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Sugestões para aperfeiçoar o processo de inclusão

Foto 10 – Trabalho em grupo

4. O DEFICIENTE VISUAL NA UFRN: AS VOZES

4.4 A Universidade

4.4.6 Sugestões para aperfeiçoar o processo de inclusão

Com o intuito de tornar o ambiente universitário mais rico e com possibilidades de avançar e se aperfeiçoar no tocante ao processo de inclusão, solicitamos aos alunos que fornecessem algumas sugestões, a partir de suas vivências. Assim, de uma forma geral, as sugestões voltavam-se para:

y Informação prévia aos professores de que terão alunos com deficiência e, também, orientação para que pudessem fazer as adaptações necessárias, antes de iniciar a ministração da disciplina:

- [...] necessidade de o professor saber, antecipadamente, que terá um aluno portador de necessidades especiais, para que ele possa fazer algumas adaptações, pois isso ajudará na interação dele com o aluno. (Ge).

- [...] Para os professores, pedagogicamente, teria que ter uma capacitação para atuar melhor com o deficiente. (Wi)

Assim, para Ge, é preciso que o professor tenha conhecimento prévio de que terá um aluno com deficiência visual em sua sala de aula, para que possa desenvolver estratégias que facilitem o seu acesso aos conteúdos das várias disciplinas, bem como que ações precisam ser realizadas para que possa interagir, significativamente, com esse aluno.

Nessa perspectiva, o professor que tem a oportunidade de conviver com uma pessoa que apresenta deficiência começa a ser um elemento facilitador, ou não, da integração dessa pessoa com os seus colegas, pois segundo Fabiana25 (apud

CAIADO, p. 94)

25Fabiana é uma pessoa que apresenta deficiência visual, é formada em Psicologia na UNICAMP.

Esta fala foi extraída da entrevista cedida a Caiado, que também realizou pesquisa com alunos que apresentam deficiência, percorrendo as suas vidas escolares e universitárias.

[...] ele pode promover, positiva ou negativamente essa integração, conforme a sua conduta em classe e a forma de se referir ao aluno deficiente. Pois, se o professor vai deixando claro para a classe que o deficiente não pode fazer uma série de coisas, a classe também pode ir estabelecendo essa conduta de que o deficiente é inferior. Cabe ao professor ir mostrando à classe, principalmente com alunos mais jovens, que o aluno deficiente é capaz de realizar os trabalhos na medida das limitações dele, assim como cada aluno realiza seus trabalhos na medida de sua limitação. Eu acho que o professor tem esse papel.

Neste sentido, concordamos com os entrevistados quando apontam a necessidade de orientação sistemática aos seus professores. Contudo ressaltamos que a UFRN, através da Pró-Reitoria de Graduação, deu um passo significativo nesta direção, realizando – como situamos anteriormente – um seminário sobre inclusão para atualização do seu corpo docente, porém, poucos foram os profissionais que compareceram às palestras ministradas. Por sua vez, a Base de Pesquisa sobre Educação de Pessoas com Necessidades Educativas Especiais, ligada ao Departamento de Educação, vem realizando, sistematicamente, seminários, ciclos de palestra e debates sobre Educação Inclusiva, mas – embora atraindo a atenção de discentes e profissionais da comunidade – não ocorreu uma significativa participação de professores dos cursos pesquisados.

De igual modo, os alunos destacam ainda a importância dos professores serem orientados para possibilitarem a antecipação dos textos, de acordo com a conveniência do aluno: em Braille, pela Internet, em disquete, ou outra forma de acesso:

- [...] acho que a universidade ao saber da entrada dessas pessoas deficientes previamente, ela devia chegar para os professores de cada disciplina: “Olhe, nós vamos ter um aluno cego para a disciplina, me passe os textos para quando começar as aulas, ele possa já receber em Braille”, era para ser assim. Porque quando recebemos em tinta, igual aos meus colegas, daqui que esse texto

seja transformado em Braille, ou para um disquete, a aula já tem passado, não fica de um todo perdido, porque vou fazer um trabalho, uma prova, tenho um texto para estudar, mas, paralelamente à aula, eu não posso acompanhar. (Fr).

