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Foto 10 – Trabalho em grupo

4. O DEFICIENTE VISUAL NA UFRN: AS VOZES

4.4 A Universidade

4.4.4 As relações sociais na universidade

Foto 9: A relação com o professor após a aula

Mesmo com o despreparo dos professores em atender às especificidades desses alunos, evidenciam-se, nos seus depoimentos, que alguns docentes procuravam – de uma forma até humilde – obter informações dos próprios discentes com deficiência visual sobre as possíveis adaptações a serem realizadas, de forma a atender às suas necessidades educativas. Face a isso, concediam um tempo maior de entrega para trabalhos, ofereciam maiores explicações sobre o conteúdo quando solicitado, conforme detalham os sujeitos investigados:

-[...] os professores, em geral, têm sido atenciosos comigo. Toda vez que eu peço para explicar, eles tem explicado, como também aos demais colegas (Ge).

- [...] alguns revelavam que não tinham tido experiência, ainda, e pediram a mim mesmo que qualquer problema eu comunicasse a eles o que estava ocorrendo. (Fr).

- [...] Eles antecipam os textos. Dão o programa que tem a bibliografia e indicam a seqüência dos textos [...] Sempre procuram me perguntar quando não sabem o que fazer. (Wi).

Tais procedimentos evidenciaram a preocupação de alguns professores em atender às necessidades do aluno com deficiência visual, a fim de que pudesse ter as mesmas oportunidades educacionais oferecidas ao restante da classe.

Assim, diante da busca do professor em aperfeiçoar a sua prática, vemos que a inclusão despertou, em alguns docentes, a necessidade de mudança de atitudes frente às diferenças individuais, bem como os impulsionou a rever metodologias utilizadas, que antes visavam apenas o ensino do aluno tido como “padrão”.

Diante desse novo contexto educacional, onde se exige do professor uma atuação pedagógica efetiva diante da diversidade do alunado, há necessidade de – uma formação continuada, a fim de que possam possibilitar uma educação mais adequada a todos os alunos, inclusive àqueles com deficiência. Para tanto, seria preciso: “cursos breves para todos os professores envolvidos na atenção [...] aos alunos com deficiência, cursos de um ano ou cursos breves avançados”. (WARNOCK, 1978, 1987 apud GONZÁLEZ, 2002, p. 253).

Destacamos, porém, que somente este tipo de capacitação não proporciona uma inclusão significativa, pois existem processos excludentes que podem ser identificados e que os professores, muitas vezes, não conseguem resolvê-los sozinhos, precisam estar se “articulando, trocando idéias e sentimentos, compartilhando experiências, escrevendo e divulgando... acertos e... equívocos”. (CARVALHO, 2004, p. 36).

Em outras palavras, é preciso incentivar o professor universitário a sair das “quatro paredes”, da solidão da prática de sala de aula, para compartilhar, discutir, buscar caminhos em parcerias com outros elementos da comunidade acadêmica.

y A relação aluno com deficiência visual com seus colegas

Outro fator que facilita a inclusão é a interação entre as pessoas com deficiência e seus colegas, pois sempre precisamos uns dos outros. As amizades construídas no ambiente universitário, ajudam às mesmas a serem [...] “membros ativos e protegidos da comunidade. As amizades ajudam a garantir que fazer parte da comunidade – em vez de apenas estar na comunidade – é uma realidade” (STRULLY, J; STRULLY, C. 1999, p. 183).

Foto 10: Trabalho em grupo

Diante disso, consideramos importante perguntar aos alunos com deficiência visual como era a sua relação com os colegas e vice-versa.

Para Ge, a convivência com outros colegas trouxe a oportunidade de vivenciar novas experiências, que proporcionou um maior desenvolvimento social, emocional e cognitivo, bem como os seus colegas têm a possibilidade de se relacionar, no cotidiano acadêmico, com alguém que apresenta deficiência, passando a respeitá-los como sujeito capaz de aprender como os demais:

- [...] comecei a perceber, no início do primeiro período do curso, ainda, no início do primeiro período, a importância do aluno da universidade criar vínculos de amigos, de colegas, porque já fizemos muitas atividades em grupo. O fato da pessoa conhecer certa gama, quantidade de pessoas, isso ajuda muito a pessoa a ir se entrosando, conhecendo melhor os outros. Isso ajuda muito para que a pessoa tenha por quem optar quando fazer as atividades [...] (Ge).

Para Wi, existe uma interação entre ele e seus colegas, ocorre uma relação de troca: Wi ajuda os seus colegas, quando necessitam, tirando dúvidas no tocante a certos conteúdos e estes, por sua vez, o ajudam nos momentos em que precisa:

- [...] e quanto aos colegas, eu tenho vários amigos, agente se interage muito bem, faço até um trabalho de monitoria nos estudos. [...] eu não tive problemas. (Wi).

Percebemos, portanto, que a inclusão possibilita trocas de experiências, onde todos aprendem: a pessoa com deficiência visual tem a oportunidade de aprender e apropriar-se do real através da palavra, da comunicação com o outro.

Os colegas, por sua vez, podem aprender a ser mais solidários, cooperativos, bem como aprender e vivenciar novas experiências, novos conhecimentos com as pessoas que apresentam deficiência visual.

Em relação a Fr, ele afirma que

- [...] no início, as pessoas se mostram um pouco encabuladas, mas com o andamento do trabalho, eles percebem que há uma reciprocidade, porque de início eles achavam que só fossem dar e não receber nada (Fr).

Podemos percebemos que alguns colegas, inicialmente, se mostraram inibidos, porque a sua presença pode ter causado uma certa preocupação com relação a como agiriam junto a uma pessoa que não tem o sentido da visão. O desconhecimento fazia levantar uma barreira inicial, mas que, segundo o referido aluno, com o tempo, foi sendo superada. Observam que, hoje, existe uma relação de reciprocidade, onde eles o ajudam quando necessita, e Fr também colabora com os colegas durantes as atividades, tanto em classe, como extraclasse.

CARVALHO (2004, p. 45) assevera que esse convívio com a pessoa que apresenta deficiência é importante porque, mesmo sendo “[...] estimulado para garantir direitos ou para ‘aparar’ arestas, é sempre oportuno e necessário, pois, no mínimo permite que se construam vínculos, levando-nos a ver o outro em nós mesmos e vice-versa”.

Assim, nesse processo inclusivo, os alunos da universidade têm a oportunidade de se relacionar mais intimamente com os colegas com deficiência, fazendo com que, gradativamente, cheguem à “simpatia, compreensão e à avaliação realística de qualidades pessoais [...] como também se tornem menos evasivos [...] em relação à sua incapacidade, de tal maneira que algo semelhante a uma rotina diária de normalização pode-se desenvolver” (GOFFMAN, 1975, p. 61e 62).

Em outras palavras, o contato com a diversidade torna-se algo rotineiro, comum. Nesse contexto, todos se aceitam mais facilmente como pessoas diferentes,

vendo-as como seres importantes, únicos, formando assim, de maneira mais consciente, esta “colcha de retalhos” que é a sociedade.