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Agrotóxicos e seus efeitos na saúde

rendo de forma desordenada e acelerada, sem a devida preocupação ambiental. Acrescentam-se à questão ambiental os problemas por vezes detectados rela- cionados aos custos sociais do trabalho agrícola sem formalização legal. Nesse processo, muitas substâncias químicas são utilizadas enquanto insumos, uma vez que o Brasil apresenta um dos maiores mercados na área de fitossanidade. Os sistemas de produção intensivos elevam a necessidade de uso de agrotóxicos, os quais aumentam as concentrações residuais e a deriva de agrotóxicos ocorrida durante o processo de aplicação dos produtos.

Muitos agrotóxicos produzem efeitos na saúde humana e animal, portanto necessitam de cuidados em seu manuseio. As fontes de contaminação são estrita- mente relacionadas às atividades humanas, sejam elas domésticas, industriais ou agrícolas (RISSATO et al., 2006). Seus resíduos são ingeridos com a alimentação e armazenados no tecido adiposo, e podem afetar assim organismos não alvo, por períodos prolongados. Os organoclorados são os agrotóxicos que mais persistem no ambiente. Já os inseticidas organofosforados e os carbamatos não se acumu- lam nos organismos na mesma extensão, mas possuem grande toxicidade aguda. Em 2008, o consumo de agrotóxicos no Brasil foi de aproximadamente 673.892 t. Desse total, foram comercializados 57,78% de herbicidas, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag). Ex- presso em quantidade de ingrediente-ativo (i.a.), o consumo foi de 312.637 t. Em 2009, o Brasil passou a ser o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, de acor- do com estudo da consultoria alemã Kleffmann Group, encomendado pela Asso- ciação Nacional de Defesa de Vegetal (Andef).

O uso de agrotóxicos é elevado em sistemas de produção intensivos, o que pode levar ao aumento das concentrações residuais e da deriva ocorridas durante o processo de aplicação dos produtos (WAISSMANN, 2002). Além da questão am- biental, há ainda os problemas por vezes detectados relativos aos custos sociais do trabalho agrícola (ARAÚJO et al., 2007; ECKERMAN et al., 2007). Nesse processo, muitas substâncias químicas são utilizadas como insumos, uma vez que o Brasil apresenta um dos maiores mercados na área de fitossanidade (FARIA et al., 2007; FERREIRA et al., 2007).

Existe uma série de fatores que afetam significativamente o desempenho dos empreendimentos rurais. Alguns deles estão vinculados à própria susten- tabilidade desses empreendimentos. A  esse respeito, há relatos de que o uso excessivo de inseticidas utilizados na cultura de citrus ocasionou a morte de 700 colmeias em Boa Esperança do Sul e em Brotas, no Estado de São Paulo. Há ainda, por exemplo, preocupação quanto ao risco de contaminação de parques nacio- nais por agrotóxicos aplicados em lavouras próximas em virtude do acúmulo des- ses produtos em algumas aves no Estado de Goiás.

Nesse sentido, a contaminação ambiental por agrotóxicos que pode decor- rer de sistemas intensivos agrícolas, causa efeitos negativos aos recursos naturais, à saúde humana, além de trazer problemas para a exploração agrícola. A neces- sidade de uso de agrotóxicos pode levar à deriva do produto ocorrida durante o seu processo de aplicação. Esse fato causa, entre outros problemas, prejuízo à saúde do trabalhador rural e às comunidades vizinhas, constituindo-se em pro- blema de saúde pública. Apesar do ser humano poder entrar em contato com os agrotóxicos por inúmeras maneiras, como em acidentes ou pela ingestão de alimentos e de água, a exposição ocupacional é de singular importância por cau- sa do contato quase que diário dos trabalhadores com essas substâncias. Sem dúvida, a educação e o treinamento desses trabalhadores, aliados à melhoria dos métodos de aplicação, contribuiriam para diminuir os possíveis efeitos decorren- tes da exposição aos agrotóxicos.

A exposição também pode ocorrer por diversos fatores como: presença de agrotóxicos estocados na proximidade da moradia; proximidade de algumas resi- dências à área de trabalho; manuseio doméstico da lavagem de roupas utilizadas na aplicação e divisão social do trabalho, que destina às mulheres pequenas tare- fas, como a aplicação manual de produtos químicos (CASTRO et al., 1999). Além disso, a exposição humana frequente aos agrotóxicos, tanto ambiental quanto ocupacional, pode ocasionar patologias, ainda que em pequenas doses. Entre as mais comuns, estão as inflamações do sistema nervoso periférico, irritações nas mucosas e na pele, além de distúrbios oftalmológicos. Podem ainda ocorrer dis- túrbios da reprodução e do controle hormonal. Embora a literatura internacional

registre diversos casos de intoxicação em agricultores, os dados colhidos no Brasil são ainda escassos.

Apesar de a exposição aos agrotóxicos destacar-se entre os vários riscos ocupacionais por se relacionarem a intoxicações agudas, doenças crônicas e pro- blemas reprodutivos, o uso persistente dos agrotóxicos pode também levar a in-

toxicações crônicas e ao aparecimento de carcinogênese1 e teratogênese2, entre

outros problemas.

Em comunidades agrícolas com intensa participação dos membros no pro- cesso de plantio, adubação, combate às pragas e colheita, a agricultura é um ci- clo familiar. Assim, as mulheres grávidas acabam por também se expor durante o período gestacional (ARAÚJO et al., 2007). Além disso, considerando-se que o trabalho agrícola feminino e/ou infantil é importante na produção de alimentos, principalmente nos países em desenvolvimento, a exposição maternal ambiental e/ou ocupacional pode levar à contaminação de crianças e mesmo de recém-nas- cidos (DINHAM; SAPNA MALIK, 2003).

O aumento do número de poluentes ambientais que causam prejuízos à qualidade de vida tem demandado na mesma proporção a necessidade de se avaliar o potencial de dano genético de cada um , já que muitos deles, especial- mente os agrotóxicos, têm sido relacionados ao câncer e à mutação do material genético (DNA). No caso de crianças, a sensibilidade pode ser maior que nos adul- tos, o que pode levar à intoxicação por doses menores. Os agrotóxicos podem ainda ocasionar prejuízos no desenvolvimento do embrião e do feto e provocar aborto ou deficiências na formação do feto.

Portanto, a exposição a diversos agrotóxicos concomitantemente pode condicionar severidade a vários problemas relativos à saúde. O problema da ex- posição ocupacional aos agrotóxicos tem uma dimensão de impacto no que diz respeito à saúde pública, em virtude do grande consumo de agrotóxicos.

1 Produção de câncer.

2 Produção de alterações físicas, desde monstruosidades até alterações mais sutis, como bioquímicas e comportamentais.