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Grafico 3 Produção de mamona no Brasil/ Território de Irecê entre 1990 e 2005

1.5 AGRONEGÓCIO E AGROINDÚSTRIAS FAMILIARES

De acordo com Filippi et. al. (2005) foi a partir dos impactos promovidos pela Globalização, que um segmento de agricultores familiares começou a demonstrar esforços para criação e implementação de novas estratégias organizacionais e produtivas voltadas para manutenção de seus mercados locais e para sua inserção em novos segmentos de produtos e serviços.

Segundo aqueles autores, a combinação de ações locais desenvolvidas pelos produtores, juntamente com medidas oficiais, começaram a viabilizar em algumas regiões do Brasil novos arranjos socioprodutivas, que vem avançando em direção a um modelo de desenvolvimento autônomo e endógeno.

Eles sustentam que estratégias sinérgicas e simultâneas “de cima para baixo” e de “baixo para cima” (op. cit. p. 12 e 13), ou seja, que conciliam forças locais, com medidas oficiais, tem reforçado novas estratégias de diversificação e empreendedorismo, laços de cooperação, autonomia, em núcleos de produção rural, em especial, naqueles compostos por agricultores familiares.

Eles afirmam que essas medidas tem paralelamente viabilizado a “redução da dependência e da subordinação técnica e econômica, principalmente no que se refere ao uso de tecnologias externas na produção agropecuária” (op. cit. p. 14).

Dessa forma, estratégias de ‘agroindustrialização familiar’ e a sedimentação do ‘agronegócio familiar’ são definições que vem se consolidando no universo de produção rural brasileiro.

1.5.1 Agronegócio Familiar

Guilhoto et al. (2007) trabalharam, no sentido de mensurar a capacidade econômica da agricultura familiar brasileira, em uma pesquisa intitulada: “A importância do agronegócio familiar no Brasil”. Segundo os autores, a expressão “agronegócio familiar” está relacionada a todas as atividades interligadas à agricultura familiar, antes e depois daquelas tradicionalmente concentradas na produção primária.

35 Eles procuraram estimar não apenas as quantidades de VBP pela agricultura familiar nas atividades agropecuárias, mas de todo o volume de recursos mobilizados na cadeia produtiva ligada ao setor.

Essa análise envolveu etapas desde a aquisição de insumos, absorção de produtos e contratação de serviços, até as fases que incorporam o beneficiamento da matéria-prima, o transporte dos produtos, o comércio e outros encargos diversos.

A metodologia desse trabalho concentrou-se na identificação do volume de atividades a montante e a jusante das atividades tradicionalmente exercidas pelas propriedades familiares e na respectiva participação de todo setor familiar no Produto Interno Bruto do País (PIB), conforme demonstrado no Gráfico 1.

9,7%9,3% 9,0% 9,1% 9,4% 9,0% 8,8% 9,2% 10% 9,6% 9,0% 0 2 4 6 8 10 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Gráfico 1 – Participação (%) do Agronegócio familiar no PIB do Brasil entre 1995 e 2005.

Fonte: Adaptado de Guilhoto et Al. (2007) e NEAD-FIPE Pesquisa PIB Agronegócio Familiar (2005).

Os dados obtidos pela pesquisa revelaram uma participação considerável do agronegócio familiar brasileiro nas duas últimas décadas, atingindo um montante de aproximadamente 10% de todo PIB brasileiro, revelando o potencial de competitividade dos agricultores familiares na economia nacional.

1.5.2 Agroindústria Familiar

Vieira (1998), na virada do século XX, já destacava que esforços concentrados apenas na produção de matérias-primas ofereciam poucas oportunidades para a agricultura familiar. O autor foi um dos pioneiros a discutir a viabilidade da verticalização agroindustrial familiar e analisar as principais dificuldades na formação desses arranjos produtivos.

36 Ele conclui que medidas de aporte tecnológico para agregação de valor na produção agropecuária de pequena escala, embora estratégicas para o setor, eram ineficientes, caso não houvesse igual apoio na capacitação gerencial e industrial, bem como no planejamento estratégico para superação de gargalos na etapa de comercialização.

Prezzoto (2000), por sua vez, empregando o termo Agroindústria Rural de Pequeno Porte (ARPP), descreveu modelos de beneficiamento da produção rural, na qual associações e cooperativas destacavam-se na coordenação e na otimização de recursos naturais e humanos. O autor sustentou que o cooperativismo nas agroindústrias familiares estimulava um maior comprometimento dos envolvidos com a eficiência organizacional e pela busca por resultados positivos.

Outros autores, como Trentin e Wesz (2004) ainda afirmaram que o conceito de agroindústria familiar, estaria necessariamente correlacionado ao processo de verticalização da produção agrícola, em que o beneficiamento seria necessariamente organizado sob forma de associações ou cooperativas, em que os produtores tornam-se atores diretos na gestão de empreendimentos que industrializam sua própria matéria-prima.

Por fim, Pettan (2005), de forma semelhante, identificou que muitas agroindústrias familiares estavam se consolidando, em algumas áreas rurais no Sul do Brasil, como importantes alternativas de desenvolvimento sustentável para agricultores familiares, possibilitando à agregação de valor a produção primária com a conseqüente abertura de postos de trabalho e renda.

Ele destaca diagnósticos realizados, em pequenas agroindústrias familiares bem sucedidas no Estado de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul identificadas por Oliveira et.al. (2002) e Azevedo et.al. (1998). O mesmo autor destaca, entretanto, que de maneira geral a taxa de sobrevivência desses empreendimentos era muito baixa, citando estudos da Embrapa e do Sebrae que estimavam em 3% a quantidade dos projetos que sobreviviam aos novos ambientes concorrenciais nos quais se inseriam.

Conforme destacou Pettan (2005) essas pesquisas foram relevantes, pois conseguiram identificar vários gargalos ou pontos de fragilidade que afetavam a consolidação e a ampliação da competitividade desses empreendimentos familiares, conforme expostos a seguir:

- Ausência de estudos de viabilidade econômica, financeira e técnica no planejamento dos empreendimentos, em especial, em relação aos estudos de mercado, processos tecnológicos e sistemas de organização;

- Ausência de economia de escala na comercialização e produção da agroindústria, em virtude, principalmente, dos limites econômicos ou financeiros;

37 - Falta de planejamento da aquisição de matéria-prima;

-Falta de padronização e qualidade da produção, em especial, pelo desconhecimento das técnicas adequadas de processamento;

- Descontinuidade de oferta, o que inviabiliza contratos de comercialização com cadeias de supermercados ou com grandes clientes;

- Baixa capacidade gerencial em todas as etapas do processo produtivo; - Baixo nível de organização dos produtores;

- Pouca disponibilidade de infra-estrutura pública;

- Inadequação e desconhecimento das legislações tributária, fiscal e sanitária; - Ausência de suporte creditício para a estruturação produtiva e capital de giro; - Dificuldade de acesso ao crédito para a estruturação produtiva;

- Ausência de suporte para a geração e desenvolvimento tecnológico adequados à pequena produção;

- Ausência de suporte em assistência e orientação técnica.

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