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6. METODOLOGIA

7.2 Incidência dos impostos indiretos

7.2.1 Alíquotas efetivas dos impostos indiretos

A teoria da Leontief da MIP tem como objetivo descrever os fluxos de bens e serviços entre todos os setores da economia de um país, durante certo período, em valores monetários (MILLER; BLAIR, 2009). Ao utilizar esta teoria busca-se analisar esse fluxo tendo como foco principal os impostos indiretos de determinada região. Dessa forma, embora criada inicialmente para estudo das economias das nações, neste estudo a MIP, utilizando a metodologia de Siqueira, Nogueira e Souza (2010) serviu para identificar as relações tributárias presentes no estado de Mato Grosso.

Justamente por ser baseado na MIP, o método permite captar os efeitos da tributação direta e indireta de insumos, ou seja, no caso de um imposto sobre carne suína, levam-se em conta tanto os efeitos sobre os preços para os consumidores diretos quanto dos produtos intermediários e derivados. A Tabela 19 demonstra as alíquotas de Incidência Final dos Impostos Indiretos nos principais segmentos da cadeia produtiva do estado de Mato Grosso.

Tabela 19- Alíquota de Incidência Final dos Impostos Indiretos, nos segmentos de produção e abate da cadeia produtiva da suinocultura, no estado de Mato Grosso - 2007.

Descrição do produto IMPOSTOS

ICMS IPI II OUTROS TOTAL

Suínos 20,566% 0,033% 0,0066% 15,614% 36,220%

Abate de suínos 13,025% 0,101% 0,0021% 6,502% 19,630% Fonte: estimado da MIP-MT (2007)

Neste estudo consideram-se as alíquotas efetivas de incidência de impostos indiretos expressas em percentagem. O pressuposto subjacente é que os impostos são passados de um elo da cadeia para outro até que esteja totalmente repassado para um setor da demanda final, e as percentagens estimadas das alíquotas efetivas na demanda final diferem da carga tributária prevista na legislação tributária.

A alíquota efetiva encontrada para carne suína, baseada na MIP-MT de 2007 foi de 36,22% (Tabela 19). Essa alíquota supera as estimadas por Siqueira, Nogueira e Souza (2001 e 2010), que analisaram a MIP do Brasil do ano de 1995 e 2005, cujas alíquotas efetivas foram de 10,8% e 12,8% respectivamente, para pecuária nacional. Estes autores não conseguiram estimar as alíquotas por tipo de carne, englobando

então o segmento de carne bovina, frango e suína. A segmentação na carne suína e o aumento da carga tributária nacional podem explicar as diferenças nas alíquotas encontradas entre a nacional e a estadual (SANTOS; PIRES, 2009).

Montoya et al (2011) analisando os impostos indiretos líquidos sobre produtos e diretos líquidos sobre a produção que recaem sobre os setores do agronegócio do estado do Rio Grande do Sul, com base nas MIP do estado, no período de 1998 à 2003, identificaram aumento na participação da contribuição no agronegócio no total arrecadado pelo governo, mesmo com uma diminuição da tributação relativa, isso devido ao forte crescimento do PIB do agronegócio no período analisado. Efeito similar pode ser observado no estado de Mato Grosso, segundo o IMEA (2014). Em 2007 a participação do agronegócio no PIB do estado foi de 50,46%, enquanto a participação na economia brasileira foi de apenas 22,54%, o que poderia justificar a diferença entre a alíquota efetiva nacional e estadual.

É importante considerar que a alíquota efetiva incorpora os impostos recuperáveis e não recuperáveis, desde os insumos diretos, equipamentos, juntamente com o custo de mão de obra tanto das granjas de produção quanto dos frigoríficos de abate (SCUTELLA, 1997). A alíquota efetiva estimada no abate suíno foi de 19,63% (conforme Tabela 19), os benefícios fiscais de exportação podem gerar a menor alíquota do abate em relação à produção do suíno vivo.

Segundo dados da ACRISMAT (2010), conformados por Pereira (2014), Mato Grosso vende animais para frigoríficos do estado de São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. A exportação direta é dificultada, uma vez que, o mercado é formado por pequenos e médios produtores que, de maneira geral, precisam de ajuda via cooperativa ou empresa integradora, para inserir seu produto no mercado internacional (ACRISMAT, 2010).

A venda dos produtores para frigoríficos de outros estados obriga ao recolhimento de ICMS, pelas regras do diferimento. Isso porque o diferimento somente se aplica em operações realizadas entre contribuintes estabelecidos dentro do próprio estado, de forma que o diferimento se interrompe na saída da mercadoria para outro estado. Por oportuno, o diferimento pode beneficiar especialmente produtores cooperados, porque é extensivo às saídas internas promovidas por cooperativas de produtores hipótese em que fica dispensada a exigência determinada no RICMS- MT/1989, art. 9º, §1º(BOLETIM IOB Nº 07, 2014).

O ICMS foi o imposto com maior incidência sobre os segmentos analisados. A Tabela 20 apresenta de maneira mais detalhada a incidência da alíquota efetiva deste imposto deste a arrecadação estadual até o estágio final. A alíquota efetiva do ICMS sobre a carne suína foi de 20,57%, e do abate de suínos foi de 13,03%. Operando em ambiente competitivo, mesmo com algumas isenções e reduções de base de cálculo na cadeia produtiva, percebe-se que esse é o imposto que mais onera o custo de produção da carne suína.

Tabela 20- Valores e alíquotas do ICMS incidentes sobre as famílias, nos segmentos da cadeia produtiva da suinocultura, no estado de Mato Grosso - 2007.

Descrição do produto Arrecadação

Incidência sobre as famílias

1º Estágio* Final* Alíquotas Efetivas (%) Suínos 5.573.064,50 1.918.615,92 12.853.431,02 20,570% Abate de suínos 8.808.278,40 536.073,40 2.183.031,14 13,030% Fonte: estimado da MIP-MT (2007)

Os números estão próximos ao de Gazzoni (2003), que calculou que no estado de Mato Grosso a incidência média de ICMS nos alimentos é de 15,33%.

Farina e Nunes (2003) consideram que as alíquotas de ICMS praticadas no Brasil são consideradas elevadas, além disso, destacam que um dos maiores incentivos para a clandestinidade é a sonegação deste imposto. Para eles, estas alíquotas poderiam ser revistas, de modo que a informalidade deixaria de compensar.

O tópico seguinte visa apresentar os indicadores econômicos da produção e abate na cadeia produtiva da suinocultura, atendendo ao objetivo de analisar o impacto da tributação nesta atividade, em especial o impacto do ICMS.