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Aplicabilidade, discrepâncias e limites do modelo DPSIR

CAPÍTULO III – INDICADORES E MODELOS DE AVALIAÇÃO DA

3.3. Principais modelos conceptuais para a construção de indicadores ambientais

3.2.2. Aplicabilidade, discrepâncias e limites do modelo DPSIR

O modelo DPSIR foi aplicado em várias pesquisas científicas, tanto em ecossistemas aquáticos, como terrestes. Neste sentido, Soares et al. (2011b), reviram a estrutura do modelo DPSIR, com o objetivo de aprimorar o processo de tomada de decisão da gestão de comités de gestão de bacias hidrográficas do Brasil. Os autores, confirmaram a abrangência do modelo DPSIR, no que concerne à sustentabilidade, o que constitui a peça fundamental do processo de decisão da gestão de bacias hidrográficas.

A estrutura DPSIR para Patrício et al. (2016), foi a mais usada como meio de estruturação e análise de informações em gestão e tomada de decisão em todos os ecossistemas. Neto (2013), realizou o diagnóstico ambiental da bacia hidrográfica do rio Guaribas, nordeste do Brasil, através de aplicação de indicadores no modelo DPSIR, com finalidade de entender a complexidade dos sistemas ambientais. Os resultados segundo o autor, comprovaram a relevância da aplicabilidade do referido modelo, pois proporcionou uma análise integrada dos problemas socioambientais.

(Pinto et al., 2013), usaram DPSIR para rastrear alterações induzidas pela atividade antrópica na estrutura e função das zonas húmidas de transição do estuário do Mondego (Portugal), com o objetivo de ajudar a elaborar políticas, fornecer informações sobre a interação entre os usos concorrentes de recursos de estuários e as suas funções ecológicas.

Azevedo et al. (2013), também aplicaram o quadro DPSIR para avaliar o declínio do ecossistema de ervas marinhas na Ria de Aveiro (Portugal). Os autores identificaram as principais forças motrizes, tais como as atividades portuárias e a pesca, estas ligadas às pressões de dragagem, construção de quebra-mar e escavação, causando desta maneira mudanças nos sedimentos e na hidrodinâmica da Ria que, levaram ao declínio dos prados das ervas marinhas, cujos impactos foram a perda de bens e serviços do ecossistema, associados à perda de habitat e diversidade de espécies.

Newton e Weichselgartner (2014), identificaram quatro hotspots costeiros de vulnerabilidade, usando o DPSIR para examinar as causas antropogénicas da vulnerabilidade costeira e as consequências das mudanças costeiras. Os autores recomendaram as respostas apropriadas que deveriam ser implementadas. Por exemplo, aumentar as capacidades de mitigação de desastres, melhorar a previsão de perigo, adequar

e ajustar as infraestruturas de desenvolvimento económico aos perigos potenciais, bem como aumentar a capacidade de resposta e adaptação das pequenas ilhas através da conectividade entre escalas.

Gari et al. (2015) e Gari et al. (2015b), aplicaram o quadro DPSIR, apoiado por um Sistema de Informação Geográfica (SIG) para propor um sistema de gestão costeira com intuito de resolver conflitos entre objetivos de desenvolvimento e conservação no estuário do Sado, em Portugal. Com esta estrutura os autores puderam usar um conjunto extenso de dados (hidrográficos, geomorfológicos, fontes de contaminação, qualidade de água, sedimentos, biota, biodiversidade, conflitos de uso do solo, aspetos socioeconómicos e planeamento do uso da terra), que auxiliaram a caracterização ambiental do estuário. Eles afirmam que a integração dessa ferramenta de gestão com modelos ecologicamente dinâmicos facilitará a previsão de zonas no estuário vulneráveis a uma pressão específica. O Quadro 3.7 apresenta alguns trabalhos científicos realizados aplicando os modelos conceptuais.

Quadro 3. 7: Exemplos de trabalhos científicos realizados aplicando os modelos conceptuais Fonte: Adaptado de Gari, et al. , 2015b

Referência Evolução Descrição

OCDE, 1993 PSR Melhorado e utilizado pela OCDE em 1993 para avaliar o desempenho ambiental.

EEA, 1995 DPSIR Desenvolvido pelo EEE em 1995 e utilizado na avaliação Dobris do ambiente europeu.

Rekolainen et al., 2003 DPCER C e E indicam estado químico e ecológico, respetivamente. Elliot et al., 2006;

Turner et al., 1998)

DPSIR Estado como mudança de estado do meio ambiente e / ou ecossistema.

