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PARTE IV – O CURSO DE PEDAGOGIA PEC/MSC/PRONERA DA UFPB

5.5 Agriculturas produzidas nos assentamentos

É necessário ressaltar a importância da produção para o sustento familiar nos assentamentos, pois esta caracteriza a forma como os camponeses lidam com a terra e dela tiram o seu alimento uma vez que ao contrário da empresa capitalista que tem como meta a obtenção de lucro e por isso produz em grande escala uma única cultura, os agricultores familiares produzem diversas culturas, pois eles trabalham na terra para viver nela. “O modo camponês de fazer agricultura não está separado do modo de viver da família” (CARVALHO; COSTA, 2012, p. 26). Essa característica do homem do campo está presente nos depoimentos dos 09 (nove) educadores; vejamos nas falas selecionadas abaixo:

Eu sou filho de agricultor, meu pai é agricultor, minha mãe é agricultora, todos nós somos agricultores, apesar de eu agora ser formado, o primeiro na geração de meu pai, da minha mãe, talvez dos meus avós [...] e aí plantamos feijão, milho, mandioca, as culturas mesmo, típicas da agricultura familiar (EHNS26).

Sim, a gente cultiva, planta, banana, macaxeira, feijão, milho, mandioca [...] sim, aí milho eu já falei, milho, coco, a gente planta também abacaxi, por conta que na nossa terra tem uma parte areiusca na frente, aí a gente aproveita e planta abacaxi, nessa parte. Planta batata-doce, fruta, caju, manga, laranja, limão, jaca, tem muita é acerola, graviola, me deixe ver o que é que tem mais ali, seriguela, têm muitas frutas a gente planta muitas frutas (EMR25).

Eu não lido, eu convivo mais eu não sei muito o que é o roçado não, agora minha mãe, com certeza planta, planta feijão, planta milho, planta batata, inhame, essas coisas assim, agora ela está um pouquinho parada por causa do verão (EMG30).

Conforme as falas dos educadores sobre o que é produzido nos assentamentos percebe-se que há uma diversificação de cultivos, como plantações de feijão, milho, batata, inhame, macaxeira, além de fruticulturas e criações, que são utilizados tanto para o uso direto da família como para venda do excedente da produção. O modelo de agricultura produzida nos assentamentos caracteriza o modo de viver dos assentados e assentadas da Reforma Agrária confirmando o confronto existente entre a lógica camponesa e a capitalista de se fazer agricultura uma vez que a primeira produz para o consumo do grupo familiar e a segunda produz para atender ao mercado. “Quando o capital se apropria da terra, esta se transforma em terra de negócio, em terra de exploração do trabalho alheio; quando o trabalhador se apossa da terra, ela se transforma em terra de trabalho. São regimes distintos de propriedade, em aberto conflito um com o outro” (MARTINS, 1982, p. 60).

Ainda sobre essa questão Martins (1982, p. 59) aponta:

A propriedade familiar não é propriedade de quem explora o trabalho de outrem; é propriedade direta de instrumentos de trabalho por parte de quem trabalha. Não é propriedade capitalista; é propriedade do trabalhador. Seus resultados sociais são completamente distintos, porque nesse caso a produção e reprodução das condições de vida dos trabalhadores não é regulada pela necessidade de lucro do capital, porque não se trata de capital no sentido capitalista da palavra. O trabalhador e lavrador não recebe lucro. Os seus ganhos são ganhos do seu trabalho e do trabalho de sua família e não ganhos de capital, exatamente porque esses ganhos não provêm da exploração de um capitalista sobre o trabalhador expropriado dos instrumentos do trabalho.

Diante da colocação acima podemos dizer que a relação do homem rural com o seu trabalho na terra não tem por objetivo maior a obtenção de lucro e sim uma forma de garantir o sustento da sua família permitindo sua manutenção na terra e reprodução social, característica esta que caminha em sentido oposto aos anseios dos grandes proprietários de terra que têm a terra como mercadoria visando aumentar cada vez mais o seu capital (lucro). Para os camponeses a terra tem um valor significativo porque ela produz vida, ela é fonte de vida, o lugar de trabalho, de morada, enfim, é a base de tudo. Os 09 (nove) educadores falaram da importância da terra para o trabalho e para a vida nos assentamentos. Observando as falas a seguir podemos entender melhor a relação dos camponeses com a terra, representados aqui por estes educadores.

A terra tem se constituído como meio de viver livre, com autonomia. É por ela que a luta acontece, os trabalhadores/as lutam para ter um pedaço de terra para viver com sua família [...] Ela é fonte de vida, que transmite valores, é nela que trabalhamos para tirar o sustento, a terra para os trabalhadores é uma mãe e por isso merece ser cuidada, zelada e não destruída (EHNS26). A terra ela é uma fonte de vida, né? De liberdade no nosso caso, principalmente, porque era, vivíamos em vida de cativeiro, de opressão e hoje, com a terra, com o assentamento, a gente teve o que, criou liberdade, tivemos a liberdade de plantar, de colher, de trabalhar, que antes não se tinha, o trabalho era opressor e, hoje não, o trabalho é liberto, você é quem faz o seu planejamento pra plantar, colher, no dia e hora que você quiser, quando você achar melhor, então, a terra é um meio de sobrevivência pra gente (EMR25).

A terra é tudo, né? Porque, assim, os agricultores daqui, em sua maioria sobrevivem da terra, tiram seu alimento, seu sustento da terra, então a terra é um fator de subsistência pra eles, porque eles têm, sobrevivem daquilo e, é agora tem algumas pessoas que, hoje em dia, não trabalham mais na terra, alguns já tão trabalhando em fábricas, nessas indústrias, mais a maioria dessas pessoas são, principalmente os mais idosos trabalham na agricultura, então, tiram seu sustento da terra, se não fosse a terra não tinha como sobreviver (EMG22).

Conforme podemos conferir nas palavras dos educadores a terra tem grande valor para quem nela vive e dela tira o seu sustento; quando dizem que a terra é fonte de vida já estão dizendo tudo o que ela representa para eles. Nesse contexto entendemos que a educação deve ser um dos pilares de sustentação do homem na terra, pois através dos conhecimentos adquiridos na escola e relacionados às experiências e saberes desenvolvidos ao longo da vida, os camponeses correlacionando estes conhecimentos passam a compreender melhor os

acontecimentos diários e buscar agregar novas práticas à realidade vivida com o intuito de melhorar a vida na comunidade.

5.6 Desafios dos educadores para desenvolver na comunidade o que aprenderam durante a