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CAPÍTULO IV CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DA MATALA

4.7. Sistema Económico e Produtivo

4.7.1. Agricultura, Pecuária e Pesca

O sector agrícola é muito importante para a economia do município, proporcionado fortemente pelo potencial dos recursos hídricos, visto que, o território da Matala é atravessado em toda a sua extensão pelo rio Cunene. Com cerca de 413267 hectares de terra arável para a prática da agricultura tanto de sequeiro como irrigada, o município produz cereais e horto frutícolas. No entanto, a agricultura empresarial com carácter exclusivamente comercial ou industrial tem, ainda, uma expressão reduzida. Na década de 70 do século XX, existiam fábricas de descasque de arroz, a CIMOR (Companhia de Moagens e Rações) e a Brigada Técnica do Cunene, que fazia a gestão do perímetro irrigado e dava assistência técnica aos agricultores.

É de referir, que devido à falta de técnicos, em virtude destes terem abandonado a região, como consequência do conflito armado que se registou pós Independência, bem como a escassez de matéria-prima, estas fábricas viram o seu funcionamento reduzido em cerca de 20% ou mesmo parado (administração municipal da Matala, 2009). Por outro lado, estes fatores provocaram também uma baixa significativa de produção agrícola na Matala.

Atualmente a atividade agrícola está concentrada no Perímetro Irrigado de Matala (PIM). Dados estatísticos da administração municipal (2017), apontam uma média de produção agrícola anual de 107000 toneladas de diversos produtos, sendo 70000 toneladas de cereais, 25000 toneladas de tubérculos e 12000 toneladas de hortícolas. Apesar das dificuldades que os produtores enfrentam, nomeadamente, escassez de água principalmente na estação seca, falta de insumos agrícolas, apoio técnico, créditos, entre outros, eles envidam esforços para manter níveis de produção que satisfaçam as suas necessidades e o excedente para a comercialização conforme ilustram as imagens das Figuras 4.30 e 4.31.

Figura 4. 30: Produtores no PIM, empenhados na produção. Fonte: Autor (2017)

Figura 4. 31: Comercialização do excedente no mercado informal. Fonte: Autor (2017)

Perímetro Irrigado de Matala (PIM)

O PIM (Perímetro Irrigado da Matala) e a barragem hidroelétrica, constituem fatores impulsionadores para o desenvolvimento da agricultura e pecuária. O PIM está localizado entre as Coordenadas Geográficas 14°70΄60΄΄S e 15°08΄19΄΄E, na margem direita do Rio Cunene. Com uma área de 10732 hectares, destes 6.831 hectares para exploração agrícola e 3.901 hectares reservados para o desenvolvimento pecuário.

O canal adutor (Figura 4.32), construído nos anos 50 do século passado e reabilitado em 2001, estende-se ao longo da margem direita do rio Cunene, numa extensão de 42.6 Km, controlado por uma comporta automática de acionamento hidráulico, a partir da barragem hidroelétrica da Matala. A gestão do empreendimento é feita pela SODEMAT20 (Sociedade de Desenvolvimento de Matala)

20

Figura 4. 32: Canal adutor do Perímetro Irrigado da Matala. Fonte: Autor (2016)

Do canal adutor principal, dimensionado para uma capacidade máxima de 5,4m³/s, partem outros canais (secundários e terciários), que irrigam toda área do perímetro abrangendo uma extensão de 181 quilómetros. Existem ainda no município, pequenos regadios (sistemas de irrigação coletivos), praticados pelos produtores tradicionais com poucos recursos financeiros, abrindo furos, poços ou rios, utilizando motobombas para captar água ou construindo diques de derivação, e chimpacas. De referir que, não tem sido fácil manter a operacionalidade destes pequenos sistemas por longo tempo, devido à rápida degradação e por falta de apoio material, financeiro e técnico, tornando assim, impossível a manutenção dos mesmos.

Infraestruturas e equipamentos do PIM

Quadro 4.8 apresenta os equipamentos que compõem o sistema de irrigação do PIM Quadro 4. 8: Infraestruturas e equipamentos que compõem o sistema de irrigação do PIM.

Fonte: SODEMAT (2016)

Infraestrutura/ equipamentos Quantidade/extensão Sectores de captação de água para a irrigação 18

Aquedutos 2

Passagens hidráulicas 33

Sistemas de Controlo de vazão 8

Extravasores de emergência 9

Descarregadores de fundo 9

Extensão da rede elétrica 21,7 Km

O empreendimento conta com um parque agroindustrial (complexo de silos, câmaras de conservação, fábrica de processamento de tomate), bem como outras infraestruturas de carácter social. A fábrica de processamento de tomate com uma capacidade de processamento de 12.400 toneladas por ano, constitui-se numa unidade agroindustrial promissora, que poderá contribuir para o aumento do rendimento dos agricultores, a criação de emprego, bem como para o desenvolvimento do perímetro. Porém, até á presente data encontra-se paralisada, por falta de manutenção e peças de reposição.

O complexo de silos pode armazenar até doze mil toneladas, distribuídas em três naves de quatro mil toneladas cada. Esta infraestrutura tem um impacto positivo para os produtores, pois aumenta o stock de cereais para épocas de escassez, além de reduzir as perdas pós colheita, o que pode contribuir para a regulação de preços no mercado e promoção da produção de cereais.

