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PARTICULAR PÓVOAS CARNEIRO” (1942 A 1962) Renato A Monteiro 1 , Paulo S Osório

1Acadêmico do Curso de Bacharelado e Licenciatura em História / UNA de Humanidades, Ciências e Educação / UNESC.

2Professor Me. do Curso de Bacharelado e Licenciatura em História / UNA de Humanidades, Ciências e Educação / UNESC.

Introdução: A partir da década de 1940, Criciúma passou por um intenso processo de transformação, vivenciando um rápido e forte crescimento de sua economia e população, promovido, principalmente, pelo aumento da atividade carbonífera exercida no município. Nesse período se acentuou, na cidade, o estabelecimento da maioria das empresas mineradoras que passaram a formar o núcleo econômico e dirigente da cidade. Juntos, mineradores e classe média, formaram uma burguesia local que colocou em curso um projeto de “modernização da cidade”. Essas transformações demandariam uma educação diferenciada, dentro de uma perspectiva que contemplasse os interesses das classes dominantes. O Curso Particular Póvoas Carneiro, foi criado pela professora Zulcema Póvoas que percebeu a existência de um espaço favorável à implantação de uma escola primária que atendesse aos anseios de um determinado grupo social, capaz de pagar pelos serviços prestados na educação de seus filhos. Durante sua existência, a escola acolheu os filhos da nascente classe média e das famílias mais tradicionais de Criciúma. No entanto, o mesmo desenvolvimento econômico que atraiu as famílias de classe média, também motivou a vinda de pessoas que ocuparam, na condição de operários, postos menos privilegiados. A investigação revelou a presença de crianças que pertenciam às camadas populares, filhos desses mesmos operários. A partir dessa constatação, lançamos um questionamento inicial que norteia a pesquisa: como que uma escola particular conseguia absorver uma quantidade, mesmo que diminuta, de alunos (as) pobres e sem as condições materiais necessárias para mantê-los (as) naquela escola? Nessa perspectiva, procuramos desvendar os processos que asseguravam a presença de alunos (as) pertencentes a uma classe social cujas aspirações, interesses e identidade diferiam das camadas médias urbanas e procurará apontar as contradições da sociedade criciumense daquela época.

Objetivos: Nesse sentido, a pesquisa tem por objetivo, localizar e analisar a presença de alunos (as) das classes populares na escola primária “Curso Particular Póvoas Carneiro” entre os anos de 1942 a 1962, identificando o processo de ingresso dos mesmos na escola primária em questão. Ao mesmo tempo, procurando compreender as relações estabelecidas entre as classes médias urbanas e populares e detectando o processo de formação escolar e profissional dos (as) referidos (as) alunos (as), a fim de compreender as relações identitárias constituídas a partir da escola e fora dela, tendo a classe como categoria de análise.

Métodos: Quanto à sua natureza, a pesquisa em andamento, é do tipo aplicada, combinando aspectos teóricos e práticos em seu processo de desenvolvimento. No que se refere à abordagem do problema, procurando dar ênfase à subjetividade dos sujeitos pesquisados, caracterizando-se como qualitativa. Depois de cercados das bibliografias correlatas, iniciamos a consulta em jornais da época e realizamos um levantamento biográfico, a fim de localizar ex-alunos (as) que pudessem contribuir no processo de elucidação das relações de classes estabelecidas na escola e fora dela. Dessa forma, a investigação conta com as informações obtidas pela realização de entrevistas do tipo semi- estruturadas. No entanto, entendemos que os discursos trazidos à tona pela memória e expressos na oralidade, são carregados de armadilhas que, por sua vez requerem especial

atenção, justamente porque são instáveis, plurais e descontínuos. Assim, cabe ao pesquisador, realizar a leitura daquilo que ficou nas entrelinhas dos discursos, avaliar e interpretar as informações apresentadas. A disponibilidade e acesso aos acervos particulares contribuem e cumprem um importante papel agindo como “detonadores” da memória daqueles que os haviam guardado por muito tempo. Desse modo, de posse das entrevistas e demais documentos relacionados à escola, nos colocamos a tabular os dados obtidos até o momento.

Resultados: Pedro Benta Filho, que residia em uma vila operária, conta que, mesmo sendo pobre, sua mãe, professora, sempre prezou pela qualidade do seu ensino. Os demais entrevistados moravam na região central, portanto, à qualidade do ensino, alia-se à comodidade da sua localização. O pai de Renato José de Souza, que trabalhava como motorista, mesmo com dificuldades conseguia fazer o pagamento das mensalidades correspondentes ao seu estudo. Nicanor José Bessa, filho de funcionário da construtora pertencente ao proprietário da escola, relata que “se havia mensalidade eu não pagava porque meu pai era funcionário deles”. Pedro Benta Filho possuía uma bolsa de estudos cedida pela Prefeitura Municipal, a qual foi conseguida através da atuação da sua mãe nas campanhas eleitorais. A relação entre os grupos socialmente divergentes se dava, segundo todos os entrevistados, de forma harmônica, sendo que eram poucas as situações em que se identificavam as classes. Luísa Pinter e Pedro Benta Filho dizem que era na hora do lanche que se percebia a diferença, em decorrência das características das refeições que eram levadas pelos alunos. Fora do âmbito escolar, havia uma relação mais próxima destes alunos com as vilas operárias periféricas à cidade. Quanto à formação escolar e profissional, as classes mais abastadas mandavam seus filhos para fora da cidade onde cursavam o ginásio e depois freqüentavam um curso superior. Os alunos das classes populares só ingressaram no ginásio quando o mesmo é criado na cidade e, posteriormente, o curso superior, também é realizado quando oferecido por instituições locais. Renato José de Souza relata que “dessa turma que estudou comigo, acho que eu sou o único que não fez faculdade”, por não haver na cidade o curso que ele desejava fazer e por não ter condições financeiras de sair, ele conclui o ginásio e ingressa diretamente no mercado de trabalho. Conclusão: Até o momento conclui-se que, apesar dessa convivência aparentemente harmônica entre as classes sociais em questão, vê-se que são grupos sociais distintos que se intersectam em alguns aspectos como o fato de habitarem uma determinada localidade ou o próprio ambiente escolar. Não são nas informações propriamente ditas, trazidas à tona pelos entrevistados, que se evidenciam essas questões, mas sim na análise feita em suas próprias memórias que, trabalhando com a idéia de que a mesma seja coletiva, há uma certa particularidade nas lembranças desta minoria de alunos de classes populares e que pertenciam, mesmo que parcialmente, a outros grupos.

Referências

ARIES, Philippe. História social da criança e da família. 2.ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.

LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: UNICAMP, 1996.

OSÓRIO, Paulo Sérgio. Cuidando dos bem-nascidos: O Curso Particular Póvoas Carneiro e a escolarização das elites no contexto de Urbanização e Modernização de Criciúma/SC (1940-1962). (Dissertação de mestrado). Criciúma: Universidade do Extremo Sul Catarinense, 2008.

THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. 3 v. em 1 (Oficinas da História; 8)

_______A miséria da teoria ou um planetário de erros: uma crítica ao pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1981.

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