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CAPÍTULO II ENQUADRAMENTO TEÓRICO, CONCEPTUAL E

2.1. O Crescimento Económico em Angola e a Sustentabilidade Ambiental

2.1.1. A situação económica e financeira

Angola registou um crescimento económico entre 2002 e 2008, assente na exploração dos recursos naturais, em particular, na exploração petrolífera e de diamantes. Segundo os dados estatísticos do PNUD-ANGOLA (2005) - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, em 2002 o crescimento económico situou-se em cerca de 3% ao ano, com o PIB (Produto Interno Bruto) per capita (PPC ) de aproximadamente de 2130,00 dólares americanos, tendo o rendimento nacional bruto per capita atingido 4580 dólares americanos (UNICEF/ANGOLA, 2015).

O Governo tinha por objetivo a transição de Angola para um país de rendimento médio em 2018. Porém, no período em referência, as políticas económicas e fiscais tiveram pouco impacto nas condições de vida da maioria da população. Em 2002, a inflação rondava os 100%, o que contribuiu para a desvalorização do poder de compra e dos salários dos funcionários públicos, tornando bastante difícil a sobrevivência da população pobre (PNUD-ANGOLA, 2005). A maioria da população continuou a ter acesso limitado,

ou nenhum, aos serviços, facto que acentuou a existência de disparidades tanto em termos de distribuição de rendimentos como de acesso aos serviços básicos.

Na visão de Rocha et al. (2017), os resultados do forte crescimento económico ocorrido entre 2002 e 2008, não foram distribuídos de uma forma igual, pois os dados estatísticos de 2008/2009 revelam que, 60% do PIB foram captados por menos de 20% da população. Tal como mostram os resultados de pesquisas realizadas pelo Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola, o ano de 2008 é o marco que divide duas épocas:2002/2008 com 5 anos de crescimento médio anual do PIB de 10,2% (12,8% para o PIB não petrolífero).

De acordo com o relatório do UCAN (2016), a crise económica, veio demonstrar estas fragilidades. Ou seja, a conjuntura económica e financeira, destapou as fragilidades institucionais e de gestão do Estado angolano. Pape (2016), afirma que a queda do setor petrolífero, resultado da desaceleração da economia global e de problemas técnicos em algumas refinarias, marcou profundamente a economia angolana, conforme mostra a Figura 2.1.

Figura 2.1: Comparação do crescimento do PIB Real (%). Fonte: Pape (2016), baseadoem FMI

Analisado este gráfico é notória o abrandamento da economia angolana nos últimos anos. Por exemplo, em 2014 registou-se um crescimento de 4,8%, em 2015 decresceu para 3% e em 2016 para 2,5%.

Apesar de todas as medidas de política económica (reformas estruturais de mercado) em curso, essas dinâmicas de crescimento económico não são espectáveis que venham a ocorrer até 2021 (Rocha, 2017). Em 2014, o setor petrolífero caiu para 2,6%,

mais do que em 2013 (-1,1%), enquanto o setor não petrolífero continuou a crescer, para valores de 8,2%, em desaceleração (+10,9% em 2013) e em 2015 a economia nacional ter desacelerado para 3,0% (Serra et al. 2016). Apesar dos esforços do Governo, na tentativa de fortalecer as instituições do país, registou-se uma fragilidade das mesmas, incluindo a capacidade dos recursos humanos.

A realidade económica e financeira vivida em Angola, encontra-se numa significativa dependência do petróleo, implicando tomada de medidas de carácter estrutural por parte do Governo angolano. Neste sentido e de acordo com o relatório do Ministério de Finanças -MINFIN (2017), o Governo adotou várias medidas de gestão conjunturais para diminuir os efeitos da queda do preço do petróleo, nomeadamente os de natureza fiscal e monetária e natureza comercial, bem como a adoção de medidas estruturais e institucionais para o reforço da resiliência financeira e económica do país.

