvidos estudos preliminares que culminaram na implantação do primeiro módulo do município em setembro de 1992 (Teixeira et al., 1999). Portanto, Niterói vivencia, desde 1992, a construção de um modelo de atenção que implementou os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), o PMF (Hübner et al., 2007). Dessa forma, a abrangência do PMF de Niterói, facilita a compreensão dos fenômenos por meio da conjunção do saber clínico, epidemiológico social, na perspectiva da qualidade de vida da população. Neste modelo, a acessibilidade dos serviços a uma determinada comunidade, combinada com o diagnóstico local, oferece uma assistência centrada no perfil e nas necessidades da população (Teixeira et al., 1999).

Na implantação de módulos do PMF de Niterói, são priorizadas as áreas onde se concentra população considerada de risco social. Os 13 módulos já implantados atingem uma

população de 46.000 habitantes, o que representa 40% do total da meta a ser alcançada (Terra & Malik, 1998). A seleção de áreas para a implantação do modelo tem sido norteada pela organização social das Associações de Moradores e por fatores de risco locais. As micro- regiões territoriais encontram-se em bairros onde residem populações de risco social, biológico, epidemiológico e ambiental, levando-se em consideração ao selecioná-las a renda familiar, as condições concretas de trabalho, de subsistência, os problemas de saúde identificados nas pessoas ena coletividade, a estrutura sanitária, a demografia e, conseqüentemente, o risco de adoecer (Teixeira et al., 1999).

O PMF de Niterói constitui uma estratégia de eqüidade, uma vez que implantado nas áreas de maior risco social e ambiental do município, privilegiando moradores com renda familiar mensal inferior a cinco salários mínimos (Hübner et al., 2007). Os principais objetivos deste programa são a mudança do modelo de atenção vigente e proporcionar assistência integral à saúde da população, com ênfase nas atividades de prevenção e de promoção. O meio adotado para atingir tais objetivos foi a utilização de médicos generalistas e o investimento na capacitação e na educação continuada desses profissionais, que devem ser capazes de resolver cerca de 70% dos problemas de saúde de sua área de abrangência. Além disso, a equipe de saúde também deve atuar no plano coletivo, com um “olhar integral” sobre o indivíduo, sua família, a comunidade e as questões ambientais, sociais e econômicas que influenciam o estado de saúde da população da área de cobertura, tais como educação, abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo, processo de urbanização etc (Terra & Malik, 1998).

A operacionalização do Programa ocorre da seguinte forma: a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia desenvolveu um estudo inicial referente aos aspectos demográficos e sócioeconômicos da região, definindo a área de abrangência de cada módulo, que é dividida em setores com 200 a 250 famílias (totalizando um máximo de 1.200 pessoas). Logo após, é feito o cadastramento das famílias de cada setor, que serão acompanhadas por uma equipe composta de um médico 5 generalista e um auxiliar de enfermagem, devendo este último residir na comunidade. Cada módulo é constituído por três ou quatro equipes, atendendo uma clientela de cerca de 5.000 pessoas (Terra & Malik, 1998).

As atividades das equipes básicas são divididas entre visitas domiciliares e atendimentos em consultório (tanto da demanda espontânea quanto da programada), sendo apoiadas e complementadas por um grupo de supervisão multidisciplinar, que tem as funções de realizar interconsultas (atendimentos conjuntos com o médico do módulo), desenvolver a capacitação

de recursos investidos na rede de assistência à saúde, cerca de 10% são utilizados na implementação do PMF. A fonte destes recursos é integralmente municipal. Uma das principais características do PMF é servir como agente de transformação da sociedade, contribuindo para o resgate da cidadania. O trabalho de educação desenvolvido pelas equipes, tanto nos módulos como nas visitas domiciliares, envolve a comunidade e a torna co- responsável nas tarefas de prevenção e promoção de saúde, ao mesmo tempo em que promove uma maior aproximação e integração da equipe de saúde com a população da área. O Programa estimula a participação ativa da comunidade, através das associações de moradores e dos conselhos de saúde, no processo de tomada de decisão relativo a questões que influenciam indiretamente o estado de saúde da população, como ações sobre o meio ambiente ou na área de educação. Uma das vantagens do PMF é atender a um dos principais preceitos do Sistema único de saúde (SUS), o da eqüidade, além de proporcionar à sua clientela um atendimento humanizado e de boa qualidade (Terra & Malik, 1998).

O PMF procura realizar os princípios do SUS, buscando articular o saber da vigilância à saúde, a clínica exercida pelas equipes de PMF e de supervisores, com os elementos que constituem uma rede social de proteção à saúde. Assim, a integralidade da ação é facilitada pela inserção das equipes no contexto de vida dos usuários, a partir do processo de cadastramento das famílias feito pelas mesmas e do trabalho de campo diário, que facilita a compreensão dos determinantes do processo saúde/doença (Hübner et al., 2007).