A conservação de produtos agrícolas, é assegurada por cinco câmaras frigoríficas (três internas e duas externas), instaladas nos arredores da comuna de Capelongo. As três câmaras internas ocupam uma área de 1.150,55 m2, com uma capacidade de armazenamento de 1239,3 toneladas, enquanto as câmaras externas ocupam uma área de 576 m2 com uma capacidade de armazenamento de 403,2 toneladas.

O perímetro irrigado da Matala dispõe de uma estação climatológica, porém, esta encontra-se desativada por falta de manutenção e de peças de reposição. As imagens da Figura 4.33 ilustram as infraestruturas afetas ao PIM.

Figura 4. 33: Infraestruturas do Perímetro Irrigado da Matala. Fonte: SODEMAT (2016) e Autor (2018)

A SODEMAT, distribuiu em 2013 a cada agricultor, parcelas de terra com dimensões entre 2,5 e 25 hectares, de acordo com a capacidade financeira de cada produtor. Dos 6 831 hectares propostos para a exploração agrícola, estão loteados no total de 5547,5 hectares em parcelas conforme ilustra a Figura 4.34.

Figura 4. 34: Esquema de parcelas agrícolas no Perímetro Irrigado da Matala. Fonte: SODEMAT (2016)

A área destinada à exploração agrícola conta com três sistemas de irrigação nomeadamente por aspersão, gota a gota para área de 450 hectares e por inundação para 6381 hectares, conforme mostra a Figura 4.35.

Figura 4. 35: Sistemas de irrigação no Perímetro Irrigação da Matala Fonte: Adaptado de SODEMAT (2016)

Existe a nível do município cerca de 33 cooperativas e 71 associações de camponeses. A Sociedade de Desenvolvimento da Matala, controla 662 produtores, organizados em 7 cooperativas agrícolas (Quadro 4.9).

Quadro 4. 9: Distribuição de produtores por cooperativas e as respetivas áreas agrícolas. Fonte. Adaptado de SODEMAT (2016)

Nome da Cooperativa Número de agricultores Área (ha)

1º de Maio 130 440,7 1º de Dezembro 82 721,2 Rainha Njinga 81 123,7 C. Cowboy 84 215,3 Baixo Cunene 56 123,1 A. Materno 64 99,5 11 de novembro 165 404,5 Total 662 2128,0

No PIM é possível realizar duas épocas de sementeiras. A primeira inicia-se em outubro, quando as culturas de sequeiro são implantadas e a segunda época começa em março, com a plantação das culturas de regadio. A preparação dos solos (Figura 4.36) é assegurada por 54 tratores, sendo 30 pertencentes à gestora do perímetro e 24 às cooperativas, adquiridos com financiamentos do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA).

Figura 4. 36: Preparação do solo no Perímetro Irrigado de Matala. Fonte: Autor (2016)

No âmbito dos trabalhos de campo, um engenheiro da SODEMAT, informou-nos da existência de solos no PIM, pobres em principais nutrientes, baixo teor de matéria orgânica. Por outro lado, acrescentou também que, algumas parcelas apresentam solos ácidos, necessitando de correção, com calcário dolomítico e adubos orgânicos. A nível do

perímetro existem em pequena escala, solos com restrições para a exploração agrícola (solos pedregosos e solos alagados).

Pecuária

A pecuária constitui um dos principais pilares de desenvolvimento económico do município. Ela assume um importante papel proeminente para a segurança alimentar, garantindo o autoconsumo da população. Desde tempos ancestrais na região do sul de Angola, a riqueza de um chefe de família, é medida pela quantidade de cabeças de gado possuídas. Ou seja, o gado constitui-se numa das mais importantes fontes de alimentação, de riqueza e elemento de prestígio e essencial para os requisitos cerimoniais e rituais.

A nível do território da Matala, predomina a bovinicultura e a caprinicultura

(Quadro 4.10). Esta atividade é praticada em toda a extensão do município, em maior escala por criadores tradicionais, existindo também alguns fazendeiros, com gado melhorado. De acordo com a estimativa dos efetivos pecuários, apresentada pela administração municipal, a comuna com maior quantidade de animais é o Mulondo, sendo esta comuna que dispõe de condições propícias (climáticas, do solo e dos pastos naturais) para a prática desta atividade (Quadro 4.10).

A assistência zoo- sanitária tem sido garantida pelos serviços veterinários, que estão representados em todas as comunas.

Quadro 4. 10: Distribuição de efetivos de gado por comuna em 2016. Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da administração municipal (2017)

Comuna Bovinos Caprinos Suínos

Matala-Sede 25250 2000 3550 Capelongo 26200 15000 1400 Micosse 33250 17000 3200 Cuvelai 20500 3000 850 Mulondo 73800 103000 11000 Total 179000 140000 20000

Figura 4. 37: Áreas de pastos no Perímetro Irrigado da Matala. Fonte: Autor (2017)

Pesca

A Matala dispõe de algumas potencialidades para a atividade piscatória. O rio Cunene e os seus afluentes (Quê e Calonga), oferecem condições para a prática desta atividade. Ao longo desta região, existem condições para a aquacultura. Segundo as informações colhidas junto dos técnicos da administração municipal, existem cerca de 590 pescadores distribuídos em 7 Associações. Atualmente as associações carecem de apoios, para o desenvolvimento deste sector. O desenvolvimento de projetos sustentáveis de aquacultura, a concessão de créditos, entre outros incentivos, são fatores essenciais para alavancar este setor de economia.