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Foto 10 – Trabalho em grupo

4. O DEFICIENTE VISUAL NA UFRN: AS VOZES

4.4 A Universidade

4.4.8 Ajuda durante as atividades em classe

Observamos – como situamos anteriormente – que a convivência com estes alunos tem proporcionado, mesmo que lentamente, a quebra de esteriótipos, bem como vem estimulando ações de solidariedade e de companheirismo por parte dos colegas.

Percebemos que, quando requisitados e, às vezes, até espontaneamente, esses ajudavam os seus companheiros de classe a fazer algumas atividades que, sozinhos, não conseguiriam realizar com sucesso. Os auxílios ministrados aos colegas com deficiência visual voltavam-se, principalmente, para:

Diante da metodologia adotada pelo professor e da especificidade de algumas disciplinas, as ajudas são de registrar ou expressar o que está sendo detalhado através do quadro de giz:

- [...] Wi pede para ditar as coisas que a professora está escrevendo no quadro [...] (Sa)

- [...] Quando é uma disciplina de cálculo; Wi pede para a gente copiar; dizer o que está sendo feito [..] (Al).

- [...] o máximo que eu faço é tentar ajudá-lo (Wi) quando não consegue acompanhar o que estava sendo escrito no quadro, então, eu copiava para ele depois escrever. (Ke)

- [...] nos momentos em que os professores escreviam no quadro, não só eu, como também os outros colegas, copiavam a atividade para Ge. (Li).

- [...] quando a professora está copiando no quadro, e Fr não consegue absorver completamente tudo o que ela fala, ele pede para eu copiar e, depois, eu leio para ele. (Jo)

- [...] Fr pede para anotar alguma coisa que foi comentada pelo professor, e ele perdeu, e para anotar o que está escrito no quadro. (Ju).

Podemos observar que os colegas copiam ou ditam o conteúdo ministrado em sala de aula, facilitando, assim, o acesso dos alunos com deficiência visual ao conhecimento que está escrito no quadro.

Assim, também realizam ações que contribuem para suprir determinadas lacunas na ministração dos conteúdos, pelos professores.

Muitas vezes há necessidade, em decorrência da grande extensão do campos universitário da UFRN, de receberem ajuda para se deslocar a vários lugares (salas de aula, biblioteca, ponto de ônibus, lanchonetes, entre outros),. Essas colaborações são comumente realizadas por colegas, pois existem barreiras que dificultam o seu ir e vir.

- [...] pede ajuda para levá-lo a outras salas quando vai ter aula em outro lugar, como na F1; para levar à biblioteca. (Sa)

- [...] quando ele quer ir ao ponto de ônibus, eu vou com ele [...] Para ir à Ceará-Mirim, eu vou com ele no mesmo ônibus e volto; quando ele quer lanchar, eu vou com ele.

(Fe).

- [...] ele pede para a gente ir com ele,lanchar. (Al).

- [...] Eu, também, o acompanhava para ir a lanchonete, ao ponto de ônibus, à sala de informática (Ke).

- [...] Ajudo no dia-a-dia dele, quando vai pegar o ônibus eu fico olhando o número, porque ele tem dificuldade. (Vi)

O deslocamento dos alunos com deficiência visual demanda um conhecimento prévio de determinados locais, que, muitas vezes, estão distantes do convívio que têm, cotidianamente, em classe e em atividades extraclasse.

y Para ler os textos, colaborar nos momentos de estudo, auxiliar durante as provas e outras atividades do cotidiano acadêmico:

Podemos observar, que, na falta de monitores para ler os textos, colegas tornam-se ledores, como também contribuem para o seu desenvolvimento acadêmico e dos alunos com deficiência visual, através de discussões de textos científicos mais complexos, possibilitando trocas significativas, dado à objetividade apresentada pelos alunos com deficiência visual, conforme depoimentos, na interpretação de conteúdos ministrados.

- [...] quando Wi quer estudar, ler algum livro, e eu disponho de tempo, eu leio para ele, e acho que basicamente é isso. (Fe).

- [...] a gente sempre se interage, como por exemplo, na leitura de textos, pois os professores usam muito o texto filosófico. (Vi 2). - [...] Só para tirar dúvidas sobre qual seria o próximo texto, ou então, eu perguntava o que Ge entendia sobre o texto, e ele me dizia uma frase simples,ou um desenvolvimento bem objetivo. (Ro).

Além disso, observamos que a ausência de monitor em classe é suprida pelo apoio dos colegas, durante a realização de avaliações escritas, contribuindo para que possa desempenhar suas tarefas no mesmo tempo dos demais.

- [...] Por exemplo, em uma disciplina de Contabilidade, o professor me solicitou para fazer a prova com Wi. (Ke).

Há, também, apoio em atividades simples, porém relevantes para o bom desempenho em tarefas acadêmicas.

- [...] A questão do xerox, eu pego e olho a moeda e digo o valor a Ge. (Vi).

y Informar aos professores as adaptações necessárias:

Muitas vezes, os colegas – por conhecerem mais de perto as dificuldades daqueles que apresentam déficits visuais, como é o caso do acadêmico com visão subnormal (Ge), têm mais facilidade de se aproximar dos professores, lembrando de alguns detalhes, como sejam: alertando-os para a necessidade de ampliação dos tipos escritos da prova, ou, no caso de isto não ser possível de imediato, realizar a avaliação em outra ocasião, de uma forma mais individualizada.

- [...] Eu falo sempre para os professores para eles fazerem as provas com letra grande, ou então para fazer a prova outro dia, só ele e o professor, como professor achar melhor. (Vi).

y Outras atividades

O convívio com esses alunos com deficiência visual, proporciona um ambiente de cooperação, por meio de várias ações empreendidas, das mais complexas às mais simples. Por exemplo, ao assinar o nome dos discentes com deficiência visual, vêm garantindo, aos mesmos o registro da sua presença na lista de chamada do professor.

- [...] Só com relação a colocar o nome na lista de presença. (Be). – Para assinar a chamada [...] (Ju)

No entanto, os alunos com deficiência visual poderiam responder oralmente a chamada, se o professor assim procedesse, ou ser ajudados a, por si só, assinarem a listagem, evitando assim a superproteção. Segundo Amaral (1994,p.32), esta atitude, também fruto do desconhecimento, “desvitaliza o ‘protegido’, deslocando o eixo vital do outro para si”.

Em outras atividades, a atitude de colaboração também se faz presente, ao procurarem localizar, por exemplo, uma carteira mais propícia para o colega.

- [...] Ajuda para localizar a cadeira que Fr mais gosta de sentar, que possibilita realizar a atividade. Caso não exista, procuro uma cadeira com a mesa na frente, em outra sala [...] (An).

Vemos, assim, que esta aluna (An), preocupa-se em facilitar o acesso do seu colega ao conteúdo, pois, como geralmente as cadeiras existentes em classe são de apenas um braço, o que dificulta o manuseio pelo aluno com deficiência visual do seu material para escrever em Braille (reglete e punção), busca em outro ambiente o equipamento que lhe é mais adequado (a carteira convencional, do tipo mesa).

Podemos observar que, a partir da convivência, os colegas passam a ser solidários com os alunos que apresentam deficiência visual, ajudando-os em atividades que consideram não poderem realizar sozinhos.

4.4.9 Aceitação da inclusão dos alunos com deficiência visual na