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6. METODOLOGIA

7.2 Incidência dos impostos indiretos

7.2.2 Indicadores econômicos da suinocultura

Como alguns setores da economia estão mais envolvidos nas compras - direta e indiretamente - de alguns setores do que outros, cada setor apresenta um efeito diferente sobre a economia. Estes efeitos são chamados de multiplicadores tipo I e mostram o que acontece quando ocorrem aumentos na demanda de um setor por determinados produtos, e seus impactos diferenciados na economia. Outro efeito pode ocorrer via aumento do consumo das famílias, e este é denominado multiplicador tipo II, ou efeito induzido (AZZONI et al, 2009). Em resumo “o multiplicador tipo I capta os efeitos diretos e indiretos, e o multiplicador tipo II capta os efeitos diretos, indiretos e induzidos, de modo que a diferença entre os dois multiplicadores corresponde ao

efeito induzido pelo consumo das famílias endogeneizado ao sistema” (FIGUEIREDO et al, 2010, p. 7).

Tabela 21- Multiplicadores de Produção, Emprego e Renda para Mato Grosso e Restante do Brasil em, dos segmentos de produção e abate de suínos em 2007.

Descrição do produto Multiplicadores de Produção* Multiplicadores de Emprego* Multiplicadores de Renda*

Tipo I Tipo II Induzido Tipo I Tipo II Induzido Tipo I Tipo II Induzido Suínos 1,83 4,65 2,82 1,37 3,03 1,66 1,36 2,61 1,24 Abate de suínos 2,59 4,97 2,38 8,82 19,07 10,26 28,43 56,20 27,77 *Valores correntes de 2007 em R$ 1.000.000

Fonte: adaptado da MIP-MT (2007)

A ideia básica dos multiplicadores está na diferença entre o primeiro efeito de uma mudança exógena na demanda final e o efeito final causado por esta mudança (FRIEDRICH, 2002b). O multiplicador da produção tipo I, pode ser definido como o valor total de produção adicional, verificado em toda a economia, que é requerido para satisfazer a uma unidade monetária adicional da demanda final, para a produção oriunda daquele setor específico (MILLER; BLAIR, 2009)

Na Tabela 21, tem-se os multiplicadores de produção, emprego e renda relacionados à produção e abate da carne suína, fornecidos pela MIP-MT (2007). Com relação aos multiplicadores de produção do tipo I, o da produção de carne suína é de 1,83 e o de abate é 2,59 (SEPLAN/MT, 2010). Estes dados significam que, caso ocorra aumento da demanda final desses setores em R$ 1,00 a produção da economia como um todo aumentaria em R$ 1,83 e R$ 2,59, respectivamente.

A título de comparação o multiplicador da produção tipo I de aves e bovinos são de 1,98 e 1,84 respectivamente. Estas cadeias produtivas também são muito importantes para a economia do estado de Mato Grosso, contudo os multiplicadores de produção, apesar de serem maiores, não são muito distantes dos apresentados pela produção de suínos.

Os multiplicadores de produção do tipo II, por sua vez, indicam qual será a produção adicional gerada em toda a economia, direta, indiretamente e por força do efeito induzido, em resposta à alteração de uma unidade monetária na demanda final de determinado setor (SOUZA et al, 2012). Dessa forma, cada vez que a demanda final aumentar em R$ 1,00 a produção de carne suína no estado de Mato Grosso aumentaria em R$ 4,65 e no caso do abate de suínos a produção aumentaria em R$ 4,97. A importância do abate de suínos, e os multiplicadores são confirmados por

Figueiredo et al (2005). Também em Fagundes et al (2014), observam-se resultados similares foram para o estado de Mato Grosso do Sul.

Como descrito por Souza et al (2012) os setores com maiores multiplicadores de produção são em geral aqueles cujas demandas de insumos são satisfeitas por produtores locais. Isso ocorre porque os produtores do estado teriam que aumentar a produção para atender a demanda final diminuindo o que os autores chamam de “vazamento” de impacto para outras regiões ou países. E isso é justamente o que acontece na cadeia produtiva da suinocultura, onde grande parte dos insumos é fornecida por produtores do estado de Mato Grosso contribuindo para aumento desse tipo de multiplicador (ACRISMAT, 2010).

A variação no aumento da produção resulta também no aumento de emprego como consequência do aumento da renda, o chamado efeito-renda. Novos postos de trabalho geram salários, que são utilizados na compra de outros bens, gerando um novo acréscimo na demanda final e de novos empregos. O multiplicador de emprego determina o impacto de variações na demanda final sobre o produto que, por sua vez, leva a variações no emprego. Então o multiplicador de emprego de determinado segmento representa os novos empregos gerados nos outros segmentos economia para cada empregado contratado neste setor, quando este aumenta sua produção para atender a uma elevação em sua demanda final (FACHINELLI et al, 2012).

Dados informados na MIP-MT (2007) e Figueiredo et al (2010, p.10), indicam que para cada aumento em R$ 1 milhão na demanda final, o segmento da carne suína gera 150 novos postos de trabalho (50 diretos, 18 indiretos e 82 induzidos), já o abate de suínos gera 121 empregos (6 diretos, 50 indiretos e 65 induzidos). E para cada R$ 1 milhão injetado na produção de carne suína, cerca de R$ 1 milhão é gerado em outros setores e destinado a atender a demanda final.

