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Grafico 3 Produção de mamona no Brasil/ Território de Irecê entre 1990 e 2005

3. VERTICALIZAÇÃO/ INTEGRAÇÃO VERTICAL

3.5 VERTICALIZAÇÃO NA AGROINDÚSTRIA E NA AGRICULTURA FAMILIAR

3.5.1 Verticalização na agroindústria

As agroindústrias podem encontrar vantagens significativas para proceder a uma Integração Vertical. De acordo com Neves (1995), a decisão da empresa de empregar transações verticalizadas ao invés de negociações por meio do mercado convencional advém da conclusão que é “mais barato, mais fácil e menos arriscado desenvolver atividades administrativas, produtivas ou de distribuição do que recorrer ao mercado aberto” (LIMA ET.AL. 2006).

O poder de dominar a execução e a produção entre etapas distintas compensa os custos de adaptação, na medida em que, esse controle costuma aumentar as margens de lucro devido à agregação de valor, a maior organização e o nível de especificidade de ativos envolvidos.

Analisando a competitividade do sistema agroindustrial da carne bovina, Batalha e Silva (2007), afirmaram que ao se verticalizar, uma empresa passa a ter maior controle de sua cadeia produtiva, fortalecendo-se em relação aos concorrentes, possibilitando

65 desenvolver mecanismos de maior controle e de redução de custos e permitindo explorar o mercado consumidor do produto final. Entretanto, os autores destacam que essa mesma integração vertical pode desviar o foco da atividade principal, anteriormente desenvolvida e até mesmo elevar custos burocráticos.

Segundo pesquisa realizada, por Souza (2007) sobre a Verticalização e Financeirização da agroindústria processadora de grãos no Brasil, ele afirma que existem benefícios relevantes que motivam esse arranjo produtivo.

Ele cita o trabalho de pesquisa realizado pela PricewaterhouseCoopers (uma rede internacional de auditoria, assessoria tributária e empresarial, especializada em desenvolver e sugerir estratégias de gestão) para Bunge S/A, no ano de 2005, que aponta a Integração Vertical como um excelente mecanismo para fortalecer agroindústrias, que operam com pequenas margens de lucro, e que necessitam de volumosas escalas de produção de matérias-primas, para serem economicamente viáveis.

A pesquisa concluiu que a Verticalização na agroindústria faz com que as empresas adquiram maior confiabilidade do mercado e conseqüentemente uma valorização de suas ações.

A consultoria identificou os principais pontos positivos, correlacionados às vantagens da Verticalização agroindustrial:

- Custos de barreira de investimentos: apesar do alto volume de investimento necessário para encampar novas etapas, os resultados obtidos possibilitam incorporar expressivas margens de lucro repassadas anteriormente a produtores/fornecedores ou clientes.

- Controle eficaz na cadeia de suprimentos: a garantia da oferta de insumos (matéria- prima) reduz a incerteza e promove uma informação plena da logística entre as etapas da cadeia produtiva.

- Controle eficaz na qualidade dos insumos: a Integração Vertical permite superar os problemas de disparidades de qualidade entre os grãos, além de permitir a obtenção de avaliações de conformidade do tipo ISO.

- Redução/eliminação de exigências administrativas e gerenciais: ao decidir-se integralizar-se, incorporando processos das etapas a montante, o processo resulta na eliminação de gastos com departamento de compras (contratos e trâmite), enfim, ineficiências, demoras, gargalos e, principalmente, custos no processo de negociação.

66 - Diversificação de mercados: possibilita a atuação da empresa em priorizar o segmento da cadeia em situação mais vantajosa de comercialização. As oscilações e sazonalidade da demanda ou o comportamento de mercado, podem promover um quadro inflacionário favorecendo, por exemplo, a comercialização dos excedentes de matérias-primas já incorporados por uma Verticalização para trás.

Farina e Zylberstajn (1998) reforçam que muitas vezes a motivação para verticalizar- se se concentra na redução das incertezas de fornecimento entre produtores e a indústria. Além disso, eles destacam que as especificidades locacionais e de ativos em geral, promovem uma sinergia ideal na obtenção e uso de locomoção, transporte e escoamento de insumos e da produção.

Azevedo (1997) pesquisou situações peculiares no processo de Integração Vertical da agroindústria citrícola no Estado de São Paulo. Nesse setor, ao longo das últimas décadas do século passado, foram criados ambientes propícios tanto para Verticalização “upstream” em indústrias de suco de laranja concentrado, mais também de um quadro favorável para a Verticalização “downstream” de pequenos produtores de laranjas.

O setor citrícola, nessa região, sempre foi caracterizado por ser um oligopsônio, em que poucas indústrias de processamento operavam em um quadro de muitos produtores de laranja. Essa situação era cômoda para as indústrias processadoras, pois promovia uma estabilidade no fornecimento de frutas, juntamente com o controle dos preços pagos aos produtores. Segundo Vieira (1997), essa correlação modificou-se consideravelmente, ao longo das décadas de 1980, com a entrada de novas indústrias processadoras nesse mercado.

Na esfera internacional, paralelamente, a elevação da oferta de suco concentrado, pelos Estados Unidos, acirrava a competição. Nesse contexto, a concorrência interna elevaria naturalmente os baixos preços pagos aos produtores de laranja. As indústrias tradicionais se viram no dilema de reestruturar suas formas organizacionais, bem como os seus arranjos produtivos. Era indispensável incorporar novas tecnologias, garantir a oferta e qualidade, bem como, estabilizar os preços pagos nos frutos, assegurando a manutenção equilibrada dos custos de transação e de produção. Desse modo, as indústrias processadoras decidiram verticalizar-se para trás, incorporando a produção de frutos em suas cadeias produtivas. Segundo Azevedo (1997), esse procedimento resultou na Verticalização “upstream” de cerca de 40% das empresas do setor.

O fato curioso e relevante, nesse processo descrito, foi que houve paralelamente um processo de Verticalização “downstream” por parte dos pequenos produtores de laranjas.

67 Azevedo (1997) relata que a crise no setor e a tentativa descrita de fechamento de mercado, por meio da Verticalização “upstream”, promoveu paralelamente uma reação dos produtores, com o surgimento de organizações de classe e cooperativas objetivando reduzir a dependência e exploração da atividade citricultora.

Azevedo (1997) afirma que o surgimento da Cooperativa de citricultores do Estado de São Paulo (Frutesp), modificou o processo de relacionamento entre os produtores de frutos e a indústria beneficiadora, durante o seu funcionamento. Isso se deve em específico a redução da assimetria de informações e poder de mercado, que tanto prejudicava os citricultores, permitindo o estabelecimento de contratos mais balanceados, que envolviam de um lado os custos industriais e de outro o rendimento das frutas.

Importante destacar, porém, que o processo de Verticalização vivido pela Frutesp não conseguiu manter-se com o passar dos anos, pois segundo Azevedo (1997), os custos de coordenação internos e a baixa flexibilidade de negociação, a burocracia, a lentidão na tomada de decisões, o estabelecimento de contratos desfavoráveis à cooperativa, entre outros fatores, levou a derrocada e posterior venda da Frutesp Agroindustrial para um grupo internacional francês.

Essa experiência remete a necessidade de analisar a eficiência da Verticalização agroindustrial, mas também, da gestão cooperativista sob o ponto de vista produtivo, comercial e social. É importante ter em mente que a verticalização da agricultura familiar, passa antes de tudo, por uma necessidade/dificuldade que inclui a organização sob forma de cooperativas, o que pode ser um processo complexo.

3.5.2 Verticalização agroindustrial familiar e o papel do ambiente político-

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