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Michele G. Cardoso1, Dorval do Nascimento2 ¹Acadêmica do Curso de História/UNESC ² Doutor em História (UFRGS)/ PPGE/UNESC

Grupo de Pesquisa Identitare – Investigações em Identidades e Educação PPGE/HCE/UNESC

RESUMO

Introdução: No ano de 1980 Criciúma comemorou seu Centenário de fundação. Neste período modificou sua identidade centrando-a na etnicidade. Assim, a cidade passou a ser conhecida como a Cidade das Etnias tendo como carro chefe dessa proposta a Quermesse

de Tradição e Cultura. A cidade multi-étnica dá margem para a inserção do grupo árabe,

que através da Sociedade Beneficente Muçulmana e do Grupo Étnico Árabe consolida seu espaço na identidade da urbe. Objetivos: Entender os processos de afirmação pública e identitária do grupo étnico árabe na cidade de Criciúma. Metodologia: Num primeiro momento foram realizadas leituras buscando um aprofundamento teórico centrando estas leituras nos conceitos de identidade e etnicidade. Posteriormente foram realizadas discussões para apropriação dos conceitos. Após este período buscamos as fontes documentais, centrando a pesquisa no Arquivo Histórico de Criciúma. Ainda utilizamos como fonte de pesquisa a oralidade, tendo sido realizadas três entrevistas. Com o término desta etapa passamos para o cruzamento das fontes com o referencial teórico finalizando a pesquisa. Resultados: Podemos evidenciar que a inserção do grupo árabe na identidade urbana criciumense se deu tanto por estratégias desenvolvidas pelo próprio grupo como também por estratégias do poder público municipal. O grupo, que já vinha se organizando na cidade, buscou características para seu aparecimento público após o convite para entrar na Quermesse. Assim, muitos estereótipos foram reforçados e outros esquecidos na tentativa de mostrar as contribuições do grupo à cidade de Criciúma. Conclusão: Podemos concluir que o grupo Árabe (denominação que abrange diversos países do mundo árabe) buscou através da Etnia Árabe o aumento de seu capital simbólico na cidade demarcando suas características e contribuições através da Quermesse. Já Sociedade Beneficente Muçulmana buscou demarcar um território de poder na cidade, ao construir a mesquita Palestina ao lado do espaço que representa o Centenário, o Paço Municipal.

Palavras-Chave: Cidade, identidade urbana, etnicidade, grupo étnico árabe.

Introdução: A cidade de Criciúma sofreu sua transformação identitária no período das comemorações de seu Centenário de fundação. Foi neste período que a cidade que até então era conhecida como a Capital Brasileira do Carvão centrou sua proposta identitária baseada na etnicidade. Neste período cinco grupos étnicos foram colocados para a população como sendo os grupos fundadores da cidade: italianos, alemães, poloneses, portugueses e negros. Contudo, com o término das atividades do Centenário, a proposta baseada na etnicidade foi ganhando força até que em 1989 nasce a Quermesse de Tradição

e Cultura que surge com o objetivo de reforçar a identidade divulgada no período do

Centenário, ou seja, era um elo de continuidade do Centenário. Já na segunda edição da festa um grupo que não havia participado das comemorações foi convidado para fazer parte do discurso da Cidade das Etnias, era o grupo étnico árabe. Este grupo buscou se consolidar enquanto tal e cunhar suas características identitárias para que pudesse realizar seu aparecimento público. A consolidação do grupo passou por diversos períodos por conta das diferenças do grupo. Apesar da nomenclatura abrangente, a etnia árabe é composta por

membros de diversos países sendo a maioria de palestinos. O grupo também sofreu uma ruptura, pois, árabes e muçulmanos começaram a se confundir. Este fato levou a separação da Etnia Árabe e da Sociedade Beneficente Muçulmana de Criciúma. Contudo, mesmo com esta separação a presença da comunidade árabe-muçulmana no discurso identitário da urbe se consolidou tendo um aumento do capital simbólico do grupo na cidade e a demarcação de um território árabe-muçulmano.

Objetivos: Compreender a constituição identitária da cidade de Criciúma para a partir disso buscar entender o processo de inserção do grupo étnico árabe na identidade da urbe. Analisar quais elementos o grupo utilizou para realizar seu aparecimento público assim como entender as estratégias utilizadas para a inclusão do grupo no discurso identitário criciumense.

Metodologia: Primeiramente foram realizadas leituras para um maior aprofundamento teórico visando à ampliação de conhecimento para uma compreensão maior da problemática. Estas leituras estavam centradas nos conceitos de identidade e etnicidade. Após esta etapa foram realizadas discussões para a apropriação de conceitos. Em seguida a pesquisa se voltou para o levantamento das fontes, tendo realizado esta etapa no Arquivo Histórico de Criciúma onde podemos encontrar diversos documentos como cartazes, reportagens de jornais, folders entre outros documentos. Também utilizamos a fonte oral para a realização de nossa pesquisa. Dessa forma, realizamos três entrevistas. Vencida esta etapa realizamos o cruzamento das fontes com as leituras realizadas encaminhando a pesquisa para a sua finalização.

Resultados: Os primeiros membros do grupo árabe estavam unidos principalmente através da religião muçulmana. Contudo foi somente depois do convite para a entrada na

Quermesse de Tradição e Cultura que o grupo consolidou suas características para poder

realizar seu aparecimento público na cidade. O convite para entrar na festividade surgiu do poder público municipal o que demonstra que este também estava interessado na inserção deste grupo na identidade urbana. Este interesse pode estar relacionado com o número de famílias descendentes de árabes na cidade (em torno de 15 famílias) como também no fato destes descendentes terem uma boa participação no comércio local. Contudo, podemos evidenciar como um dos principais motivos para essa inserção o interesse do poder público em trazer atrações diferentes para a festividade. Nesse sentido, o imaginário do mundo árabe e o exotismo atribuído a esse grupo foram fundamentais para a sua inserção. O grupo se utilizou de alguns estereótipos, assim como negou outros, para a realização de seu aparecimento público. Neste momento de consolidação das características do grupo temos a separação da Etnia Árabe e da Sociedade Beneficente Muçulmana já que algumas características cunhadas pelo grupo para a sua participação na Quermesse de Tradição e Cultura não eram aprovadas pelos muçulmanos. Dessa forma, o grupo Étnico Árabe fica responsável pelas atividades na festa e a Sociedade Beneficente através da mesquita Palestina busca evidenciar a religião muçulmana na cidade.

Conclusão: Podemos concluir que a identidade da Cidade das Etnias abriu as portas para a inserção de outros grupos no discurso identitário criciumense. Dessa forma, o grupo étnico árabe se apresenta como um dos grupos formadores da Criciúma multi-étnica. Sua visibilidade na Quermesse de Tradição e Cultura foi fundamental para a organização do grupo. A construção da mesquita Palestina ao lado do Paço municipal, considerado um espaço característico do Centenário da cidade, consolida um território de poder árabe- muçulmano que reforça todos os dias a presença marcante deste grupo.

Referências

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