Estudos conduzidos pelo IPEA (2013), considerando dados da POF/IBGE 2002-2003, estimaram que a elasticidade-preço da carne suína no Brasil era de –1,861. Já a elasticidade-preço na área urbana seria de –0,724 e de –0,393 nas áreas rurais. Considerando os resultados da pesquisa do IPEA (2013) o resultado da MIP de Mato Grosso de 2007, e utilizando a metodologia de Costa e Guilhoto (2012) foi possível criar cenários simulando possível redução na alíquota do ICMS cobrada no estado de Mato Grosso. Foram simuladas a variação na demanda final considerando a elasticidade-preço nacional (Tabela 22) e a das áreas urbanas.

A medida da intensidade da mudança da quantidade demandada dada uma mudança no preço é chamada de elasticidade-preço, na Tabela 22 foi considerada a elasticidade-preço de -1,861 estimada pelo IPEA (2013) e que corresponde ao consumo nacional de carne suína. Nesse caso a carne suína é classificada como elástica e uma redução na alíquota de ICMS gera aumento na demanda final, que baseadas nos multiplicadores tipo II da economia mato-grossense, resultariam em aumento de produção, emprego e renda.

Tabela 22- Cenários simulados de redução na alíquota do ICMS, elasticidade-preço nacional, e o impacto na produção, emprego e renda no Mato Grosso em 2007.

ICMS Aumento

demanda ICMS Produção Emprego Emprego Renda

Alíquota R$ R$ R$ R$ R$

11% 1.260.133,50 8.480.820,31 6.266.293,07 153 24.035.123,92 70.823.294,62 Fonte: elaborada pela autora

Segundo dados da MIP-MT 2007, tem-se que a demanda no abate da carne suína considerando o valor exportado, o consumo das famílias e a variação de estoque é igual a R$ 76.521.460,26, com arrecadação de R$ 8.808.278,40 e a alíquota de ICMS de 12%. Com base nestas informações, seguindo a metodologia de Costa e Guilhoto (2012) estimou-se que a redução de 1% reduz a arrecadação em R$ 327,45 mil reais, contudo promove aumento na demanda de R$ 1,26 milhões, estimulando a produção (R$ 6,26 milhões), geração de emprego (153 novos postos de trabalho), e renda (R$ 70,82 milhões).

Os autores Costa e Guilhoto (2012) esclarecem que políticas expansionistas, como a que foi simulada, tende a promover o crescimento dos segmentos beneficiados. De maneira indireta essa redução de alíquota pode também estimular o crescimento econômico em Mato Grosso, isso porque apesar da redução na arrecadação tributária, causada diretamente pela redução da alíquota de imposto, o aumento na produção, emprego e renda (demonstrado) resulta em pagamentos de mais impostos por outros setores da economia mato-grossense.

Como diversos artigos publicados identificam a carne suína como produto inelástico, com consumo diferenciado nas áreas urbanas, devido à expansão do consumo de alimentos processados e da alimentação fora de casa, outra simulação realizada foi baseada na elasticidade-preço da carne suína na área urbana no Brasil de - 0.724, calculado pelo IPEA (2013). A simulação é apresentada na Tabela 23.

Ao reduzir tributos o governo tende a reduzir a perda de eficiência associada a um imposto específico, por exemplo, quanto maior o ICMS, menor o número de vendas realizada na economia, e maior será o impacto negativo desse imposto sobre o crescimento econômico de longo prazo (SACHSIDA, 2011). No caso da cadeia produtiva da suinocultura o ICMS revelou-se como o imposto com maior participação, de maneira que mesmo usando os dados de inelasticidade da carne suína na área urbana apresenta aumento de produção e renda.

Tabela 23- Cenários simulados de redução na alíquota do ICMS, elasticidade-preço área urbana, e o impacto na produção, emprego e renda no Mato Grosso em 2007.

ICMS Aumento

demanda ICMS Produção Emprego Emprego Renda

Alíquota R$ R$ R$ R$ R$

11% 490.240,01 8.396.132,02 2.437.827,07 59 9.350.580,18 27.552.963,63 Fonte: elaborada pela autora

Contudo, uma das considerações feita pelos autores Costa e Guilhoto (2012), foi a de levar em conta o trade-off entre arrecadação e crescimento econômico na economia do estado. Como existe certa insensibilidade entre a variação no preço e a quantidade demandada, em função da inelasticidade, a simulação realizada (Tabela 23) apresenta impactos consideravelmente menores. A redução de 1% no ICMS geraria um aumento na demanda de R$ 78.093,63 menor que a redução na arrecadação. A produção seria maior em R$ 2,43 milhões e a renda em R$ 27,55 milhões, e apenas novos 59 postos de trabalho seriam gerados. A redução de 2% no ICMS reduziria a arrecadação em R$ 1,19 milhões, o que supera o aumento da demanda.

Estes exercícios são importantes, pois ajudam a identificar o papel que a cadeia produtiva da suinocultura poderia ter na dinamização da economia. Além disso, em face da necessidade governamental de priorizar setores da economia, com o intuito de estimular a produção é preciso considerar que para que uma cadeia produtiva funcione de maneira adequada é fundamental considerar os segmentos que possuem a capacidade de desempenhar o papel de indutores no processo de transformação de determinada região (FIGUEIREDO et al, 2010).

Observa-se que a cadeia produtiva da suinocultura não é longa, mas complexa e com grande número de participantes, mas seu principal setor é a produção e o funcionamento das granjas de criação, por isso os tópicos seguintes visam detalhar melhor os impostos que recaem sobre os insumos e mão de obra das granjas, obtidos através dos dados da ACRISMAT (2010), atendendo o objetivo de analisar os

principais tributos incidentes sobre as granjas produtoras de suínos e de comparar a carga tributária das granjas de suínos por tipo de produção, por sistema de produção e por região.