Verificamos, que existe uma ênfase, por parte desse aluno a respeito da necessidade de orientação aos professores, quanto à entrega dos textos a serem estudados em classe, com certa antecedência. Isto envolveria um planejamento mais detalhado de cada professor e da universidade, também, no que diz respeito a um sistema de apoio para transcrição dos mesmos para o Braille ou a sua gravação em CD ou fita cassete que pode ser adquirido pelo aluno com deficiência visual. No segundo caso, esta tarefa poderia ser desempenhada, também, por alguém da família, desde que o texto fosse recebido algum tempo de antecedência (por exemplo, de uma semana para outra).

y Disponibilização de recursos materiais e humanos:

- [...] disponibilizar computadores, na biblioteca com programas de acesso ao portador de necessidades especiais para que pudesse ver a bibliografia. Tenho contado com o auxilio de bibliotecários, que conhecem o meu caso, que vêem no computador o livro que eu preciso. Mas deveria ter um computador com o programa com a lista dos livros para nós mesmos procurarmos (Ge).

- [...] a questão para nós, aqui mesmo, é ter uma pessoa que nos ajude durante as provas. [...] Precisa oferecer uma melhor estrutura para o deficiente, como: Braille, programas de computador mais avançados. (Wi)

Podemos observar que, para esses alunos, a universidade precisa dispor de computadores com programas específicos para a pessoa com deficiência visual, que sejam mais avançados, possibilitando aos mesmos o acesso às informações de que precisam. Destacam, também, a necessidade de: aquisição e transcrição de materiais para o Braille; provisão de um monitor para auxiliá-los durante as provas escritas.

A esse respeito, Rodrigues (2003) afirma que, para que a instituição de ensino possa se adequar às necessidades dos alunos com deficiência, é preciso que desenvolva estratégias, como por exemplo, a provisão de recursos físicos, pedagógicos, didáticos e humanos, bem como o desenvolvimento profissional de seus professores.

y Orientação da comunidade acadêmica a fim de quebrar algumas dúvidas de comunicação em relação à pessoa com deficiência visual:

- [...] No primeiro ano que entramos a gente encontrava pessoas na universidade que se assustavam com a nossa presença, então essas pessoas até fugiam da gente com medo, talvez, de levarem uma bengalada, ou com medo de não ser conveniente conosco. Então eu acrescento um ponto, aqui, fundamental: que as pessoas da universidade, elas não tenham nenhum receio de ter uma comunicação livre com uma pessoa com deficiência visual, porque disso ela pode aprender muito e pode contribuir para qualquer necessidade que o deficiente visual venha a ter. [..] Então o fundamental, que eu deixo aqui como advertência, é que as pessoas não evitem o contato conosco, procure cada vez mais... Sempre que alguém me ajuda a chegar à parada de ônibus eu digo: “Sempre que me encontrar fale comigo” eu gosto de ampliar o meu leque de amizades. (Fr)

Vemos que, para Fr, existe um sentimento de medo por parte das pessoas, quando se deparam com um deficiente visual de se aproximarem. Tal fato decorre, muitas vezes, do desconhecimento, da falta de informação das pessoas sobre como agir frente uma pessoa com deficiência visual. E o desconhecido, nas palavras de Amaral (1994, p.24), pode ser pensado “[...] como a mão que empunhando uma lupa, direciona-a de forma a aumentar desmesuradamente o vazio. E esse todo é profundamente ameaçador e, repetindo, gerador de medo”.

Assim, podemos inferir, a importância de dirimir dúvidas existentes e informar à comunidade acadêmica (aos professores, coordenadores, funcionários, alunos, entre outros), sobre como agir frente à pessoa com deficiência visual, pois “no momento em que há clareza em relação à deficiência e suas implicações, o que é mistério, rótulo e pena se transforma em possibilidade concreta de trabalho inclusivo” (FLESCH, 2003, p. 55).