Dentro das várias medidas apresentadas, Serra et al. (2016), refere as seguintes: (i) Revisão do orçamento aprovado em 2015;

(ii) Redução do preço médio do barril de petróleo, levando a que as despesas sejam significativamente reduzidas;

(iii) Ajuste das taxas diretoras do Banco Nacional de Angola (BNA) e das taxas de câmbio, para tentar conter a procura e restaurar a estabilidade económica. Depreciação da moeda em 15% e um aumento dos preços dos combustíveis acima de 30%;

(iv) Aumento do controlo sobre outros produtos exportados (recursos naturais extrativos, como minérios e rochas ornamentais) que fogem ao circuito oficial. Substituição de importações, nomeadamente em bens que integram o conjunto dos produtos essenciais de consumo básico;

(v) Flexibilidade do mercado cambial com a taxa de câmbio do país flutuante, permitindo que a taxa em vigor em qualquer momento seja uma taxa de equilíbrio;

(vi) Criação de um setor privado mais produtivo através da canalização de recursos previamente captados para financiamento público sob a forma de linhas de crédito e

(vii) Redução da despesa e controlo de um conjunto de impostos e ações que devem ser reforçados para aumentar as receitas fiscais não petrolíferas, tais como o imposto sobre operações financeiras de 0,1% e a cobrança do Imposto Predial Urbano.

Essas medidas e restrições condicionam fortemente os grandes projetos de infraestruturas. O ajustamento do orçamento feito em março de 2015, segundo Serra et al. (2016), contribuiu para reduções expressivas no consumo público, pois as despesas em bens e serviços e a despesa em investimento do setor público, sofreram uma redução substancial na ordem de 50% e 53%, respetivamente, refletindo-se numa dinâmica menos favorável para a atividade económica. Vários projetos e empreendimentos públicos foram adjudicados ao setor privado, como uma das formas de incrementar as receitas do Governo.

Por outro lado, esta situação veio comprometer a execução dos objetivos descritos no Plano de Desenvolvimento Nacional (PND) 2013/2017), de tal forma que, atendendo ao quadro macroeconómico, fruto da sistemática deterioração das finanças públicas e da limitada capacidade de manobra em termos de capitação de recursos, muitos projetos não foram concluídos (UCAN, 2016).

Com a implementação do novo PND 2018-2022 (Plano Nacional de Desenvolvimento 2018-2022), iniciado em 2018, o país entra num novo ciclo, - caracterizado por uma menor dependência do petróleo e por uma forte aposta na dinamização do sector privado da economia nacional, que visa a promoção das exportações não petrolíferas e a substituição das importações (MINFIN 2017). O PDN 2018-2022, constitui-se num instrumento de planeamento de médio prazo, é macro objetivo que está em linha com os objetivos do Plano Estratégico de Desenvolvimento Angola 2025, onde se incluem o desenvolvimento sustentável; a inclusão económica e social; a redução das desigualdades; o desenvolvimento humano; o bem-estar dos angolanos e a edificação de uma economia diversificada, competitiva, inclusiva e sustentável (MINFIN 2017).

Importa aqui realçar, que o PDN (2018-2022) foi realizado no âmbito do Sistema Nacional de Planeamento, na sequência do PND (2013-2017). O Quadro 2.1 apresenta as projeções do cenário macroeconómico para o período de 2018 a 2022.

Quadro 2.1: Cenário macroeconómico para 2018-2022 no âmbito do PDN-2018-2022 Adaptado do Ministério da Economia e Planeamento- MEP (2018) p.iv

Indicadores Unidade

Preliminar Projeções Média

2018-2022 2017 2018 2019 2020 2021 2022 PIB (Valor Nominal) mil milhões (Akz) 16.387,0 23.274,5 29.220,6 33.673,9 37.784,0 42.191,4 33.228,9 Taxa de Crescimento Real % -2,5 2,3 3,6 2,4 2,6 4,1 3,0 Sector de Petróleo e Gás % 0,7 2,0 1,7 -3,1 -5,8 -4,9 -2,0 Sector Petrolífero % -4,5 0,8 0,6 -3,6 -2,5 -4,5 -1,8 Sector do Gás % 410,7 18,5 14,0 1,8 -36,0 -10,8 -2,5 Sector Não Petrolífero % -2,6 2,4 4,4 5,0 6,2 7,5 5,1

As projeções apontam que entre 2018 e 2022 a economia angolana cresça a uma taxa média de 3%, em termos reais, com uma aceleração do sector não petrolífero e a estabilização do produto petrolífero (MEP, 2018). Neste âmbito, são apontados os principais motores do crescimento e as respetivas taxas médias nomeadamente: a agricultura (8,9%), as pescas ( 4,8%), a indústria transformadora (5,9%), a construção (3,8%) e serviços, incluí o turismo (5,9%) (MEP, 2018).