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Foto 10 – Trabalho em grupo

4. O DEFICIENTE VISUAL NA UFRN: AS VOZES

4.4 A Universidade

4.4.5 A inclusão na UFRN

Temos discorrido sobre os vários benefícios da inclusão, tanto para a universidade e os seus profissionais, quanto para os alunos com deficiência e seus colegas. Vimos que a inclusão possibilita, pouco a pouco, a quebra das barreiras, sejam elas arquitetônicas ou atitudinais, bem como incentiva os profissionais que convivem diretamente com os alunos que apresentam necessidades educativas especiais a buscarem recursos pedagógicos para atuar num ambiente onde a diversidade possa ser considerada como algo inerente à sociedade e, em especial, ao contexto educacional.

Além disso, ao considerarmos que esse ambiente educacional necessita continuar a buscar uma identidade cada vez mais inclusiva, precisamos estimular a criação de um ambiente acolhedor, bem como desenvolver, na comunidade acadêmica uma filosofia baseada na igualdade de oportunidades para todos. Tal filosofia deve objetivar, efetivamente, que a universidade busque “acolher todos os seus alunos sem distinguir condições físicas, intelectuais, econômicas ou sociais, sem, no entanto, abstrair as diferenças que dão unidade ao conjunto de sua comunidade” (ALMEIDA; SILVA, 2004, p. 16).

Desta forma, consideramos importante analisar, sob o olhar do próprio aluno com deficiência, as ações realizadas pela universidade pesquisada para proporcionar a sua inclusão de uma forma significativa. Então, perguntamos aos

alunos incluídos como eles analisam o papel da universidade, diante da sua inclusão.

Para um dos alunos, a inclusão na universidade possibilita

- [...] que as pessoas adquiram novos conhecimentos, porque o deficiente visual utiliza outros sentidos, e que são mais aguçados do que os outros21, e, em contrapartida, a pessoa dita normal pode contribuir para que o deficiente visual tenha uma participação mais socializada no contexto, assim, todos saem ganhando [...] (Fr).

Portanto, para Fr a inclusão proporciona a quebra de certos esteriótipos, de preconceitos, bem como contribui para construir uma convivência baseada no respeito às diferenças, na cooperação e na socialização de todos na comunidade universitária e, “assim todos saem ganhando” (Fr).

Desta forma, a universidade abre espaço para que isso aconteça, mas, segundo o referido aluno, bem como os demais colegas com deficiência visual, a UFRN ainda precisa se aperfeiçoar para que a inclusão ocorra de forma mais significativa, como podemos observar em suas falas:

- [...] a universidade, com relação ao meu caso e dos demais colegas, ela não se adequou no momento devido, no inicio do período. Sei que isso não é culpa dos funcionários, é em virtude da dificuldade de recursos, que ficaram aquém no período que se mais precisava [...] Deveria criar uma metodologia que se adequasse as nossas necessidades. Essa metodologia deveria consistir na criação de um tempo maior para fazer as provas, para entregar os trabalhos, não para nos privilegiar, mas por causa da nossa limitação22.(Ge)

21 É importante salientar que, para que os sentidos da audição, tato e olfato estejam desenvolvidos

nas pessoas com deficiência visual, a fim de que possam ter interação com o mundo, é preciso um trabalho de reabilitação que estimule aqueles sentidos.

22 No caso do referido aluno, segundo o seu próprio depoimento, não existia, por parte dos

Verificamos que a universidade, para Ge, não se adaptou logo durante o primeiro semestre, que, segundo ele, era o período em que havia necessidade de adequações, como um tempo maior para se fazer às provas e os trabalhos. Tal fato deve-se, principalmente, à falta de informação dos professores a respeito das especificidades da pessoa com visão subnormal23, que – mesmo apresentando um resíduo visual, permitindo-lhe ter noções das formas, cores e massas – necessita de um tempo maior para a realização das atividades, pois utiliza algumas adaptações visuais ou equipamentos, como letras aumentadas, lupas, contraste de luz, para executar os seus trabalhos acadêmicos. Portanto, requerem um período maior de tempo para fazer as atividades solicitadas pelos professores.

Para Wi e Fr, a universidade não estava preparada, previamente, para recebê-los e, portanto, realizou ações imediatistas como aquisição de impressora Braille, que, posteriormente, não foi utilizada devido à existência de alguns problemas simples, como a falta de material de consumo para operá-la. Para solucionar o problema, providenciaram bolsistas para lerem os textos, contudo, segundo Wi, o número era insuficiente para atender à demanda de textos trabalhados em sala de aula.

Além dessas questões, segundo Fr, em decorrência da situação ter sido inesperada para os que fazem a UFRN, não houve uma orientação sistemática aos professores sobre como atuar com as pessoas que apresentam deficiência visual, como podemos observar em suas falas:

deficiência visual, os docentes concediam um prazo maior para a realização e entrega das atividades. (Ver depoimento no tópico 6.3.3.1 - A relação professor-aluno).

- [...] dentro da universidade, eu observo que não havia uma preparação prévia, porque ela não tinha recebido esse tipo de aluno, aí teve que adquirir uma impressora, teve problema com a impressora. A questão do bolsista, não tinha bolsistas suficientes para atender a nossa necessidade. [..] Vejo que a universidade foi pega meio de surpresa, e como estamos sendo os pioneiros, enfrentamos mais dificuldades do que aqueles que virão depois. (Wi)

- [...] uma universidade inclusiva seria aquela que estaria preparada, com impressora Braille, com material pronto para ser utilizado, mas - acima de tudo - ela deveria ser preventiva, pois a partir do momento da entrada dessas pessoas deficientes, previamente, ela deveria antecipar os textos para que não houvesse desigualdade de tempo entre nós e os outros alunos. (Fr).

Portanto, mesmo a UFRN24 tendo feito as adaptações que, sob a sua perspectiva, seriam imprescindíveis para proporcionar a inclusão desses alunos, percebemos que estas não conseguiram corresponder, significativamente, às reais necessidades apresentadas pelos discentes com deficiência visual. Estes ainda enfrentam várias barreiras que dificultam a permanência nos cursos de graduação, embora – no caso de Wi – haja o reconhecimento do pouco tempo que a referida instituição de ensino superior teve para se adaptar à nova realidade. Para este aluno, os deficientes visuais que vierem posteriormente terão menos dificuldades, pois o processo de inclusão estará mais aperfeiçoado.