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Impactos ambientais da agricultura

Com o advento dos 500 anos de descobrimento do Brasil, um conjunto de entidades ambientalistas, agrupadas na Rede Verde, lançou uma campanha de protesto, por meio da divulgação de um pôster que lista 500 crimes contra a natu- reza no Brasil. Procedendo-se a uma análise dessas denúncias, constatou-se que aquelas relacionadas a atividades agropecuárias (agricultura, pecuária e extrati- vismo vegetal e animal) correspondiam a 47% do total daqueles crimes ambien- tais, enquanto as outras atividades (mineração, energia, indústria, urbanização e transportes) correspondiam a 53% (excluindo-se as denúncias atribuíveis a outras causas, relacionadas a comportamento, educação, desgoverno, investimento, en- tre outras, que compuseram aproximadamente 20% do total). Essa distribuição de problemas ambientais segundo grupos de atividades surpreende pela grande parcela associada às atividades agropecuárias, pois, embora ocupem uma área muito maior que as atividades urbanas/industriais, estas últimas englobam mais de 80% da população e são tipicamente de alto impacto, pois envolvem modifi- cações mais radicais do meio ambiente.

Quais seriam os motivos pelos quais a ocupação do espaço com atividades agropecuárias conduziria a tal profusão de crimes ambientais, conforme denun- ciados por entidades ambientalistas?

É possível atribuir os impactos ambientais das atividades agropecuárias a três causas principais, que são: as queimadas, o desmatamento e as monocul- turas.

As queimadas são utilizadas como prática de manejo em todo o Brasil, para a eliminação da vegetação natural quando é necessária a abertura de novas áreas para a agricultura, para a colheita manual da cana-de-açúcar e, principalmente, para limpeza e renovação das pastagens. Por serem mal executadas, frequentemente o fogo atinge áreas adjacentes e foge ao controle. Esse fato resulta em enormes pre- juízos tanto para áreas agrícolas quanto, e principalmente, para ecossistemas na- turais, pois ocorre destruição da biodiversidade nas áreas de reserva permanente. Além dessa destruição direta, a ação do fogo também resulta em perdas de nutrien- tes e de matéria orgânica dos solos e causa diminuição de fertilidade, aumentando a necessidade de uso de adubos, o que traz mais prejuízos ao agricultor.

O problema das queimadas está presente em todo o Brasil: em 2009, nos meses de junho a novembro, mais de 37 mil focos de incêndio foram detectados em território nacional, conforme pode ser observado na Figura 1, com os dados do monitoramento orbital de queimadas feito pela Embrapa. Há muitas alternativas para o uso do fogo no manejo agropecuário, as quais permitem a produção sem destruição da biodiversidade e a conservação da capacidade produtiva dos solos.

Para o caso da abertura de novas áreas para agricultura e pastagens, deve- se primeiramente evitar o desmatamento. Quando esse for necessário, deve-se retirar toda a madeira útil e a lenha e proceder à incorporação da matéria orgâ- nica restante no solo, melhorando sua fertilidade. Se persistir a necessidade de queima de resíduos, deve-se preparar um aceiro em torno da área, para que o fogo não atinja áreas vizinhas. Quanto às pastagens, deve-se proceder ao ma- nejo ecológico, substituindo as queimadas pelo adequado manejo do rebanho, pelo enriquecimento do pasto com leguminosas e pela formação de piquetes, que permitam uso racional da vegetação, com menos perdas. Finalmente, para a colheita da cana e manejo de restos culturais, pode-se proceder à colheita me- canizada da cana crua, evitando a degradação dos solos e a poluição do ar. Os restos culturais podem ser aproveitados pela prática do plantio direto na palha, uma tecnologia que melhora a fertilidade e a infiltração da água no solo, além de diminuir a necessidade de adubos e corretivos.

Os desmatamentos ainda são um gravíssimo problema no Brasil. Se di- vidirmos o território nacional em cinco grandes domínios naturais (as florestas de araucária, de clima temperado da região Sul; a floresta atlântica, nas regiões tropicais a leste e de norte a sul do território; os cerrados do Planalto Central; as caatingas nas regiões áridas do Nordeste; e a floresta equatorial amazônica), podemos afirmar que, à exceção da Amazônia, todos os domínios encontram-se profundamente alterados. Historicamente, a ocupação do Brasil foi feita com a destruição irracional dos recursos, a iniciar-se pela virtual destruição da floresta atlântica (hoje restam menos de 5% desse domínio natural no País) e dos pinhei- rais (hoje presentes apenas em resquícios isolados), e, recentemente, com a subs- Figura 1. Áreas com ocorrência de queimadas no Brasil, de junho a novembro de 2009.

tituição dos cerrados por áreas de cultivo e pastagens, até a corrente expansão da fronteira agrícola sobre a Floresta Amazônica, procedida de forma predatória e imediatista.