ELME, 2007 mDPSIR A categoria impacto refere-se apenas ao impacto no bem-estar humano.

Kelble et al., 2013 DPSER O impacto é substituído por serviços ecossistémicos que contêm impactos negativos e positivos no ecossistema.

Cooper, 2013b; DPSWR O impacto é substituído pelo bem-estar social, enfatizando os impactos no bem-estar humano.

O anexo D apresenta publicações de trabalhos científicos, realizados entre 1993 e 2016, no âmbito dos modelos conceptuais, assim como o mapa de locais, onde foram realizados estudos.

Discrepâncias e limites do modelo

Apesar de o modelo conceptual DPSIR ter sido amplamente adotado, porém, ele também é alvo de muitas críticas. A estrutura DPSIR tem limitações em termos de clareza de definição de bases conceptuais (Cooper (2013), Gari et al. (2015), Lewison et al. (2016) e Elliott et al. (2017). Um dos fatores que contribuiu para as discrepâncias na aplicação deste modelo, reside na modificação da terminologia. Ou seja, variáveis idênticas, são muitas vezes colocadas em diferentes categorias, embora os pesquisadores usem as mesmas definições para as categorias (Gari et al., 2015a ; Gari et al., 2015e ; Patrício et al., 2016 e Elliott et al., 2017).

Importa realçar que, na presença de tecnologia altamente eco-eficiente, várias forças motrizes (Drivers), podem produzir menos pressão do que o esperado. Deste modo, e de acordo com Gari et al. (2015), o impacto sobre a sociedade e o meio ambiente depende da capacidade de carga e dos limiares do estado. A resposta social depende da perceção do problema pela sociedade. Desta forma, a avaliação do impacto, assim como a resposta podem variar.

O vazio deve-se a longa variação na interpretação, sobretudo entre cientistas naturais e sociais das diferentes componentes: Pressão/Pressure, Estado/State e Impacto/Impact e a simplificação excessiva dos problemas ambientais, de modo que as relações causa-efeito não possam ser bem compreendidas, ao tratar os diferentes elementos deste modelo (Gari et al., 2015). Segundo Oesterwind et al. (2016), vários estudos realizados nos últimos anos sobre mudanças ambientais em ecossistemas marinhos, usando a estrutura DPSIR, apontam para definições não uniformes e inconsistentes no que respeita à avaliação das causas ambientais (por exemplo força-motriz, ameaças, pressões, entre outros).

Neste sentido os autores recomendam o uso de definições unificadas para uma melhor comunicação entre ciência e gestão dentro de políticas ambientais nacionais, regionais e internacionais. O Quadro 3.8 apresenta exemplos de discrepâncias de definição na estrutura DPSIR.

Quadro 3.8: Exemplos de discrepâncias de definição na estrutura DPSIR. Adaptação de Gari et al. (2015)

Referência

Processos

Aquicultura Urbanização Invasão de

espécies Eutrofização Mudança do uso da terra Extração de água IMPRESS, 2003 Pressão

Newton et al., 2003 Estado

Bidone e Lacerda, 200 Forças motrizes

MEA, 2005 Forças

motrizes Borja et al., 2006 Forças

motrizes

Forças

motrizes Pressão

Pressão

Lin et al., 2007 Pressão Pressão Pressão

Spangenberg, 2007 Pressão Forças

motrizes

Haase e Nuissi, 2007 Pressão

Zaldívar et al., 2008 Forças motrizes

Forças Motrizes

Pressão

Omann et al., 2009 Pressão

Pinto et al., 2013 Forças

motrizes

Forças motrizes

Newton et al., 2014 Forças motrizes

Forças motrizes

Pressão Estado

Analisando o referido Quadro, podemos constatar que Borja et al. (2006) e Newton et al. (2014) sugerem que a aquicultura pertence à categoria das forças motrizes, enquanto que Lin et al. (2007) incluíram esse indicador na categoria de pressão. Da mesma forma, a urbanização foi identificada por Bidone e Lacerda (2004); Borja et al. (2006) e Zaldivar et al. (2008) como força motriz, para Lin et al. (2007) é uma pressão. MEA, (2005) e Pinto et al. (2013), consideram que a invasão de espécies é força motriz, outros autores (IMPRESS, 2003; Borja et al., 2006 e Newton et al., 2014) a consideraram como uma pressão.

Face à estas limitações, o quadro DPSIR, como afirma Bell (2012), carece da inclusão de uma multi- metodologia, para um maior utilização e impacto social de partes interessadas. Neste sentido, Gari et al. (2015f), recomendam o uso do modelo DPSIR em combinação com outros métodos.