As principais causas da destruição dos domínios naturais do Brasil sempre estiveram relacionadas à agricultura e à pecuária. Primeiramente, a criação de gado bovino e os ciclos agrícolas da cana-de-açúcar, e posteriormente do café, foram responsáveis pela destruição das florestas atlânticas da Zona da Mata do Nordeste e do Sul-Sudeste. Recentemente, a expansão da pecuária e dos mono- cultivos de soja ocuparam as áreas de cerrado do Centro-Oeste. Finalmente, e em plena expansão no presente, observa-se a destruição da Floresta Amazônica a um ritmo que alcançava mais de 20 mil quilômetros quadrados ao ano na década de 1980 e manteve-se acima de 10 mil quilômetros quadrados ao ano na década de 1990, o que resultou em uma área total desmatada na Amazônia superior à soma da superfície de seis estados brasileiros: Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambu- co, Alagoas, Sergipe e Espírito Santo (BACHA, 1995).

Se o desmatamento em curso na Amazônia tem na pecuária sua causa mais imediata, o gravíssimo quadro de destruição da natureza tanto no passa- do quanto no presente, conforme mencionado, está principalmente associado à mo nocultura, que é o cultivo de uma única variedade vegetal, em extensas áreas contínuas. Embora essa prática facilite os tratos culturais e a colheita, as monocul- turas criam ambientes homogêneos que são muito diferentes daqueles naturais. As monoculturas tendem a ser muito mais dependentes de fertilizantes, pois to- das as plantas têm os mesmos requerimentos e exploram exatamente as mesmas camadas do solo para água e nutrientes, o que aumenta a competição entre elas e causa a necessidade de aplicação de fertilizantes, para suprir as exigências das plantas. Do mesmo modo, as plantas são sujeitas ao ataque das mesmas pragas e doenças que proliferam profusamente, requerendo a aplicação de agrotóxicos que contaminam o ambiente e eliminam os pássaros e outros organismos, inimi- gos naturais das próprias pragas. Esse fato cria um ciclo de dependência, ou seja, quanto mais se aplicam agrotóxicos, mais se eliminam os inimigos das pragas, aumentando a necessidade de uso de mais agrotóxicos. Por fim, o solo das mono-

culturas tende a permanecer descoberto, seja em virtude do preparo para o plan- tio homogêneo, seja por conta do combate às ervas invasoras, o que promove a erosão e a perda de fertilidade.

Todos esses efeitos resultam em contaminação das águas, destruição da biodiversidade e degradação ambiental. Para diminuir esses problemas, é neces- sário desenvolver e aplicar tecnologias que promovam melhor ocupação per- manente e diversificada do solo, que aumentem a integração entre as atividades agropecuárias e agroindustriais e fechem os ciclos de geração e aproveitamento de resíduos. Muitas são as tecnologias que vêm sendo aplicadas para permitir o desenvolvimento sustentável da agropecuária, tais como: a rotação de culturas, a integração agricultura-pecuária em plantio direto, o manejo ecológico de pragas, entre outras. É extremamente importante que essas tecnologias sejam aplicadas, a fim de que os impactos ambientais da agricultura sejam controlados. Dessa for- ma, será possível garantir segurança alimentar para todos em um ambiente pro- dutivo e saudável.

Referência

BACHA. C. J. C. A evolução do desmatamento no Brasil. Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília, DF, v. 34, n. 2, p. 111-35, 1995.

O fogo foi descoberto pelo homem muito antigamente e era usado com a finalidade de cozinhar os alimentos e iluminar o ambiente, entre outras finalida- des. Depois, observou-se que era possível utilizá-lo para limpar os terrenos.

Assim, o uso do fogo, considerado a ferramenta mais barata para limpeza do terreno, foi repassado de geração em geração e tem persistido por muitos e muitos anos. Também é uma prática utilizada pelos pecuaristas para o controle de plantas invasoras1.

Como o uso do fogo ou queima faz parte